Brasil lançará com atraso suas sementes transgênicas

Edição I | 02 - Nov . 1997
Equipe SEEDnews-seednews@seednews.inf.br

    As empresas brasileiras que se preparam para lançar produtos transgênicos no mercado consideram que já estão muito atrasadas, pois até a Argentina já vai comercializar milho geneticamente modificado na próxima safra, e os EUA, nem se fala, têm sua produção orientada neste sentido na maior parte. O Governo, ao que parece, não está cumprindo bem a parte que lhe toca, de preparar normas reguladoras e abastecer o Congresso Nacional com informações a respeito. Mas o consumidor, teoricamente o maior interessado no processo, esse sim nem sabe do que se fala e se limita a repetir frases de efeito e slogans das organizações não governamentais. 
    Essa, pelo menos, é a impressão de quem assistiu ao Seminário sobre os Impactos da Biotecnologia na Agricultura, realizado em outubro passado na sede da Sociedade Rural Brasileira, em São Paulo, para analisar a situação atual e tendências das culturas de produtos geneticamente modificados. Com a participação marcante de pesquisadores e executivos das empresas envolvidas no desenvolvimento de tais produtos, verificou-se o interesse que a biotecnologia desperta e sua situação de estágio avançado da agricultura nacional a partir de agora. A biotecnologia, como definiu um executivo, é definitiva e não admite mais recuos. 

    Novo estágio da revolução agrícola 
    Considerando que no ano de . 1900 a Terra tinha 1,5 bilhão de habitantes, que em 1960 passaram a 3 bilhões, e que hoje somos 6,3 bilhões, o mundo terá em 2.030 cerca de 11 bilhões. Por outro lado, se em 1960 a área agricultável per capita era de um hectare, agora alcança apenas 0,513 ha e em 2030 será de apenas 0,296 ha. Assim, salta aos olhos a necessidade de se aumentar a produtividade, afirmou o diretor da Abrasem, Claudio Manoel da Silva, mostrando que estamos em situação idêntica às de nossos antepassados de há 150 anos. 
    O crescimento populacional exigia novas soluções para plena alimentação. Quem ofereceu a chave para resolver a questão foi Gregor Mendel, ao descobrir a hereditariedade e proporcionando meios para a obtenção de novas, melhores e mais produtivas variedades. 


    Foi possível produzir mais, mas um preço foi cobrado. As espécies melhoradas, mais pro dutivas, tornaram-se porém suscetíveis a pragas e doenças, surgindo a necessidade de inseticidas e fungicidas. Buscaram-se novos solos, onde aparecia a necessidade de uso de fertilizantes. A monocultura em larga escala propiciou o surgimento das ervas daninhas. E vieram os herbicidas. Em áreas de poucas chuvas, buscou-se a irrigação. Estamos hoje na mesma situação. Com a diferença de que não podemos aumentar a área cultivável. Surgiram inseticidas atóxicos ao homem, meios de reduzir o uso de fertilizantes, formas de controle de ervas e de melhor aproveitamento da água. Tudo isso, porém, não será suficiente. Precisamos ainda desenvolver novos produtos, visando a resistência a pragas e doenças, seletividade para herbicidas e melhoria de qualidade. 
    E aí que entra novamente a biotecnologia. Nos EUA, em 96, plantou-se em torno de 800 mil hectares com variedades transgênicas de soja e algodão, inseticidas, crescimento de cerca de 7% na produtividade e aumento dos insetos benéficos.

 
 
    "As necessidades pressionam na busca de soluções, em todos os tempos" 
 
    Daí se vê o impacto na agricultura das novas descobertas. Mas a revolução biotecnológica terá embasamento na semente, grande vetor das novidades. Por isso é que empresas como a Novartis, Cargill, Zeneca, Monsanto, DeKalb ou Pioneer, envolveram-se na produção de sementes. 
    A amplitude dos negócios fará, também, com que se aperfeiçoem os conceitos de parceria entre empresas geradoras de tecnologia e produtores de sementes, trazendo a necessidade de rearranjamento do setor. Lavouras tecnicamente conduzidas, métodos de colheita e transporte, usinas de beneficiamento adequadas serão objeto de apurado planejamento, prevê Claudio, adiantando que as condições brasileiras levam a crer que nosso país será um dos grandes exportadores de sementes. 
    Ainda que os objetivos sejam os mesmos do passado, há hoje uma grande vantagem. Temos as condições para analisar os efeitos de qualquer novo processo ou produto, e adotar estratégicas de prevenção, monitoramento e de manejo, em novas e plenas condições. 

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