As inovações tecnológicas devem ser adotadas para surtirem efeito. Porém, as centenas de teses e dissertações defendidas nas universidades praticamente não chegam ao interessado, seja o produtor de sementes, extensionista, fabricante de equipamento, pessoal envolvido com tratamento de sementes, laboratoristas e agrônomos em geral, entre outros atores do negócio de sementes.

    Desta maneira, após vários anos e tentativas para alcançar o interessado com as inovações tecnológicas, criamos em 1997 a Revista SEEDnews, publicando artigos tecnológicos e notícias, ambos com ilustrações atrativas e numa linguagem concisa e direta. A seguir serão destacadas as contribuições especiais, os avanços tecnológicos testemunhados e outros fatos relevantes nestes 25 anos de atuação.

    Contribuições Especiais
    No processo de elaboração da revista, apresentamos o projeto para algumas pessoas, as quais acharam a ideia promissora, prontificando-se em ajudar na medida do possível.
Vários foram os colegas que se colocaram a disposição para colaborar, entretanto, alguns se destacaram, como o dr. James C. Delouche e o Dr. Clovis T. Wetzel. Claro, também a equipe de sementes da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), que foi a parceira de primeira hora que até hoje está de prontidão para contribuir.

    O dr. Delouche se encarregou de manter um artigo por edição na revista, algo que se manteve por 13 anos, abordando aspectos relacionados a fisiologia de sementes. Merece registro o artigo sobre deterioração de sementes, publicado em 2002, que até hoje é um dos artigos mais acessados. Quando se retirou, em 2009, o fez com grande pesar, e temos certeza de que os leitores da SEEDnews sentiram a ausência. O Dr. Delouche prezava tanto a revista que um dia reclamou, pois havíamos dividido um artigo dele. Justificamos que era para garantir material numa próxima edição. Assim, para evitar este inconveniente, enviou um artigo extra como reserva que nunca se precisou utilizar.

    Por outro lado, o Dr. Wetzel, um dos artífices do programa brasileiro de sementes, se encarregou de publicar artigos sobre o negócio de sementes, que dominava de sobremaneira. Documentou a história da semente no Brasil, inserindo comentários da evolução do sistema com participação forte do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e da Embrapa, assim como manteve uma coluna sobre mercados e negócios. Contribuiu conosco até 2006.

    A revista SEEDnews é oriunda de uma iniciativa privada, que como tal é sujeita a dar lucro ou prejuízo. Assim, tanto o Dr. Wetzel como o Dr. Delouche foram grandes assessores quanto a viabilidade da revista. Os dois não se cansavam de enfatizar que coisas boas requerem trabalho e conhecimento.

    SEEDnews e os Grandes Avanços
    No período de 1997 até 2022 grandes acontecimentos ocorreram no negócio de sementes brasileiro, que influenciaram de forma positiva a produção e uso de sementes de alta qualidade das variedades superiores.

    Proteção de cultivares
    Em 1997 foi criada a lei de proteção de tivares que promoveu o melhoramento vegetal, caracterizando o direito do obtentor em relação a comercialização de sementes. Esta lei contempla a relação do obtentor com o produtor de sementes e a isenção do melhorista para com o uso do germoplasma disponível comercialmente.

    Neste contexto, a primeira edição da SEEDnews trouxe, como matéria central, a relação do melhorista com o negócio de sementes, em que contempla um pagamento de royalty por parte do produtor de sementes para licenciar do obtentor uma variedade protegida. Várias foram as matérias publicadas sobre o assunto, abordando o direito do melhorista, o licenciamento de cultivares, a isenção do melhorista, pirataria, variedades essencialmente derivadas, entre outros aspectos. A criação de cultivares com atributos agronômicos superiores é o cerne para o sucesso de um programa de sementes.

     Biotecnologia
    A importância da biotecnologia para a agricultura pode ser exemplificada pelo uso comercial da soja RR na primeira década deste século. Neste sentido, a revista foi prolífera em publicar artigos exaltando os benefícios da inovação tecnológica, abordando aspectos agronômicos, ambientais, científicos-tecnológicos e comerciais.

    O processo que resultou na soja RR foi patenteado, e como tal, possuía uma proteção robusta, ou seja, a proteção vai até a comercialização do grão. Isto originou uma cobrança de direitos que se convencionou chamar de taxa tecnológica (TT), que é cobrada do produtor de sementes ou na moega, no caso do uso de grão como semente. Pode-se imaginar as fortes discussões sobre a TT que era recolhida sobre a semente ou o grão produzido. 

    Lei de sementes
    A produção e comercialização de sementes é realizada seguindo normas, padrões, penas e outros requisitos contemplados na Lei de Sementes de 2003 e seu decreto de 2004, revisto em 2021. Neste ambiente, em que atuam o produtor de sementes, os obtentores, o MAPA, laboratório de sementes, responsáveis técnicos, agências certificadoras, associações sementeiras, entre outros, informações e esclarecimentos são essenciais para o bom desfecho na produção e comercialização de sementes.

    A estatística da produção, com sua respectiva taxa de utilização de sementes (TUS) por espécie, serve de referência para várias tomadas de decisão. Dados confiáveis auxiliam de sobremaneira as empresas de sementes tomarem suas decisões de investimento. Artigos contemplando estes aspectos são uma das fortalezas da revista.

    Vigor
    A qualidade da semente possui vários atributos reconhecidos de longa data, como germinação, vigor, pureza e umidade. Neste sentido, o atributo de vigor recebeu atenção especial a partir dos anos 2000, em que se demonstrou uma estreita e positiva relação com a produtividade dos cultivos. 

    As inovações tecnológicas são uma constante que devem ser analisadas. Neste sentido, considerando que a semente é um negócio, pode haver conflito de interesse entre os atores do programa de sementes, dificultando a adoção. Assim, dados confiáveis, com interpretação de gente que entende do assunto, apresentados de forma ilustrativa e simples, ajudam o processo. O Brasil é um dos países com maior TUS e avaliação de vigor das sementes com fins comerciais. A produtividade da soja brasileira, com certeza, deve parte de sua grandeza ao uso de sementes de alta qualidade.

    Tecnologia de pós-colheita
    Nos últimos 25 anos, vários avanços ocorreram na área de pós-colheita de sementes que facilitaram o trabalho, quer seja no aspecto de eficiência ou na manutenção e avaliação da qualidade.

     Em termos de manutenção da qualidade, merece destaque a tecnologia do frio dinâmico, que propiciou esfriar grandes quantidade de sementes em poucas horas. Isto para um país majoritariamente tropical, como é o Brasil, viabilizou a produção de sementes em várias regiões. Esta inovação teve cobertura da revista, apresentando resultados de pesquisa e detalhes do processo, entre outros aspectos.

     O Tratamento Industrial de Sementes (TSI) foi outro avanço que teve um salto qualitativo nos últimos 15 anos. Atualmente, estima-se que mais de 50% das sementes de soja comercializadas, sejam com TSI, que envolve produto (fungicida, inseticida, nematicida, biológicos, polímeros) aplicado com a devida dosagem e de forma uniforme na semente sem liberação de pó, assim como de equipamento e pessoal treinado. O avanço foi tanto nos equipamentos para tratamento de sementes como nos produtos aplicados.

    Os equipamentos para beneficiamento de sementes tiveram melhorias substanciais, principalmente em relação a eficiência da remoção de materiais indesejáveis do meio do lote de sementes. O separador em espiral (rotativo) e a mesa de gravidade tiveram uma grande contribuição em que atualmente as perdas no beneficiamento de soja, por exemplo, são inferiores a 20%, recordando que era normal ter-se perdas superiores a 30%. É trabalhoso produzir sementes de alta qualidade em quantidade, o que torna perder grande parte no beneficiamento constrangedor.

    Merece destaque a difusão do Teste de Tetrazólio para a avaliação da qualidade fisiológica das sementes, em que se determina o nível de qualidade, diagnosticando as possíveis causas de deterioração. Este teste é atualmente utilizado tanto para viabilidade como para vigor, com praticamente todos os laboratórios de sementes credenciados no MAPA o oferecendo.

    As Satisfações
    A maior satisfação é saber que a SEEDnews é lida e apreciada por milhares de pessoas conectadas com a área de sementes. A cada dois meses, uma nova revista é distribuída e, poucos dias após, vem o retorno dos artigos publicados que sempre são encorajadores.

    Nestes 25 anos de existência contou-se com a colaboração de mais de 200 colegas que publicaram algum assunto na revista, e todos cumpriram com o combinado, ou seja, com o conteúdo, prazo de entrega do “manuscrito”, assim como do tamanho. Vários colegas, inclusive, viajaram a locais específicos (campos de produção, UBS, etc.) para tirarem fotos que melhor ilustrassem a matéria.

    Também registramos o excelente trabalho do “Staff” da revista, que inclusive vem aumentando nos últimos anos para acompanhar a demanda e a qualidade da informação.

    Considerações Finais
    A SEEDnews acompanhou as evoluções do dinâmico negócio de sementes com sua proposta de levar a quem produz, avalia, comercializa e usa semente, conhecimentos tecnológicos apresentados de forma simples, direta e ilustrativa, oriundos de fontes confiáveis. 

    O aumento de produtividade das espécies de 2 a 4% ao ano no Brasil deveu-se a vários fatores, entre eles o uso de sementes de alta qualidade das variedades melhoradas, que no país apresenta uma das maiores TUS (soja 65%, milho 92%, trigo 70%), ratificando a confiança que o agricultor possui em relação a semente que compra, e isto se traduz em investimento para quem produz.

    Vida longa para a SEEDnews, sempre levando o conhecimento e as inovações tecnológicas à frente!