O milho é um dos alimentos mais
nutritivos que existem. Puro ou como ingrediente de outros produtos, é uma
importante fonte energética. Ao contrário do trigo e o arroz, que são refinados
durante seus processos de industrialização, o milho conserva sua casca, que é
rica em fibras, fundamental para a eliminação das toxinas do organismo. Muito
energético, o milho traz em sua composição vitaminas A e do complexo B,
proteínas, gorduras, carboidratos , cálcio, ferro e fósforo. Cada 100 gramas do
alimento tem cerca de 360 Kcal, 70% de glicídios, 10% de proteínas e 4,5% de
lipídios.
ALIMENTAÇÃO ANIMAL - O milho
é estratégico na agropecuária brasileira. Cerca 82% de todo o milho produzido internamente
é consumido sob a forma de ração, enquanto seu processamento. em alimentos voltados
ao consumo humano está em 13% da produção total. Além de utilizado na composição
de rações, pode ter aplicação direta na alimentação animal como milho em grãos,
farelo de milho moído, farelo de germe de milho peletizado fubá grosso. Na
composição das rações o milho representa 63,5% na avicultura de corte, 59,5% na
avicultura de postura, 65,55 na suinocultura e 23% na pecuária de leite. A
maior parte do milho destinado ao aproveitamento animal vai para a criação de
suínos e aves de corte.
ALIMENTAÇÃO HUMANA - Maior
que as qualidades nutricionais do milho, só mesmo sua versatilidade para o
aproveitamento na alimentação humana. À industrialização do milho para
alimentação humana divide- se fundamentalmente em dois setores que são o de
moagem a seco e a úmido, sendo que a primeira possui grande tradição no Brasil.
Todavia, embora nas últimos décadas não tenha havido um grande crescimento no
volume total de moagem a seco, houve evolução marcante na qualidade
e sofisticação dos produtos oferecidos pelo setor.
A primeira e principal tarefa do
moageiro é a separação do milho em seus constituintes básicos para posterior
moagem ou transformação desses elementos, | que são: o germe de onde
posteriormente se extrai o óleo; a casca que envolve os grãos; o endosperma que
será submetido a moagem posterior; e os resíduos industriais que
vão para a fabricação de rações. O ponto de partida para a separação do grão em
seus constituintes básicos é a qualidade do milho que chega - a indústria. Assim,
o moageiro busca o produto ideal para a sua | necessidade, o chamado milho utópico.
Para atender a esta qualificação, o
produto deveria ter uniformidade de dureza e cor, sendo da mesma espécie; mesmo
tamanho e formato; isento de impurezas, ardidos, quebrados, trincados, de
micotoxinas e de resíduos tóxicos.
O moageiro deveria, como qualquer
industrial que deseja atender a especificações de qualidade na saída dos
produtos de sua indústria, ter também critérios rígidos de entrada ao seu
dispor. Entretanto, infelizmente não existe ainda no Brasil um padrão de milho
adequado à industrialização para consumo humano. Por isso na quase totalidade
das compras, as empresas recebem produtos do padrão destinado ao consumo
animal.
No Brasil possuímos apenas a classificação
oficial dos tipos 1, 2 e 3 que é insuficiente e inadequada para os requisitos da
indústria e também a praxe do mercado 1% de impurezas e 6% de ardidos não é
insuficiente para as nossas necessidades.
O critério de qualidade não é suficiente
para essas classificações atuais porque elas não controlam ou controlam mal
diversos fatores que afetam a qualidade final dos produtos. Entre eles, destacam-se
três. As afetam tremendamente o rendimento de moagem e são porta de trincas,
que entrada para contaminantes; os “ardidos, encontrados em níveis altos,
considerando que o produto destina-se ao consumo humano; e os fungos resíduos
tóxicos.
Entretanto, os moageiros têm também
culpa nesse processo, pois durante muitos anos não houve por parte de nossos
compradores nenhum outro critério de compra a não ser o econômico, ou seja, na
aquisição se procurava apenas o melhor preço. Porém, nos últimos anos o mercado
começou a se impor, e já não é apenas o menor preço de venda, mas também a
qualidade, que conduz ao sucesso de uma empresa.
Por isso aos poucos os compradores se
viram frente a um pressão crescente para procurarem maior qualidade. Dessa
forma, hoje já se dá preferência aos produtores, armazéns e cooperativas que
têm milho de melhor padrão. DESAFIOS - Além dos problemas com a qualidade,
outros dois fatores têm de ser ultrapassados para que se tenha um crescimento significativo
nos próximos anos.
O primeiro deles é o de modernização do
parque industrial, que está sendo enfrentado e vencido pelos moageiros porque
há consciência de que melhores produtos exigem melhores equipamentos. Grandes
investimentos estão sendo feitos neste sentido, mesmo com a difícil situação econômica
atual do país. O segundo é o da pesquisa e desenvolvimento de novos produtos para
que se possa apresentar crescimento do volume total de moagem que está
estacionado nos últimos anos em cerca de 1 milhão e 800 mil toneladas anuais.
QUALIDADE - Com a
sofisticação dos produtos veio a necessidade de se controlar cada vez mais a
sua qualidade final. Assim a empresas têm sido cada vez mais exigidas pelo
mercado e pelos clientes no sentido de controlar as variáveis, para se obter um
bom resultado nos produtos finais.
Entre elas, merecem destaque: o controle
de teor de óleo residual, de acidez e da atividade enzimática, para se ter produtos
com maior estabilidade, de longo shelflife; o controle da cor dos produtos
finais, importante para a apresentação final dos mesmo, e em alguns casos para evitar
a adição de corantes; o controle microbiológico de produtos; o controle de
micotoxinas, especialmente a aflatoxina; o controle de contaminantes residuais dos
pesticidas; o controle dos teores de amido, proteína, fibras, cinzas, umidade e
granulometria; e, finalmente, o controle das características de viscosidade dos
produtos finais.
PRODUTOS - a indústria
utiliza o milho a seco de acordo com a necessidade do mercado. Os produtos são
obtidos após limpeza, de germinação e moagem.
Os principais são: flocos de milho pré-cozido
para cuscuz, alimento de grande importância sobretudo no norte e nordeste do país;
fubás, canjiquinhas e farinhas de milho, produtos tradicionais na alimentação
popular do Brasil; farinhas pré-cozidas e instantâneas para o mercado e para programas
institucionais do governo; farinhas para indústria alimentícia e de massas;
gritz para indústria cervejeira; gritz para indústria de snacks e de cereais matinais;
gritz para mineração; farinhas pré-cozidas de milho para uso alimentício e
industrial; farinha para indústria de premix; óleo de milho bruto e refinado; e
farelo de germe de milho desengordurado para a indústria de rações. ,
INDUSTRIALIZAÇÃO - existem muitos
procedimentos para a industrialização de milho a seco, mas nos últimos anos o
que tem apresentado melhores resultado é o processamento de milho por sistema
de degerminação com pré-condicionamento de umidade, Tempering-Degerming System,
utilizado há longos anos nos EUA, na Africa do Sul e, em alguns casos, mesmo no
Brasil.
Basicamente, o milho chega à indústria e é descarregado em moegas de
onde passa por uma pré-limpeza antes da secagem. Em seguida os grãos pré-limpos
vão ao secador onde se retira o excesso de umidade. Após a secagem, ele passa
por uma pós-limpeza e vai para armazenagem. Antes da degerminação o milho passa por um processo de condicionamento, onde sua umidade é aumentada por intermédio de adição de água ou vapor até atingir a umidade ideal para a degerminação.
"O milho é um dos alimentos
mais nutritivos e consumidos no hemisfério ocidental"
O milho é degerminado através de
degerminadores que consistem de rotores com saliências que atritam grão contra
grão retirando assim, a casca e o germe.
O fluxo que sai dos degerminadores vai
a um processo de separação por intermédio de peneiras, aspiradores e mesas densimétricas
para separação do grão em seus constituintes básicos. O endosperma do milho é
então moído por intermédio de moinhos de martelos ou de cilindros e peneirado
em peneiradores para a classificação final. O destino do germe é a extração, onde
ele é separado em óleo e farelo, este em seguida peletizado para venda como
ração animal. O óleo é vendido bruto à refinarias ou refinado e enlatado em
algumas empresas moageiras.
Em muitas empresas existe processamento
complementar dos produtos de endosperma, que passam por processos de
pré-cozimento em colunas de vapor ou extrusoras e também que são pré-cozidos e
laminados para a produção de flocos para cuscuz.
Produto presente na nossa vida
diária
O milho está presente em grande parte
das coisas que usamos ou vemos no dia-a-dia. A água de milho, o glúten e as
cascas, o óleo de milho e o amido são utilizados de diversas formas.
A água de milho concentrada tem grande
aplicação no campo da medicina, pois é usada na cultura do material de onde se extraem
a penicilina, a estreptomicina e outras drogas similares. Não fosse assim, elas
não poderiam ser produzidas em grande escala. Também na composição de tônicos
reconstituintes é a água de milho usada, O glúten, as cascas e as tortas de
germe, depois de secos e moídos, dão origem aos farelos, de grande utilização
na pecuária e na avicultura.
O milho inteiro tem somente 10% de
proteína, ao passo que algumas dessas rações chegam a 41%. Ao tomarmos leite ou
comermos ovos, carne, toucinho e outros produtos de origem animal, estamos
indiretamente utilizando aquele elevado índice de proteína dado aos animais.
Portanto, o milho ocupa lugar muito importante em nossa alimentação. O óleo de
milho bruto tem aplicações na indústria, principalmente na fabricação de
sabões.
O mesmo acontece com o óleo refinado,
utilizado em alguns produtos farmacêuticos, em graxas para couros e como
veículo para certos inseticidas. Já na alimentação humana, o óleo é de fácil
digestão e de assimilação rápida e total, além de ser excelente para vitaminas
solúveis em gordura. Cientistas descobriram também que o óleo de milho faz baixar
o nível de colesterol na corrente sanguínea, diminuindo o risco de distúrbios cardiovasculares.
AMIDO - A química do amido ainda
constitui um desafio. Em outras épocas, teve importância menor, sendo sua
principal função dar consistência a pudins, engomar camisas e outras aplicações
de menor crédito. Hoje, entretanto, alargam-se os horizontes.
O amido de milho, sinônimo de Maizena
(marca surgida em 1856), tem grande destaque na alimentação infantil, devido à
sua fácil assimilação. É ainda indispensável na cozinha, no preparo de sopas e
cremes e de pratos doces e salgados. Inúmeras indústrias de produtos
alimentícios utilizam o amido de milho.
Entre elas, panificadoras, fábricas de
fermento em pó, de conservas, confeitos, molhos para saladas, . biscoitos,
gomas de mascar e outras. GLUCOSE - A glucose é também muito utilizada. No pão,
por exemplo, sua função é facilitar a fermentação, aumentar a maciez e a
durabilidade, além de melhorar o aspecto, principalmente dos pães tipo francês
e de forma. Um derivado de glucose, chamado Cor de Caramelo, é empregado em
muitos refrigerantes e em bebidas em geral. O Karo (glucose nutritiva de milho)
também chamado “mel de milho” tem larga aplicação na culinária, servido, entre
outros, sobre panquecas e pães. Além da alimentação, pode-se encontrar o milho
em diversas áreas.
"Até ao consumir produtos
animais estamos indiretamente ingerindo a proteina
do milho"
INDÚSTRIA - Na indústria têxtil
exige-se a presença do milho na forma de amidos e dextrinas especiais. Os
primeiros asseguram o êxito da engomagem dos fios graça à extraordinária resistência
que lhes conferem. As segundas, além da engomagem, são utilizadas no acabamento
e como agente fixador de tintas e corantes na estampa.
Emprega-se também o amido na fabricação
de papel, para aumentar a resistência à tração, ao estouro, à rasura e ao
desgaste. Além disso, é usado para melhorar o aspecto. Quase todos os tipos de
papel devem ser submetidos a um tratamento de amido para obterem superfície
lisa. Muitos dos tipos de colas ou adesivos existentes no mercado são
fabricados a partir da dextrina. Rótulos, embalagens de papelão, livros, selos
postais, tapetes móveis ou estofados. Para cada coisa a ser colada há um tipo
especial de cola à base de dextrina.
Outras aplicações dos derivados de milho
são ainda mais surpreendentes: explosivos, baterias elétricas, peças de carvão
vegetal para combustível, cabeças de fósforo, tintas, cosméticos e outros.
Processamento úmido inicia pela
limpeza total
Na industrialização à úmido, o
primeiro processo que sofre o grão de milho é a limpeza. Nela se elimina a
palha e outros resíduos por meio de peneiras ou ciclones. Daí, seguem para
silos, depois para os tanques de maceração.
Nesses tanques ficam por mais 48
horas, imersos em água aquecida com uma solução de SO, para evitar a
germinação. Parte dos minerais e proteínas existentes no milho acaba dissolvida
nessa água, enviada posteriormente para evaporadores e concentrada até a taxa
de 50% de sólidos. Pelo seu alto valor proteico, a água dos maceradores tem
importantes aplicações.
Dos tanques de maceração, vai o grão
para os moinhos, cuja finalidade é quebrá-los e libertar o germe. Em seguida,
são levados para os hidroclones (cones plásticos, que fazem centrifugação com
auxílio de água a alta velocidade), onde é feita a separação do germe. Uma vez
separados, os germes sofrem várias lavagens. Depois de secos, são enviados aos
extratores que, por meio de calor e pressão, lhes extraem quase todo o óleo.
Este, após um processo de refinação e alcalização, torna-se comestível. Os
resíduos do germe resultam na torta de óleo que, depois de triturada, entra na
composição de farelos e rações para animais.
CASCAS - Após a separação do
germe sobram o amido, o glúten e a casca. Tritura-se esta mistura em máquinas
especiais. Na continuidade, lava-se através de uma série de sarilhos e peneiras
vibradoras. Os sarilhos são grandes telas rotativas feitas de nylon esticado
sobre armações, que recolhem apenas a casca. Já as peneiras vibradoras retiram
da massa de amido a glúten as mais finas partículas de casca que possam ter
passado pelos sarilhos.
As cascas recolhidas vão para extratores
de água e depois a uma caixa misturadora, juntamente com a água retirada
anteriormente dos maceradores e tortas de germe. Tal mistura, uma vez seca e moída, transforma- se no farelo com um mínimo de 21% de proteína, destinado à
alimentação do gado leiteiro.
AMIDO - O glúten e o amido restantes
são separados em centrífugas de alta velocidade. Juntamente com a água entram
na máquina de onde o glúten (por ser mais pesado) é expelido pela parte
superior, junto com a maior parte da água. Uma vez seco e moído, o glúten é
também usado em rações animais. O amido restante é lavado, filtrado e seco. A
seguir, acondiciona- se uma parte, que entra no mercado como amido puro. A outra,
transforma-se em dextrina, glucose líquida ou sólida. A dextrina é obtida pelo cozimento do amido, sob condições adequadas, resultando em pós finos de coloração variável.
"Cada elo da corrente
deve atender as necessidades dos demais, para
que todos ganhem"
O processo de conversão do amido é
realizado de forma semelhante ao que o corpo humano faz. Um equipamento
especial transforma o amido em açúcar de milho (dextrose). Isto ocorre em
tanques fechados chamados “convertedores”. Neles o amido é misturado com água acidificada,
sendo toda a solução aquecida. Quando se atinge determinado ponto,
interrompe-se tudo, neutraliza-se o ácido, e, por meio de evaporação, reduz- se
a glucose a várias consistências.
Levada a conversão até o fim, conseguimos
um açúcar altamente refinado (glucose sólida e dextrose), com grau de pureza em
torno de 99,5%, o mesmo encontrado na nossa corrente sanguínea. Interrompido,
porém, pouco antes, o produto obtido é a glucose sólida bruta, com cerca de 70
a 80% de dextrose. Os 30% restantes constituem-se de umidade, dextrina e
outros a açúcares.
Cadeia torna melhor a qualidade em
geral
Uma das maiores virtudes de um
mercado é entender e buscar alternativas para que todos ganhem, o que só se
consegue a partir da compreensão de que não somos partes isoladas. As modernas
técnicas de marketing mostram o cliente como o grande alvo a atingir e
satisfazer. Mas quem é realmente o cliente? Quem entender como funciona seu
mercado, do começo ao fim, descobrirá certamente quem consome seus produtos, de
forma direta e indireta, isto é, conhecerá o cliente, diz o engenheiro agrônomo
Eduardo Botelho, da Novartis Seeds.
Na década de 80 a Novartis identificou a
necessidade que o mercado teria de milhos híbridos não só mais produtivos como também
com maior quantidade de grãos, além de isentos de substâncias tóxicas,
micotoxinas de insetos, com baixo índice de grãos. além de insetos de
substâncias tóxicas, micotoxinas de insetos, com baixo índice de grãos ardidos,
alto peso específico de coloração alaranjada.
A experiência da empresa redirecionou
sua pesquisa e influenciou a forma de comunicação e prestação de serviços, explica.
Pensando bem, comenta Eduardo, grãos de milho com essas características não são
necessidade dos agricultores exatamente, mas sim das empresas ou pessoas que os
utilizarão, pelas implicações possíveis na saúde, humana ou animal. Vamos,
então, entender melhor essa cadeia.
O consumidor final do grão de milho é o
homem, direta ou indiretamente, nesse caso através da carne de animais, e ele exige
alimento saudável e de baixo custo. Os produtores de carnes e derivados de
milho são orientados, portanto, para comprar milho isento, por exemplo, das micotoxinas,
causadoras de doenças.
Os armazéns gerais, por sua vez, querem
grãos que resistam às condições de armazenamento, já orientados também pelos
compradores. O agricultor, antes deles, precisa de milhos híbridos mais
produtivos e com grãos de qualidade, isto é, duros, pesados, alaranjados,
livres de micotoxinas, como querem os armazéns. Finalmente, as indústrias
sementeiras são impelidas a desenvolver o milho que todos querem, acionando para
isso a sua pesquisa.
O conceito de cadeia produtiva altera a
relação Cliente/Fornecedor, segundo Botelho, para quem o último deixa de ser
visto pelo primeiro como mera empresa fornecedora, assumindo a função de
parceiro, que o ajudará não só a apresentar produtos que atendam todo o
sistema, de como também alguém que sempre o ajudará a entender as necessidades
desse complexo.
"A qualidade é exigência
em todas as fases da cadeia"
E preciso que se entenda, então, que um
serviço ou produto deve ser um ítem no processo em condições de proporcionar
rentabilidade a todos os demais envolvidos.
Para isso é importante negociar com o
fornecedor melhor custo e qualidade, enquadrando- o no sistema, tornando ao
mesmo tempo nossa empresa competitiva nesses termos. Em muitos casos, deveremos
até mesmo ajudar a quem está logo acima ou abaixo da cadeia a ganhar competitividade,
pois isso implicará em vantagem mútua.
Em suma, todos esperam, uns dos outros,
não apenas um produto, mas também ajuda para que vençam nesse contexto. Se o
seu cliente for bem sucedido, assim como o cliente dele e este atender o
consumidor final, você certamente será uma pessoa de sucesso, completa Eduardo Botelho.
É hora de investir para ganhar
Uma análise mais detalhada dos
gráficos de evolução da produção e do consumo de milho no mundo mostra uma
tendência, digamos, inusitada: na virada do século pode faltar milho no
mercado. Para o ano 2000, estima-se uma produção
média mundial de 572 milhões de toneladas. Como toda moeda tem duas faces,
esses dados não expressam apenas nuvens no horizonte. Para aqueles agricultores que investirem
em tecnologia para aumentar a produtividade, eles representam uma excelente oportunidade.
Base alimentar das civilizações pré-colombianas, o milho é utilizado não apenas para
consumo humano mas, principalmente, para engorda de animais. O Brasil é hoje o
terceiro maior produtor mundial deste cereal tipicamente americano, atrás
apenas dos EUA e da China. Se o lugar no pódio está assegurado, a distância
para os dois primeiros colocados não pode ser menosprezada: a safra americana de
96/97 registra 236 milhões de toneladas contra 34 milhões do Brasil. Mas quando o assunto é milho, não é o
volume da safra, mas sim a produtividade média dos EUA - 7,54 toneladas por
hectare - que impressiona. Afinal, é mais do que o dobro da produtividade média
no Brasil que, em 1996, foi de 2,60 ton/hectare.
Esse número, que é o resultado de anos
consecutivos de aumento na safra nacional, mostra claramente que tem muita
gente deixando de ganhar um bom dinheiro com milho. Mais que uma cultura, o milho pode ser
classificado como um hábito agrícola, herdado dos índios. E presença quase que obrigatória
em qualquer quintal, sítio ou área cultivável. Quase como um membro da família,
o milho por vezes não recebe a atenção necessária para uma produção industrial.
Tanto que foi o milho safrinha, em São Paulo e Paraná, um dos grandes
responsáveis pelo aumento da produção em 1996. Todos nós sabemos que o milho
safrinha recebe poucos investimentos por ser considerado uma cultura de risco,
de vido às limitações climáticas normais para essa época de plantio, como a
falta de chuva. Daí termos uma produtividade por hectare tão baixa na safrinha.
Profissionalização - Investimentos em
boas sementes, adubação e correção do solo fazem parte da lição de casa quando
o assunto é produtividade. E o controle de ervas daninhas também. Parece
incrível, mas apesar de todos os esforços, químicos e mecânicos, na luta contra
as ervas daninhas, elas causam perdas anuais nas culturas de soja, milho e
trigo de mais de US$ 5 bilhões por safra em todo o mundo. No Brasil, ao redor
de 30% da área plantada com milho recebe tratamento com herbicidas.
O mato não deixa por menos: ele invade
as áreas cultivadas, rouba os nutrientes do solo, a umidadee a luz e ainda por
cima sai ganhando. Sem controle, as ervas daninhas conseguem sobrepujar qualquer
cultura. Mesmo no caso do milho, que é uma planta tipicamente americana,as ervas
daninhas levam vantagem porque são melhor adaptadas ao meio ambiente, possuem
grande variabilidade genética e estão presentes no solo em populações muitas
vezes maiores do que as culturas.
Cadeia produtiva do milho (André
Fiqueiredo / Roberto de Rissi - da Cargil)
A sustentabilidade do sistema produtivo
requer o constante aprimoramento do agricultor brasileiro. Não basta apenas
conhecer e adotar tecnologias que reflitam altas produtividades. É preciso
muito mais que isso - é preciso conhecer o atual processo de globalização para
que se possa comprender o nível de competitividade dos produtos produzidos em
sua propriedade.
Esta competitividade depende não só dos
fatores ligados diretamente à forma de administração do seu negócio, mas também
de regras e políticas agrícolas que assegurem condições de igualdade entre
nossos produtos e os importados. Esses fatores do. ditar o nível de competitividade
e afetar diretamente o desempenho de seus produtos no mercado. Ao agricultor cabe
o uso de tecnologias que permitam elevação de produtividade, redução de custos
e desperdícios e, finalmente, produzir seus produtos dentro dos padrões de
qualidade que o consumidor espera. Para alguns estrategistas a qualidade dos
produtos agrícolas e respectivos padrões funcionarão até como embargos de
comercialização e exportação. Mas para que seja definitivamente comprendido o que
é qualidade para o grão do milho e do que ela depende, necessitamos conhecer a
cadeia produtiva do milho e o seu principal integrante: o consumidor final.
Todos os demais envolvidos nesta cadeia, como empresas produtoras de insumos,
agricultores, armazéns, indústrias e outros deverão estar comprometidos com a
qualidade que este consumidor da “aldeia global” deseja.
Diferentes fluxogramas de Cadeia Produtiva
do Milho têm sido desenvolvidos e apresentados com maior ou menor detalhamento.
Neles podem ser encontrados mais de 60 diferentes subprodutos do grão do milho.
Esses subprodutos podem ser utilizados na alimentação de animais principalmente
como componente energético, na alimentação humana como matéria prima para pães,
biscoitos, canjicas, flocos, farinhas, bolos, cervejarias, xaropes, açúcares, por
exemplo, e nas indústrias de colas, papel, tintas, extração de petróleo,
farmacológica, entre outros. Outra importante aplicação do amido de milho é a
fabricação de embalagens plásticas totalmente biodegradáveis desenvolvida pela
Cargill Agrícola SA - ECOPLA, a partir do ácido polilático. A utilização dessas
embalagens biodegradáveis trará grandes benefícios à ecologia.
"Mais de 60 subprodutos
do milho estão catalogados hoje, aplicados na
alimentação humana e animal"
Portanto, para se produzir com qualidade é
preciso que o agricultor saiba quem é o consumidor final de seu produto. É este
consumidor que determinará a qualidade desejada do produto na cadeia de
produção do milho. Cada dia mais, vamos observar a presença desse consumidor interferindo
não só na forma de produção mas também no desenvolvimento de novos híbridos de
milho para uma utilização específica. Híbridos de alto teor de óleo e com
composição química mais saudável à saúde humana, maior teor proteico e melhor
qualidade de proteína, que apresentem maior eficiência nos processos
industriais, etc...
Com relação à industrialização
do grão de milho, o processamento do
milho apresenta diferentes particularidades. No processamento por via seca,
onde o princípio básico de separação é físico, a textura do endosperma pode
aumentar a eficiência dos processos industriais, produzindo componentes do grão
de milho que apresentem uma melhor granulometria. A separação do germe do grão
também é mais facilitada pela textura mais dura do endosperma. Para este tipo
processamento é interessante também uma alta uniformidade do lote de grãos, pois
influenciará na perfeita regulagem dos equipamentos. Já no processamento por via
úmida, os híbridos de textura dentada ou “mole” proporcionam melhores rendimentos
na extração de amidos e demais produtos, menor energia e tempo para a maceração.
Ultimamente tem-se, erroneamente, associado a textura do grão à qualidade. Esta associação
não considera o principal elemento da cadeia produtiva do milho - o consumidor a
que se destina. Por exemplo: para o processamento via seca, a textura dura
apresenta maior qualidade, pois permite a produção de produtos de melhor
granulometria. Para o processamento via úmida, a textura mole tem vantagens. A
partir desta associação vários equívocos têm sido cometidos, associando a cor e
a porcentagem de grãos ardidos ao tipo de grão. Assim, milho duro virou, erroneamente,
sinônimo de qualidade de grãos. Na verdade, o tipo de grão é somente um dos
atributos importantes para certos consumidores, podendo ser mole ou duro
dependendo da sua utilização final. É preciso considerar toda a cadeia
produtiva do milho, começando pela escolha da cultivar mais apropriada, época
de plantio, manejo da lavoura, colheita, secagem, armazenamento e transporte.
A escolha do híbrido é de suma importância. O híbrido deverá
apresentar características que satisfaçam o fim a que se destina. O produtor
deverá avaliar se o híbrido apresenta uma boa sanidade de folhas, colmo e
espigas e ainda se o empalhamento permite uma melhor proteção, especialmente em
locais onde ocorrem chuvas freguentes na época de colheita. O manejo da lavoura
deverá ser adequado, pois deficiências nutricionais, adubações desequilibradas,
plantas daninhas, insetos, reduzirão sua produtividade, além é claro da
qualidade do grão produzido. Para os plantios de “safrinha” as condições ambientais
são mais adversas havendo a necessidade de uma atenção maior na escolha de um
híbrido de ciclo e sanidade adequados.
Outra importante etapa dentro dessa
cadeia é a colheita. Nela o agricultor pode comprometer grande parte da
qualidade e quantidade de sua produção. Muitas vezes por má regulagem das
colheitadeiras ou por época errada de colheita. Para se ter uma ideia,
anualmente o Brasil perde na colheita do milho cerca de 8% de sua produção total
ou, US$ 300 milhões. A correta manutenção e regulagem das colheitadeiras, aliado
ao ponto de colheita determinarão perdas quantitativas nesta etapa do processo.
A partir da maturação fisiológica, o grão do milho apenas perde umidade. Cerca
de 25 dias após esta maturação as perdas no campo serão por volta de 5% e a umidade
estará em cerca de 18%. Já aos 40 dias após a maturação, a umidade terá
reduzido apenas para 15% e as perdas de matéria seca já computarão em 12%.
Disto percebese a importância desta etapa na manutenção da qualidade do grão
que até certo ponto depende dos agricultores.
Mas de nada adiantaria os cuidados com a
escolha do híbrido, manejo adequado e uma colheita correta, se a qualidade do nosso
grão for comprometida no armazenamento. E esta etapa da cadeia produtiva do
milho merece uma atenção especial. Diríamos que em alguns caso chega a ser
um dos pontos de estrangulamento. Nos EUA, maior produtor e exportador mundial de
milho, grande parte dos grãos são armazenados na própria fazenda, assim que
colhidos. No caso do Brasil, além de uma capacidade limitada de secagem e
armazenamento, são utilizados muitos silos e estruturas arcaicas e inadequadas.
E bem verdade que são inúmeras as empresas e cooperativas que se modernizam ao
longo do tempo e que apresentam desempenho reconhecido, mas muitos ainda estão
bastante aquém do mínimo aceitável. Não raro encontramos elevadores “turbinados”,
silos sem qualquer sistema de amortecimento e, o que é pior, temperaturas
extraordinariamente altas, deteriorando o grão de milho. Este manejo provoca
quebras, trincas e fissuras. Os grãos trincados são de difícil separação e
futuramente se tornaram em quebrados.
O teor de umidade correto é o principal
fator de armazenamento dos grãos. O armazenamento de grãos com alta umidade
e/ou aeração inadequada cria um ambiente favorável ao desenvolvimento de fungos,
provocando uma elevação da temperatura da massa de grãos, fruto de processos fermentativos.
O desenvolvimento desses fungos pode provocar o aparecimento de toxinas altamente
prejudiciais à saúde humana e dos animais. Diminuição do ganho de peso e o aparecimento
de certas doenças podem estar associado à presença dessas toxinas no grão do
milho. Daí mais uma razão para que se tome os cuidados devidos com a umidade,
temperatura e aeração. Alguns fungos somente ocorrem em grãos armazenados por
longo período.
"A qualidade é imprescindível
em todas as fases da cadeia, para satisfação e garantia
mútuas"
Os danos provocados por fungos vão desde redução de matéria seca, alterações organolépticas, perda de vigor, escurecimento,
até o aparecimento de substâncias tóxicas, as micotoxinas. Como vimos, a competitividade dos
nossos produtos agrícolas vai depender de basicamente dois fatores. A
elaboração de regras e políticas agrícolas que permitam a nossos produtos competir
em igualdade de condições com os produtos importados e do aprimoramento de toda
a cadeia produtiva do grão de milho, englobando desde os fornecedores de
insumos ao produtor, passando pelas fases de escolha da cultivar, manejo da cultura,
colheita, secagem, armazenamento, transporte até o consumidor final da cadeia produtiva.
Urge portanto, a conscientização de todos nós neste processo, ou seja, cada um assumindo
a sua parcela de responsabilidade.