A produção de sementes daqui a 20 anos

Edição XXIII | 05 - Set . 2019
Maria de Fátima Zorato-fatima@mfzorato.com.br

    “Não podemos prever o futuro, mas podemos prepará-lo” (Ilya Prigogine).

    Projetar, no longo prazo, uma área específica da agricultura pode parecer utopia; no entanto, pode colaborar para adotarmos perspectivas mais abrangentes. Poderemos identificar fatores de transformações que reverberarão, com certeza, no setor, e isso tornará o objetivo bastante oportuno. 

    Pensar no amanhã distante, num cenário progressivamente mais disruptivo, onde as inovações se consolidam e a evolução é exponencial, requer entender da revolução digital inclusiva e intensa que está compelindo empreendedores, de qualquer segmento, a se empenhar de maneira crescente para conectar a internet a tudo. O comodismo cedeu seu espaço.

    Forças muito grandes conduzem rupturas de modo célere. A compilação e manipulação de dados cada vez maiores – big data – remodelam as atividades e apoiam ondas de crescimento, inovação, concorrência e produtividade. A tecnologia digital reduz os custos, encurta os ciclos, amplia e acelera as ameaças e as oportunidades. Essa realidade já faz parte de nosso dia a dia e traz consequentes desafios em todas as atividades, inclusive e sobretudo, no âmbito agrícola. 

    Retornando à futuridade na produção de sementes, somos conhecedores de que a revolução AgTech, a tecnologia para agricultura, está caminhando a passos largos e só tende a aumentar. 

    As Startups, termo reservado para negócios capazes de crescer em escala e com rapidez de revolucionar um setor existente, geralmente de base tecnológica, com ideias inovadoras e promissoras visando gerar valor para os clientes, no agronegócio, têm recebido muitos incentivos e investimentos. No campo, é impossível não perceber os avanços tecnológicos através de automação de maquinários, a presença dos drones, geralmente aliados a softwares para análise de imagens, que ganham cada vez mais espaço, desempenhando diversas funções. Está sendo frequente detectar o produtor rural acessando em seu celular os dados de seu interesse. As discussões giram em torno de internet de tudo, um passo adiante da internet das coisas, que conecta objetos entre si e com a internet, computação em nuvem, machine learning – conceito de inteligência artificial –, software analítico, cibersegurança, enfim, a busca para ampliar as soluções e tornar o agronegócio mais assertivo, eficiente e competitivo. 

    Atualmente, alguns Laboratórios de Análise de Sementes “vanguardistas”, já dispõem em suas estruturas, de equipamentos de captação de imagens de diferentes dimensões e, estudam formas de validação de testes, visando redução de parcialidade que muito prejudicam as avaliações e tomadas de decisões.  

    O processamento digital de imagens consiste de um conjunto de tarefas interconectadas, que inicia com a captura de uma imagem por meio de um sistema de aquisição. Após a captura, a imagem obtida precisa ser representada de forma apropriada para o tratamento computacional.

    As análises de imagens digitais têm como base os algoritimos sistematizados, e podem ser caracterizadas pelo arquivamento de dados e/ou comparação de padrões. Reconhecem a geração de aspectos dimensionais e sua mensuração se dá através de métodos de contagem ou frequência dos elementos formadores da imagem denominados pixels.

    As ferramentas técnicas e computacionais utilizadas no processamento e nas análises de imagens, surgem como apoio nos dados dos testes da qualidade e, tornam-se mais factível pela rapidez, exatidão e confiabilidade. Além do que, atenuam a interferência e a subjetividade humana, em análises e interpretações porque, mesmo com muito treinamento, tudo depende de critério de avaliação e nível de conhecimento em todas as técnicas, as maneiras de usar as metodologias e os procedimentos para expressão e padronização de resultados, que às vezes extrapolam a realidade. É compreensível que a evolução, de maneira inevitável, esteja caminhando no sentido da lógica, objetivando conferir mais segurança, uma vez que as sementes estão sendo abarcadas pelas tecnologias de ponta. 

    Embora, ainda permaneçam algumas incertezas e a necessidade de desenvolvimento de mais metodologias e técnicas de processamentos, o uso do sistema de análise de imagens na avaliação da qualidade de sementes, se mostra progressivamente, promissor em diversas espécies. Face ao contexto futurista, será exigida mão de obra cada vez mais qualificada dos profissionais de Laboratório de Análise de Sementes.

    Seguindo a tendência da AgTech, além da adoção de outras tecnologias disruptivas, despontam  empresas produtoras que estão conseguindo organizar dados e disponibilizando as informações de rastreabilidade das sementes, o que implica em segurança e transparência. O lote adquirido possui um identificador único impresso num código de barras matricial, o QR CODE. É distribuído em plataformas web e móvel e favorece a interface entre o cliente-usuário e a sementeira. Sendo assim, o futuro da produção, na área que traduz as mensagens do organismo vivo - a semente, já decolou e com tendências de alçar voos sempre mais altos.

    Ainda com olho prospectivo, o portfólio é vasto e inclui variáveis que não tornam fácil construir um panorama tão seguro, embora as ferramentas e modelos apresentam potencial para amparar em situações multifacetadas. Mas devemos alertar que os modelos são ferramentas e todos podem ter falhas e limitações e, se ocorrerem, reverberam no campo, a indústria de céu aberto.

    A agricultura é dependente de condições edafoclimáticas. Os fenômenos que ocorrem hoje e sua correlação com forças globais estão mais evidentes e refletem diretamente no campo.

    Mudanças biológicas ocorrem em ambientes de estresses e existem consequências que nem sempre humanos e/ou máquinas resolvem de jeito rápido. A natureza é imprevisível e tem suas peculiaridades, e a sua força tanto constrói quanto destrói. As mudanças nos oceanos e nos lençóis de gelo são os principais propulsores do clima. Grande parte do que poderá ser vai depender de ações que são implementadas hoje. É imprescindível moldar os processos produtivos para o desenvolvimento sustentável, adotando conceitos, atitudes e ações contributivas para minimizar a destruição, reduzir o uso de recursos naturais não renováveis, refrear a poluição e reciclar; enfim, instituir a revolução da eficácia, objetivando atenuar a amplitude de mudanças. A busca por soluções sólidas para os problemas atuais pode corroborar para a construção do futuro.

    A genética e o melhoramento, e a biotecnologia, saltam como transposons (DNA saltadores que se deslocam de um sítio a outro dentro do genoma e tem influência na evolução e composição de plantas e animais). A pesquisa exerce um papel essencial de prover o sistema produtivo e buscar continuamente soluções genéticas para os fatores restritivos à produção, alinhados à necessidade de enxergar além da terra, levando em conta o complexo de relações com a sustentabilidade, ou seja, considerando a economia, a natureza e o social.


        (...) a revolução da “agrointeligência”, na qual a ciência dos dados está impulsionando a eficiência e a eficácia no campo, elevando a produtividade e minimizando a utilização de recursos naturais, não pode ser comparada a outras revoluções. Os algoritmos já mudaram nossa maneira de pensar e agir.


    A agricultura sempre passou por mudanças, todavia a revolução da “agrointeligência”, na qual a ciência dos dados está impulsionando a eficiência e a eficácia no campo, elevando a produtividade e minimizando a utilização de recursos naturais, não pode ser comparada a outras revoluções. Os algoritmos já mudaram nossa maneira de pensar e agir.

    Em vista disso, as perspectivas abrangentes que devemos ter no setor de sementes é de que o futuro pertence aos que estão preparados para criá-lo e que cada vez mais dependerá do somatório de ações do homem. A transformação passou a ser muito veloz num mundo bastante incerto.  

    Estamos todos preparados e abrindo horizontes para os que assumirão a produção de sementes para tudo que há de vir?

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