Mercados e negócios

Edição V | 01 - Jan . 2001
Clovis Terra Wetzel-diretoria@seednews.inf.br

    Economia global em desconforto e bons ventos para a nacional - Com a desaceleração do "jumbo da economia" norte americana e o perigo de um "pouso brusco e forçado", agitam-se os mercados de capitais em todo o mundo. A situação confortável no Brasil, que alça voo para um fase de estabilidade e crescimento econômico, é de muita cautela e espera, para reduzir crescentemente os juros, liberar empréstimos, aumentar as exportações e fomentar safras agrícolas, cada vez maiores. Baixas taxas de inflação; crescimento do emprego e do produto interno; perspectivas de menores preços para o petróleo e redução dos juros, aqui e lá fora — prognosticam um cenário alentador para a economia brasileira, no raiar de 2001.

    Um olhar sobre a produção e a renda na agricultura - Trata-se de examinar o Produto Interno Bruto (PIB), que é o valor total dos bens produzidos num país, referenciado ao ano calendário. O PIB brasileiro foi de R$ 912,9 bilhões em 1998, como divulgado pelo IBGE. Para efeito do PIB, o Brasil é o Centro-Sul (regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste), com 82% do total das riquezas produzidas no país. No ranking dos cinco estados de maior contribuição para o PIB, está São Paulo (com 35,46% do total), Rio de Janeiro (11,010/0), Minas Gerais (9,79%), Rio Grande do Sul (7,72%) e Paraná (6,21%). A renda per capita é obtida pela divisão do PIB pelo número de habitantes, que, segundo informação do IBGE, cresceu 18% nos últimos cinco anos (1994-1998), ou seja, verifica-se ter ocorrido um aumento médio de 3,68% por ano (considerado baixo para promover o desenvolvimento adequado). A soma da renda per capita dos cinco estados de maior renda (DF,SP,RJ,RS,SC), em 1994, foi 4,55 vezes maior do que a dos cinco estados de menor renda (MA,PI,TO,PB,AL). Esta diferença, em 1998, foi de 4,7 1 , o que indica a manutenção e o aprofundamento do fosso social entre os estados mais "ricos" e os mais "pobres", situados nos pontos extremos da curva do PIB nacional.

    Biotecnologia em alta I - A necessidade de diversificar aplicações financeiras, e de olho nas perspectivas de bons negócios em produtos biotecnológicos, nas áreas de saúde, código genético, farmacêutica e agricultura, empresas de informática (IBM, Motorola, Compaq) iniciaram com entusiasmo a compra de ações de organizações que trabalham com biotecnologia. Estão aplicando nesta operação milhares de dólares num sistema de parceria que inclui a utilização de seus equipamentos de informá-tica. Os produtos biotecnológicos, que movimentam cerca de US$ 3,5 bilhões, devem chegar aos US$ 27 bilhões em 2003, segundo projeção do mercado.

    Biotecnologia em alta II- Apesar da falta de resultados positivos da biotecnologia nas lavouras brasileiras, pela proibição do plantio e uso de soja e milho transgênicos e mesmo que ainda não tenha havido consenso entre a CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança) e a Justiça, sobre este tema, em várias instâncias (talvez, devido a conflitos de atribuições), a Embrapa anuncia que vai reforçar a sua pesquisa na área, inclusive em parceria com outras entidades. Diz o Dr. Maurício Lopes, chefe do Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento (DPD), em referência às plantas geneticamente modificadas: "A transgenia é apenas uma opção, mas há um conjunto enorme de tecnologias que podem ser gera-das a partir das pesquisas (em biotecnologia), e o Brasil não pode prescindir desses avanços". O pesquisador da Embrapa considera que está configurando-se a tendência de substituir os processos químicos pelos biológicos, na agricultura. Dois projetos de pesquisa, em desenvolvimento na Embrapa, caracterizam o uso da biotecnologia, fora da área de transgenia propriamente dita: a caracterização gênica de plantas do gênero Paspalum, utilizadas em pastagens, e a análise de cruzamentos realizados entre bovinos da raça Nelore (fêmeas) com Simenthal, Canchim e Angus (machos).

    Flui e aumenta o crédito alternativo - Os negócios com a Cédula de Pro-duto Rural (CPR), avalizadas pelo Banco do Brasil, deverão alcançar R$ 600 milhões, em 2000. Comparados com os R$ 147 milhões, em 1999, isto representa um avanço de 308% na aplicação desse crédito alternativo. A CPR constitui um empréstimo para a agricultura, que pode ser pago pelo agricultor em produto ou em dinheiro. Também crescem os contratos agrícolas realiza-dos na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F), que, entre janeiro e novembro, superaram em 13,5% o volume financeiro das operações efetuadas em 1999, elevando-se para US$ 5,48 bilhões, especialmente em café (60,3% do total) e boi gordo (23,2%), segundo informações da própria BM&F.

    Cresce o consumo de adubo (25%) e de sementes (1 2,5%); caem as vendas de agroquímicos - As vendas de fertilizantes no país chegaram a 13,2 milhões de toneladas, de janeiro a outubro, totalizando operações de US$ de 2,38 bilhões, com estabilidade dos preços no período 1999-2000. O crescimento das vendas de sementes de milho, soja e algodão foi, no conjunto, estimado em 5%, em volume, com faturamento de US$ 608,5 milhões, o que Corresponderia, em valor, a um crescimento de 12,6% nesta safra de 2000/ 2001, comparativamente com a anterior. Enquanto isto, cai a comercialização de agroquímicos, com as seguintes variações em outubro passado: acaricidas, -50,5%, fungicidas -20,8% e herbicidas, -3,4%. Entretanto, aumentaram as vendas de inseticidas em 21,9%. (Fontes: Anda, associações estaduais de produtores de sementes e Sindag). 

    O Supremo Tribunal Federal (STF) resolverá o impasse com os transgênicos? — Sim, é a resposta do diretor da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia), Ruy Geraldo Viana. Durante seminário promovido em Brasília pela Abia, em dezembro, o Procurador da República, Aurélio Rios, reafirmou que entraria com uma ação judicial contra a CTNBio, em relação a sua "emissão de parecer técnico conclusivo" que permitiu o desembarque de milho geneticamente modificado da Argentina, em Pernambuco. Para o procurador Aurélio Rios, a CTNBio desconsiderou a decisão da 6ª Vara de Justiça Federal de Brasília que a proibia de emitir pareceres enquanto não elaborasse, entre outros pontos, normas para a rotulagem de produtos que contêm traços de transgênicos. De outra parte, o projeto de lei que estabelece a rotulagem de alimentos contendo elementos transgênicos, elaborado por representantes dos ministérios da Saúde, Agricultura, Justiça e Meio Ambiente, e da Casa Civil da Presidência da República, encontra-se parado, por causa de uma pendência numérica — se o Brasil admitiria 0,5 ou 3% de traços de elementos transgênicos nos alimentos, segundo a última informação.

    Problemas com um fungicida - Assim que começaram a emergir as plantinhas de soja e algodão nas lavouras de vários estados (MT,MS,GO,SP,PR), nos meses de novembro e dezembro, com sintomas de graves anormalidades (encurtamento, engrossamento e fissuras no hipocótilo, e fraco e irregular desenvolvimento das raízes), começou uma grande movimentação contra o fungicida com o qual as sementes teriam sido tratadas - o Rhodiauram 500 SC. Agricultores que tiveram suas lavouras afetadas correram para os laboratórios de análise para comprovar os efeitos daquele produto em suas sementes. Associações de classe da agricultura também saíram a campo para averiguações, enquanto advogados e escritórios de advocacia foram procurados para examinar o possível ressarcimento dos prejuízos. Por sua vez, a Aventis, produtora do fungicida, admitiu ter havido erro na manipulação do produto. Negociações entre as partes envolvidas neste acidente agrícola estão em mar-cha e ações impetradas na justiça de-vem prolongar-se, mas, certamente, a questão chegará a bom termo. 


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