A desnutrição tem sido um problema contínuo ao longo da história do ser humano, seja pela falta de acesso a volume suficiente de alimento ou pela baixa qualidade e diversidade de nutrientes à sua disposição.
A transição da caça para a agricultura (revolução neolítica) começou há cerca de 12.500 anos, quando a domesticação de um pequeno número de espécies de plantas selvagens em várias partes do mundo levou à primeira revolução agrícola, que nos forneceu uma fonte relativamente segura de alimentos.
Isso, por sua vez, permitiu que as comunidades crescessem e adotassem um modo de vida mais sedentário, o qual abriu o caminho para o desenvolvimento de aldeias, vilas e cidades, que cada vez mais dominam o nosso modo de vida e todas as mudanças sociais e culturais que isso envolve.
Antes da descoberta da América pelos povos europeus, os povos indígenas do Canadá, por exemplo, já demonstravam ter domesticado e baseado sua dieta em principalmente apenas três tipos de alimentos: o milho, o feijão e a abóbora.
A diversidade que temos hoje em dia é reflexo da interação entre inúmeras gerações de agricultores e sua constante ação sob os recursos vegetais e animais à sua disposição.
Apesar do dramático desafio imposto pelo crescimento populacional do ser humano durante os últimos 150 anos, a exploração da biodiversidade agrícola tem conseguido atender as demandas e suportar enormes benefícios em termos de nutrição e saúde, o que se deve, muito especialmente, à evolução do conhecimento e tecnologia nas mãos de melhoristas e à cadeia agrícola em geral.
Apesar do sucesso da revolução agrícola em fornecer alimentos suficientes para alimentar o mundo, hoje nos deparamos com questões envolvendo tanto situações de excessos como de escassez.
Infelizmente, as principais culturas alimentares são fontes pobres de micronutrientes necessários para o crescimento humano normal. Assim, hoje, mais de um bilhão de pessoas são cronicamente desnutridas, tornando-as mais propensas a doenças, enquanto grande parte do mundo desenvolvido está, ao mesmo tempo, enfrentando problemas de obesidade, causados por um estilo de vida pouco saudável que leva a doenças relacionadas à dieta, como hipertensão, diabetes e doenças hepáticas.
Em consequência, as suas possíveis formas de solução envolvem vários níveis multissetoriais, que resultam da complexa interação de fatores econômicos e sociais, dos sistemas agroalimentares, de saúde e ambientais que determinam o acesso a serviços e recursos, além de todos os processos políticos relacionados.
Um enfoque sobre a agricultura que envolve biodiversidade, proporcionando uma oferta ecologicamente sustentável e variada de alimentos, é diretamente relacionada a uma nutrição humana saudável.
Assim, uma abordagem bio diversificada em termos de nutrição deve ser vista como um elemento estratégico que inclui também a melhoria contínua da produtividade agrícola, a criação de cultivares que são mais resistentes a doenças e estresses, e a melhoria nutricional das culturas.
Os esforços dos melhoristas vegetais do século XXI, com ferramentas de biotecnologia cada vez mais eficientes à disposição, têm se voltado cada vez mais ao desenvolvimento de plantas com atributos nutricionais superiores, chamados de cultivares “biofortificadas”.
(...) nos próximos anos, a terceira onda de transgênicos e organismos melhorados através de ferramentas de biotecnologia oferecerá importantes melhorias nutricionais às plantas e à sociedade em geral.
A primeira onda de transgênicos veio ao mundo oferecendo resistência a herbicidas, enquanto que a segunda onda ofereceu combinação de resistência e tolerância a herbicidas e inseticidas de vários tipos. Porém, nos próximos anos, a terceira onda de transgênicos e organismos melhorados através de ferramentas de biotecnologia oferecerá importantes melhorias nutricionais às plantas e à sociedade em geral.
Alguns exemplos já são conhecidos ao redor do mundo, como o arroz com mais vitamina A (Golden Rice), soja com alto teor oleico, milho proteico com alto teor de lisina, e suplementação de selênio, iodo e zinco em várias espécies.
É hora de ampliar ainda mais a nossa abordagem ao agronegócio e explorar melhor as ligações entre agricultura, produção de alimentos e nutrição.