Na pesquisa existem resultados promissores com transgênicos de diversas espécies e com características variadas, porém, a maioria dessas tecnologias não chega ao produtor. O custo envolvido na geração de um evento GM (geneticamente modificado) explica porque é tão difícil colocar um transgênico no mercado.
Com base uma pesquisa que contou com a participação das principais detentoras de tecnologias transgênicas em nível mundial (Phillips McDougall, 2011; Prado et al., 2014), temos com clareza o esforço necessário para cada etapa do processo criativo.
A primeira etapa é a descoberta do gene, onde o objetivo é identificar o gene associado a característica que desejamos inserir na planta. A busca por esses genes de interesse pode ser realizada em qualquer organismo vivo. Na soja RR por exemplo, o gene de resistência ao glifosato foi isolado da bactéria Agrobacterium tumefaciens, enquanto que o gene Bt, com ação inseticida, tem origem da bactéria Bacillus thuringiensis. Trata-se de uma tarefa árdua e quanto mais complexa a característica maior é o desafio. Em geral, características diretamente associadas a produtividade ou que conferem tolerância a condições climáticas adversas, representam um desafio é maior. São estudos que envolvem atuação de cientistas de diferentes áreas e a utilização de várias ferramentas, como a bioinformática e as chamadas ômicas (genômica, trasnscritptômica, metabolômica, etc...). Uma vez selecionados os genes candidatos, esses são introduzidos em uma planta modelo, a fim de comprovar a sua função, na maioria das vezes utiliza-se a Arabidopsis thaliana. Somente nessa fase são investidos em média US$ 31 milhões em um período de 5 anos.
Após comprovar a função do gene na espécie modelo, partimos para a etapa chamada prova de conceito, que visa testar a sua funcionalidade na espécie de interesse comercial. Para isso é necessário realizar uma série de adaptações no gene e nas suas regiões regulatórias, e uma vez otimizadas, essas sequências são inseridas na planta de interesse por meio de técnicas de transformação (biobalística ou Agrobacterium). Realiza-se um grande número de transformações, a fim de gerar vários eventos, para dentre esses selecionar os mais promissores. Uma vez obtidos, os eventos são testados em ensaios preliminares em ambiente controlado, a fim de eliminar aqueles que apresentem algum prejuízo mais evidente ao crescimento ou ao desempenho agronômico, em decorrência da transformação. O investimento nessa fase é em torno de US$ 28,3 milhões, em um período médio de 2 anos.
Uma vez que o gene selecionado confere a característica de interesse sem prejuízos ao desempenho da cultura, inicia-se um novo ciclo de transformações, visando gerar eventos suficientes para realização de testes a campo, em diferentes locais e condições ambientais. Nessa etapa chamada de fase inicial de desenvolvimento, é realizada também a caracterização molecular dos eventos por sucessivas gerações, a fim de comprovar a estabilidade do transgene. Adicionalmente, iniciam-se os estudos iniciais de toxicidade por meio de sequenciamento, comparando as sequências do transgene com informações depositadas em banco de dados, visando assegurar que não haja semelhança com proteínas ou compostos que conferem alguma toxicidade ou alergenicidade ao homem ou animal. Nessa fase o investimento é de US$ 13,6 milhões em um período de 2,5 anos.
Na fase avançada de desenvolvimento é realizada a análise de risco e o transgênico é submetido a rigorosos testes, a fim de atestar a sua segurança para o homem, animal e meio ambiente. É nessa fase também que o transgene é inserido nas variedades comerciais por meio de cruzamentos. O alto custo para realização dos testes de biossegurança faz com que a maior parte dos recursos sejam envolvidos nessa etapa. São investidos em média de US$ 45,9 milhões em um período de 3 anos.
Na etapa de pré-lançamento, o dossiê contendo todas as informações do desenvolvimento do transgene, incluindo os testes de performance agronômica e da análise de risco, é submetido para aprovação pelas agências regulatórias. No Brasil, os transgênicos obrigatoriamente passam pela avaliação da Comissão Técnica Nacional de Biosegurança (CTNBio), para serem avaliados quanto aos aspectos da biossegurança. A aprovação pela CTNBio por si só não garante que um transgênico chegará ao mercado. Questões econômicas e sociais também são consideradas para aprovação final. Além disso, como o Brasil é um grande exportador de alimentos, é necessário que o transgênico seja também aprovado nos países para os quais o produto é exportado. Essa etapa tem investimento médio de US$ 17,2 milhões, com duração aproximada de 4 anos.
Após passar por todas essas fases, as variedades transgênicas são disponibilizadas ao agricultor. O somatório dos custos fica em torno de US$ 136 milhões, podendo levar mais de 16 anos entre a descoberta de um gene e a colocação da variedade no mercado.
Com base em tudo que foi exposto, não é difícil compreender porque essas tecnologias hoje ficam restritas a um pequeno grupo de multinacionais. Isso explica também a grande expectativa que há em torno das novas ferramentas de edição gênica, especialmente CRISPR. Como já discutido em temas anteriores, essas novas tecnologias abrem a possibilidade de realizar modificações no gene, alterando características de interesse sem necessariamente envolver a adição de sequências de outras espécies, ou seja, introduzindo modificações que podem ocorrer na natureza, mas que dificilmente seriam transferidas via melhoramento genético tradicional.