A vida é dinâmica, o mundo está acelerado, o conhecimento se torna obsoleto cada dia mais rápido e o dinheiro troca de mão com a fluidez do vento. Quase uma efeméride. Mas isso não é novidade. Qualquer pessoa medianamente ligada na atualidade ou no que reserva o futuro que se aproxima sabe disso. Não é apenas uma questão filosófica. É muito mais que isso.
Saber e acreditar
Não há setor, empresário ou profissional que já não tenha sentido essa realidade inconteste. Que pode ser devastadora por um lado ou a porta de novas e grandes possibilidades de outro. Parece que o grande desafio que precisamos enfrentar de verdade nesse cenário é gostar do agito, da mudança e dos riscos. Serão cada vez mais inevitáveis.
Mas antes de tudo isso, creio que o grande e definitivo divisor de águas está dentro de cada gestor e empresário, na tarefa pessoal de discernir sobre a diferença entre saber e acreditar. Pode parecer apenas um jogo de palavras, com limites tênues, mas na verdade é um divisor de águas abissal, entre a análise e a prática. Entre o conhecer e o fazer.
Dito de outro modo, está cada vez mais fácil ter acesso ao conhecimento e às tendências que se avizinham no futuro. Muito se sabe sobre as necessidades de formação, profissionalismo e estratégia. Mas ao mesmo tempo o horizonte temporal, na maioria das vezes no futuro, empresta tranquilidade para o gestor, e desse modo demora em se mover.
Ademais, em boa medida, muitos não acreditam efetivamente que essa realidade vá afetá-los diretamente um dia. Não creem piamente, embora saibam de tudo isso. É como o motociclista incauto que sabe que deve andar de capacete, pois suas chances de sobreviver ou não ter sequelas graves em caso de acidente são enormes. Mesmo assim, muitos andam com ele pendurado ao cotovelo.
Se soubessem ou acreditassem que, mesmo numa manobra simples de mudar a moto de quadra ou colocá-la num estacionamento próximo, um acidente com resultados irreversíveis acontecerá, certamente não o tirariam da cabeça. Assim como o gestor que não coloca as ações em marcha, não há grande vantagem em apenas saber.
Por que estamos e o que fazemos aqui
Por isso, para qualquer profissional (arrisco-me a dizer que para qualquer pessoa) sempre é fundamental refletir e procurar entender a razão de estarmos onde estamos. Devemos ser capazes de primeiro responder: por que estamos aqui? Se você não souber, provavelmente também não saberá o que fazer.
Mas garanto que a grande questão não é apenas procurar saber ou entender a razão, e sim o que fazemos nos locais onde nos encontramos. O que fazemos onde estamos? Isso vale para todas as questões, desde um simples treinamento, uma aula, um curso ou uma conversa com alguém. As nossas práticas irão revelar a ciência da razão de estarmos lá e não o contrário.
Assim, se estamos gestores, é importante sabermos porque estamos ou somos gestores neste local e talvez não noutro ou noutra empresa, mas mais importante ainda é como nos comportamos e que práticas adotamos enquanto permanecemos nesse local.
Não se conforme, a mobilidade é uma opção
Assim, se tomarmos como ideia a nossa condição pessoal, podemos dizer que qualquer um pode mudar de vida. Diferente do que quiseram nos fazer acreditar desde a antiguidade (quando nobres originavam nobres e plebeus, plebeus), sabemos que isso depende de muita coisa, mas principalmente de como cada um encara a realidade desse ambiente em que está.
Mas nada é simples. A mobilidade social de cada um de nós (inclusive dentro das empresas) está vinculada, num primeiro momento, à oportunidade individual de acessar informação e conhecimento disponíveis. Se você não tem acesso ou ignora isso, relaxando na busca, já começa atrás dos demais. Assim, logo adiante, quando você perceber a distância, o esforço precisará ser ainda maior.
Adicional e posteriormente, depende da nossa capacidade de transformar informação em conhecimento e este por sua vez, em ação. Assim, mesmo quem tem acesso, precisa, antes de tudo, transformar aquilo em algo prático para a vida, senão também vai ficar para trás. Em resumo, ser inconformado e buscar incessantemente novos conhecimentos e aplicá-los deve ser a primeira e mais importante lição que cada pessoa precisa aprender na vida.
Isso pode fazer com que, mesmo pessoas oriundas de ambientes hostis e de baixo nível socioeconômico, consigam se mover para cima na pirâmide social. De outro lado, também convém lembrar que não é garantia de estabilidade e manutenção o fato de nascer no andar de cima, já que conhecer e reconhecer os motivos de estarmos onde estamos é o que nos faz sermos capazes de usar, ou não, as informações e o conhecimento de que dispomos. Em síntese, são as ações que desencadeamos com aquilo que temos que nos fazem sermos ou estarmos onde queremos, no futuro.
Por isso, profissionalmente, é cada vez mais importante sabermos nossos pontos fortes e fracos. E essa necessidade vai ser cada vez mais premente e requerida em função da dinâmica de mudança em curso no ambiente do trabalho. A inteligência artificial, a internet das coisas, a machine learning, dentre outros, são apenas uma amostra reduzida do que vem por aí.
O futuro nos reserva uma enorme gama de novas possibilidades de aprendizagem, as quais podem ser encaradas como oportunidades ou apenas desafios. Depende novamente mais de você do que qualquer outro aspecto. Mas haverá solavancos.
Seremos capazes de aprender coisas das quais não tínhamos ideia, já que os recursos para isso também se tornam cada dia maiores e mais acessíveis. Ademais, vamos descobrir, talvez por obrigação (porque isso não é tarefa simples), que nossas potencialidades são praticamente ilimitadas.
A arrogância intelectual
Mas muitos ficarão pelo caminho e, nesse sentido, há um aspecto que vai atrapalhar alguns, gerando incapacidades. Aliás, atrapalha desde sempre, mas a questão é que agora, como tudo é mais rápido e tem maior impacto, será mais incisiva: a arrogância intelectual.
Vale dizer que a arrogância intelectual atinge principalmente aquelas pessoas com grande expertise numa determinada área. São aquelas que desdenham o conhecimento de outras áreas ou acreditam que brilhantismo é sinônimo de conhecimento.
Na prática, são exemplos de arrogância intelectual pedagogos excelentes que se orgulham em não entender nada de estatística, engenheiros altamente qualificados que tendem a se orgulhar de não saber nada sobre psicologia ou comportamento das pessoas, ou ainda profissionais de gestão de pessoas que se orgulham em não entender de métodos quantitativos.
Isso é cada vez mais perigoso, justamente porque a tendência no futuro (com exemplos incontestes já no presente) é de que os limites imaginários entre as áreas serão cada vez mais tênues e difíceis de estabelecer. Vou além: cada vez mais, precisaremos de pessoas capazes de reaprender, aprender e entender os conhecimentos como um grande sistema interligado e menos isolado na sua própria essência técnica.
Por isso, essa ignorância é autodestrutiva. Deveria ser o contrário. Precisamos cada vez mais nos esforçar para adquirir novos conhecimentos capazes de complementar nossas competências e atingirmos plenamente nossas potencialidades.
Assim, fica claro que ninguém está seguro, seja qual for o local em que esteja. Assim como também ninguém pode se dar por vencido ou incapaz, independentemente da situação em que se encontra. Ambos dependem de si para seguirem em frente. Faça ao menos a sua parte.
Até a próxima.