Maputo, antiga Lourenço Marques, é a
cidade capital e nela convivem moradores de harmoniosos edifícios da “cidade de
cimento” de estilo arquitetônico português dos anos 50, e da periférica “cidade
de caniço”, faixa onde a população civil encontrou refúgio seguro para escapar
ao conflito armado que terminou “definitivamente com assinatura dos acordos de
paz de 1992. No fim do colonialismo português, em 1975, porém, o país entrou num
período de guerra civil que praticamente destruiu as infra- “estruturas
básicas. Afortunadamente, hoje o território nacional está em calma, com um
espírito de paz e harmonia, base certa para atrair os investimentos necessários
para incentivar o desenvolvimento. A Maputo de hoje é uma cidade
multifacética e cosmopolita onde se respira o ambiente dos negócios em todos os
níveis.
A localização privilegiada do país sobre
o Índico, segundo Dominguez, tem marcado uma importante função regional quanto
à abertura do continente para o mundo dos negócios, porquanto os mais
importantes portos da África Austral estão localizados na costa do seu
território, e conectados com as cidades capitais dos mais importantes países
vizinhos por estradas de ferro modernas e seguras. Na área da agricultura as
oportunidades são inúmeras, pois está quase tudo por fazer. Um ponto de partida
favorável para o desenvolvimento agrícola nasce do fato de a terra pertencer ao
Estado, um dos poucos países do mundo a manter este sistema, comenta. A terra é
cedida em comodato para o agricultor ou investidor, que poderá usufruíla por
períodos de até de 50 anos, renováveis. Não há uma grande pressão sobre a
terra, pois a maioria da população camponesa vive da exploração de pequenas áreas
(machambas) eficientes dentro do sistema produtivo predominante, onde a mulher
ocupa um lugar importante. Os pequenos agricultores representam 80% da
população, produzindo atualmente a maior parte dos alimentos básicos, como
milho, mandioca, arroz, amendoim e feijão, e de algumas culturas de exportação,
como algodão, tabaco e castanha de caju.
Contudo, o país não é ainda auto-suficiente
no abastecimento dos produtos básicos, e o desenvolvimento industrial capaz de
absorver volumes excedentes de matérias primas provenientes da agricultura é
ainda incipiente, mas em vias ao desenvolvimento. Portanto, a produção dos
alimentos básicos, a identificação e introdução de outras culturas industriais,
como a da soja, e o andamento dos processos industriais apropriados para estes produtos,
são áreas de grandes oportunidades. A identificação de variedades e de
tecnologias apropriadas para aumentar os rendimentos, assegurar o consumo interno
e ainda produzir excedentes exportáveis, são tarefas imediatas, diz o consultor
Dominguez.
"Moçambique, com sua agricultura
crescente, é ponto destacado para negócios na
área de sementes"
Milho e mandioca são as culturas mais
importantes na dieta alimentar moçambicana e de cada uma se planta um milhão de
hectares. Lá a EMBRAPA irá testar seus materiais de grão branco, em parceria
com a empresa de sementes SEMOC Ltda. Este é um exemplo daquilo que pode ser
feito. Outros materiais, no âmbito das culturas básicas, ou de futuro
industrial, como o milho amarelo e a soja, por exemplo, devem também ser
avaliados.
O arroz é outra cultura de grande importância
no país, não só pelo mercado interno, que hoje requer aproximadamente 500 mil
há para abastecimento, mas porque tem um forte consumidor potencial na vizinha
África do Sul, importador do produto da Índia e outros países asiáticos. O
mercado está bem segmentado, especialmente pela ampla colônia indiana residente
na África do Sul, que prefere consumir variedades aromáticas dos tipos Basmatti.
Estas variedades poderiam ser produzidas em Moçambique com uma vantagem enorme
no custo de transporte, quando comparado com os países asiáticos. A prioridade
está na identificação de variedades apropriadas para ambos o mercado, interno e
de exportação.
Segundo o colombiano, a indústria de
sementes é incipiente e a grande maioria dos agricultores utiliza hoje as suas
próprias sementes, que eles mesmos produzem, com tecnologia para seleção e armazenamento
adequadas ao seu entorno cultural. Existe só uma empresa semi-oficial, de abrangência
nacional, que já produziu grandes volumes para o mercado interno, constituído pelas
agências de apoio a emergências, logo após terminada a guerra. Este mercado
terminou e o dinheiro dessas agências está sendo aplicado para favorecer o desenvolvimento,
enquanto a emergência deixou de ser uma prioridade. Porém o principal desafio de
hoje para uma empresa de sementes consiste em desenvolver o mercado real, que
crescerá na medida em que a agricultura comercial se desenvolva e os camponeses
do setor familiar possam comercializar os seus excedentes. Novamente se
verifica a necessidade de identificar boas variedades e tecnologias apropriadas
às condições e necessidades moçambicanas.
Dominguez diz que há lugar para novos
empreendimentos na área de sementes, mas estes devem ser de âmbito regional, de
forma que atendam às necessidades locais sem os transtornos inerentes ao
transporte de longas distâncias. Porém as variedades deverão se adaptar a
nichos específicos de produção, com características típicas peculiares Es um
país que como Moçambique goza de uma ampla diversidade edafo-climática e
social.
Existe um “Serviço Nacional de Sementes”
bem desenvolvido que garante a aplicação da lei para certificação da qualidade
do produto. O serviço tem um laboratório central bem equipado na cidade de
Maputo e três laboratórios regionais, além de trabalhar em parceria com os
escritórios distritais de agricultura no tocante a avaliação das sementes.
Pode-se concluir, então, que o desenvolvimento
da agricultura em Moçambique oferece grandes oportunidades e desafios, pois está
praticamente tudo por se fazer. Mas, para acompanhar a evolução dos conceitos
na era da globalização, é importante lembrar que hoje já não é mais o peixe grande
que come o mais pequeno, mas sim o peixe mais rápido o que chega primeiro. E
chegar primeiro no mundo dos negócios de hoje significa maiores possibilidades
de sucesso, na gua opinião.
Autor desta matéria: Carlos Dominguez
/ Engenheiro Agrônomo