A evolução do algodão no Brasil

Edição XXV | 02 - Mar . 2021
Ivo Marcos Carraro-carraro692@gmail.com
   Histórico  
   A domesticação do algodoeiro ocorreu há mais de 4.000 anos no sul da Arábia. Os Incas, no Peru, e outras civilizações antigas, já utilizavam o algodão em 4.500 a.C. Os escritos antigos, de antes da Era Cristã, apontavam que as Índias eram a principal região da cultura e que o Egito, o Sudão e toda a Ásia Menor já utilizavam o algodão como produto de primeira necessidade.  Somente a partir do segundo século da Era Cristã, o algodão se tornou conhecido na Europa, introduzido pelos árabes, que foram os primeiros a fabricar tecidos e papéis com essa fibra. 

   A partir da Revolução Industrial em meados do século XVIII, o algodão começou a ganhar importância para fabricação de produtos manufaturados, principalmente na Inglaterra, maior consumidora da fibra branca. Diante da crescente necessidade da matéria prima, passou a incentivar seu cultivo em diversas partes do mundo.

   Nos Estados Unidos, hoje o maior exportador, o algodão começou a ser usado como cultura comercial com a utilização dos primeiros descaroçadores de rolo. Em 1792, Eli Whitney inventou o descaroçador de algodão, que conseguiu separar mecanicamente as sementes das fibras do algodão, deflagrando uma verdadeira revolução na indústria de beneficiamento de algodão e contribuindo para transformar os Estados Unidos no maior produtor e exportador mundial de algodão.

   Aproveitando-se da procura do algodão, as autoridades coloniais brasileiras passaram a incentivar seu cultivo, sendo o Nordeste a primeira região a implementar a cultura. A “planta branca” consolidou-se no século XIX, superando o açúcar, principal economia da região. O primeiro grande produtor foi o Maranhão que, em 1760, exportou para a Europa os primeiros fardos do produto. Até então, os produtores se dedicavam ao plantio do algodão arbóreo perene (Mocó), de fibras mais longas. 

   Na região Meridional (SP e PR), o plantio do algodão herbáceo, de fibra mais curta, porém potencialmente mais produtivo, começou em São Paulo no início do século XX. Foi, diferentemente de ciclos anteriores, uma decisão consciente de políticas públicas a partir de 1930 abrindo espaço para uma base endógena de inovações. De forma paralela, o Brasil mantinha duas regiões importantes na produção neste período que se estendeu até a década de 80 que eram as regiões setentrional (N e NE) e meridional (SE e S). 

   Crises
   Duas grandes crises que ameaçaram desmantelar a cadeia de algodão no Brasil acabaram se transformando em novas oportunidades, foram elas a chegada do Bicudo do Algodão em 1983 e a desregulamentação do mercado nacional a partir dos anos 1990, que incidiu em um aumento das taxas de juros e na redução dos prazos para pagamento de créditos agrícolas. Além disso, a eliminação de tarifas alfandegárias no setor cotonicultor, que foram reduzidas de 55% para zero.

   Estas duas crises foram fortes ameaças, extremamente negativas, que obrigaram o setor a reações positivas, caracterizando distintos momentos vividos pela cultura e todos os atores envolvidos. Uma análise destes momentos possibilitou a definição mais clara das diferentes “fases” e as mudanças profundas em cada uma delas, em todos os aspectos da produção, que levaram o Brasil à atual posição de destaque no cenário global deste produto. Estas fazes seguem descritas e comentadas a seguir.
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   Fase I – Anterior a 1985
   Grande área e baixa produtividade no NE e menor área com maior produtividade no SE/S. Baixa qualidade na pauta de exportação. Aparecimento do Bicudo.

   Até meados da década de 1980, o Brasil era um dos maiores produtores e exportadores mundiais da fibra com uma produção anual de 2,2 milhões de toneladas de algodão em caroço, sendo 9,9% da região NE (-BA), 63,8% da região Setentrional (SE e S) e 26,3% do CO (+BA e MG) A região Nordeste detinha a maior área (60,6%), mas com baixa produtividade. Na região Sul/Sudeste (SP e PR) a área era menor, no entanto uma maior produtividade já a colocava na posição de liderança. O Centro Oeste, incluindo a Bahia que, pela característica da produção similar às regiões de maior tecnologia, foi considerada neste estudo junto com o CO, já apresentava um avanço significativo baseado nas produções de GO, MS e MG. 

   Na maioria das regiões do Brasil o sistema de cultivo neste período era ainda basicamente manual com parte em tração animal e com máquinas manuais ou máquinas de semeadura de milho adaptadas para utilização de semente com linter. A semente era tratada em alguns estados, geralmente fornecida por órgãos de fomento dos governos estaduais que mantinham monopólio da produção e distribuição. No Nordeste houve, até o advento do Bicudo, uma presença significativa de algodão arbóreo tipo Mocó. 



    "Os indianos, segundo o historiador grego Heródoto (485 a.C. - 425 a.C.), possuíam uma espécie de planta que no lugar de fruto produzia lã, de uma qualidade bela e melhor do que a do carneiro, e desta lã faziam suas vestimentas. Os babilônios também utilizam a planta para fabricar vestimentas, bem como os egípcioso linho, mas também a lã branca quando os sacerdotes usavam fora do seu magistério.
    CARVALHO, op. cit. 1939, p.25"


   A implementação de tecnologias simples como adubação, uso de cultivares e sementes melhoradas, além de outras, resultou, principalmente na região Meridional, em um ganho significativo na produtividade. A prioridade dos governos era a ocupação da mão-de-obra abundante, privilegiando o aspecto social. O algodão era tipicamente uma cultura de pequenos agricultores.

   No início da década de 80 foi constatada pela primeira vez no Brasil a ocorrência de uma nova praga à qual se atribuía o poder de dizimar a cotonicultura, o bicudo-do-algodoeiro, em Campinas – SP, e logo em seguida no Nordeste, em Campina Grande e Ingá – PB.
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   A presença do bicudo-do-algodoeiro no Brasil contribuiu para a mudança dos polos de produção de algodão no território nacional ao longo desses 30 anos, em especial com o deslocamento do cultivo da fibrosa do Nordeste e Sudeste para as áreas do Cerrado brasileiro, numa espécie de busca de locais menos infestados visando alguma diminuição dos custos de produção.

   O aparecimento e o rápido avanço do Bicudo-do-algodoeiro no Brasil em praticamente todas as regiões desencadeou uma forte crise no setor, mobilizando todas as forças de pesquisa e assistência técnica e políticas públicas para evitar o pior. A partir da ampla disseminação do bicudo no Brasil, em 1985 houve um decréscimo na área colhida de algodão arbóreo, caindo 48% em relação à mesma área colhida no período compreendido entre 1976 e 1977. A população do bicudo-do-algodoeiro, quando não controlada, pode destruir completamente a produção de um algodoal. 

   Enfrentar esta praga foi um dos grandes desafios da cultura, tão forte a ponto de provocar mudanças profundas no perfil nacional de pesquisa, produção e mercado, afetando o desenvolvimento de tecnologias como melhoramento e regionalização. O período até meados da década de 1980 caracterizou-se pela produção e exportação de algodão de baixa produtividade e baixa qualidade, em sua maioria produzido na região Nordeste em grades extensões, basicamente com cultivo manual em pequenas propriedades, cujo produto era pautado entre as piores categorias de qualidade em nível internacional.

   A presença do Bicudo provocou uma queda vertiginosa da área, principalmente no Nordeste, onde o controle do inseto tornou-se impraticável. Isso abriu espaço para um crescimento na região Sul, basicamente São Paulo e Paraná que já vinham avançando em área, mas com produtividade bem maior. 
A tradicional cotonicultura brasileira sofria uma de suas maiores ameaças de todos os tempos, não somente pelo Bicudo, mas por uma série de fatores relacionados com a qualidade e o valor do produto exportado. Todos sabiam que era necessária uma mudança drástica, mas o tradicionalismo de instituições de pesquisa, de comércio e governos não enxergava uma saída, pois esta dependia de uma união entre setores, o que era difícil e somente uma crise com esta proporção e rapidez em seu ataque seria capaz de movimentar todos os setores em uma só direção: reescrever a história desta tão importante cultura, inaugurando assim uma nova fase.

   Fase II Entre 1985 e 2000
   Transição entre sistemas e regiões de produção e combate sistemático ao Bicudo. Nova crise de mercado. Cerrado o novo polo de produção

   O período entre 1985 a 2000 caracterizou-se como de transição que enfrentou uma nova crise antes de se completar. Houve neste intervalo uma redução drástica na área cultivada no Nordeste de 2,1 milhões para 152 mil ha e um crescimento no sul e sudeste até 1992, com alta produtividade. Tudo indicava que um novo polo de produção seria estabelecido no sul e sudeste e, com este reposicionamento da região e a produtividade alta, se mantinham os níveis de produção em torno de 2 milhões de toneladas por ano, atendendo o abastecimento interno e a exportação. 

   Quebra de Monopólio
   Um fato que teve fundamental importância neste quadro de transformação de um dos mais importantes cultivos do Brasil foi a quebra dos monopólios de sementes mantidos há vários anos pelos estados do Paraná e São Paulo. Em 1988 o Governador Álvaro Dias decretou no Paraná o fim deste monopólio e em seguida o mesmo aconteceu no estado de São Paulo. Em função do monopólio da semente, havia também o monopólio da pesquisa oficial estadual de São Paulo com o IAC e do Paraná com o IAPAR e, consequentemente, um represamento de tecnologias alternativas tanto no sistema de produção quanto no melhoramento genético, uma vez que as linhas de pesquisa destas instituições eram voltadas à produção em pequenas propriedades e de forma manual, cumprindo uma política de sucessivos governos com a intenção de manter empregos no campo. 

   O ambiente naquela época foi de grande pressão das Cooperativas sobre o Governo do Paraná, pois a CAFE do Paraná, responsável pela produção, distribuição e venda da semente, tinha dificuldade de abastecer a demanda e os preços eram relativamente elevados. Quando o Governo do Paraná concordou em romper o Monopólio, deixou para as cooperativas o compromisso de adquirir todo o estoque daquele ano e comprar do Estado todas as estruturas de produção de sementes, o que foi feito. De imediato as cooperativas modernizaram a tecnologia de produção de sementes e passaram a produzir semente deslintada o que melhorou a precisão de plantio e reduziu drasticamente o custo de semente por ha plantado.

   Desde 1978 até 1993 os dois estados do sul vinham garantindo o abastecimento de pluma de algodão enquanto a área e produção do Nordeste caia rapidamente, mesmo com o emprego de tecnologias mais simples e manuais. A quebra do monopólio trouxe uma expectativa positiva, pois as cooperativas do Paraná não ficaram somente na produção e distribuição de sementes de algodão. Logo no ano seguinte, em 1989, foi criado um Fundo de Pesquisa de Algodão na Ocepar, o qual era originado de um percentual das vendas de sementes desta cultura pelas cooperativas, a exemplo do que já vinha sendo feito com soja e trigo em seu departamento de Pesquisa, sediado em Cascavel, no Oeste do Paraná. A quebra do monopólio no Sul foi um avanço e uma quebra de paradigma que permitiu a entrada de empresas do setor privado no mercado de sementes de algodão e principalmente em pesquisa varietal em todo o Brasil, reforçado pela criação da LPC.
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   Proteção de Cultivares
   Em 1997 foi aprovada no Brasil a Lei de Proteção de Cultivares, inaugurando uma nova fase no desenvolvimento de novas cultivares, abrindo um espaço fundamental para que maiores investimentos privados viessem a somar com os investimentos públicos. Neste ano a Coodetec registrava a sua primeira cultivar de algodão, a CD 401, precoce, resistente à maioria das doenças importantes da época e da região Sul, com rendimento de pluma de 3 a 5 % superior às variedades então cultivadas, IAC 20 e IAC 21. Além disso, era a primeira cultivar adaptada para colheita mecânica, o que foi uma quebra de paradigma na região. 

   A CD 401 foi a primeira cultivar de algodão protegida no Brasil pela LPC e chegou a ocupar 90% da área cultivada no Paraná e 15% no Brasil.
Na “fase II”, entre 1985 e 2000 é que a reconversão da cultura teve seu momento mais crucial e surpreendente, com as inversões acontecendo todas dentro desta década. Pioneiros da região sudeste e sul, principalmente São Paulo e Paraná, já com sua atividade agrícola de soja estruturada no Centro Oeste, levaram as primeiras experiências com a cultura, movidos pela expectativa de buscar uma nova possibilidade de melhorar a produção e a qualidade e tiveram tanto sucesso que em poucos anos houve um verdadeiro êxodo dos cotonicultores do sul para o Centro do país. Quem não aderiu vendeu suas máquinas para os que foram. 

   O movimento foi iniciado no início da década de 90, com plantios que inicialmente tiveram dificuldades, pois as variedades que se usava eram do Sul, como a IAC 20. Com problemas de doenças e colheita, logo chegaram a um material mais adaptado sob a orientação da Embrapa, que denominaram CMPA ITA 90. 

   Neste período houve um êxodo muito rápido de máquinas de descaroçamento de algodão no sentido Sul – Centro-Oeste e uma drástica redução de área plantada no Paraná, fazendo com que os Programa de Algodão Coodetec, IAC e IAPAR acabassem migrando também neste sentido. No Paraná e São Paulo eram feitos esforços e projetos de recuperação da cultura algodoeira, porém nada funcionava. 

   Esta dificuldade teve a influência de uma segunda crise, de semelhante poder destrutivo que a crise do Bicudo, no período 1990-1995, que levou à derrocada definitiva no algodão meridional brasileiro, em função de um surto de importações sustentado de forma decisiva por políticas de subsídios norte-americanos às exportações e por  condições de financiamento dessas transações no mercado internacional que produziram concorrência desleal com o algodão brasileiro, fazendo o Brasil passar de autossuficiente e exportador da pluma a dependente da importação desta matéria-prima.
Importação

   Até meados da década de 1980, o Brasil não era apenas autossuficiente em algodão, mas um importante exportador. Entretanto, a partir de 1988/89, o consumo se efetivou como superior à produção nacional. Assim, em 1991/92, o Brasil começa a aparecer entre os 10 maiores países importadores de algodão, ocupando o terceiro lugar em 1992/93 e 1993/94, e o quinto lugar em 1994/95. Em termos gerais, a desregulamentação do mercado nacional a partir dos anos 1990 incidiu em um aumento das taxas de juros e na redução dos prazos para pagamento de créditos agrícolas. Além disso, a eliminação de tarifas alfandegárias no setor cotonicultor, que foram reduzidas de 55% para zero, e o ataque do bicudo-do-algodoeiro, contribuíram para desmantelar a cadeia produtiva do algodão brasileiro, desestruturando e inviabilizando o modelo de produção que existia nas Regiões Nordeste, Sul e Sudeste.
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   A presença do bicudo-do-algodoeiro no Brasil contribuiu para a mudança dos polos de produção de algodão no território nacional ao longo desses 30 anos, em especial com o deslocamento do cultivo da fibrosa do Nordeste e Sudeste para as áreas do Cerrado brasileiro, numa espécie de busca de locais menos infestados visando alguma diminuição dos custos de produção. (o texto acima é uma repetição de um parágrafo já existente, acho que seria prudente retirar para evitar) No curso das mudanças na cotonicultura brasileira, observou-se não somente o deslocamento espacial da produção em direção ao Cerrado, como também a difusão de novos métodos, técnicas e gerenciamento da produção.

   COODETEC – Nova Força na Pesquisa de Algodão
   Em 1990, a Ocepar celebrou um convênio com o CIRAD da França, tendo recebido um renomado pesquisador para atuar no Paraná, o Dr. Jean Louis Belot. A Ocepar providenciou o staff e a estrutura necessária para montar um Programa de Pesquisa de Algodão, que era vinculado ao Programa de Pesquisa da Ocepar. Nos três anos seguintes, o Paraná chegou a ter a maior área plantada de algodão de sua história, chegando a 709 mil ha na safra 91/92. O Programa de Algodão foi estruturado para trabalhar em parceria com o CIRAD, atendendo o Brasil e a América do Sul, em países de interesse de cada Instituição. Foram definidas linhas de pesquisa que contemplavam o Melhoramento Genético como eixo principal e dentro dele objetivos vários como resistência a diversas doenças viróticas, bacterianas, fúngicas e nematóides, obtenção de variedades mais produtivas, maior rendimento e qualidade de fibra e, variedades para colheita mecânica. O CIRAD contava também com pesquisadores das áreas de Agronomia e Entomologia em outro Posto de Atendimento no Paraguai, que vieram a integrar esta parceria com trabalhos em suas áreas. Em 1995, a Ocepar decidiu separar o Departamento de Pesquisa de suas estruturas, passando todo o acervo e estruturas físicas e humanas para a nova cooperativa central que foi criada especificamente para administrar a pesquisa, a Coodetec, que deu continuidade ao programa algodão e à parceria com o CIRAD. Em 1995 a abrangência do Programa de Pesquisa de Algodão já extrapolava o Paraná, testando suas cultivares em quase todas as regiões de cultivo de algodão exceto o Nordeste. Em 1998, através de uma parceria com a Unicotton em Primavera do Leste, a Coodetec viabilizou o apoio necessário para uma estação avançada de pesquisa na região Central, visando atender as demandas dos agricultores daquele estado. Em 2008, a Coodetec decidiu encerrar suas atividades com algodão e transferiu todo seu germoplasma de algodão para o IMA-MT através de um acordo entre as duas Instituições.


   Fase III – Após 2000
   Após surto de importação, o Brasil encontra o Eldorado do Algodão. Alta Produtividade, excelente qualidade em área menor. Este é o algodão do Cerrado brasileiro

   Após a turbulenta fase de transição de 1985 a 2000, finalmente a cultura do algodão encontra seu local definitivo por longo tempo. A área plantada que se estabilizou do Brasil está 95% no Centro Oeste mais MG e Bahia. O Nordeste passou a cultivar algodão de tipos especiais e no Sul praticamente desapareceu. A característica atual é de altíssima produtividade de 6 a 7 toneladas de algodão em caroço por hectare, elevado padrão de qualidade de fibra e o rendimento de pluma acima de 40%. A área plantada está em 1,6 milhões de ha nos últimos 3 anos e o Brasil voltou a ser um dos mais importantes exportadores de fibra de alta qualidade. 

   Em contraposição à crise provocada pela desregulamentação em 1990 e o aparecimento do efeito negativo para o Brasil, pelo subsídio à produção de algodão nos Estados Unidos da América, foi movida uma ação pelo Brasil na OMC, em setembro de 2002, contra as medidas protecionistas adotadas pelos EUA para o setor em discussão, denominada “contencioso do algodão”.   

   Mesmo diante da supremacia americana, decorrente da concessão de subvenções à produção e comercialização, o Brasil alterou a configuração estrutural do setor, ampliando a produção e a participação no comércio mundial do algodão, sendo que a partir de 2002 ocorreu uma mudança significativa no comportamento do volume exportado, admitindo-se associação com os efeitos do contencioso do algodão.

   Os avanços decorreram da intensificação do uso de tecnologias e investimentos em qualidade da fibra que, além de elevarem a produtividade nacional viabilizaram economias de escala, nortearam novos mercados e ampliaram as conexões estabelecidas com outras nações.

   A mudança radical no perfil da produção de algodão no Brasil, foi atrativo para investimento de empresas detentoras de tecnologias GM no Brasil. A primeira tecnologia transgênica adotada no Brasil foi o algodão Bolgard, lançado pela empresa Monsanto em 2005. Em seguida vieram novos traits com a própria Monsanto (RR) e com a Bayer (LL). Hoje são 22 eventos aprovados, sendo que alguns já foram substituídos por outros mais modernos em uma dinâmica similar aos países mais desenvolvidos na produção de algodão do mundo. 

   Existem nove sistemas de produção de algodão no Brasil, sendo que seis dizem respeito a cultivos praticados por produtores familiares ou pequenos e médios produtores que exploram nichos de mercado, enquanto os outros três sistemas são predominantes e representam cultivos mecanizados e de alta tecnologia, que somam 97% da produção e 100% das exportações. Mesmo com baixa representatividade, os cultivos alternativos (orgânicos, agroecológico e de algodão colorido) praticados por pequenos e médios produtores possuem importância social e comercial nas regiões em que se encontram, na medida em que as formas alternativas agregam valor à produção.   


   Comentário Final
   O Brasil é o quinto maior produtor e tal oferta visa atender principalmente a demanda por fibras da indústria têxtil interna e dos países asiáticos. A trajetória da cotonicultura nacional, que passou por diversas dificuldades nas décadas de 1980 e 1990, mas superou a crise e consolidou um modelo empresarial de produção nos anos 2000, demonstra que o atual estágio produtivo e qualitativo do algodão brasileiro foi conquistado devido à pesquisa e desenvolvimento de material vegetal adaptado às condições edafoclimáticas das atuais regiões produtoras, além do desenvolvimento de germoplasmas de qualidade com as características técnicas da fibra exigidas pela indústria têxtil. 

   É necessário um constante acompanhamento do cenário da pesquisa e desenvolvimento de cultivares dada a importância destas atividades para a obtenção de materiais adaptados às diferentes regiões produtoras do país e ao desenvolvimento de germoplasmas de qualidade com as características técnicas desejáveis pela indústria têxtil. 
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