É inegável a evolução da ciência, carreada pela biotecnologia e engenharia genética em produtos que apresentam incremento de produtividade, fator preponderante de competitividade. No programa de melhoramento genético, dois veículos despontam à frente: a semente e o produtor de semente.
A semente, sem dúvida alguma, é a fundamental conexão entre a tecnologia e a cadeia produtiva, entretanto a empresa sementeira é a que primeiro utiliza os lançamentos dos novos genótipos, testa-os em escala maior e em diversidades de ambientes, para posterior liberação geral aos agricultores.
Porém, para tal, o setor de produção precisa minimizar riscos e potencializar seus resultados, entregando sementes de alta qualidade, uma vez conhecido o efeito do vigor no que se refere à rapidez, na uniformidade de emergência de plântulas, em condições mais adversas, que geralmente ocorrem na época de semeadura.
Como estratégias competidoras, num mercado sementeiro ano a ano mais exigente, muitas empresas têm investido bastante em treinamentos e reciclagens de seus colaboradores, visando propiciar situações que possam diferi-los perante a concorrência acirrada.
No que diz respeito à área técnica de produção, a exemplo de laboratórios de sementes e de unidades de beneficiamento de sementes (UBS), existem demandas muito fortes porque, com os avanços e inovações do melhoramento genético, os envolvidos no setor necessitam conhecer de fato o entorno da qualidade da matéria-prima que será submetida a um processo produtivo até tornar-se um produto finalizado. Fundamentações teóricas associadas às práticas, com foco nos parâmetros de excelência, fazem a distinção dentre os requisitos e níveis dos treinandos perante às complexidades da semente hodierna. A aprendizagem não ocorre por acaso; sendo assim, é importante a construção de base sólida, confiável, principalmente quando se trata do universo biológico para assegurar melhor assertividade. Ameaças e oportunidades no ambiente externo e limites estruturais internos precisam ser superados e as ações serem estabelecidas. Nesse contexto, os treinamentos vêm ao encontro, mas muitas questões devem ser trazidas à luz da realidade.
Como agir e treinar um grupo específico que manipula organismo vivo, sobretudo quando existe pluralidade de gerações e um amálgama de mentes dentro de um mesmo ambiente?
Qual a fórmula de convencer as criaturas literalmente nefelibatas (que vivem nas nuvens) a ter atenção porque executam tarefas detalhistas?
Qual a forma de envolvê-los para que aprendam a analisar e interpretar o conjunto de dados, assim como informar esses resultados para tomada de decisão, inclusive com significativo impacto para os agentes do agronegócio?
Eles conhecem o valor com o que operam? Sabem a abrangência de sua análise?
Todas essas questões figuram hoje em dia e são realísticas. Devem fazer parte de nosso portfólio de treinadores para que possamos conscientizar equipes sobre o valor do amanhã do mundo tecnológico de sistemas computacionais que empregam processamento digital e análise de imagens, que extraem informações dos testes de qualidade, cujo espaço será ocupado apenas por especialistas.
Como agir e treinar um grupo específico que manipula organismo vivo, sobretudo quando existe pluralidade de gerações e um amálgama de mentes dentro de um mesmo ambiente?
A literatura relata que a equipe representa a soma das individualidades, sendo a cooperação entre seus membros de essencial importância para a construção de laços que fomentem o comprometimento e a criatividade; portanto, o sucesso da empresa não reside nas ações de atores individuais, mas nos relacionamentos entre eles.
Como em nosso caso, que atuamos treinando times que desenvolvem trabalhos em locais que devem seguir metodologias descritas e comprovadas, como num laboratório de análise de sementes, precisamos ajudar no entendimento individual a prepará-las e esclarecer quais os envolvimentos e prejuízos que podem ser ocasionados, caso não haja a respeitabilidade dos procedimentos técnicos, porque não haverá padronização e reprodutibilidade dos dados gerados. Devemos auxiliar no engajamento da equipe, traduzir as técnicas mais complicadas, explicar a importância, objetivo e princípio de cada teste que efetuam para acompanhar os atributos da qualidade, assim como adaptarmos e flexibilizarmos as ideias das diferentes gerações, na tentativa de convergir conhecimento em ações e resultados factíveis e confiáveis. Extrair o máximo de cada integrante do time, independentemente da idade e da tarefa que executa, requer um entendimento profundo do ser humano, uma dimensão maior, uma visão sistêmica.
Tenho me esforçado nos treinamentos e reciclagens, até mesmo em palestras específicas, orientando para o sistema de trocas que deve haver entre os diferentes níveis do setor de produção de sementes. Quanto mais feedbacks entre eles, que passam o bastão setor a setor, melhores resultados serão colhidos. Quanto mais desenvolvem conhecimento, reciprocidade entre si e atitudes positivas, a eficácia no desempenho operacional e técnico se consolida.
Quando observamos, após exposição teórica e atuação prática, que o modus operandi da empresa alterou seu rumo, podemos inferir que existia a vontade coletiva de modificações. Sabemos que as mudanças de procedimentos técnicos são assimiladas e realizadas mais rápido do que as mudanças dos modelos mentais, porém, quando este conjunto age, esta empresa se adequa melhor às inovações e diferenciais competitivos. Desta feita, cumpre-se o que se preconiza sobre treinamento, que se constitui no processo de ajudar ao colaborador a adquirir eficiência no seu trabalho através de hábitos de pensamento e ação apropriados, habilidades, conhecimento e atitudes. Também tenho abordado sobre a importância do material com que trabalhamos, das formas de execução, da aplicação de metodologia correta e da boa comunicação e entendimento entre os pares. Tenho indagado no final das minhas apresentações, na tentativa de estimular melhorias: estou me comprometendo em cada dia a aprimorar o que faço? Estou me preparando para o futuro que já é hoje? Estou olhando atentamente os genótipos atuais para descobrir as diferenciações ou continuo no piloto automático do passado?
Acredito ser este o papel do bom treinador: manter-se atualizado, preparar a equipe para as mudanças e despertar nos indivíduos a contribuição do seu melhor para alcançar o benefício do todo.