Algodão: a importância de seu potencial fisiológico

Edição XXVIII | 04 - Jul . 2024
Maria de Fátima Zorato-fatima@mfzorato.com.br
   Semente de elevada qualidade expressa o potencial genético de uma cultura e se exprime em produtividade. Isso não é diferente para o algodão, que representa uma espécie alicerçada e de grande importância econômica e social no Brasil.

   Neste contexto, a utilização de semente certificada é de extrema importância, pois permite acesso às inovações da genética, à melhor qualidade de lotes de sementes e às tecnologias de adequação para as diversas regiões produtoras, todos agentes agregadores de produtividade.

   O potencial fisiológico (vigor e viabilidade) de algodão é determinante para o estabelecimento desejado da população no campo e seu desenvolvimento; no entanto, pode ser influenciado pelo ambiente de produção, como ocorrência de estresses bióticos e abióticos. Para tanto, são realizados os testes de pré-colheita em algumas empresas, visando conhecer a qualidade, ainda em campo.

   Um fator curioso na análise da cultura de algodão é que as fases, às vezes, não são sequenciais, como, por exemplo, na soja, que se colhe, seca, beneficia e armazena. Podem ocorrer delay entre a colheita e as demais operações. O processo pode ser de colheita e espera no campo para beneficiar, depois seguido pelo descaroçamento e deslintamento. Estes intervalos requerem rastreamento da qualidade.

   Pode haver interação significativa entre o período de armazenamento e o vigor, uma vez que ocorrem alterações fisiológicas e bioquímicas das sementes, fato às vezes não notado no teste de germinação, realizado em condições ótimas. Para tanto, é imprescindível a utilização de testes que auxiliem na predição do potencial fisiológico para tomada de decisões na produção de sementes de algodoeiro.

   Para a cultura do algodão, além do teste de germinação, são empregados testes de vigor, sendo complementares à germinação e que determinam se a semente desenvolve bem sob condições adversas.

   Existem vários testes de vigor. A seguir, conheceremos os mais utilizados.

- Teste de Envelhecimento Acelerado: se baseia no aumento da taxa de deterioração da semente pela sua exposição a níveis elevados de temperatura e umidade relativa do ar. Os tempos de exposição de estresse para sementes de algodão preconizados e padronizados são 60 horas em temperatura de 41 °C; 72 horas em temperatura de 41 °C. Também existem empresas empregando período de 48 horas em temperatura de 41 °C.

- Teste de Primeira Contagem do Teste de Germinação: seguem as recomendações para o Teste de Germinação preconizado pela RAS (Brasil, 2009). As sementes são semeadas em rolo de papel, umedecidos com água na quantidade de 2,5 o peso do papel seco, depois os rolos são mantidos em germinador regulado à temperatura de 25 °C constante. As avaliações são realizadas numa primeira contagem ao quarto dia, após semeadura. O teste está baseado na premissa de que sementes que germinam mais rápido são mais vigorosas. O tamanho de referência é 4 cm.

- Teste de Germinação a Baixa Temperatura: se baseia no princípio de que a semente posta para germinar em temperatura inferior à ótima torna o processo de embebição mais lento, podendo induzir a ocorrência de danificações na raiz primária, a redução no alongamento do hipocótilo e, ainda, aumentar a sensibilidade à ação de microrganismos. O teste consiste em colocar a semente para germinar à temperatura de 18 °C, por sete dias, em ambiente escuro, quando então se realiza a avaliação.

- Teste de Tetrazólio: é rápido e representa uma ferramenta auxiliar e importante para a determinação do vigor e viabilidade, com indicativos de danos fisiológicos, distribuídos em classes e identifica as causas de prejuízo à qualidade. Normalmente, se recomenda o período de pré-umedecimento de 14 a 16 horas e temperatura de 25 °C. Visando minimizar o tempo de preparo da semente para a condução do teste, a semente pode ser deixada por duas horas em imersão em água, depois procede o corte na extremidade oposta ao eixo embrionário e, em seguida, mais seis horas de imersão em água após o corte. A concentração do sal de tetrazólio - Cloreto 2,3,5 Trifenil Tetrazólio - recomendada para a semente de algodão é de 0,1% e, após a imersão da semente, deve ser colocada em estufa regulada a 30 °C, por aproximadamente 3 a 4 horas. Depois do período de coloração, a solução deve ser drenada e a semente lavada em água corrente e procedida a avaliação.

- Teste de Emergência de Plântulas: a plântula é uma pequena resultante de desenvolvimento inicial do embrião. O crescimento inicial e sobrevivência podem estar diretamente relacionados com as reservas presentes na semente. O teste pode ser realizado em substrato de solo ou de areia. O importante é verificar o espaçamento entre as sementes, a profundidade uniforme (geralmente 3 cm), a distribuição de água para obtenção de bons resultados. A avaliação é dependente de condições ambientais quando o teste é realizado externamente ou se efetuado em ambiente interno que é controlado.

- Teste de Imagens: técnicas de análise computadorizada de imagens estão sendo utilizadas para avaliar a fisiologia e a morfologia interna da semente, reduzindo o tempo de avaliação. Dentre os mais utilizados estão: 1. Teste de Raios-X – é eficaz para a análise de semente, sendo um método rápido e não destrutivo, recomendado com a finalidade básica de determinar semente cheia, malformada ou vazia, com danificação mecânica ou atacada por insetos. A proporção entre a área ocupada pelo embrião e o espaço disponível na cavidade interna da semente tem sido associada ao seu potencial fisiológico. A técnica de Raios-X também detecta as microfissuras que têm potencial para afetar o vigor e germinação das sementes; 2. Software “Seed Vigor Imaging System®” (SVIS) - quando processadas as imagens, fornecem índices de vigor, de uniformidade e de crescimento de plântulas e seu comprimento. Apresenta vantagens no sentido de ser rápido, eliminar o erro humano, gerar confiabilidade nos dados para fins comparativos e, ainda, poder serem arquivadas as imagens para usos posteriores.

   Como pudemos perceber, existem algumas metodologias alternativas e inovadoras de análise de imagens de sementes e plântulas. Embora não detectem todos os problemas relacionados ao potencial fisiológico, são ferramentas que contribuem nos estudos morfológicos e fisiológicos de semente várias espécies. 

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