Ainda é exagerado dizer que precisamos reinventar o futuro, mas reconheço que nada será como antes. Não seremos o que éramos. E quem imagina que tudo voltará ao normal de antes precisa começar a ficar preocupado.
No momento em que este artigo está sendo escrito ainda estamos nos primeiros dias de abril, passando o primeiro milhar de mortos notificados e talvez não tenhamos experimentado a pior fase do Covid-19 no país. Mas já podemos reconhecer alguns indícios que começam a se clarificar para depois que o Corona arrefecer seu ímpeto.
Mais energia, porque a régua subirá
Sabemos que apenas alguns poucos se beneficiarão dessa situação, enquanto a maioria terá sofrido reveses, retomando suas atividades mais pobres, com mais dificuldades e devendo levar algum tempo para se restabelecer. Outros nunca se recuperarão.
E é exatamente por isso que você precisa impor mais energia. As relações entre custo e preço terão decido a níveis antes inimaginados para muitos setores e atividades. Alternativas novas e impensadas terão sido implementadas com a elevação natural e necessária da performance por alguns players. Por consequência, os clientes terão elevado a régua das exigências.
As commodities, os alimentos e o meio ambiente
O cenário das commodities é de apreensão, mas se mantém equilibrada. Deve haver pequena retração em alguns mercados importantes, mas os chineses se mantêm firmes no seu papel preponderante no destino de nossas commodities.
O processo de seleção é um impulsionador recorrente de inovações e nesse sentido deve ocorrer a aceleração, com grandes investimentos e a intensificação de novas alternativas de produção de alimentos, principalmente as proteínas sintéticas, como a carne, por exemplo, dentre outras opções.
Já há muitas alternativas sendo testadas e sem dúvida, isso será ampliado a partir desse momento, centrado principalmente naquelas poupadoras de meio ambiente.
Adicionalmente, um dos reflexos do Covid-19 deverá ser a ampliação da preocupação com as questões ambientais. Problemas biológicos que impactam na saúde mundial como é o caso desse vírus não mantém sua razão num recorte ordenado, e acabam perpassando para o sistema.
O nacionalismo se fortalece
Nesse caminho, há indícios de que o nacionalismo tende a se fortalecer já durante a pandemia e se intensificar sensivelmente após ela. Muitos países buscarão simplesmente proteger os seus, deixando a cerimônia e o politicamente correto de lado.
Assim, embora haja esforços em sentido contrário, a proteção e as barreiras entre os países, tentando minimizar os impactos sobre suas populações e atividades, parece uma consequência evidente num primeiro momento.
Ao mesmo tempo em que o nacionalismo tende a se revigorar, deve haver um momentâneo reconhecimento de que o ultraliberalismo, onde a economia regula as necessidades de sua população, pode não ser um caminho tão seguro quanto imaginado, por exemplo. Talvez, mais Estado, algumas vezes pode ser interessante.
Um sinal inconteste a título de exemplo nesse sentido, é o de que Europa estaria preparando um lastro legal específico para impedir aquisições por empresas chinesas. Essa política protecionista teria como foco central o “Made in China 2025”, um projeto do governo chinês cujo objetivo é o de ampliar as aquisições no exterior, principalmente os relacionados ao setor de tecnologia.
O novo Modelo econômico
O Covid-19 já nos ensinou algumas coisas às duras penas. Uma delas é não depender de alguns poucos fornecedores em qualquer coisa que seja. Mesmo que num primeiro momento isso possa parecer uma opção mais barata e até inteligente. Um dia desses eles podem nos deixar na mão.
Na prática, o próprio modelo econômico está em xeque. Temos o desafio adicional de colocar a questão social no centro da discussão, tornando-a uma agenda de Estado. Assim, precisamos mais do que nunca implementar as reformas, mas agora com nova energia e celeridade. Sabendo que elas precisam ser muito maiores do que as que estavam sendo gestadas, dando a envergadura necessária para implementar as ações que são requeridas.
Por isso, existe uma certa unanimidade entre os analistas em reconhecer que não é momento de simplificar as reformas. De que o centro do debate não está em torno de um Estado maior ou menor e sim de qual o real propósito desse Estado que queremos.
"Creio piamente que a ciência tende a ser mais respeitada depois do Covid-19."
Porém se quisermos realmente sair renovados dessa crise precisamos pensar, ao mesmo tempo num Estado ágil, capaz de diminuir incertezas e amigável aos investimentos, e de outro lado ampliar a proteção social conferindo a garantia de renda e à expansão dos direitos à saúde e à educação.
Questões locais e outras lições práticas
Já está em curso a retomada da valorização das questões locais, próximas de nossa casa, bairro ou cidade. Uma espécie de bairrismo soft e politicamente correto. E por consequência a busca da descentralização do Estado deve ser uma realidade. Chegou a hora da sociedade entender que se sujeitar ao poder central não é um bom negócio quando a cadeia de atendimento se torna longa e dependente.
O consumo de conteúdo online aumentou muito e por consequência os sistemas de acreditação serão valorizados, bem como o do trabalho remoto. Se antes era algo de companhias de tecnologia, o home office agora veio para ficar. Talvez o agro em especial precise ainda urgentemente reconhecer e aderir às tecnologias online como estratégias de negócio. Inclusive e principalmente as comerciais.
Creio piamente que a ciência tende a ser mais respeitada depois do Covid-19. Mais uma vez tivemos mostras de que a nossa espécie apenas subsistiu e se desenvolveu no planeta graças a sua capacidade de dominar algumas áreas da ciência e de tomar decisões baseadas nela.
Por fim, uma grande lição é a de que deveríamos nos tornar mais humildes, reconhecendo nossa insignificância diante do universo, necessitando uns dos outros para avançarmos e sobrevivermos.
Até a próxima.