A BASF é reconhecida como uma das principais empresas de agroquímicos do mercado global. Há cerca de um ano , a companhia realizou a aquisição do negócio de sementes de algodão e soja e entrou forte neste segmento. Neste sentido, a empresa reuniu, em junho, na cidade de Foz do Iguaçu-PR, seus parceiros de negócio, objetivando alinhar estratégias de ação para as diversas sementes em que atua. O evento denominado SeedShow divulgou as principais novidades nas áreas de sementes e tecnologia, levando ao conhecimento de mais de 150 profissionais o portfólio completo de sementes da empresa e os próximos lançamentos programados.
Atualmente, a empresa trabalha com os seguintes segmentos de sementes no Brasil: algodão, soja, arroz, trigo, frutas e hortaliças.
A SEEDnews teve oportunidade de participar do SeedShow através de seu colaborador Ivo Marcos Carraro, que interagiu com os principais sementeiros do país presentes ao evento. Durante a programação, Carraro conversou com o diretor de Sementes da BASF, Hugo Borsari, que discorreu sobre as principais ações da empresa voltadas para o desenvolvimento da agricultura, cujo conteúdo da entrevista apresentamos a seguir.
SEEDnews – Qual é o montante dos recursos investidos em pesquisas voltadas para sementes atualmente?
Hugo Borsari – Para todas as atividades de pesquisa e desenvolvimento, a BASF tem investido anualmente, em nível global, € 900 milhões para a divisão de Soluções para Agricultura.
SN – Falando em participação de mercado de sementes de soja, quais são as metas específicas para os próximos cinco anos?
HB - Nos próximos anos, a missão da BASF é ser uma das três maiores empresas do mercado de soja. O desafio é construir e fortalecer o portfólio de variedades. Hoje, a empresa possui duas marcas, que são a Credenz® e a Soytech®. A primeira para uso verticalizado e a segunda para ampliar o licenciamento.
SN – A ideia da empresa é licenciar cultivares aos produtores de sementes ou verticalizar a venda de sementes?
HB – Nosso caminho é trabalhar com duas unidades de negócios, verticalizado e licenciado. A base será através do fortalecimento das parcerias, desde a formação e criação de um produto até a forma de acesso ao mercado. No caso da marca Soytech®, os grandes parceiros são os produtores de sementes que levam a nossa tecnologia até o produtor. No caso da marca Credenz®, nossos parceiros são os distribuidores da BASF.
O objetivo da empresa é ser parte do legado do agricultor, para que ele tenha uma atividade rentável e sustentável para deixar para as próximas gerações. E o caminho escolhido para ajudar o agricultor a deixar seu legado é dar suporte no incremento de rentabilidade no campo.
O agricultor toma dezenas de decisões ao longo da safra, muitas das quais de forma isolada – o quê eu compro disto, o quê eu compro daquilo... O desafio da BASF, baseado em ciência, é utilizar o portfólio de sementes e proteção de cultivos de forma integrada na geração de dados, para oferecer a melhor solução para cada desafio enfrentado na lavoura, pensando no cultivo de maneira completa – da semeadura até a colheita. O nosso grande desafio é ajudar o agricultor na tomada decisões assertivas.
SN – Um problema do negócio de sementes é a pirataria. O agricultor acha a semente cara, por outro lado não abre mão da tecnologia. Como combater este problema, após ter sido feito tanto investimento em biotecnologia e melhoramento?
HB – A gente apoia o combate à pirataria, com o cumprimento da legislação vigente integrado ao trabalho com as associações que representam o setor. Este é o principal caminho, apoiar o governo na implementação da lei.
É importante priorizar a modernização do sistema de sementes e criar um ambiente que permita ao investidor o retorno do investimento. Ninguém quer parar no tempo, a diferença hoje é que o agricultor compete de maneira global.
O agricultor brasileiro não compete apenas com o agricultor brasileiro, ele compete com o argentino, americano, entre outros. Assim, se o agricultor brasileiro for privado do investimento contínuo em tecnologia e inovação, diminui a competitividade com outros mercados. O nosso papel como indústria é apoiar toda e qualquer iniciativa e discussão em prol do investimento em tecnologia e inovação no país.
SN – Há também a percepção do agricultor em relação aos preços da semente, que quanto mais tecnologia carrega tende a ser mais cara.
HB – O caso da precificação é sempre uma estratégia baseada em valor, ou seja, qual é o valor gerado por aquele produto que você traz para o mercado, e, como consequência disso, uma parte deste valor define o preço do produto e outra parte fica com o usuário. Assim, o preço é sempre uma consequência do valor que nós geramos para o agricultor, sendo esta a melhor forma de garantir que o cliente volte a comprar o nosso produto. Os maiores beneficiados do investimento em tecnologia para sementes mais produtivas são os agricultores e toda a sociedade, que tem acesso a alimentos mais seguros e mais baratos.
SN – Sabemos que recentemente a BASF adquiriu um banco de germoplasma de soja composto de vários núcleos e origens, como estão estes materiais?
HB – Trabalhamos com o banco de germoplasma desenvolvido no Brasil e tivemos uma integração muito valiosa com germoplasma da Argentina, além de material dos Estados Unidos – com materiais de grupos de maturação muito apropriados para o sul do Brasil. A interação com as três regiões foi muito positiva.
SN – Gostaríamos que falasse um pouco sobre a plataforma de traits transgênicos com os quais a BASF agora vai trabalhar.
HB – Inicialmente, daremos sequência com traits licenciados de outras empresas, mas internamente já estamos desenvolvendo a nossa plataforma, para que chegue o mais rapidamente para os agricultores. Estamos desenvolvendo trait com resistência a nematoides e genes para a tolerância à ferrugem asiática. Estes genes deverão ser combinados com outros genes da própria BASF ou em parceria com outras empresas, para oferecer soluções mais completas ao produtor, com resistências a insetos, doenças e herbicidas.
SN – A BASF fez uma pergunta que é crucial na autocrítica da própria empresa: “O que o agricultor está buscando?”. Gostaria de que falasse um pouco sobre isso.
HB – A pergunta é mesmo esta, como nós nos tornamos mais relevantes para o agricultor? Sabendo o que ele está buscando, isto nos ajuda a entender melhor o que devemos fazer para criar e desenvolver para entregar ao cliente o seu desejo. Quando o agricultor fala que quer mais produtividade e longevidade, ele quer evoluir, superar o patamar onde está. É entregar mais produtividade, e mais longevidade.
SN – A longevidade está relacionada com a viabilidade do negócio do agricultor?
HB – Sim, com a sustentabilidade de negócio por mais tempo. A longevidade é o ponto central. A longevidade está ligada à rentabilidade, está ligada ao futuro, está ligada ao ambiente, está ligada ao legado – que é nosso propósito. Esta pergunta nos leva a implementar nosso propósito que é “BASF na agricultura. Juntos pelo seu legado”.
SN – Qual a sinergia que podem trazer as últimas aquisições da BASF na área de sementes e germoplasmas com o tratamento de sementes?
HB – O Tratamento de Sementes Industrial (TSI) vem evoluindo muito bem no Brasil. Temos dados indicando que o índice de recompra de quem experimentou uma semente com TSI é de 90%. Isto é uma comprovação de que quem utilizou uma semente de qualidade dificilmente volta a usar outro tipo de semente. É a genética definindo o uso de semente tratada (TSI).
SN – Fale sobre os novos produtos da BASF para TSI.
HB – Com a aquisição do negócio de sementes, a empresa também adquiriu soluções em TSI. O Poncho® é indicado para o tratamento de sementes de milho. Em breve, teremos mais uma nova solução disponível no Brasil, como o Votivo®, que já é comercializado em outros países e é complementar ao Poncho®. Há também um nematicida que está em avaliação e um fungicida para trigo que está em análise para lançamento nos próximos anos.
SN - Qual é hoje a longevidade do tratamento TSI?
HB - No milho, a necessidade é que a longevidade do tratamento seja de 18 meses. Na soja, o TSI permite que o produtor de sementes tenha um planejamento melhor para logística, podendo antecipar o tratamento em até 150 dias. Com relação aos produtos biológicos, inoculantes longa vida, por exemplo, atualmente trabalhamos com 51 dias. Temos um pipeline de produtos bastante robusto para biológicos com amplo tempo para armazenamento.
SN – Tem-se observado muitos produtos biológicos nas grandes companhias globais. Como anda a empresa nesta nova frente?
HB – Sim, nós temos vários produtos biológicos que também se encaixam em proteção de cultivos, principalmente para tratamento de sementes. Temos o Votivo®, que é um biológico que estamos trazendo para o Brasil e será disponibilizado em breve. Tratamos todas as soluções por nós desenvolvidas, seja biológico, seja químico, seja digital, trait ou genética, dentro de um mesmo contexto, ou seja, são tecnologias que devem ser utilizadas de forma integrada. A agricultura exige cada vez mais isso, a complementação entre as ferramentas para o incremento de produtividade com toda a segurança necessária.
Entrevista com produtores de sementes
Na oportunidade, nosso colaborador Ivo Marcos Carraro ouviu também os produtores de sementes Jeferson Aroni (Sementes Jotabasso), Fabio Jacobsen (Cooperativa Coopavel), Jorge Soares (Otto Adriana Sementes) e Oscar Stroschon (Sementes Produtiva), que responderam à pergunta: Qual é a importância da entrada da BASF no mercado de sementes para sua empresa? Vejamos a opinião de cada um deles:
Jeferson Aroni – Já temos parceria com a BASF há vários anos. Foi importante a abertura de informações sobre as intenções a longo prazo e de forma muito clara e objetiva do que a BASF pensa e do que vai fazer para nossas empresas e nossos clientes. Acho que é fundamental ter conhecimento deste pipeline de produtos e serviços.
Fábio Jacobsen – Os diretores da empresa falaram muito sobre qualidade de sementes e da tecnologia que estão trazendo em termos de novas cultivares e do TSI. A cooperativa Coopavel trabalha com 90% da semente tratada com produtos da BASF. Foi muito importante tomar conhecimento dos futuros lançamentos e da responsabilidade que a empresa tem com o cliente.
Jorge Soares – Para mim, o evento foi grandioso, com muita informação. Sobre químicos, nós já estamos cientes dos produtos, mas a novidade é saber o que a BASF avançou com o banco genético em soja especificamente. Nós, como produtores de sementes, mais especificamente em soja, ficamos confortáveis em saber como a empresa estruturou seu banco genético e a possibilidade de bons produtos casando com o TSI e o melhoramento.
Oscar Stroschon – A BASF é mais uma empresa que chega ao mercado trazendo seus produtos, suas soluções, e nós, produtores de sementes, temos aí mais um player no jogo. Isto é importante, porque aumenta a concorrência, tornando o jogo mais democrático e mais eficiente. Representa mais uma opção relevante para que nós, produtores de sementes, tenhamos mais acesso a tecnologias. O TSI ainda é um desafio. É preciso que o produtor incorpore de fato esta tecnologia e que ela seja eficaz para ele, sem retrabalho na fazenda.