Reflexões sobre os avanços na Produção de Sementes

Edição XXVIII | 02 - Mar . 2024
Silmar Teichert Peske-silmar@seednews.inf.br
Fabricio Becker Peske-fabricio@seednews.inf.br
   O Brasil investiu e ainda investe pesado em pesquisa e treinamento de pessoal, especialmente na área de sementes, com origem em um programa governamental conhecido como AGIPLAN (Ação Governamental para Implantação do Plano Nacional de Sementes), iniciado na década de 1970.

   O sucesso deste investimento pode ser exemplificado pela liderança mundial do país na produtividade da soja, com 3,6 t/ha numa área de 45 milhões de hectares. Isto numa região majoritariamente tropical e com cultivares predominantemente de ciclo precoce ou médio, que tendem a produzir menos que as cultivares de ciclo mais longo.
Ressalta-se que este sucesso se dá devido a vários avanços, passando pela adoção por parte dos agricultores das inovações tecnológicas. Entretanto, neste artigo, vamos ressaltar os avanços que ocorreram na área de sementes que contribuíram para este sucesso incontestável.

   Colheita
   As sementes, uma vez maduras, devem ser colhidas, pois começam a se deteriorar. Entretanto, devido ao alto grau de umidade das sementes, o processo de debulha é dificultado em algumas espécies, como é o caso de milho, em que as sementes são colhidas em espiga, ou do azevém, em que as plantas são cortadas e enfileiradas para posterior trilha.

   No caso da soja, em que a maturação fisiológica ocorre com umidade entre 50% e 55%, o avanço está sendo com colhedoras apresentando um sistema de debulha que consiga colher as sementes com uma umidade média de 25% sem apresentar o inconveniente de embuchar.

   As colhedoras tiveram um grande avanço em sua capacidade de colher praticamente sem danificar as sementes. Atualmente, pode-se considerar que todos os produtores de sementes de soja possuem colhedoras do tipo axial, que debulha as sementes por um processo de fricção em vez de “golpes”.   

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   A colheita é considerada a fase mais crítica na produção de sementes, pois deve ser realizada no momento adequado para evitar a deterioração de campo. Enfatiza-se que a produção de sementes é uma indústria a céu aberto, sujeita a muitas adversidades que não se controlam.

   Secagem
   O grande avanço em secagem foi na percepção do produtor de sementes de que deixando as sementes no campo até 12-13% de umidade ocorre deterioração em maior ou menor grau, dependendo das condições climáticas, como chuva, orvalho ou alta temperatura.

   Estima-se que, em soja, os produtores de sementes estão planejando sua capacidade de secagem em, no mínimo, 70% da produção; até pouco tempo, estava em 30%. Isto é evidenciado pela redução de área inscrita para produção de sementes, para a qual se inscreve uma área superior a demanda devido a descartes oriundos da deterioração de campo. A secagem diminui o descarte.

   Em termos de secadores, há fabricantes que colocam no mercado modelos que possuem alta capacidade de secagem com pelo menos 1 pp/h na redução da umidade, isto sem danificar as sementes quer por danos mecânicos ou térmicos. Enfatiza-se que o benefício da secagem de sementes, por minimizar a deterioração de campo, é infinitamente maior do que porventura algum efeito colateral da secagem como gasto de combustível e a necessidade de manter a segregação das sementes.

   Eficácia e eficiência
  A produção de sementes envolve, além dos aspectos de campo, atributos genéticos, como classes e categorias (genética, básica, C1, C2, S1 e S2), e legais, de licenciamento de germoplasma e biotecnologia. Neste sentido, é essencial para o produtor de sementes que o processo de beneficiamento seja eficiente e eficaz, ou seja, tenha uma boa produção por hora, com o mínimo de perda de sementes de alta qualidade e com remoção de todo material indesejado.

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   Felizmente, os avanços no beneficiamento foram grandes nos últimos anos, como o separador em espiral, que permite ajuste, minimizando as perdas de sementes boas; a mesa de gravidade com ajustes de vibração, velocidade do ar e inclinação mais fáceis; máquina de ar e peneira, com peneiras mais ajustadas e velocidade do ar regulável; classificador de sementes numa posição mais adequada dentro na linha de beneficiamento; e o uso do separador óptico com maior eficiência. 

   Até poucos anos, uma perda de 30% a 35% das sementes que entram para serem beneficiadas era normal; entretanto, atualmente, com os equipamentos adequados, a perda normal situa-se entre 15% e 20%.

   Registra-se a sensibilidade do produtor na qualificação de seu pessoal de beneficiamento de sementes, quer em suas próprias instalações ou em outros locais junto com colegas de atividades afins. Felizmente, há no país profissionais e entidades que oferecem este tipo de treinamento. O beneficiamento de sementes é função dos equipamentos e da experiência e conhecimento do pessoal envolvido.

   Armazenamento
   As sementes, uma vez limpas e beneficiadas, são armazenadas por algum tempo antes de serem distribuídas ao agricultor, período este que podem perder sua qualidade. Assim, os produtores de sementes investiram em inovações tecnológicas para minimizar a deterioração de sementes durante o armazenamento.   

   O primeiro e grande avanço foi o esfriamento dinâmico, em que se esfria a semente de 12 a 15 °C no momento do ensaque, indo para a pilha já fria, enquanto o segundo avanço foi o uso generalizado de armazéns climatizados para sementes já prontas na pilha. Isto se usa para milho há bastante tempo; para sementes de soja, é recente.

   A conscientização dos benefícios do frio na manutenção da qualidade das sementes proporcionou que empresas de transporte entrassem no mercado, oferecendo um serviço de alto nível com caminhões climatizados. Também merece registro a iniciativa de produtores de sementes em construírem centros de distribuição com controle de temperatura. Isto também evita que as sementes fiquem no “armazém” do agricultor, que muitas vezes não é o mais adequado, apresentando goteiras, por exemplo.

   Enfatiza-se que o armazenamento a frio não melhora a qualidade das sementes, entretanto sem esta tecnologia, a deterioração das sementes armazenadas é acentuada.

   Tratamento de Sementes
   A semente, para desempenhar seu papel, deve estar viva, forte e protegida. Neste contexto, entra o Tratamento de Sementes na Indústria (TSI), com seus benefícios de dosagem correta, cobertura da semente, liberação de pó e segurança de pessoal, entre outros aspectos.

   O TSI, mesmo com todos seus benefícios, alcança entre 30 e 35% da semente comercializada de soja, arroz e trigo pelos produtores de sementes. Isto se deve em grande parte pelo inconveniente de descarte da semente tratada que não é comercializada e pelos efeitos do armazenamento nas sementes tratadas que podem perder o efeito do produto (produtos biológicos).

   Neste sentido, visando aumentar o TSI, os produtores de sementes e revendas, principalmente, estão contemplando centros de tratamento de sementes perto do agricultor, viabilizando assim o TSI poucos dias antes semeadura. Ressalta-se que o tempo para o tratamento das sementes é curto, requerendo um sistema de tratamento de sementes de alta capacidade, operando nas 24 horas do dia.

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   Estima-se que esta alternativa, com centros de tratamento de sementes, proporcione um aumento considerável de sementes tratadas adequadamente.

   Vigor
   Os testes de vigor foram desenvolvidos há mais de meio século, sendo indicados inicialmente para o controle interno de qualidade das empresas de sementes.  Neste sentido, vários foram os testes criados com base em diferentes atributos de desempenho das sementes como resistência ao frio, velocidade de emergência, potencial de armazenamento, atividade enzimática, entre outros.

   A pesquisa evoluiu de tal forma que conseguiu evidenciar que o vigor das sementes apresenta uma estreita e direta relação com a produtividade do cultivo. Em sementes de soja, conseguiu-se constatar um aumento na produtividade superior a 20% entre lotes de sementes de alto e baixo vigor.

   Atualmente, para benefício do agricultor, grande parte dos produtores de sementes de soja estão colocando no mercado lotes de sementes com um mínimo de 90% de germinação e com 80% de vigor (Envelhecimento Acelerado ou Tetrazólio). A lei estipula um mínimo de 80% de germinação; quanto ao vigor não estipula padrão, apenas a metodologia utilizada. Estima-se que mais de 70% da semente de soja comercializada possua mais de 90% de germinação e com o vigor avaliado.

   Rastreabilidade
   As sementes possuem uma origem genealógica, com pais, avós e bisavós, assim como local de produção e histórico de tratos culturais e avaliação da qualidade, entre outras características.

   Neste sentido, é comum um lote de sementes possuir mais de 40 registros sobre sua origem e qualidade, cobrindo desde a parte de campo até o momento da entrega ao agricultor. A informática e a internet possibilitaram estes avanços, que, felizmente, também estão presentes no campo, possibilitando o acesso as informações em tempo real e praticamente em qualquer lugar. 

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    Embalagem e Número de Sementes
   As sementes das grandes culturas são comercializadas em sacas que variam de peso e número de sementes. Até pouco tempo, as sacas de soja eram de 25 ou 40 kg, o que evoluiu para também oferecer o big bag de uma tonelada. A evolução seguinte, no caso da soja, foi o comércio das sementes com base em número em vez de peso, oferendo embalagens com 100 mil a 5 milhões de sementes.

   A evolução do comércio de sementes, com base no número, foi obtida vencendo uma grande resistência, principalmente do pessoal de vendas e do beneficiamento de sementes, que tiveram de se adaptar e buscar novos conhecimentos. As mudanças geram resistência de adoção.

   O tamanho da semente se relaciona com o peso; entretanto, não apresenta relação com sua qualidade; assim, o comércio por número veio para ficar, considerando que a densidade de semeadura é indicada por número de sementes por metro linear e não por peso.

   Os avanços na produção e tecnologia de sementes contribuíram para o aumento de produtividade da soja, assim como de outros cultivos, por disponibilizar ao agricultor sementes de alta qualidade em quantidade das variedades melhoradas.

   Enfatiza-se que o comércio é dinâmico e acirrado, e aquele que ficar para trás provavelmente estará fora em pouco tempo. Esta é a principal razão dos produtores de sementes buscarem as inovações tecnológicas para serem competitivos.
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