O milho

Como funciona a cadeia do grão

Edição I | 02 - Nov . 1997
Equipe SEEDnews-seednews@seednews.inf.br

    Do pesquisador ao consumidor, o grão percorre uma via cujas fases estão entrelaçadas e dependentes umas das outras. O consumidor exige um produto que a indústria processa, O agricultor cultiva, o produtor da semente multiplica e o pesquisador cria. A harmonia da cadeia depende da qualidade do trabalho de cada um. 
    O milho é um dos alimentos mais nutritivos que existem. Puro ou como ingrediente de outros produtos, é uma importante fonte energética. Ao contrário do trigo e o arroz, que são refinados durante seus processos de industrialização, o milho conserva sua casca, que é rica em fibras, fundamental para a eliminação das toxinas do organismo. Muito energético, o milho traz em sua composição vitaminas A e do complexo B, proteínas, gorduras, carboidratos , cálcio, ferro e fósforo. Cada 100 gramas do alimento tem cerca de 360 Kcal, 70% de glicídios, 10% de proteínas e 4,5% de lipídios. 

    ALIMENTAÇÃO ANIMAL - O milho é estratégico na agropecuária brasileira. Cerca 82% de todo o milho produzido internamente é consumido sob a forma de ração, enquanto seu processamento. em alimentos voltados ao consumo humano está em 13% da produção total. Além de utilizado na composição de rações, pode ter aplicação direta na alimentação animal como milho em grãos, farelo de milho moído, farelo de germe de milho peletizado fubá grosso. Na composição das rações o milho representa 63,5% na avicultura de corte, 59,5% na avicultura de postura, 65,55 na suinocultura e 23% na pecuária de leite. A maior parte do milho destinado ao aproveitamento animal vai para a criação de suínos e aves de corte. 

    ALIMENTAÇÃO HUMANA - Maior que as qualidades nutricionais do milho, só mesmo sua versatilidade para o aproveitamento na alimentação humana. À industrialização do milho para alimentação humana divide- se fundamentalmente em dois setores que são o de moagem a seco e a úmido, sendo que a primeira possui grande tradição no Brasil. Todavia, embora nas últimos décadas não tenha havido um grande crescimento no volume total de moagem a seco, houve evolução marcante na qualidade e sofisticação dos produtos oferecidos pelo setor.  
    A primeira e principal tarefa do moageiro é a separação do milho em seus constituintes básicos para posterior moagem ou transformação desses elementos, | que são: o germe de onde posteriormente se extrai o óleo; a casca que envolve os grãos; o endosperma que será submetido a moagem posterior; e os resíduos industriais que vão para a fabricação de rações. O ponto de partida para a separação do grão em seus constituintes básicos é a qualidade do milho que chega - a indústria. Assim, o moageiro busca o produto ideal para a sua | necessidade, o chamado milho utópico. 
    Para atender a esta qualificação, o produto deveria ter uniformidade de dureza e cor, sendo da mesma espécie; mesmo tamanho e formato; isento de impurezas, ardidos, quebrados, trincados, de micotoxinas e de resíduos tóxicos. 
    O moageiro deveria, como qualquer industrial que deseja atender a especificações de qualidade na saída dos produtos de sua indústria, ter também critérios rígidos de entrada ao seu dispor. Entretanto, infelizmente não existe ainda no Brasil um padrão de milho adequado à industrialização para consumo humano. Por isso na quase totalidade das compras, as empresas recebem produtos do padrão destinado ao consumo animal. 
    No Brasil possuímos apenas a classificação oficial dos tipos 1, 2 e 3 que é insuficiente e inadequada para os requisitos da indústria e também a praxe do mercado 1% de impurezas e 6% de ardidos não é insuficiente para as nossas necessidades. 
    O critério de qualidade não é suficiente para essas classificações atuais porque elas não controlam ou controlam mal diversos fatores que afetam a qualidade final dos produtos. Entre eles, destacam-se três. As afetam tremendamente o rendimento de moagem e são porta de trincas, que entrada para contaminantes; os “ardidos, encontrados em níveis altos, considerando que o produto destina-se ao consumo humano; e os fungos resíduos tóxicos. 
    Entretanto, os moageiros têm também culpa nesse processo, pois durante muitos anos não houve por parte de nossos compradores nenhum outro critério de compra a não ser o econômico, ou seja, na aquisição se procurava apenas o melhor preço. Porém, nos últimos anos o mercado começou a se impor, e já não é apenas o menor preço de venda, mas também a qualidade, que conduz ao sucesso de uma empresa. 
    Por isso aos poucos os compradores se viram frente a um pressão crescente para procurarem maior qualidade. Dessa forma, hoje já se dá preferência aos produtores, armazéns e cooperativas que têm milho de melhor padrão. DESAFIOS - Além dos problemas com a qualidade, outros dois fatores têm de ser ultrapassados para que se tenha um crescimento significativo nos próximos anos. 
    O primeiro deles é o de modernização do parque industrial, que está sendo enfrentado e vencido pelos moageiros porque há consciência de que melhores produtos exigem melhores equipamentos. Grandes investimentos estão sendo feitos neste sentido, mesmo com a difícil situação econômica atual do país. O segundo é o da pesquisa e desenvolvimento de novos produtos para que se possa apresentar crescimento do volume total de moagem que está estacionado nos últimos anos em cerca de 1 milhão e 800 mil toneladas anuais. 



    QUALIDADE - Com a sofisticação dos produtos veio a necessidade de se controlar cada vez mais a sua qualidade final. Assim a empresas têm sido cada vez mais exigidas pelo mercado e pelos clientes no sentido de controlar as variáveis, para se obter um bom resultado nos produtos finais. 
    Entre elas, merecem destaque: o controle de teor de óleo residual, de acidez e da atividade enzimática, para se ter produtos com maior estabilidade, de longo shelflife; o controle da cor dos produtos finais, importante para a apresentação final dos mesmo, e em alguns casos para evitar a adição de corantes; o controle microbiológico de produtos; o controle de micotoxinas, especialmente a aflatoxina; o controle de contaminantes residuais dos pesticidas; o controle dos teores de amido, proteína, fibras, cinzas, umidade e granulometria; e, finalmente, o controle das características de viscosidade dos produtos finais. 

    PRODUTOS - a indústria utiliza o milho a seco de acordo com a necessidade do mercado. Os produtos são obtidos após limpeza, de germinação e moagem. 
    Os principais são: flocos de milho pré-cozido para cuscuz, alimento de grande importância sobretudo no norte e nordeste do país; fubás, canjiquinhas e farinhas de milho, produtos tradicionais na alimentação popular do Brasil; farinhas pré-cozidas e instantâneas para o mercado e para programas institucionais do governo; farinhas para indústria alimentícia e de massas; gritz para indústria cervejeira; gritz para indústria de snacks e de cereais matinais; gritz para mineração; farinhas pré-cozidas de milho para uso alimentício e industrial; farinha para indústria de premix; óleo de milho bruto e refinado; e farelo de germe de milho desengordurado para a indústria de rações. , 

    INDUSTRIALIZAÇÃO - existem muitos procedimentos para a industrialização de milho a seco, mas nos últimos anos o que tem apresentado melhores resultado é o processamento de milho por sistema de degerminação com pré-condicionamento de umidade, Tempering-Degerming System, utilizado há longos anos nos EUA, na Africa do Sul e, em alguns casos, mesmo no Brasil.
    Basicamente, o milho chega à indústria e é descarregado em moegas de onde passa por uma pré-limpeza antes da secagem. Em seguida os grãos pré-limpos vão ao secador onde se retira o excesso de umidade. Após a secagem, ele passa por uma pós-limpeza e vai para armazenagem. Antes da degerminação o milho passa por um processo de condicionamento, onde sua umidade é aumentada por intermédio de adição de água ou vapor até atingir a umidade ideal para a degerminação. 
 
    "O milho é um dos alimentos mais nutritivos e consumidos no hemisfério ocidental" 
 


    
    O milho é degerminado através de degerminadores que consistem de rotores com saliências que atritam grão contra grão retirando assim, a casca e o germe. 
    O fluxo que sai dos degerminadores vai a um processo de separação por intermédio de peneiras, aspiradores e mesas densimétricas para separação do grão em seus constituintes básicos. O endosperma do milho é então moído por intermédio de moinhos de martelos ou de cilindros e peneirado em peneiradores para a classificação final. O destino do germe é a extração, onde ele é separado em óleo e farelo, este em seguida peletizado para venda como ração animal. O óleo é vendido bruto à refinarias ou refinado e enlatado em algumas empresas moageiras. 
    Em muitas empresas existe processamento complementar dos produtos de endosperma, que passam por processos de pré-cozimento em colunas de vapor ou extrusoras e também que são pré-cozidos e laminados para a produção de flocos para cuscuz. 


    Produto presente na nossa vida diária 
    O milho está presente em grande parte das coisas que usamos ou vemos no dia-a-dia. A água de milho, o glúten e as cascas, o óleo de milho e o amido são utilizados de diversas formas. 
    A água de milho concentrada tem grande aplicação no campo da medicina, pois é usada na cultura do material de onde se extraem a penicilina, a estreptomicina e outras drogas similares. Não fosse assim, elas não poderiam ser produzidas em grande escala. Também na composição de tônicos reconstituintes é a água de milho usada, O glúten, as cascas e as tortas de germe, depois de secos e moídos, dão origem aos farelos, de grande utilização na pecuária e na avicultura. 
    O milho inteiro tem somente 10% de proteína, ao passo que algumas dessas rações chegam a 41%. Ao tomarmos leite ou comermos ovos, carne, toucinho e outros produtos de origem animal, estamos indiretamente utilizando aquele elevado índice de proteína dado aos animais. Portanto, o milho ocupa lugar muito importante em nossa alimentação. O óleo de milho bruto tem aplicações na indústria, principalmente na fabricação de sabões. 
    O mesmo acontece com o óleo refinado, utilizado em alguns produtos farmacêuticos, em graxas para couros e como veículo para certos inseticidas. Já na alimentação humana, o óleo é de fácil digestão e de assimilação rápida e total, além de ser excelente para vitaminas solúveis em gordura. Cientistas descobriram também que o óleo de milho faz baixar o nível de colesterol na corrente sanguínea, diminuindo o risco de distúrbios cardiovasculares. 

    AMIDO - A química do amido ainda constitui um desafio. Em outras épocas, teve importância menor, sendo sua principal função dar consistência a pudins, engomar camisas e outras aplicações de menor crédito. Hoje, entretanto, alargam-se os horizontes. 
    O amido de milho, sinônimo de Maizena (marca surgida em 1856), tem grande destaque na alimentação infantil, devido à sua fácil assimilação. É ainda indispensável na cozinha, no preparo de sopas e cremes e de pratos doces e salgados. Inúmeras indústrias de produtos alimentícios utilizam o amido de milho. 
    Entre elas, panificadoras, fábricas de fermento em pó, de conservas, confeitos, molhos para saladas, . biscoitos, gomas de mascar e outras. GLUCOSE - A glucose é também muito utilizada. No pão, por exemplo, sua função é facilitar a fermentação, aumentar a maciez e a durabilidade, além de melhorar o aspecto, principalmente dos pães tipo francês e de forma. Um derivado de glucose, chamado Cor de Caramelo, é empregado em muitos refrigerantes e em bebidas em geral. O Karo (glucose nutritiva de milho) também chamado “mel de milho” tem larga aplicação na culinária, servido, entre outros, sobre panquecas e pães. Além da alimentação, pode-se encontrar o milho em diversas áreas. 
 



    "Até ao consumir produtos animais estamos indiretamente ingerindo a proteina do milho" 
 
 
    INDÚSTRIA - Na indústria têxtil exige-se a presença do milho na forma de amidos e dextrinas especiais. Os primeiros asseguram o êxito da engomagem dos fios graça à extraordinária resistência que lhes conferem. As segundas, além da engomagem, são utilizadas no acabamento e como agente fixador de tintas e corantes na estampa. 
    Emprega-se também o amido na fabricação de papel, para aumentar a resistência à tração, ao estouro, à rasura e ao desgaste. Além disso, é usado para melhorar o aspecto. Quase todos os tipos de papel devem ser submetidos a um tratamento de amido para obterem superfície lisa. Muitos dos tipos de colas ou adesivos existentes no mercado são fabricados a partir da dextrina. Rótulos, embalagens de papelão, livros, selos postais, tapetes móveis ou estofados. Para cada coisa a ser colada há um tipo especial de cola à base de dextrina. 
    Outras aplicações dos derivados de milho são ainda mais surpreendentes: explosivos, baterias elétricas, peças de carvão vegetal para combustível, cabeças de fósforo, tintas, cosméticos e outros. 


    Processamento úmido inicia pela limpeza total 
    Na industrialização à úmido, o primeiro processo que sofre o grão de milho é a limpeza. Nela se elimina a palha e outros resíduos por meio de peneiras ou ciclones. Daí, seguem para silos, depois para os tanques de maceração.  
    Nesses tanques ficam por mais 48 horas,  imersos em água aquecida com uma solução de SO, para evitar a germinação. Parte dos minerais e proteínas existentes no milho acaba dissolvida nessa água, enviada posteriormente para evaporadores e concentrada até a taxa de 50% de sólidos. Pelo seu alto valor proteico, a água dos maceradores tem importantes aplicações. 
    Dos tanques de maceração, vai o grão para os moinhos, cuja finalidade é quebrá-los e libertar o germe. Em seguida, são levados para os hidroclones (cones plásticos, que fazem centrifugação com auxílio de água a alta velocidade), onde é feita a separação do germe. Uma vez separados, os germes sofrem várias lavagens. Depois de secos, são enviados aos extratores que, por meio de calor e pressão, lhes extraem quase todo o óleo. Este, após um processo de refinação e alcalização, torna-se comestível. Os resíduos do germe resultam na torta de óleo que, depois de triturada, entra na composição de farelos e rações para animais. 

    CASCAS - Após a separação do germe sobram o amido, o glúten e a casca. Tritura-se esta mistura em máquinas especiais.  Na continuidade, lava-se através de uma série de sarilhos e peneiras vibradoras. Os sarilhos são grandes telas rotativas feitas de nylon esticado sobre armações, que recolhem apenas a casca. Já as peneiras vibradoras retiram da massa de amido a glúten as mais finas partículas de casca que possam ter passado pelos sarilhos. 
    As cascas recolhidas vão para extratores de água e depois a uma caixa misturadora, juntamente com a água retirada anteriormente dos maceradores e tortas de germe. Tal mistura, uma vez seca e moída, transforma- se no farelo com um mínimo de 21% de proteína, destinado à alimentação do gado leiteiro. 

    AMIDO - O glúten e o amido restantes são separados em centrífugas de alta velocidade. Juntamente com a água entram na máquina de onde o glúten (por ser mais pesado) é expelido pela parte superior, junto com a maior parte da água. Uma vez seco e moído, o glúten é também usado em rações animais. O amido restante é lavado, filtrado e seco. A seguir, acondiciona- se uma parte, que entra no mercado como amido puro. A outra, transforma-se em dextrina, glucose líquida ou sólida.  A dextrina é obtida pelo cozimento do amido, sob condições adequadas, resultando em pós finos de coloração variável. 



    
    "Cada elo da corrente deve atender as necessidades dos demais, para que todos ganhem" 
 

   
    O processo de conversão do amido é realizado de forma semelhante ao que o corpo humano faz. Um equipamento especial transforma o amido em açúcar de milho (dextrose). Isto ocorre em tanques fechados chamados “convertedores”. Neles o amido é misturado com água acidificada, sendo toda a solução aquecida. Quando se atinge determinado ponto, interrompe-se tudo, neutraliza-se o ácido, e, por meio de evaporação, reduz- se a glucose a várias consistências. 
    Levada a conversão até o fim, conseguimos um açúcar altamente refinado (glucose sólida e dextrose), com grau de pureza em torno de 99,5%, o mesmo encontrado na nossa corrente sanguínea. Interrompido, porém, pouco antes, o produto obtido é a glucose sólida bruta, com cerca de 70 a 80% de dextrose. Os 30% restantes constituem-se de umidade, dextrina e outros a açúcares. 
 
    Cadeia torna melhor a qualidade em geral 
    Uma das maiores virtudes de um mercado é entender e buscar alternativas para que todos ganhem, o que só se consegue a partir da compreensão de que não somos partes isoladas. As modernas técnicas de marketing mostram o cliente como o grande alvo a atingir e satisfazer. Mas quem é realmente o cliente? Quem entender como funciona seu mercado, do começo ao fim, descobrirá certamente quem consome seus produtos, de forma direta e indireta, isto é, conhecerá o cliente, diz o engenheiro agrônomo Eduardo Botelho, da Novartis Seeds. 
    Na década de 80 a Novartis identificou a necessidade que o mercado teria de milhos híbridos não só mais produtivos como também com maior quantidade de grãos, além de isentos de substâncias tóxicas, micotoxinas de insetos, com baixo índice de grãos. além de insetos de substâncias tóxicas, micotoxinas de insetos, com baixo índice de grãos ardidos, alto peso específico de coloração alaranjada.  
    A experiência da empresa redirecionou sua pesquisa e influenciou a forma de comunicação e prestação de serviços, explica. Pensando bem, comenta Eduardo, grãos de milho com essas características não são necessidade dos agricultores exatamente, mas sim das empresas ou pessoas que os utilizarão, pelas implicações possíveis na saúde, humana ou animal. Vamos, então, entender melhor essa cadeia. 
    O consumidor final do grão de milho é o homem, direta ou indiretamente, nesse caso através da carne de animais, e ele exige alimento saudável e de baixo custo. Os produtores de carnes e derivados de milho são orientados, portanto, para comprar milho isento, por exemplo, das micotoxinas, causadoras de doenças. 
    Os armazéns gerais, por sua vez, querem grãos que resistam às condições de armazenamento, já orientados também pelos compradores. O agricultor, antes deles, precisa de milhos híbridos mais produtivos e com grãos de qualidade, isto é, duros, pesados, alaranjados, livres de micotoxinas, como querem os armazéns. Finalmente, as indústrias sementeiras são impelidas a desenvolver o milho que todos querem, acionando para isso a sua pesquisa. 
    O conceito de cadeia produtiva altera a relação Cliente/Fornecedor, segundo Botelho, para quem o último deixa de ser visto pelo primeiro como mera empresa fornecedora, assumindo a função de parceiro, que o ajudará não só a apresentar produtos que atendam todo o sistema, de como também alguém que sempre o ajudará a entender as necessidades desse complexo. 
 

    "A qualidade é exigência em todas as fases da cadeia" 
 
 
    E preciso que se entenda, então, que um serviço ou produto deve ser um ítem no processo em condições de proporcionar rentabilidade a todos os demais envolvidos. 
    Para isso é importante negociar com o fornecedor melhor custo e qualidade, enquadrando- o no sistema, tornando ao mesmo tempo nossa empresa competitiva nesses termos. Em muitos casos, deveremos até mesmo ajudar a quem está logo acima ou abaixo da cadeia a ganhar competitividade, pois isso implicará em vantagem mútua. 
    Em suma, todos esperam, uns dos outros, não apenas um produto, mas também ajuda para que vençam nesse contexto. Se o seu cliente for bem sucedido, assim como o cliente dele e este atender o consumidor final, você certamente será uma pessoa de sucesso, completa Eduardo Botelho. 
    

    É hora de investir para ganhar 
    Uma análise mais detalhada dos gráficos de evolução da produção e do consumo de milho no mundo mostra uma tendência, digamos, inusitada: na virada do século pode faltar milho no mercado. Para o ano 2000, estima-se uma produção média mundial de 572 milhões de toneladas. Como toda moeda tem duas faces, esses dados não expressam apenas nuvens no horizonte. Para aqueles agricultores que investirem em tecnologia para aumentar a produtividade, eles representam uma excelente oportunidade. Base alimentar das civilizações pré-colombianas, o milho é utilizado não apenas para consumo humano mas, principalmente, para engorda de animais. O Brasil é hoje o terceiro maior produtor mundial deste cereal tipicamente americano, atrás apenas dos EUA e da China. Se o lugar no pódio está assegurado, a distância para os dois primeiros colocados não pode ser menosprezada: a safra americana de 96/97 registra 236 milhões de toneladas contra 34 milhões do Brasil. Mas quando o assunto é milho, não é o volume da safra, mas sim a produtividade média dos EUA - 7,54 toneladas por hectare - que impressiona. Afinal, é mais do que o dobro da produtividade média no Brasil que, em 1996, foi de 2,60 ton/hectare. 
    Esse número, que é o resultado de anos consecutivos de aumento na safra nacional, mostra claramente que tem muita gente deixando de ganhar um bom dinheiro com milho. Mais que uma cultura, o milho pode ser classificado como um hábito agrícola, herdado dos índios. E presença quase que obrigatória em qualquer quintal, sítio ou área cultivável. Quase como um membro da família, o milho por vezes não recebe a atenção necessária para uma produção industrial. Tanto que foi o milho safrinha, em São Paulo e Paraná, um dos grandes responsáveis pelo aumento da produção em 1996. Todos nós sabemos que o milho safrinha recebe poucos investimentos por ser considerado uma cultura de risco, de vido às limitações climáticas normais para essa época de plantio, como a falta de chuva. Daí termos uma produtividade por hectare tão baixa na safrinha. 
    Profissionalização - Investimentos em boas sementes, adubação e correção do solo fazem parte da lição de casa quando o assunto é produtividade. E o controle de ervas daninhas também. Parece incrível, mas apesar de todos os esforços, químicos e mecânicos, na luta contra as ervas daninhas, elas causam perdas anuais nas culturas de soja, milho e trigo de mais de US$ 5 bilhões por safra em todo o mundo. No Brasil, ao redor de 30% da área plantada com milho recebe tratamento com herbicidas. 
    O mato não deixa por menos: ele invade as áreas cultivadas, rouba os nutrientes do solo, a umidadee a luz e ainda por cima sai ganhando. Sem controle, as ervas daninhas conseguem sobrepujar qualquer cultura. Mesmo no caso do milho, que é uma planta tipicamente americana,as ervas daninhas levam vantagem porque são melhor adaptadas ao meio ambiente, possuem grande variabilidade genética e estão presentes no solo em populações muitas vezes maiores do que as culturas. 
 


    Cadeia produtiva do milho (André Fiqueiredo / Roberto de Rissi - da Cargil) 
    A sustentabilidade do sistema produtivo requer o constante aprimoramento do agricultor brasileiro. Não basta apenas conhecer e adotar tecnologias que reflitam altas produtividades. É preciso muito mais que isso - é preciso conhecer o atual processo de globalização para que se possa comprender o nível de competitividade dos produtos produzidos em sua propriedade. 
    Esta competitividade depende não só dos fatores ligados diretamente à forma de administração do seu negócio, mas também de regras e políticas agrícolas que assegurem condições de igualdade entre nossos produtos e os importados. Esses fatores do. ditar o nível de competitividade e afetar diretamente o desempenho de seus produtos no mercado. Ao agricultor cabe o uso de tecnologias que permitam elevação de produtividade, redução de custos e desperdícios e, finalmente, produzir seus produtos dentro dos padrões de qualidade que o consumidor espera. Para alguns estrategistas a qualidade dos produtos agrícolas e respectivos padrões funcionarão até como embargos de comercialização e exportação. Mas para que seja definitivamente comprendido o que é qualidade para o grão do milho e do que ela depende, necessitamos conhecer a cadeia produtiva do milho e o seu principal integrante: o consumidor final. Todos os demais envolvidos nesta cadeia, como empresas produtoras de insumos, agricultores, armazéns, indústrias e outros deverão estar comprometidos com a qualidade que este consumidor da “aldeia global” deseja. 
    Diferentes fluxogramas de Cadeia Produtiva do Milho têm sido desenvolvidos e apresentados com maior ou menor detalhamento. Neles podem ser encontrados mais de 60 diferentes subprodutos do grão do milho. Esses subprodutos podem ser utilizados na alimentação de animais principalmente como componente energético, na alimentação humana como matéria prima para pães, biscoitos, canjicas, flocos, farinhas, bolos, cervejarias, xaropes, açúcares, por exemplo, e nas indústrias de colas, papel, tintas, extração de petróleo, farmacológica, entre outros. Outra importante aplicação do amido de milho é a fabricação de embalagens plásticas totalmente biodegradáveis desenvolvida pela Cargill Agrícola SA - ECOPLA, a partir do ácido polilático. A utilização dessas embalagens biodegradáveis trará grandes benefícios à ecologia. 
 

    "Mais de 60 subprodutos do milho estão catalogados hoje, aplicados na alimentação humana e animal" 
 
    Portanto, para se produzir com qualidade é preciso que o agricultor saiba quem é o consumidor final de seu produto. É este consumidor que determinará a qualidade desejada do produto na cadeia de produção do milho. Cada dia mais, vamos observar a presença desse consumidor interferindo não só na forma de produção mas também no desenvolvimento de novos híbridos de milho para uma utilização específica. Híbridos de alto teor de óleo e com composição química mais saudável à saúde humana, maior teor proteico e melhor qualidade de proteína, que apresentem maior eficiência nos processos industriais, etc... 
    Com relação à industrialização
 do grão de milho, o processamento do milho apresenta diferentes particularidades. No processamento por via seca, onde o princípio básico de separação é físico, a textura do endosperma pode aumentar a eficiência dos processos industriais, produzindo componentes do grão de milho que apresentem uma melhor granulometria. A separação do germe do grão também é mais facilitada pela textura mais dura do endosperma. Para este tipo processamento é interessante também uma alta uniformidade do lote de grãos, pois influenciará na perfeita regulagem dos equipamentos. Já no processamento por via úmida, os híbridos de textura dentada ou “mole” proporcionam melhores rendimentos na extração de amidos e demais produtos, menor energia e tempo para a maceração. Ultimamente tem-se, erroneamente, associado a textura do grão à qualidade. Esta associação não considera o principal elemento da cadeia produtiva do milho - o consumidor a que se destina. Por exemplo: para o processamento via seca, a textura dura apresenta maior qualidade, pois permite a produção de produtos de melhor granulometria. Para o processamento via úmida, a textura mole tem vantagens. A partir desta associação vários equívocos têm sido cometidos, associando a cor e a porcentagem de grãos ardidos ao tipo de grão. Assim, milho duro virou, erroneamente, sinônimo de qualidade de grãos. Na verdade, o tipo de grão é somente um dos atributos importantes para certos consumidores, podendo ser mole ou duro dependendo da sua utilização final. É preciso considerar toda a cadeia produtiva do milho, começando pela escolha da cultivar mais apropriada, época de plantio, manejo da lavoura, colheita, secagem, armazenamento e transporte. 
    A escolha do híbrido é de  suma importância. O híbrido deverá apresentar características que satisfaçam o fim a que se destina. O produtor deverá avaliar se o híbrido apresenta uma boa sanidade de folhas, colmo e espigas e ainda se o empalhamento permite uma melhor proteção, especialmente em locais onde ocorrem chuvas freguentes na época de colheita. O manejo da lavoura deverá ser adequado, pois deficiências nutricionais, adubações desequilibradas, plantas daninhas, insetos, reduzirão sua produtividade, além é claro da qualidade do grão produzido. Para os plantios de “safrinha” as condições ambientais são mais adversas havendo a necessidade de uma atenção maior na escolha de um híbrido de ciclo e sanidade adequados. 
    Outra importante etapa dentro dessa cadeia é a colheita. Nela o agricultor pode comprometer grande parte da qualidade e quantidade de sua produção. Muitas vezes por má regulagem das colheitadeiras ou por época errada de colheita. Para se ter uma ideia, anualmente o Brasil perde na colheita do milho cerca de 8% de sua produção total ou, US$ 300 milhões. A correta manutenção e regulagem das colheitadeiras, aliado ao ponto de colheita determinarão perdas quantitativas nesta etapa do processo. A partir da maturação fisiológica, o grão do milho apenas perde umidade. Cerca de 25 dias após esta maturação as perdas no campo serão por volta de 5% e a umidade estará em cerca de 18%. Já aos 40 dias após a maturação, a umidade terá reduzido apenas para 15% e as perdas de matéria seca já computarão em 12%. Disto percebese a importância desta etapa na manutenção da qualidade do grão que até certo ponto depende dos agricultores. 
    Mas de nada adiantaria os cuidados com a escolha do híbrido, manejo adequado e uma colheita correta, se a qualidade do nosso grão for comprometida no armazenamento. E esta etapa da cadeia produtiva do milho merece uma atenção especial. Diríamos que em alguns caso chega a ser um dos pontos de estrangulamento. Nos EUA, maior produtor e exportador mundial de milho, grande parte dos grãos são armazenados na própria fazenda, assim que colhidos. No caso do Brasil, além de uma capacidade limitada de secagem e armazenamento, são utilizados muitos silos e estruturas arcaicas e inadequadas. E bem verdade que são inúmeras as empresas e cooperativas que se modernizam ao longo do tempo e que apresentam desempenho reconhecido, mas muitos ainda estão bastante aquém do mínimo aceitável. Não raro encontramos elevadores “turbinados”, silos sem qualquer sistema de amortecimento e, o que é pior, temperaturas extraordinariamente altas, deteriorando o grão de milho. Este manejo provoca quebras, trincas e fissuras. Os grãos trincados são de difícil separação e futuramente se tornaram em quebrados. 
    O teor de umidade correto é o principal fator de armazenamento dos grãos. O armazenamento de grãos com alta umidade e/ou aeração inadequada cria um ambiente favorável ao desenvolvimento de fungos, provocando uma elevação da temperatura da massa de grãos, fruto de processos fermentativos. O desenvolvimento  desses fungos pode provocar o aparecimento de toxinas altamente prejudiciais à saúde humana e dos animais. Diminuição do ganho de peso e o aparecimento de certas doenças podem estar associado à presença dessas toxinas no grão do milho. Daí mais uma razão para que se tome os cuidados devidos com a umidade, temperatura e aeração. Alguns fungos somente ocorrem em grãos armazenados por longo período. 
 

    "A qualidade é imprescindível em todas as fases da cadeia, para satisfação e garantia mútuas" 
 
 
 
    Os danos provocados por fungos vão desde redução de matéria seca, alterações organolépticas, perda de vigor, escurecimento, até o aparecimento de substâncias tóxicas, as micotoxinas. Como vimos, a competitividade dos nossos produtos agrícolas vai depender de basicamente dois fatores. A elaboração de regras e políticas agrícolas que permitam a nossos produtos competir em igualdade de condições com os produtos importados e do aprimoramento de toda a cadeia produtiva do grão de milho, englobando desde os fornecedores de insumos ao produtor, passando pelas fases de escolha da cultivar, manejo da cultura, colheita, secagem, armazenamento, transporte até o consumidor final da cadeia produtiva. Urge portanto, a conscientização de todos nós neste processo, ou seja, cada um assumindo a sua parcela de responsabilidade. 



Colaboraram:

André Figueiredo, da Cargill;

Eduardo Botelho, da Novartis;

Marcos Zani, da Monsanto;

Thomas Setti, Setti Alimentos;

Katuyuki Kinoshita, de Ref.

Milho Brasil

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