Na África um desafio para grandes negócios

Edição I | 02 - Nov . 1997
Equipe SEEDnews-seednews@seednews.inf.br

    Moçambique é um dos sete países do mundo onde se fala português, o segundo em tamanho e população situado no continente africano, onde as mudanças ocorridas na economia mundial começam a mostrar seus efeitos em transformações favoráveis para os negócios. Moçambique oferece hoje múltiplas oportunidades de investimento para quem assuma os desafios inerentes ao desenvolvimento da agricultura nos países do terceiro mundo e na era da globalização mundial da economia. A opinião é do engenheiro agrônomo Carlos Dominguez, colombiano que prestou serviços de consultoria ao Governo daquele país durante oito anos. Como em outros destes países, a agricultura é a principal atividade desenvolvida pelos 17 milhões de habitantes, espalhados principalmente ao longo da faixa costeira de 2700 km sobre o Oceano Índico. 
    Maputo, antiga Lourenço Marques, é a cidade capital e nela convivem moradores de harmoniosos edifícios da “cidade de cimento” de estilo arquitetônico português dos anos 50, e da periférica “cidade de caniço”, faixa onde a população civil encontrou refúgio seguro para escapar ao conflito armado que terminou “definitivamente com assinatura dos acordos de paz de 1992. No fim do colonialismo português, em 1975, porém, o país entrou num período de guerra civil que praticamente destruiu as infra- “estruturas básicas. Afortunadamente, hoje o território nacional está em calma, com um espírito de paz e harmonia, base certa para atrair os investimentos necessários para incentivar o desenvolvimento.  A Maputo de hoje é uma cidade multifacética e cosmopolita onde se respira o ambiente dos negócios em todos os níveis. 
    A localização privilegiada do país sobre o Índico, segundo Dominguez, tem marcado uma importante função regional quanto à abertura do continente para o mundo dos negócios, porquanto os mais importantes portos da África Austral estão localizados na costa do seu território, e conectados com as cidades capitais dos mais importantes países vizinhos por estradas de ferro modernas e seguras. Na área da agricultura as oportunidades são inúmeras, pois está quase tudo por fazer. Um ponto de partida favorável para o desenvolvimento agrícola nasce do fato de a terra pertencer ao Estado, um dos poucos países do mundo a manter este sistema, comenta. A terra é cedida em comodato para o agricultor ou investidor, que poderá usufruíla por períodos de até de 50 anos, renováveis. Não há uma grande pressão sobre a terra, pois a maioria da população camponesa vive da exploração de pequenas áreas (machambas) eficientes dentro do sistema produtivo predominante, onde a mulher ocupa um lugar importante. Os pequenos agricultores representam 80% da população, produzindo atualmente a maior parte dos alimentos básicos, como milho, mandioca, arroz, amendoim e feijão, e de algumas culturas de exportação, como algodão, tabaco e castanha de caju. 
    Contudo, o país não é ainda auto-suficiente no abastecimento dos produtos básicos, e o desenvolvimento industrial capaz de absorver volumes excedentes de matérias primas provenientes da agricultura é ainda incipiente, mas em vias ao desenvolvimento. Portanto, a produção dos alimentos básicos, a identificação e introdução de outras culturas industriais, como a da soja, e o andamento dos processos industriais apropriados para estes produtos, são áreas de grandes oportunidades. A identificação de variedades e de tecnologias apropriadas para aumentar os rendimentos, assegurar o consumo interno e ainda produzir excedentes exportáveis, são tarefas imediatas, diz o consultor Dominguez. 
 

    "Moçambique, com sua agricultura crescente, é ponto destacado para negócios na área de sementes" 
 
 
    Milho e mandioca são as culturas mais importantes na dieta alimentar moçambicana e de cada uma se planta um milhão de hectares. Lá a EMBRAPA irá testar seus materiais de grão branco, em parceria com a empresa de sementes SEMOC Ltda. Este é um exemplo daquilo que pode ser feito. Outros materiais, no âmbito das culturas básicas, ou de futuro industrial, como o milho amarelo e a soja, por exemplo, devem também ser avaliados. 
    O arroz é outra cultura de grande importância no país, não só pelo mercado interno, que hoje requer aproximadamente 500 mil há para abastecimento, mas porque tem um forte consumidor potencial na vizinha África do Sul, importador do produto da Índia e outros países asiáticos. O mercado está bem segmentado, especialmente pela ampla colônia indiana residente na África do Sul, que prefere consumir variedades aromáticas dos tipos Basmatti. Estas variedades poderiam ser produzidas em Moçambique com uma vantagem enorme no custo de transporte, quando comparado com os países asiáticos. A prioridade está na identificação de variedades apropriadas para ambos o mercado, interno e de exportação. 
    Segundo o colombiano, a indústria de sementes é incipiente e a grande maioria dos agricultores utiliza hoje as suas próprias sementes, que eles mesmos produzem, com tecnologia para seleção e armazenamento adequadas ao seu entorno cultural. Existe só uma empresa semi-oficial, de abrangência nacional, que já produziu grandes volumes para o mercado interno, constituído pelas agências de apoio a emergências, logo após terminada a guerra. Este mercado terminou e o dinheiro dessas agências está sendo aplicado para favorecer o desenvolvimento, enquanto a emergência deixou de ser uma prioridade. Porém o principal desafio de hoje para uma empresa de sementes consiste em desenvolver o mercado real, que crescerá na medida em que a agricultura comercial se desenvolva e os camponeses do setor familiar possam comercializar os seus excedentes. Novamente se verifica a necessidade de identificar boas variedades e tecnologias apropriadas às condições e necessidades moçambicanas. 
    Dominguez diz que há lugar para novos empreendimentos na área de sementes, mas estes devem ser de âmbito regional, de forma que atendam às necessidades locais sem os transtornos inerentes ao transporte de longas distâncias. Porém as variedades deverão se adaptar a nichos específicos de produção, com características típicas peculiares Es um país que como Moçambique goza de uma ampla diversidade edafo-climática e social. 
    Existe um “Serviço Nacional de Sementes” bem desenvolvido que garante a aplicação da lei para certificação da qualidade do produto. O serviço tem um laboratório central bem equipado na cidade de Maputo e três laboratórios regionais, além de trabalhar em parceria com os escritórios distritais de agricultura no tocante a avaliação das sementes. 
    Pode-se concluir, então, que o desenvolvimento da agricultura em Moçambique oferece grandes oportunidades e desafios, pois está praticamente tudo por se fazer. Mas, para acompanhar a evolução dos conceitos na era da globalização, é importante lembrar que hoje já não é mais o peixe grande que come o mais pequeno, mas sim o peixe mais rápido o que chega primeiro. E chegar primeiro no mundo dos negócios de hoje significa maiores possibilidades de sucesso, na gua opinião.  



 Autor desta matéria: Carlos Dominguez / Engenheiro Agrônomo 

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