Os maiores nomes da indústria de sementes mundial voltam a se reunir na África do Sul

Edição XXVII | 04 - Jul . 2023
Equipe SEEDnews-seednews@seednews.inf.br
   Há 22 anos, a Federação Internacional de Sementes (International Seed Federation - ISF) ia ao país para discutir os desafios do setor
   
   O continente africano é o berço da humanidade, de onde saímos como espécie, dominando e moldando o mundo ao nosso redor para uma vida melhor! A domesticação das plantas e dos animais, apenas 10 mil anos atrás, nos catapultou em direção a um vertiginoso crescimento por todo o planeta.

   Com maior controle sobre as espécies e melhoramento vegetal seletivo, nossos ancestrais se permitiram viver uma vida mais sedentária, graças ao acúmulo de reservas e riquezas, o qual, por sua vez, nos motivou a viver sempre em grupos, formando laços e famílias; afinal, qual maneira melhor de proteger nossa propriedade acumulada com muito suor senão com a ajuda de nossos contemporâneos?

   Hoje, a mesma preocupação continua a afligir a indústria agrícola por todo o mundo. Como proteger nossos esforços em melhorias tecnológicas e vegetais em benefício da sociedade? Na África, essa pergunta vem ainda com mais pressão, pois estima-se que o “velho continente” terá quase um bilhão de pessoas em 2050. Além disso, aproximadamente 60% da população mundial viverá por toda a região. Com isto em mente, David Malan, empresário e chairman do evento, enfatiza que é crucial acelerar a produção de alimentos.

   A semente sempre será o ponto de partida! Não só pela sua importância no estabelecimento das lavouras, como por toda sua carga genética e tecnológica. Porém, segundo Chris Ojiemo, líder do programa de sementes e parcerias do Centro Internacional de Melhoramento  de Milho e Trigo (Centro Internacional de Mejoramiento de Maíz y Trigo – CIMMYT), menos de 50% dos agricultores tem acesso a sementes na África, e isto ocorre pela falta de investimentos do setor público e privado: “As regulamentações que afetam o setor precisam melhorar de norte a sul”.

   É comum dizer que a África perdeu o momento de abraçar a revolução verde e o salto produtivo que as cultivares superiores oferecem, e, agora, está correndo atrás do prejuízo em muitas regiões.

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   Ojiemo salientou ainda, durante o painel de discussões, que a produtividade é resultado da combinação entre ambiente, manejo e genótipo, devendo assim haver esforços para o desenvolvimento local de soluções, o que é muito escasso no continente. Com facilidade, podemos extrapolar esta realidade para todo o mundo.

   Não há dúvidas que a indústria agrícola e sementeira evoluiu muito, sob diversos pontos de vista, desde a última reunião da ISF na África do Sul, em 2001. A participação das diferentes entidades, profissionais e empresas públicas e privadas por todo o mundo cresceu muito desde o início do século 21. Hoje, 60 países são representados dentro da ISF nas mais de mil delegações presentes neste ano, além das 203 mesas de negociação ocorridas durante os três dias do evento, o qual trouxe um lema que vêm bem a calhar: “Shared roots, greater hights”, ou seja, “Raízes compartilhadas, voos mais altos”!

   Leonardo Lionço, representando a ISLA por parte do Brasil, conta que tinha mais de 50 reuniões agendadas para prospectar parcerias e negócios no ramo de hortaliças. Este grupo de espécies, assim como forrageiras, são amplamente negociadas para importação e exportação por todo o mundo e, assim, dependem muito de um ambiente apropriadamente regulamentado para que não haja contratempos e problemas no comércio exterior.

   Felizmente, a cada dia que passa, este mercado é aprimorado com muito diálogo. Porém, muitos desafios ainda permanecem, além de novas realidades por todo o mundo! Algumas coisas evoluem rapidamente, porém algumas outras caminham ainda muito devagar. A proteção à inovação por meio da Ata da União para a Proteção das Obtenções Vegetais (UPOV) é um bom exemplo, pois ainda há muitos países (incluindo o Brasil e demais na América do Sul) que relutam em se adaptar e mantém compromisso com a Ata mais leniente de 1978.

   O Quênia adotou as resoluções da Ata da UPOV de 1991 e já colhe diversos benefícios desde 2016, como o rápido crescimento da indústria de flores de corte, empregando mais de 500 mil cidadãos.

   Obviamente, esta adaptação não é do dia para à noite, pois exige que cada país modele suas leis e regulamentações para comportar as necessidades protetivas da Ata de 1991. Este foi o caso de Uganda, que trabalhou por duas décadas até atingir as exigências necessárias, inclusive com consultoria e apoio próximo dos profissionais junto à UPOV.

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   Felizmente, quando se trata de importação, Craig Fedchock, consultor do programa de e-Phyto, confirma que Uganda zerou os problemas fitossanitários graças à digitalização dos documentos. Porém, não é só sobre tecnologia que falamos, mas sobre comunicação entre as empresas e os governos para facilitar o movimento internacional dos produtos.
“Por muito tempo, foi difícil mover as sementes por dentro do continente africano, mas já é possível ver uma melhora significativa neste aspecto nos últimos anos. Isto ocorre devido à falta de conhecimento das pragas e de seus riscos em muitos locais”, afirma David Malan. Na África, mais de 40% das perdas em produtividade vegetal devem-se às pragas no campo e durante o armazenamento.

   “Muitas das soluções já estão ao nosso alcance”, disse Bhupen Dubey, CEO da Advanta Seeds. “Alguns países alcançam médias altas, acima de dez toneladas por hectare, em produtividade de milho, enquanto outros atingem apenas 1 t/ha. Assim, a chave para maior segurança alimentar de muitas regiões está na transferência de conhecimento e tecnologia. A genialidade humana é muito poderosa, porém a nossa estupidez também parece ser sem limites”, disse Dubey, arrancando risadas dos participantes do fórum sobre liderança em negócios sementeiros.

   E este é sempre o objetivo final da ISF: “Possibilitar que as melhores sementes cheguem para quaisquer agricultores em qualquer lugar do mundo”, afirmou o secretário-geral da associação, Michael Keller.

   Para isto, três pilares são essenciais: melhoramento vegetal, produção e comercialização.

   “Afinal, somente vamos alimentar o mundo se a semente se mover, pois nenhum país é independente quando se trata de sementes”, disse Michael.

  “Em Uganda, por exemplo, apenas 23% dos agricultores usam tecnologia no campo, incluindo sementes de qualidade. E, mesmo quando usam sementes de germoplasma superior, são de sementes salvas da safra anterior”, comentou Sylvia Kyeyune, gerente da empresa Simlaw Seeds no país. Ainda segundo ela, “a África necessita muito de cultivares resistentes à seca, sendo que os programas de melhoramento precisam se adaptar e escutar muito mais às necessidades dos agricultores para reduzir este problema o mais rapidamente possível”.

   Em sua apresentação de abertura, Michael apresentou a palavra “ubuntu”, existente nos idiomas zulu e xhosa, do sul da África, que ele apresentou como “uma qualidade que inclui as virtudes humanas essenciais; compaixão e humanidade”. Nesta linha, a ISF está com uma forte iniciativa para construir um sistema de sementes mais inclusivo!

   Em Ruanda, junto à uma ONG chamada Fair Planet, a associação firmou uma parceria em um projeto de “Resiliência da Semente”, o qual irá focar em diversas espécies, como vegetais, pulses, batata e cereais. O projeto visa facilitar o acesso dos agricultores a sementes de mais qualidade, além de treinamentos em boas práticas de cultivo, que também visa maximizar o potencial das cultivares de genética superior dentre milhares de pequenos agricultores no país, o qual apresenta, hoje, uma pessoa com fome a cada dez.

   “Muitas coisas ameaçam constantemente o movimento internacional de sementes, como guerras, aquecimento global, políticas regionais e protecionismos que causam rupturas na cadeia global de suprimentos”, enfatizou Marco Von Leeuwen, presidente da ISF. Ele ainda salientou que as empresas investem ao redor de 30% do lucro em pesquisa e desenvolvimento todo ano, sendo que o acréscimo produtivo que atingimos nos campos nas últimas décadas foi crucial para reduzir a insegurança alimentar por todo o mundo.

   “Por isso, é vital termos leis e regulamentos que protejam a pesquisa e desenvolvimento”, disse. Ainda segundo ele, o sistema informal de sementes não precisa ficar de fora, pois certamente se beneficiará dos avanços tecnológicos de um ambiente propício para contínuo investimento: “Seja pequeno ou grande, o agricultor sabe o que precisa para que sua lavoura tenha colheitas melhores”.

   Samuel Timpo, líder do programa de biossegurança da Agência de Desenvolvimento da União Africana (AUDA-NEPAD), resumiu muito da discussão em uma única frase: “A inovação de hoje é a prosperidade de amanhã”.

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   “Nós estamos alcançando limites de produtividade em alguns locais do mundo, enquanto outros locais estão evoluindo, mas ainda carecem de estrutura apropriada. A tendência que estamos percebendo é que os crescimentos com maior destaque em PIB agrícola se darão nos países asiáticos nos próximos anos e, assim, a indústria de sementes necessitará se adaptar para atender tais demandas de forma inteligente”, afirmou Dubey.

   Representando o Brasil no evento, estavam o novo Presidente da Associação Brasileira de Sementes e Mudas (ABRASEM), Ronaldo Troncha, e o secretário-executivo da Associação Brasileira de Comércio de Sementes e Mudas (ABCSem), Aryan Schut. Eles puderam dar o suporte necessário para o comércio internacional de sementes brasileiras, tanto em exportação como importação. Empresas com forte atuação no mercado de espécies vegetais e ornamentais, como a ISLA, Feltrin, Horticeres e Sakata, se beneficiam muito das conexões criadas e fortalecidas através da ISF para negócios além de nossas fronteiras.

   “Estima-se que mais de 16 bilhões de dólares e um volume de 7,2 milhões de toneladas métricas de sementes já são exportadas anualmente por todo o mundo”, diz o presidente da ISF.

   Algumas Exposições
   A Petkus aproveitou a ocasião para divulgar sua tecnologia “Midex” em mesas dessimétricas, a qual elimina a porção mediana de classificação de sementes e a necessidade de repasses da semente por mais de uma vez no equipamento. Este benefício reduz os riscos de danos mecânicos das sementes graças à um deck extra de seleção na porção final da mesa, além de aumentar a eficiência do processo como um todo.

   A empresa Seed-X, atuante majoritariamente na Europa, continua investindo em inteligência artificial para aprimorar o processo de beneficiamento. Em parceria com a Petkus, a empresa atua com todos os tipos de espécies vegetais, utilizando análise de imagem e resultados de qualidade em laboratório para determinar quais sementes devem ser eliminadas do lote, reduzindo, assim, o descarte de sementes boas.

   A BASF focou na promoção de seus defensivos agrícolas, incluindo nematicidas, inoculantes, polímeros e produtos biológicos para tratamento de sementes, o qual se baseou no lema: “Dando todo o poder para as sementes fazerem mais”.

   A Bayer teve forte presença, por meio da colaboração da sua Líder em Pesquisa de Germoplasma e Propriedade Intelectual, Marymar Butruille; ela salientou a importância de evoluirmos a proteção de cultivares junto a marcadores moleculares. Esta já é uma realidade em forte ascensão nos países desenvolvidos. Hoje, no Brasil, se uma cultivar de soja tiver apenas sua coloração de flor alterada dentro de um programa de melhoramento já pode ser registrada como nova cultivar, embora seu desempenho e todas as demais características se mantenham iguais a de seu progenitor original. Esta situação prejudica os esforços de melhoristas sérios que esperam ser recompensados por seus esforços, o que leva muito tempo e capital para ser alcançado.

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   Próximo evento
   Em 2024, a ISF irá atrair o setor sementeiro mundial para se reunir em Roterdã (Holanda). Na ocasião, a entidade estará completando 100 anos de existência, tempo durante o qual atuou para que sementes de qualidade chegassem em todos os cantos do mundo. Será momento de comemorar, mas também de traçar novas metas em favor da segurança alimentar para mais de oito bilhões de pessoas.
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