A sincronia dos elos da produção de sementes

Edição XXV | 02 - Mar . 2021
Maria de Fátima Zorato-fatima@mfzorato.com.br
   “Uma corrente é tão forte quanto seu elo mais fraco”. (Wanderley, J. A., 2013). 

   De acordo com o autor, o sucesso depende de todos os elos da corrente. No entanto, uma pessoa só vai até onde o elo mais fraco permitir. Assim dizendo, o elo mais fraco pode colocar tudo a perder. Podemos inferir então que se faz fundamental a sincronia - a qualidade do que ocorre ao mesmo tempo, ou seja, a simultaneidade. Não existe qualidade única que predomine sobre as demais.

   Por que o tema perturbador? Porque existem as idiossincrasias na produção de sementes e que, às vezes, enfraquecem seus elos, embora, todas as partes são engajadas em esforços para obtenção de resultados satisfatórios almejados. 

   É constante observar o que Harvey (1988) considerou como fenômeno do paradoxo de consenso, o qual caracteriza-se pelo fato de os indivíduos, separadamente, pensarem igual sobre a natureza de uma situação e a forma como deveriam enfrentá-la. No entanto, ocorrem falhas na comunicação entre si na expressão exata dos desejos, fato que pode propiciar percepção equivocada da realidade coletiva. O acolhimento incorreto sobre o consenso e sobre os desejos dos outros, por sua vez, realimenta a ausência de comunicação aberta, levado o grupo a decidir, com base em informações equivocadas, de forma contrária a que seus membros desejariam. Como consequência de respostas insatisfatórias, os indivíduos experimentam frustração e tendem a acusar uns aos outros pelo insucesso. 

   Nas empresas sementeiras, a exemplo das demais empresas, para que tudo se concretize e os seus elos se solidifiquem, os interesses das partes precisam estar em sintonia. Entretanto, as pressões do mundo hodierno, as turbulências econômicas e, ainda, possíveis lideranças tóxicas, em muito contribuem para alterações no estado mental e emocional dos profissionais que compõem as diferentes equipes de trabalho. Pode ocorrer com isso o que Peter Senge retratou como saltos de abstração, que é quando passamos da observação direta (dados concretos) para a generalização. O que antes era suposição passa a ser tratado como um fato. E como identificar os saltos de abstração? Aprender a questionar: em que dados estas generalizações estão baseadas? Essas generalizações podem ser incorretas ou enganosas? 

   Nesta altura do texto, alguns já devem ter em mente os dois setores que mais se enquadram nesta descrição. Se pensaram na qualidade de sementes e no comercial estão com a percepção bastante realista do processo. Como fazer para que estes dois se empenhem no jogo ganha-ganha? O ponto comum a ser trabalhado é no sentido de cada uma das partes ter conhecimento de quem são e o que representam para a empresa. Diga-se de passagem, é necessário um esforço de ambos porque suas metas são distintas. O setor de qualidade da semente tem meta de longo prazo – cuida para que a técnica seja aplicada de maneira adequada, estabelece descartes onerosos às vezes, ou ao contrário, por inúmeras justificativas, não descarta a qualidade duvidosa. 

   Por outro lado, o comercial, com meta de curtíssimo prazo, representando o lado financeiro, num primeiro tempo indiferente à qualidade do produto, pressiona para ter volumes de venda tentando mitigar efeitos concorrentes. Porém, no segundo tempo, de frente às distintas realidades de seus clientes, atribui culpa porque foram liberadas as sementes, caso venham apresentar problemas. Aqui cabe uma ressalva. Muitas vezes nem se trata de qualidade e sim de outros fatores, como armazenagem no cliente em elevadas temperaturas, falta ou excesso hídrico de solo, profundidade excessiva, aplicação de produtos químicos em excesso ou não recomendados para tratar sementes, enfim, uma infinidade de situações, que a pobre qualidade da semente passa a carregar o fardo. Mas, sobre pressão, é possível também haver liberações de produto que pode, dependendo de condições ambientais e de tratos culturais, apresentar o que era esperado e desejado. Ou ainda, como se trata de produto biológico, um organismo vivo, embora todos os testes tenham apontado numa direção, durante o tempo de permanência armazenado pode ter alterado sua fisiologia e apresentar sua falta de energia no momento de semeadura, em que muitas vezes as condições são desafiadoras à germinação e emergência das plântulas.

   "O ponto comum a ser trabalhado é no sentido de cada uma das partes ter conhecimento o que representam para a empresa."

   Em situações de frustração de expectativa, como o paredão de fuzilamento do agricultor é quem vendeu a semente, em muitos casos o comercial prefere dar razão ao seu cliente até mesmo não sendo realidade, fazendo com isso o descrédito da qualidade produzida pela empresa sementeira que representa. Ocorre então o transbordamento de emoções e os elos da corrente se enfraquecem. Lembrando Gallwey, treinador de tenistas, sempre que alguém entrar num estado mental e emocional fraco de recursos, acaba perdendo o acesso às suas competências. Em seus ensinamentos, ele aborda dois adversários no jogo, um interno e outro externo, e quem perde o jogo interno, não importa quão competente e preparado possa estar, acaba perdendo o jogo externo. 

   No caso específico das sementes, nos anos subsequentes ocorrem as mesmas situações. Por quê? Simplesmente porque a grande maioria das partes de interesse não fazem o questionamento da Terceira Alternativa do S. Covey: você está disposto a encontrar uma solução que seja melhor do que aquilo que qualquer um de nós tem em mente? Na Lei da Sinergia sempre existe uma maneira melhor. E qual seria? Buscar a melhor estratégia de entendimento. Conexão. Ter conhecimento suficiente do trabalho um do outro e estabelecer a confiabilidade interna. Algumas empresas já conseguiram ampliar os caminhos a serem trilhados e se adequam à competição pelas oportunidades e minimizam abismos criados.  

   As competências agregadas ao fator humano indicam uma maior reflexão sobre as potencialidades inerentes a cada setor e deixa claro que existe um caminho para obtenção de bons resultados na empresa e no mercado (Campos e Guimarães, 2008). 
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