Mercados e negócios

Edição VI | 02 - Mar . 2002
Clovis Terra Wetzel-diretoria@seednews.inf.br

    Moção brasileira contra a ALCA -Inusitadamente, deputados ofereceram ao governo brasileiro, apoio político para se contrapor aos Estados Unidos, na negociação da ALCA, e até mesmo abandoná-la. Entretanto, o chanceler Celso Lafer e o ministro do Desenvolvimento, Sérgio Amaral, ponderam que o Brasil deve manter-se nas negociações da Área de Livre Comércio das Américas, para não assumir o risco de perder mercados já consolidados e os em vias de aproveitamento, como os da Ásia, inclusive no caso dos produtos agrícolas originários da transgenia. 

    A guerra das leis - A nova Lei Agrícola norte-americana que objetiva proteger a agricultura de exportação e seus agricultores, mantém a garantia de preços mínimos para algodão, milho, soja e trigo, o que torna essas commodities altamente competitivas no mercado internacional, contrapondo-se a pretensa liberalização proposta para a ALCA. De outra parte, o PTA autoriza o Governo dos Estados Unidos a estabelecer restrições para a entrada naquele país, de cerca de 300 produtos, entre os quais (e em adição a Lei Agrícola), suco de laranja e etanol, por exemplo. Enquanto isto na "guerra das leis", o Congresso brasileiro põe em discussão o projeto de rotulagem, através de uma série de audiências públicas, embora circule em Brasília, a dúvida que isso se realize, face a nova agenda prioritária e concentrada estabelecida naquela Casa, para os I O meses restantes de 2002 . 

    Cenário difícil - Com toda a exuberância da velha política norte-americana de subsidiar regiamente sua agricultura, ainda que, na situação atual, sem aquiescência de alguns senadores e do próprio Governo os quais argumentam que os subsídios promoverão o estímulo ao plantio e a realização de super safras de commodities — vender para os Estados Unidos parece ser cada vez mais difícil. Dessa forma, especula-se, as discussões sobre a ALCA, não poderiam evitar o que é fatalmente inevitável: a continuidade da depressão dos preços internacionais dos produtos da agropecuária mundial (que já perdura mais de 5 anos), o que configura, associada com efeitos de fatores externos, de naturezas diversas, um cenário de neblina para a agricultura nacional, ao prevalecer as mesmas forças no jogo dos interesses maiores, no que se refere aos mercados externos.

    ALCA: Sim ou não - Enfim, o ministro brasileiro da agricultura, Pratini de Moraes, tem repetido que, ou se termina com os subsídios agrícolas americanos, ou o Brasil não estaria na ALCA. Este pronunciamento segue a lógica de Fernando Henrique Cardoso e de deputados liderados por Aluísio Mercadante, mas não deixa de contrastar com a posição de Celso Lafer e Sérgio Amaral. 


    Finalmente uma colheita de 100 milhões de toneladas de grãos ? 

    Em que pese alterações no cenário da produção, esta é a previsão da Conab para a safra 2001/2002, em uma área de quase 39 milhões de hectares plantados, dos quais 97% correspondem à algodão, arroz, feijão, milho, soja e trigo. 

    As reduções de área plantada de algodão e milho, de menos 15,9 e 3,9%, respectivamente, somando 664.000 hectares, correspondeu a uma perda de venda de 1 1 .726 toneladas de sementes. Em contrapartida, somados os aumentos de área ocorridos em arroz, feijão e soja — de 3,7, 11,7 e 12,9%, respectivamente — teriam sido alcançados 2.332.200 hectares, o que teria correspondido a um total de vendas de sementes de 135.800 toneladas (assumindo que toda as sementes necessárias teriam sido adquiridas). Descontando dos ganhos, as perdas de comercialização, teriam circulado no mercado de sementes cerca de 124.000 toneladas de sementes, a mais do que na safra anterior, segundo cálculos realizados com dados da Conab 

Segundo os mesmos dados da Conab, espera-se um aumento médio da produtividade, no País, da ordem de 2,7%, em algodão (em caroço), de 5,6% em arroz e 10,2% em feijão (1a.safra), nesta safra, em relação à anterior. Entretanto, chama a atenção os aumentos calculados para algumas lavouras, no Nordeste: de 9,7% em algodão, de 24,4% em arroz e 70,5% em feijão (face ao mísero rendimento médio de 352 Kg/ha colhidos na safra 2000/2001). 


    Mais pesquisa pública com apoio de dinheiro privado

    O segmento da indústria brasileira de sementes de forrageiras, até agora com uma imagem de averso a melhorias, está se organizando para formar uma entidade de apoio à obtenção de novas e melhores cultivares de forrageiras, através do sistema de pesquisa da Embrapa. Cerca de 50 empresas produtoras de sementes de forrageiras, esperam recolher 750 mil reais, para esse trabalho, numa decisão sem precedentes. 


    Bayer com as sementes da Aventis - Ao concretizar a compra da francesa Aventis CropScience, a nova empresa Bayer CropScience, posiciona-se para competir de igual para a igual com a Syngenta, no mercado de defensivos agrícolas. Com a entrada de herbicidas em seu portfólio, estima-se que a Bayer poderá chegar ao terceiro posto, depois da Syngenta e da Monsanto, neste mercado, ao nível mundial. No Brasil, segundo uma fonte da Bayer, os negócios de sementes da Aventis CropScience, seriam incorporados no programa da Bayer CropScience, pela ligação que existe entre o melhoramento de criação de cultivares e a biotecnologia, vista como de grande interesse pela multinacional alemã. E só por isso. 


    Incentivos ao algodão — Com o renascimento dessa cultura no Brasil, criaram-se fundos de apoio governamental nos estados de Mato Grosso, Goiás e Bahia, associados a uma 

"guerra fiscal" envolvendo renúncia do imposto sobre circulação de mercadorias e serviços (ICMS), ao par de estratégias de fomento próprias. No conjunto estes três estados plantaram 544.600 hectares de algodão, em 2000/ 2001, com uma produção obtida de 705,4 mil toneladas, o que representou 75% do total de pluma produzida no País. Mas existem diferenças: se considerada a produtividade de Mato Grosso (1.360 kg/ha) igual a 100, Goiás apresentou um rendimento de 16% menor e a Bahia, 18%. Estas áreas criaram um mercado de cerca de 16.300 toneladas de semente. 

    

    "Repasto" - Esta é a "bandeira", por assim dizer, do Programa de Recuperação de Pastagem, lançado no Mato Grosso do Sul. Segundo noticiado, o Estado detém 16 milhões de hectares dedicados ao seu rebanho bovino, de cerca de 23 milhões de cabeças (o maior do País). Avalia-se que, daquela área, 9 milhões de hectares estejam degradados (ou 56%) e três milhões já apresentam algum nível de deterioração (13%). A estimativa é de que seria necessário um investimento de cerca de três bilhões de reais para as pastagens daquele estado, que deverão provir do Fundo Constitucional do Centro-Oeste. Assim, com um custo médio de R$ 340, por hectare, haja sementes de forrageiras para o Repasto, nos próximos anos. 


    O consumidor de sementes do futuro - Os resultados de pesquisa mostram, em vários ramos de negócio, que os consumidores já estão menos fiéis às marcas. Assim também é de esperar-se que os agricultores que usualmente adquirem sementes, fiquem particularmente atentos às cultivares que mais lhes convém e aos vendedores que ofereçam maiores vantagens, descolando-se de obtentores e distribuidores tradicionais, se não forem competitivos. Nestas circunstâncias, os consumidores de sementes do futuro assumiriam, um perfil diferente dos atuais consumidores, com mais exigências na qualidade do "produtos semente" e na prestação de serviços associados, incluindo pacotes de valiosas informações sobre práticas agrícolas disponíveis dirigidos à agricultura de alta, média e baixa tecnologia, num típico processo de fragmentação das necessidades e da demanda real. 


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