Mercados & Negócios

Edição VI | 05 - Set . 2002
Clovis Terra Wetzel-diretoria@seednews.inf.br

    Destacam-se aqui dois temas apresentados na reunião da SOCIEDADE BRASILEIRA PARA O PROGRESSO DA CIÊNCIA (SBPC), realizada em julho passado na cidade de Goiânia/GO:

    I. A necessidade de restaurar a capacidade de atuação do CNPq.  O orçamento da instituição está congelado, segundo a Dra. Glaci Zancan, presidente da SBPC:  quase todo o dinheiro é destinado à bolsas de estudo (90%), nada restando para o desenvolvimento de pesquisas provedoras de inovações tecnológicos, as quais o país tanto requer.  Mesmo a distribuição de bolsas, pelo CNPq, está minguando: em 1995, 42% dos estudantes tinham bolsa; hoje somente 16%; no caso dos doutorandos a queda foi de 60 para 30%.

    II. Em sua conferência “Biodiversidade, agricultura insustentável e insegurança alimentar”, o professor Miguel Pedro Guerra, propôs uma agricultura intensiva em conhecimentos e não em insumos. Na opinião de Guerra, o estreitamento da base genética resulta, inclusive, da organização recente do chamado “complexo-genético-industrial”, que visa incorporar recursos genéticos vegetais no setor da agroindústria mundial, sob a égide das leis de propriedade intelectual. Alertou que o estreitamento da base genética, ao lado da redução da base alimentar, leva a uma série de vulnerabilidades, com repercussões sobre a segurança alimentar do Planeta. E exemplificou: Já foram utilizadas na agricultura cerca a de 7.000 espécies, ao longo do tempo.  Hoje, na média dos países, são utilizadas 120 delas, sendo que 90% do consumo mundial de calorias recai somente em 30.  Ele estima que 75% desse consumo está baseado em quatro espécies: arroz, trigo, milho e soja.

    Cultivares modificadas, alimentos transgênicos

    I.Desde 1996, a mídia brasileira vem noticiando vários ângulos relacionados ao desenvolvimento e o plantio de cultivares geneticamente modificadas (OGM), comercialização de produtos agrícolas decorrentes – proibidos no Brasil - e os efeitos dessa tecnologia na alimentação humana, no meio ambiente e na biodiversidade.

    II.Pela falta de informações técnicocientíficas conclusivas a respeito dos supostos malefícios da biotecnologia e pelo enfoque político-ideológico e econômico, dados à questão por segmentos sociais e de interesse, esta temática tornou-se de difícil equacionamento, no Brasil.

    III.Veja-se uma seqüência de manchetes surgidas na imprensa escrita, nos últimos dois meses: “Combate no PR aos grãos modificados geneticamente”; “Mortadela da Perdigão sob suspeita”; “Transgênicos: Normas duras para a rotulagem” (na Europa); “Transgenia: Embrapa tenta flexibilizar a legislação (Técnicos apresentam proposta para retomar pesquisas interrompidas a partir do ano passado); “ Transgênico: Monsanto aposta em algodão” (no Brasil); “Mercado define rumos da transgenia – Presidente de sindicato francês aponta ampliação de mercado para não-transgênicos na Europa”; “Guia sobre transgênicos” (da Greenpeace, listando 500 alimentos com ingredientes transgênicos, no mundo); “Soja – Indústria alimentícia da França recusa transgênicos”; “Soja – Vantagem de transgênico contestada” – Engenheiro francês diz que competitividade não se resume apenas aos custos da produção”; “Biotecnologia – Questionados ganhos com plantio de soja transgênica – Despesas com herbicidas são menores, mas com a compra de sementes aumentam”. 
    As terras para viver – Uma nota divulgada por Luiz Ermindo Cavalet, na Folha de S. Paulo (15.0702), dá conta que o nosso planeta dispõe de 11,4 bilhões de hectares de terras e espaço marinho produtivo, resultando, por cálculo, a informação de que se tem 1,9 ha de área produtiva para cada um dos seis bilhões de habitantes, mas que para promover o desenvolvimento sustentável seriam necessários 2,3 ha/pessoa. 
    A ONG WWF (Fundo Mundial para a Natureza) considera que a ciência agronômica tem a chave para estabelecer técnicas agrícolas cada vez mais eficientes, como aliás vem fazendo nos últimos dois séculos (ver ctajma@terra.com.br, em 23.07.02). Com os avanços tecnológicos postos à disposição da agricultura ultimamente (e com o que vem aí); com a minimização das perdas de colheita no campo, no transporte, na distribuição, na agroindústria e mesmo na casa dos consumidores – estimadas em até 30%, na média de vários produtos e países, poderiam ser utilizados hoje, cerca de 1,33 ha/ habitante. 
    Mesmo que aumentasse a distribuição da renda no planeta, o que corresponderia a um aumento do consumo, não chegaria a 2,3 ha/ habitante, a utilização territorial. Como se imagina, a questão é complexa e não se encaixa na teoria de Malthus.

    Dilema do algodão brasileiro 
    Depois de ter migrado para o Centro-Oeste mais produtivo; do aumento verificado na produção e na produtividade, com o auxílio de novas cultivares; da obtenção de fibra de qualidade; e de ter abastecido a demanda doméstica com excedentes para a exportação, a cotonicultura nacional está numa encruzilhada: continuar investindo ou desistir desse negócio.  A queda dos preços internacionais da pluma de algodão, já produzem os efeitos na redução do plantio no Brasil, que causou perdas de mercado de mais de US$ 600 milhões por ano.  O Brasil e países africanos produtores de algodão articulam-se para entrar com uma reclamação contra os Estados Unidos na OMC-Organização Mundial do Comércio.  Na esteira desse cenário, os produtores de algodão do CentroOeste se movimentam para buscar alternativas e pressionam o Governo Federal para que assuma a proteção da cultura, de diversas maneiras.  A área de plantio da próxima safra certamente refletirá o atual dilema: manter a produção nacional, reduzila ou aumentá-la.

    Extensão rural em 5.185 municípios
    Em meio a uma enorme escassez  de recursos financeiros, o sistema brasileiro de assistência técnica e extensão rural, reuniu-se em Brasília, em julho, para encontrar alternativas sobre a falta de repasse do dinheiro do Pronaf.  Descentralizado, o sistema atua a nível estadual, através das “emateres”, desde a extinção da Embrater.  As instituições estaduais se fazem presentes, hoje, em 5.185 municípios brasileiros, com 4.472 escritórios regionais e locais, constituindo-se na maior rede de assistência ao meio rural, apesar dos percalços financeiros.  Do total de municípios atendidos, 33% estão na região Nordeste, 30% na Sudeste, 21% na Sul; 9% no Centro-Oeste e 7% no Norte.  Em assembléia da Asbraer foi decidido que as entidades estaduais de extensão rural suspenderiam, a partir de julho, o apoio ao Pronaf, mas graças ao acordo com o Ministério do Desenvolvimento Agrário, os serviços foram reiniciados em agosto.

    A volta do “El Niño”
    A previsão da meteorologia é de que este fenômeno, causado pelo aquecimento das águas do oceano Pacífico, que provoca tempestades, secas e enchentes, terá seus efeitos mais amenos, neste ano, comparativamente com a versão 1997/98 que resultou em perdas de US$ 96 bilhões à agricultura.  O efeito “El Niño” é esperado no Brasil, nos próximos meses, porém com menos intensidade do que no ano anterior.
Compartilhar