Semente muito mais que um insumo

Edição XXIII | 03 - Mai . 2019
Marcelo Benevenga Sarmento-marcelobs05@hotmail.com

    Inicio este texto repetindo o jargão agronômico “a semente não é um grão que germina”, mas um ser vivo que possui importantes atributos genéticos, físicos, fisiológicos e sanitários. 

    Os atributos genéticos referem-se às características que foram selecionadas pelo melhorista ao longo de anos de pesquisa e que devem expressar-se positivamente na lavoura. Os caracteres físicos correspondem a cor, tamanho, forma, textura, sementes quebradas, presença de terra, palha, areia, flores, vagens, umidade, etc. Em termos fisiológicos, todo lote de sementes para condução de uma boa lavoura deveria ter elevada germinação, vigor e viabilidade. A germinação é obtida em laboratório em condições ótimas de temperatura, substrato, umidade e luz, e demonstra a máxima capacidade germinativa do lote, o que dificilmente pode ser atingido em condições de campo. O vigor, por sua vez, é testado em condições desfavoráveis, como frio, calor e excesso de umidade, que são comumente encontradas nas lavouras, exigindo com isso grande capacidade da semente em superá-las.  Por fim, a viabilidade corresponde ao percentual de sementes vivas de um lote. Os aspectos sanitários envolvem a presença ou ausência de patógenos, pragas e sementes de ervas indesejáveis.

    Ao longo da evolução agrícola, pouca atenção tem sido dada à qualidade das sementes para formação de uma lavoura. Nas últimas décadas, em função da maior competitividade da agricultura, pesquisadores, técnicos e agricultores passaram a perceber que a semente não é um insumo e sim matéria prima. 

    Mais recentemente, diversas pesquisas têm demonstrado que a qualidade diferenciada de um lote de sementes pode refletir-se em um desempenho melhor a campo. Trabalhos realizados na Universidade Federal de Pelotas (UFPel), envolvendo sementes de soja, demonstraram que lotes com alto vigor produzem, em média, 30% a mais que lotes de baixo vigor. A Figura no texto mostra um lote de sementes de alta qualidade sanitária e um lote de baixa qualidade. A Figura no texto compara um lote de sementes sadias de soja com outro apresentando diferentes tipos de dano. 

    Embora o vigor ainda não seja obrigatório para a comercialização de sementes no Brasil, ele deveria ser exigido pelo produtor, pois sementes de alta germinação muitas vezes exibem baixo vigor a campo, o que é observado na reduzida emergência em temperaturas baixas, no fraco e lento estabelecimento da lavoura e no pouco desenvolvimento inicial das plantas.

    O pesquisador da Embrapa, José de Barros França Neto, cita como grandes evoluções tecnológicas para sementes de soja o uso de época de semeadura específica para produção de sementes; antecipação da colheita, com 17-19% de umidade; lançamento de novas variedades, que, além de produtivas, apresentam melhores qualidades fisiológica e física da semente; aplicação de fungicidas foliares para o controle das doenças de final de ciclo e da ferrugem asiática; melhor correção nutricional da lavoura; melhor controle de percevejos e outras pragas; colheita com menos danos mecânicos e menores perdas; novas técnicas de secagem; equipamentos melhorados e específicos para o beneficiamento das sementes; melhores técnicas para a semeadura; tratamento das sementes com fungicidas, inseticidas, polímeros, corantes, micronutrientes e inoculantes. Estima-se que 95% das sementes de soja sejam tratadas com fungicidas e que cerca de 40% das mesmas já estejam sendo comercializadas com o Tratamento Industrial de Sementes (TIS).


Nas últimas décadas, em função da maior competitividade da agricultura, pesquisadores, técnicos e agricultores passaram a perceber que a semente não é apenas mais um insumo, porém o principal.


    Com essa gama de tecnologias associadas, a semente hoje é considerada um chip, pois contém características genéticas únicas, como genes para adaptação, teor de óleo e proteínas, rusticidade, resistência a doenças e pragas, qualidade diferenciada, tolerância a insetos e a herbicidas, rendimento de grãos, dentre outros. Deste modo, a semente de uma variedade superior não pode ser considerada pelo seu custo, mas sim pelo seu valor, que compreende o conjunto dos atributos da qualidade acima mencionados, que farão a diferença na sua lavoura e no seu bolso. Eles irão permitir ao agricultor estabelecer mais rápida e uniformemente sua lavoura, formar plantas sadias e obter maior eficiência fotossintética, transformando assim os recursos ambientais em maior rendimento por hectare e, consequentemente, em maior retorno financeiro.

          

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