Sintonia fina na agropecuária

Edição XXIV | 01 - Jan . 2020
Marcelo Benevenga Sarmento-marcelobs05@hotmail.com
    Nas últimas quatro décadas houve um aumento expressivo na produtividade. A implementação da semeadura direta na palha, melhoria na qualidade das sementes, criação de cultivares transgênicas e híbridas, sistemas integrados de produção, novas moléculas químicas, implementos e máquinas mais dinâmicas e precisas são fatores que impulsionaram a  agricultura a patamares elevados. Para os próximos anos não se deve esperar ganhos tão significativos como os obtidos até hoje. Em parte este fato pode ser explicado pela genética, dificuldade de obter novas moléculas e escassez de terras agriculturáveis e recursos hídricos de qualidade.
    Em termos genéticos, a variabilidade usada nos programas de melhoramento encontra-se cada vez mais restrita, o que somente pode ser superado via biotecnologia e técnicas moleculares, que não estão disponíveis para todas as culturas e ainda possuem custo bastante elevado. Neste caso, não é de se esperar que o lançamento de cultivares com características “especiais” seja tão frequente como ocorreu nos últimos 20 anos, principalmente após a promulgação das Leis de Propriedade Industrial (1996), Proteção de Cultivares (1997) e de Sementes (2004). Apesar de continuarmos avançando, a tão procurada “bala de prata”, a agricultura permanecerá nos nossos sonhos.
    Grande parte da comunidade científica global afirma de que está cada vez mais difícil descobrir novas moléculas químicas para o controle de patógenos, pragas e ervas indesejáveis. A isso se soma o recorrente problema da resistência aos produtos químicos, indicando que teremos uma barreira tecnológica complexa e onerosa para ser superada. 
    Alguns estudos tem mostrado que cerca de 70% da população mundial tem sérias restrições para obtenção de água pelo menos durante um mês ao ano. Apenas 25% da superfície terrestre é composta por solos, incluindo montanhas, rochas, geleiras, desertos, pântanos e áreas salinas. Restam menos de 10% de solos agriculturáveis, mas que vêm sendo degradados principalmente pela erosão, compactação, salinização e poluição química. Conforme a FAO, 33% dos solos globais tem nível médio a elevado de degradação. 
    Analisando os aspectos comentados conclui-se que o agricultor precisa aprimorar os seus processos, desde a gestão e planejamento da atividade, passando pelo manejo produtivo à forma e época de comercialização. A agricultura atual é pouco tolerante a falhas e, pra piorar, há diversos fatores instáveis e cujo controle não está nas mãos do agricultor. Neste sentido, as tomadas de decisões devem ser em tempo que as falhas possam ser corrigidas e o processo tenha um mínimo de perdas, reduzindo com isso os riscos inerentes da atividade. 
    Em um cenário atual e projeção futura de margens cada vez menores e altos custos de produção os ajustes precisam ser finos, o que dependerá cada vez mais de conhecimento das técnicas produtivas, mas também de Gestão, Planejamento e Liderança. Para isso é essencial a capacitação de técnicos e colaboradores, iniciando pela mudança que deve vir do proprietário e gestores. Finalizo citando o saudoso agrônomo Dirceu Gassen: “Produtividade é igual à quantidade de conhecimento aplicado por hectare”. 
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