A Produção Brasileira de Sementes

Edição III | 01 - Jan . 1999
Clovis Terra Wetzel-diretoria@seednews.inf.br

    Os números da safra brasileira de sementes no ano agrícola 1996/1997, de cerca de 1.576.900 toneladas, distribuídos entre algodão, arroz, feijão, milho, soja e trigo — consideradas grandes culturas —, publicados no anuário Abrasem/98, indicam um aumento de 25% em relação à safra 1995/1996 (conforme tabela). Este é um crescimento relevante, observado a partir da safra recorde de 2.146.457 toneladas de sementes, ocorrida em 1989, ao estabelecer-se comparação com o “sobe-e-desce” verificado nos últimos sete anos: -15%, -12%, - 8%, +2%, +16%, -19% e -13% (Anuário Abrasem). 
    A comparação entre a produção das safras 95/96 e 96/97 mostra aumentos e diminuições, variando de estado para estado e, consequentemente, de região para região. Concentrada no Centro- Sul, mas estendendo-se de sul ao norte e de leste a oeste, a área de sementes forma um mapa irregular no território brasileiro, no que se refere às áreas plantadas e às espécies envolvidas. Dos plantios para semente, 50,78% foram realizados pelos estados da região Sul; 39,48% no Centro- Oeste, 7,29% no Sudeste; 2,34% no Nordeste; e 0,11% na região Norte. 
    Na safra 96/97, as espécies referidas como grandes culturas apresentaram o seguinte aumento na produção de sementes, em relação à safra anterior: feijão, 67%; soja, 35%; arroz, 22%; e trigo, 16%. Porém, a produção de algodão teve uma redução de 16%. O grande destaque no crescimento da produção de sementes ficou com o feijão, que apresentou aumento de 75%, na região Centro-Oeste; 65%, na região Sudeste; e 52%, na região Sul. 
    A produção de sementes de espécies forrageiras cresceu 4%, enquanto ocorreram diminuições em ervilha (86%) e olerícolas (46%). Em alho planta não houve alteração. O destaque do aumento de forrageiras ficou com a região Sul (16%), ocorrendo reduções no Centro-Oeste (25%) e Sudeste (6%). Em outras culturas, como aveia, cevada, linho, sorgo e triticale, o grande destaque coube à cevada, cuja produção de sementes teve um crescimento significativo na região Sul — 54%. 
    Em relação às demais, a produção de sementes das chamadas grandes culturas é predominante, na realidade brasileira: 92% na safra 95/96 e 93% na safra 96/97, o que ainda caracteriza o baixo nível de oferta de sementes, quanto às espécies de menor significado na economia agrícola. Entretanto, neste aspecto, a região Sul é a mais diversificada. Mesmo nas grandes culturas, manteve- se um “fosso tecnológico” representado pelo plantio de mais de oito milhões de hectares com grãos, ou seja, 33% da área total. O ranking das áreas cultivadas com grãos - não com sementes compradas no ano ou sementes próprias -, por espécie, é o seguinte: em feijão, 1.289.676 ha (88% do total plantado na safra 96/97); arroz, 985.503 ha (59%); milho, 3.036.368 ha (33%); suja, 2.940.599 ha (27%); e trigo, 95.694 ha (7%). 
    Segundo o relatório, há uma margem para o crescimento do mercado de sementes melhoradas das grandes culturas, da ordem de 477 mil toneladas, para substituir o plantio de grãos. Os “bolsões” com possibilidade de crescimento estão em algodão (MT, MG e GO), arroz (RS), feijão (PR e MG), soja (RS), e trigo (PR e RS) - com a perspectiva de absorção de cerca de 240 mil toneladas. 
    O mercado de sementes poderia igualmente crescer em vários estados, mas com ênfase na região Sul, com 39 mil toneladas. Estas informações indicam claramente onde estão os mercados de sementes que poderão expandir-se, quanto as espécies e os estados, no Centro- Sul brasileiro. 
    A safra 96/97 pode estar inaugurando uma boa fase de incrementos crescentes na produção brasileira de sementes, para uma maior oferta da tecnologia É “cultivar”, que, certamente, é a forma mais barata de beneficiar a produtividade, além de reduzir a enorme ociosidade do setor, hoje estimada em cerca de 67%, objetivando também melhorar a viabilidade deste tipo de negócio, tão importante para a agricultura nacional. 
    Por outro lado, os dados da safra 96/97 referentes a áreas aprovadas para a produção de sementes, pelos órgãos estaduais competentes, provenientes de 21 Unidades da Federação, vêm comprovar a continuidade do longo ciclo de oito anos de redução da produção brasileira de sementes melhoradas, sob controle governamental. 
    Entretanto, alguns aspectos das variações de áreas plantadas para a obtenção de sementes, segundo as espécies e categorias, merecem observações: 
 a) A despeito da queda da área de sementes básicas (-18%) para várias espécies, o crescimento Frinciuí cebola e cenoura em soja e algodão parece indicar interesse maior na qualidade, enquanto que o aumento em batata está incorporado no conceito de produção deste insumo. 
 b) Com exceção da área dedicada à obtenção de semente registrada de arroz irrigado, houve uma drástica perda de área (- 55%) e para outras espécies (batata, soja e trigo), nesta classe. 
 c) A ocorrência de grandes perdas de área para a produção de semente certificada, na safra 96/ 97 — algodão, arroz de sequeiro, batata, feijão, milho trigo — foi, de certa forma, compensada por ganhos ocorridos em soja e arroz irrigado, nesta classe. 
 d) Na ponta da linha dos sistemas brasileiros de produção de sementes, as áreas de sementes fiscalizadas cresceram para arroz irrigado e feijão, porém diminuíram significativamente para algodão, forrageiras, milho, soja e trigo. 
 e) Estas informações exemplificam a diferenciação do mercado de sementes no País, ao mesmo tempo em que ele se ajusta rapidamente às possíveis demandas, por segmento e categoria de semente. 
 f) Finalmente, as áreas aprovadas para a produção de sementes básicas, na safra 96/97, representam, em boa parte, ações governamentais; enquanto que a produção de sementes registradas, certificadas e fiscalizadas correspondem à típica atividade econômica do setor privado, de grande interesse para a produtividade das lavouras, através da disseminação de cultivares públicas. 


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