A colheita, tanto para semente como para grão, é o momento em que será verificado o sucesso de um ano agrícola, envolvendo principalmente conhecimentos agronômicos do cultivo como também aspectos de gestão da produção.
Para facilitar a colheita, os melhoristas desenvolveram cultivares com diferentes ciclos, como precoce, médio e tardio, sendo que a principal diferença está no ciclo vegetativo, pois o ciclo reprodutivo pode ser considerado semelhante. Assim, uma variedade precoce possui, na realidade, um menor ciclo vegetativo. Para espaçar ainda mais o período de colheita entre os campos de produção, pode-se utilizar diferentes épocas de semeadura, pois o enchimento da semente é função da temperatura durante o cultivo. Além do ciclo e da época de semeadura, também se pode utilizar dessecantes para acelerar a secagem das sementes no campo e, com isso, ganhar de um a três dias de antecipação da colheita, permitindo a colheita mecanizada.
A utilização de variedades precoces, com semeadura no cedo e utilização de dessecantes, realmente, pode espaçar a colheita em várias semanas. No Brasil, isso é utilizado para possibilitar dois cultivos por ano na mesma área. Exemplificando, o agricultor utiliza variedade precoce de soja numa semeadura do cedo, para colheita nos meses de janeiro e fevereiro, para logo após semear, na mesma área, o milho conhecido como safrinha. Esse procedimento é tão utilizado, que mais de quatro milhões de hectares são cultivados no país com o milho safrinha.
Outro aspecto de antecipação da colheita diz respeito à venda do produto, pois quando todos estão colhendo, o preço normalmente é baixo – como é de se esperar, pelo princípio da oferta e demanda. No Brasil, a soja colhida no mês de janeiro pode ser comercializada a um preço superior, pois a maior parte da colheita se dá no mês de março. É comum os agricultores fazerem contratos para entrega física do produto no final do mês de janeiro, requerendo, algumas vezes, a utilização adicional de dessecantes e colheita do produto com umidade um pouco acima da recomendada, o que exige uma pré-limpeza do produto e após uma secagem.
Tendência de alguns atributos dos sementes em relação ao processo de maturação
A MATURAÇÃO DA SEMENTE
Mesmo com os avanços da ciência em identificar e criar variedades de diferentes ciclos, que auxiliam na gestão do empreendimento agrícola, a maturação de um campo de produção é desuniforme, significando que, para a produção de sementes, o momento adequado da colheita é um processo de gestão, pois, caso se queira colher todas as sementes maduras e secas, algumas irão permanecer no campo por muito tempo, sujeitas às condições adversas do clima e, com isso, se deteriorarão. Por outro lado, caso não se queira perder sementes por deterioração de campo, algumas sementes verdes deverão ser colhidas junto com as outras. Essa desuniformidade de maturação os melhoristas ainda não conseguiram resolver. Na pesquisa, para minimizar os efeitos da desuniformidade de maturação, os pesquisadores marcam flores, como em soja e feijão; ou espigas, no caso de milho; ou panícula, no caso de arroz. E assim mesmo a maturação ainda apresenta alguma desuniformidade, exigindo, no caso do arroz, que a panícula seja dividida em três partes, pois a maturação das sementes ocorre do ápice para a base, chegando a 10% a diferença de umidade entre essas sementes.
No caso de soja, quando flores de mesmo estádio são marcadas, a desuniformidade pode ser considerada pequena. Entretanto, no caso de milho, quando espigas de mesmo estádio são marcadas, a desuniformidade de maturação é todavia alta, e isso é facilmente observado numa espiga em fase de maturação, em que, das 200 a 500 sementes na espiga, algumas terão a ponta negra desenvolvida, enquanto outras não, ou melhor dito, algumas sementes terão menos de 25% do endosperma solidificado, enquanto outras terão mais de 75%. Essa diferença em maturação é superior a uma semana do cultivo ainda no campo.
Comentamos a desuniformidade da maturação, mesmo quando são utilizados mecanismos para minimizar seus efeitos. Assim, é fácil entender a grande desuniformidade numa lavoura com mais de 200.000 plantas por hectare, como no caso da soja; com mais de 60.000 plantas, no caso de milho; ou com mais de 200 plantas por m2, em arroz e trigo. Numa população de plantas, vamos ter perfilhos, como no caso de arroz e trigo; que apresentarão maturação diferente. Além disso, plantas oriundas de diferentes dosagens nutricionais ou plantas oriundas de sementes com diferentes níveis de vigor, que também afetarão a maturação das sementes. Assim, numa lavoura, a determinação do momento adequado de colheita é uma tarefa de gestão, em que a pior consideração deverá ser deixar as sementes no campo, para que todas sejam colhidas maduras. Deve-se considerar que uma semente deteriorada não muda de tamanho, sendo que no beneficiamento não são separadas, permanecendo junto com as outras; ao passo que uma semente verde (imatura), em geral, é maior, sendo facilmente separada, inclusive no processo de pré-limpeza. O momento certo da colheita, para efeitos práticos, é quando algumas sementes verdes ainda se encontram no lote, evidenciando que há poucas sementes que ficaram no campo aguardando muito tempo para serem colhidas.
É evidente que há situações de clima, em algumas regiões, em que todas as sementes podem ser colhidas maduras, sem que isso afete a sua qualidade fisiológica. Essas regiões, no entanto, são bastante raras.
Umidade das sementes em uma planta de soja em função da colheita
Ainda sobre desuniformidade de maturação, há o aspecto logístico da colheita, em que o ideal seria colher separadamente toda semente que atingisse o ponto de maturidade fisiológica. Entretanto, isso é difícil, por diversos motivos, sendo um deles a dificuldade da determinação da maturidade fisiológica em nível de campo, e outro a dificuldade das sementes serem trilhadas. Há poucas espécies que se colhem ao redor do ponto de maturidade fisiológica. Entre elas, a principal é o milho, que se colhe em espiga para debulhar mais tarde, quando a semente já está seca. Outra é a semente de azevém, que se colhe com umidade acima de 30%, por sua característica de alta deiscência natural. Neste sentido, para sementes de alto valor, como as de hortaliças, que em muitos casos a maturação é tão desuniforme que chega a é escalonada, a colheita manual praticamente a única alternativa, entrando-se na lavoura mais do que uma vez para realização da colheita. A colheita de sementes de cenoura e de cebola são exemplos de colheita manual em que se entra na lavoura de três a quatro vezes para tal fim.