Atrasado: uma sensação inconveniente

Edição XXIV | 01 - Jan . 2020
    Quem nunca se sentiu assim? A sensação é incômoda e angustiante. O problema é crescente entre profissionais, tanto na vida corporativa como na vida pessoal. Em muitos casos, com o passar do tempo vira patologia. Dessas de consultar um especialista e necessitar de tratamento.

    Parece que sempre há alguém melhor
    A sensação nefasta de estar sempre atrasado polui o mundo e contamina as pessoas. Mas não aquela de chegar tarde para uma reunião quando ela já havia começado, ou de perder a hora e entrar no trabalho depois dos colegas.
    Me refiro aquela percepção de que nunca chegaremos ao céu, onde tudo é harmonia e a atualização é serena. De estarmos devidamente adiantados em relação a nossas competências, nossas necessidades de conhecimento ou mesmo de competitividade profissional.
    Mesmo que as metas tenham sido batidas, ainda assim persiste a sensação e provavelmente a certeza de que outras empresas foram melhores que a nossa. Outros profissionais são mais competentes. Não precisa procurar muito e veremos que outros players, em algum lugar, já criaram algo novo, diferente e melhor. Decididamente estamos sempre atrasados em relação a algo ou alguém.
    O agronegócio também não escapa dessa realidade. Nenhuma profissão e nenhum setor escapam. As tecnologias avançam rapidamente, a produtividade melhora, as margens reduzem e a eficiência ocupa seu espaço. Você e sua empresa precisam andar mais rápido.

    Os inconsequentes e os que ignoram vivem mais
    Ninguém em perfeito juízo parece estar tranquilo e sossegado. Apenas os ignorantes é que se sentem realizados e competitivos na plenitude. Satisfeitos e inteligentes. Às vezes escapa-lhes a percepção do que está acontecendo. Talvez vivam mais e melhor.
    Arrisco-me a dizer que os inconsequentes também levam vantagem nessa luta pelo bem-estar e a felicidade. Afinal, quem se preocupa acaba ocupando a mente antes da hora. Se ‘pré ocupam’. Os que relaxam e se esquivam desse compromisso vivem menos aflitos.
    A culpa é do ambiente acelerado em que vivemos. Das inovações que não cessam, da velocidade estonteante com que as mudanças acontecem. Também é fruto das cobranças que nos são dirigidas ou ainda das responsabilidades que acabamos assumindo, mesmo que não nos digam respeito.
   O fato é marcante e de impacto indelével na vida das pessoas. Na contramão dessa sensação de impotência e na tentativa clara de pegar carona na dor psicológica, uma empresa de entretenimento até criou um slogan muito apropriado, demonstrando de modo subliminar a atualização segura e frenética como atrativo para o seu negócio: “você na frente, sempre”.

    Entenda as regras e saiba jogar
    O mundo não ficou frenético de uma hora para outra. Ele vem acelerando faz tempo e por isso ninguém pode dizer que foi pego de surpresa. Os sinais sempre foram evidentes, mas subestimados por muitos. Então é melhor se acostumar logo e reconhecer as regras do jogo se quiser ser um “player” de vida longa.
    A abertura comercial no Brasil a partir do início da década de 1990 e a consecução da globalização, apoiadas pela universalização dos meios de comunicação foram as evidências indeléveis. Agora não é diferente. Muitos não acreditam que serão excluídos do processo e de suas atividades, se não acelerarem ou se adaptarem rapidamente. É melhor acreditar.
    Um bom começo é estar ciente de que não há nada de diferente para se esperar no ano que vem. Pelo contrário. A tendência é que tudo continue como está, ou simplesmente piore. Entender isso já faz muita diferença. Você vai continuar jogando nesse ambiente. E o melhor de tudo: vai sobreviver. Basta seguir o script com afinco.

        O mundo vem acelerando faz tempo e por isso ninguém pode dizer que foi pego de surpresa. Os sinais sempre foram evidentes, mas subestimados por muitos. Então é melhor se acostumar logo e reconhecer as regras do jogo se quiser ser um player de vida longa.

    Precisamos nos concentrar, manter o foco e a tenacidade, mas reconhecer nossas incapacidades. Isso já alivia a carga e deixa a viagem mais leve, permitindo que sejamos mais observadores e menos operacionais tarefeiros, mais criativos, mais ágeis e talvez mais inovadores.
    Os diferenciais competitivos parecem ter se concentrado na capacidade de fazer bem feito, já na primeira vez. Adicionalmente, perder o medo de errar, testando e experimentando sempre, cria um ambiente inovador pela busca de novos caminhos para as dificuldades que se apresentam. Tomar gosto pela mudança é o diferencial definitivo.
    A sensação de estarmos atrasados não pode nos paralisar. Precisamos nos acostumar a ela e revertê-la como um ativo importante. Acredite, ela é uma realidade para todos, embora a sensação possa ser única em você.

    Nunca se distancie do bloco da frente
    De modo prático, parece que o segredo está em nunca ficar demasiado para trás. Esforçar-se para continuar no bloco da frente e aproveitar os benefícios da sincronia, da coletividade e da economia de escopo que principalmente a colaboração oferece. Se você se distanciar dos melhores será cada vez mais difícil alcança-los. 
    Você provavelmente não terá outra chance para se aproximar dos que estão no pelotão de elite, por isso não relaxe demasiadamente. Mantenha-se atento sempre. Isso reduz o esforço e a fadiga. Tecnologicamente, manter a constância é um grande diferencial. 
    Aprenda que os “sprints” custam muito esforço e sempre requerem muita energia, por isso é menos custoso manter a corda esticada do que fazer, mesmo que frequentemente, grandes arrancadas em direção a linha de chegada.
    Por fim, você ainda pode mudar o rumo de tudo e sair da manada e do senso comum, mesmo que seja da elite de sua atividade ou profissão. Mas precisamos entender que a liberdade tem seus riscos e custos. É espaço para incautos e corajosos. Não há muitos deles em atividade.
    Até a próxima.
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