Leguminosas Pulses

Edição XXV | 02 - Mar . 2021
Marcelo Benevenga Sarmento-marcelobs05@hotmail.com
    Por definição, pulse é um grão seco comestível de algumas espécies de leguminosas. Segundo o IBRAFE (Instituto Brasileiro do Feijão e Pulses), a palavra pulse vem do latim puls, literalmente significando “sopa grossa”. Quando cozidos, esses grãos produzem um caldo grosso, o que justifica o termo.
   O IBRAFE foi a primeira instituição a utilizar o termo no Brasil, tornando-o conhecido no país. A FAO reconhece 11 tipos de pulses cultivadas globalmente, cujas principais espécies são o feijão-comum (Phaseolus vulgaris), o feijão-caupi (Vigna unguiculata), a ervilha (Pisum sativum), a lentilha (Lens culinaris) e o grão de bico (Cicer arietinum), dentre outras.

   Outros grãos de leguminosas como feijões e ervilhas frescas (verdes) não são considerados pulses já que o termo refere-se somente aos grãos ou sementes secos. Soja e amendoim também não são considerados pulses, pois tem um elevado conteúdo em ácidos graxos, enquanto os pulses possuem baixo teor de lipídeos (www.pulsescanada.com).

   Essas leguminosas são destinadas principalmente para alimentação humana e animal, pois são grãos de alto valor nutritivo. Além disso, cumprem papel essencial na segurança alimentar global. Os pulses têm sido considerados por experts mundiais como os alimentos mais nutritivos que existem, chamados até mesmo de superalimentos. Eles podem trazer muitos benefícios à saúde e ao bem estar. Eles são ainda ricos em minerais, vitaminas do complexo B e ácido fólico, sendo essenciais para uma alimentação saudável e acessível, pois os custos médios destes grãos são menores em comparação com outros tipos de alimentos (IBRAFE, 2021). Apesar da importância reconhecida destes grãos na alimentação, a média de consumo no Brasil ainda é considerada baixa e um desafio para agrônomos, nutricionistas e pesquisadores. Porém, há boas perspectivas de crescimento da demanda tanto pela população geral que busca alimentos mais nutritivos como pela população vegetariana que está crescendo no país, havendo atualmente ao redor de 14% de pessoas (quase 30 milhões de brasileiros) que não comem carne e necessitam de diversidade de vegetais ricos em proteína de alta qualidade (www.embrapa.br).
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   Dia 10 de fevereiro é comemorado o dia mundial dos pulses. A FAO (Food and Agriculture Organization) declarou 2016 como o ano internacional dos pulses, objetivando focar na importância destes grãos no cultivo e na diversidade alimentar global, contribuindo na redução da fome e da desnutrição.  
Em estudo recente de Manners e Etten (2018), aos autores demonstraram as deficiências na pesquisa e na distribuição dos pulses nos distintos continentes e regiões. Lentilha e feijão fava (Vicia) são os pulses menos estudados globalmente. Em relação à lentilha o déficit em pesquisa existe em todos os continentes. Feijão fava tem escassos estudos principalmente nas regiões temperadas. Feijão Caupi e Lupinus são muito estudados em relação aos aspectos nutricionais do grão. Já as deficiências para feijão Guandú estão localizadas nas regiões tropicais, enquanto para o feijão comum estão nas regiões temperadas. O mesmo ocorre em grandes áreas da Ásia, onde o déficit  em pesquisa para o feijão comum é significativo. Deste estudo conclui-se, paradoxalmente, que a pesquisa global envolvendo os pulses está muito regionalizada e concentrada em áreas onde a cultura não é um alimento importante para o consumo nacional. 

   O Brasil não é autossuficiente na produção de pulses. É um dos maiores produtores mundiais de feijão, produzindo anualmente ao redor de 3 milhões de toneladas de feijões (comum e caupi), em uma área de 2,6 milhões de hectares, com uma produtividade média de 1.113 kg/ha (Dados da Embrapa). As pesquisas com feijão-comum são conduzidas pela Embrapa Arroz e Feijão (Santo Antônio de Goiás/GO). Por sua vez, os trabalhos com feijão-caupi são coordenados pela Embrapa Meio-Norte (Teresina/PI). Pesquisas envolvendo ervilha, lentilha e grão de bico estão a cargo da Embrapa Hortaliças (Brasília/DF).   

   Grande parte da área cultivada com pulses, no Brasil, é composta por agricultores familiares, tendo baixa utilização de sementes certificadas e disponibilidade de inovações. 

   Embora a produção brasileira de feijão consiga suprir a demanda interna, para ervilha, grão de bico e lentilha a demanda somente é suprida por importações. Países do Oriente Médio e Ásia já demonstraram interesse em importar pulses do Brasil,  e não apenas feijão, existindo ai um caminho de boas oportunidades para o setor. Graças às pesquisas da EMBRAPA que disponibilizam novas tecnologias e opções de cultivares mais produtivas e mais resistentes a doenças e praças, vem ocorrendo um aumento gradativo da produção de grão-de-bico, ervilha e lentilha no Brasil.  Alguns exemplos são as cultivares de grão-de-bico para cultivo de sequeiro e ervilha e lentilha para cultivo irrigado. Com o crescimento do setor quem sabe poderemos ser importantes exportadores de pulses num futuro nem tão distante. Para isso, necessitamos de políticas públicas específicas para fomentar as pesquisas, uma maior adoção tecnológica e melhoria da assistência técnica. 

   O mercado dos pulses é promissor para o Brasil, havendo excelentes perspectivas de crescimento para ervilha, lentilha e grão-de-bico. É inegável a relevância dos pulses para o abastecimento interno do Brasil e segurança alimentar e nutricional global.  
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