A internacionalidade no comércio de sementes é uma de suas principais características, com grandes volumes enviados entre países para atender as demandas dos produtores. Na região da Ásia-Pacífico, em 2018, mais de US$ 4,1 bilhões foram destinados à comercialização das sementes, cerca de 14% do comércio global do meio sementeiro, sendo parte essencial na segurança alimentar e da economia da região.
Mas, em 2020, com a pandemia de COVID-19, é inegável dizer que o comércio de sementes sofre alguns reflexos negativos. Mesmo possuindo status de “produtos essenciais”, o que em muitos países isenta restrições de bloqueio e transporte, diversas empresas relatam desafios na cadeia de suprimentos.
Para entender melhor estes desafios, a APSA (The Asian and Pacific Seed Association), através do Grupo de Interesses Especiais de Vegetais e Ornamentais, aliado ao World Vegetable Center (WorldVeg), realizou uma pesquisa com 68 gerentes de 48 empresas do meio sementeiro atuantes na Ásia-Pacífico, buscando encontrar respostas para como a crise afetou os negócios de cada um.
No cultivo de hortaliças, 93% dos entrevistados relataram efeitos negativos na demanda de sementes, sendo que 26% destes relataram forte efeito negativo. Nas grandes culturas, que contou com menos entrevistados deste meio, 75% obtiveram resultados abaixo do esperado.
Mais de 85% dos entrevistados relataram efeitos negativos nos envios internacionais e domésticos de sementes, dificuldades em obter insumos e dificuldades em obter mão-de-obra para produção e processamento de sementes. O acesso reduzido ao financiamento também foi relatado por 64% dos entrevistados. No entanto, os embarques internacionais de sementes aparecem claramente como o aspecto mais afetado da indústria de sementes, com 52% dos entrevistados relatando um forte efeito negativo.
Ao tratar diretamente do comércio internacional, os entrevistados foram perguntados sobre alguns gargalos que podem influenciar nos números e atividades de comércio. Os principais identificados foram dificuldades em encontrar soluções de frete (54%), reduções em pedidos de exportação (42%) e dificuldades de distribuição das sementes nos países de destino (42%). Problemas para obter permissões de exportação e importação, certificados fitossanitários e liberações alfandegárias também foram relatados.
As tendências indicadas pela pesquisa demonstram-se preocupantes para a Ásia-Pacífico, já que muitos países da região dependem diretamente da importação de sementes para manter sua produção local, e, consequentemente, a segurança alimentar e nutricional. Visando prevenir uma crise alimentar global, a The Food and Land Use Coalition pediu aos líderes mundiais que mantenham as vias comerciais abertas aos produtos alimentícios, além de ampliar apoio as pessoas em situações de vulnerabilidade social e incentivar o investimento em sistemas alimentares sustentáveis. Ações importantes e necessárias para os tempos atuais.
Este relatório foi preparado por Pepijn Schreinemachers (World Vegetable Center) e Kanokwan Chodchoey, Steven Layne e Weeranuch Mhadlhoo (Asia & Pacific Seed Association, APSA).