Uma década já se passou a partir do descobrimento de CRISPR como uma ferramenta de edição de genomas. Desde então, inúmeros trabalhos têm sido publicados nas mais importantes revistas científicas do mundo, demonstrando a aplicabilidade dessa poderosa ferramenta nas diferentes áreas.
No Japão, produtos gerados por CRISPR já estão sendo usados diretamente na alimentação humana, fazendo parte do dia a dia da população. Uma dessas tecnologias é o tomate editado, que começou a ser comercializado em setembro de 2021 pela empresa Sanatech Seed em parceria com a Pioneer EcoScience, se tornando uma das primeiras empresas do mundo a comercializar alimentos editados via CRISPR.
A característica introduzida levou a um aumento em cerca de cinco vezes no teor do aminoácido GABA (ácido gama-amino butírico) da variedade de tomate Sicilian Rouge, fazendo com que esse tomate tenha características funcionais na prevenção da hipertensão e redução da ansiedade.
A tecnologia foi desenvolvida em parceria com a Universidade de Tsukuba no Japão. O GABA é produzido pelo organismo humano e desempenha um papel fundamental no cérebro e no sistema nervoso. A ingestão desse aminoácido pode ter efeitos benéficos sobre o estresse e o sono.
As autoridades do Japão decidiram não regulamentar o tomate Sicilian Rouge High GABA como alimento geneticamente modificado, por não conter sequências de DNA de outras espécies, o que permitiu adiantar seu lançamento.
Além do tomate, o Japão aprovou a venda de dois peixes editados por CRISPR, um baiacu-tigre “tiger puffer” e uma dourada “red sea bream” que atingem seu peso comercial muito mais rápido, ambos desenvolvidos pelo Instituto Regional de Peixes de Kyoto, em conjunto com a Universidade de Kyoto e a Universidade Kindai.
Em baiacus, os pesquisadores alteraram o gene do receptor de leptina, que controla o apetite, fazendo com que os peixes comam mais, aumentando a taxa de ganho de peso e permitindo que alcancem o tamanho do mercado mais cedo, de acordo com a empresa. Para a dourada, os pesquisadores desativaram a proteína miostatina, que suprime o crescimento muscular, permitindo que o peixe cresça mais com a mesma quantidade de ração.
Em 2020, o Japão publicou as diretrizes afirmando que plantas e alimentos editados podem ser comercializados sem a necessidade de desregulamentação imposta para os organismos geneticamente modificados, desde que atendam a determinados critérios, semelhante ao que ocorre em outros países do mundo.
Em 2023, o Ministério da Saúde, Trabalho e Bem-Estar e o Ministério da Agricultura, Silvicultura e Pesca do Japão deram o sinal verde para a comercialização do quarto produto alimentício editado, o milho com alto teor de amilopectina.
No Brasil, diversas tecnologias geradas por meio de edição gênica já passaram pela avaliação da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) e foram consideradas como não OGM pela legislação brasileira.
No entanto, por sermos um dos principais exportadores de alimentos, dependemos de um alinhamento sobre o enquadramento dessas tecnologias em nível global, para que estas cheguem efetivamente à comercialização. Avanços na legislação têm sido observados no mundo todo, inclusive em países mais conservadores como o Japão, o que nos dá luz para que em um futuro próximo haja o alinhamento dessas questões.