A chave é a cultivar

Edição I | 02 - Nov . 1997
Antonio Eduardo Loureiro da Silva-diretoria@apassul.com.br

    Ficaram retidas indelevelmente em minha memória frases que li num quadro sobre o sistema de produção de semente certificada, na Agência Certificadora do Estado do Mississipi, nos EUA. Em inglês, estava escrito, “a chave é a cultivar.  Atenção: olhe a etiqueta e o lacre. Origem conhecida. Campo inspecionado”. Era um poster da Associação das Agências Certificadoras de Sementes dos EUA e Canadá, que objetivava chamar a atenção dos consumidores para que, ao adquirirem sementes, dessem preferência àquelas que portassem em suas embalagens etiquetas de cor azul (semente certificada) e lacres. Neste caso, comprassem sem nenhum receio, pois a semente era de alta qualidade, de uma variedade superior de origem conhecida e cujos campos haviam sido inspecionados pela agência certificadora (universidade). 
    Lá, na maioria dos Estados, a agência certificadora é uma universidade que também realiza os ensaios de avaliação das cultivares e linhagens. Fica evidente, portanto, que dentre as cultivares indicadas, registradas, recomendadas, seja lá que termo usar, somente a melhor ou as efetivamente superiores, se elegem eleitas pelas agências para serem produzidas no sistema de certificação. Vendeuse a imagem : etiqueta azul igual a semente de altíssima qualidade de uma cultivar superior. As demais cultivares são também produzidas por empresas devidamente habilitadas, como semente comercial. São, também, sementes de alta qualidade e de ótimas cultivares. Porém, ao adquirir semente em embalagem de papel, lacradas e com etiqueta azul não há erro. 
 

    "O melhoramento genético é a base de um programa, pela obtenção de novas e melhores cultivares" 
 
    Aqui, os sistemas de certificação de sementes não tiveram o desenvolvimento e a aceitação que deles se esperava. Talvez porque não soubemos construir a imagem que os americanos souberam desenvolver: com semente de etiqueta azul não há falha. 
    É produção e produtividade garantidas. E também porque, sem interferência de qualquer ordem, souberam eleger a melhor ou as melhores cultivares para o programade certificação. No contexto de que a chave é a cultivar, cito três acontecimentos que podem mudar a situação do Programa de Sementes do Rio Grande do Sul, rapidamente. 
    O primeiro é a lei de proteção de cultivares, que num lapso curto de tempo, talvez cinco anos no máximo, fará com que somente estejam disponíveis aos consumidores cultivares protegidas. Dentre estas, apenas as melhores serão eleitas para o sistema de certificação, e produzidas por produtores credenciados, escolhidos pelos detentores das cultivares. Isto racionalizará a produção e retirará do mercado os produtores chamados de submarinos, que aparecem no mercado quando o mesmo é favorável (para eles ) e não sob a ótica do sistema como um todo. O segundo, é o Pró-Sementes/ RS, Programa Integrado de P & D, Produção e Marketing em Sementes para o RS. O Pró-Sementes/ RS, tem por objetivo fortalecer a parceria e estabelecer condições básicas de integração de esforços, visando definir ações, critérios, recomendações e procedimentos a serem adotados pelas entidades participantes, EMBRAPA, FEPAGRO, FUPE FUNDACEP FECOTRIGO e APASSUL, para o estabelecimento, como se salientou, de um programa de produção e marketing em sementes. Destacamos ; normatizar a inclusão e exclusão de espécies e cultivares; elaborar e aprovar o Plano de Marketing para as cultivares escolhidas; estabelecer normas e padrões de qualidade para a semente produzida; selecionar associados à APASSUL ou à FECOTRIGO que irão produzir semente certificada das referidas cultivares, entre outras. 
    Aqui fundamentalmente, a cultivar e o marketing são as chaves e somente aquelas cultivares, dentre as recomendadas ou indicadas, que preencherem todos os requisitos estabelecidos pelo programa serão incluídas no Pró-Sementes/RS. As cultivares de trigo (EMBRAPA 49), triticale (EMBRAPA 53) e de soja (EMBRAPA 137), estão sendo produzidas pelos produtores selecionados pelo Pró-Sementes/ RS em 1997 e estarão disponíveis aos demais produtores de sementes (semente fiscalizada) e outros consumidores a partir de 1999. O terceiro acontecimento, ou medida, está atualmente sendo estudada e debatida pela CESM/RS, é a de não permitir a produção como semente fiscalizada e muito menos como semente certificada, de espécies sem cultivares definidas e descritas. Exemplos: Semente Fiscalizada de Aveia Preta ou Semente Fiscalizada de Milheto. O fundamental em um programa de sementes é o melhoramento genético, fornecendo de forma periódica e constante novas cultivares, mais produtivas, com melhor qualidade e com maior resistência à doenças e pragas. Sem isto, não há condições de um programa de sementes ter sustentabilidade, credibilidade e o reconhecimento dos consumidores. Não esqueçamos que a chave é a cultivar. Tenho certeza que estes três acontecimentos, de forma isolada e preferentemente de forma conjunta, darão novos rumos ao nosso programa estadual de sementes. 

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