Essa, pelo menos, é a impressão de quem
assistiu ao Seminário sobre os Impactos da Biotecnologia na Agricultura,
realizado em outubro passado na sede da Sociedade Rural Brasileira, em São
Paulo, para analisar a situação atual e tendências das culturas de produtos geneticamente
modificados. Com a participação marcante de pesquisadores e executivos das
empresas envolvidas no desenvolvimento de tais produtos, verificou-se o
interesse que a biotecnologia desperta e sua situação de estágio avançado da agricultura
nacional a partir de agora. A biotecnologia, como definiu um executivo, é
definitiva e não admite mais recuos.
Novo estágio da revolução agrícola
Considerando que no ano de . 1900
a Terra tinha 1,5 bilhão de habitantes, que em 1960 passaram a 3 bilhões, e que
hoje somos 6,3 bilhões, o mundo terá em 2.030 cerca de 11 bilhões. Por outro
lado, se em 1960 a área agricultável per capita era de um hectare, agora
alcança apenas 0,513 ha e em 2030 será de apenas 0,296 ha. Assim, salta aos olhos
a necessidade de se aumentar a produtividade, afirmou o diretor da Abrasem,
Claudio Manoel da Silva, mostrando que estamos em situação idêntica às de
nossos antepassados de há 150 anos.
O crescimento populacional exigia novas
soluções para plena alimentação. Quem ofereceu a chave para resolver a questão foi
Gregor Mendel, ao descobrir a hereditariedade e proporcionando meios para a
obtenção de novas, melhores e mais produtivas variedades.

Foi possível produzir mais, mas um preço
foi cobrado. As espécies melhoradas, mais pro dutivas, tornaram-se porém
suscetíveis a pragas e doenças, surgindo a necessidade de inseticidas e
fungicidas. Buscaram-se novos solos, onde aparecia a necessidade de uso de
fertilizantes. A monocultura em larga escala propiciou o surgimento das ervas daninhas.
E vieram os herbicidas. Em áreas de poucas chuvas, buscou-se a irrigação. Estamos
hoje na mesma situação. Com a diferença de que não podemos aumentar a área
cultivável. Surgiram inseticidas atóxicos ao homem, meios de reduzir o uso de
fertilizantes, formas de controle de ervas e de melhor aproveitamento da água. Tudo
isso, porém, não será suficiente. Precisamos ainda desenvolver novos produtos,
visando a resistência a pragas e doenças, seletividade para herbicidas e melhoria
de qualidade.
E aí que entra novamente a biotecnologia.
Nos EUA, em 96, plantou-se em torno de 800 mil hectares com variedades transgênicas
de soja e algodão, inseticidas, crescimento de cerca de 7% na produtividade e aumento
dos insetos benéficos.
"As necessidades pressionam
na busca de soluções, em todos os tempos"
Daí se vê o impacto na agricultura das
novas descobertas. Mas a revolução biotecnológica terá embasamento na semente,
grande vetor das novidades. Por isso é que empresas como a Novartis, Cargill,
Zeneca, Monsanto, DeKalb ou Pioneer, envolveram-se na produção de sementes.
A amplitude dos negócios fará, também,
com que se aperfeiçoem os conceitos de parceria entre empresas geradoras de tecnologia
e produtores de sementes, trazendo a necessidade de rearranjamento do setor.
Lavouras tecnicamente conduzidas, métodos de colheita e transporte, usinas de beneficiamento
adequadas serão objeto de apurado planejamento, prevê Claudio, adiantando que
as condições brasileiras levam a crer que nosso país será um dos grandes
exportadores de sementes.
Ainda que os objetivos sejam os mesmos
do passado, há hoje uma grande vantagem. Temos as condições para analisar os
efeitos de qualquer novo processo ou produto, e adotar estratégicas de
prevenção, monitoramento e de manejo, em novas e plenas condições.