Um dos principais frutos da biotecnologia na agricultura é o desenvolvimento das plantas com ação inseticida, popularmente conhecidas como “plantas Bt”. As proteínas que conferem resistência para alguns grupos de insetos, chamadas Cry, são oriundas da bactéria Bacillus thuringiensis (Bt), encontrada naturalmente no solo.
A tecnologia Bt começou a ser utilizada já nas décadas de 1940 e 1950 como bioinseticida, por meio da pulverização de esporos da bactéria sobre as lavouras. Entretanto, alguns fatores contribuíram para a baixa adoção dessa tecnologia, devido aos cuidados exigidos com a aplicação. Por ser um produto biológico, medidas especiais devem ser adotadas a fim de preservar a estabilidade do microrganismo, que pode ter a sua viabilidade alterada em função de diversos fatores, incluindo a fotodegradação. Outro ponto importante é que a eficiência do inseticida à base de Bt no controle das pragas-alvo é dependente do monitoramento constante da população de insetos, de forma que o mesmo seja aplicado no estágio correto, quando os mesmos ainda estejam pequenos, com o objetivo de haver tempo suficiente para ação do Bt, antes das lagartas causarem danos significativos na lavoura.
Com o surgimento da transgenia, os genes que codificam para proteínas Bt foram inseridos nas sementes, possibilitando o desenvolvimento de plantas inseticidas que controlam as principais lagartas que as atacam, superando as limitações encontradas com o uso dos produtos biológicos à base de Bt. No Brasil, variedades Bt de três culturas estão disponíveis ao agricultor: o algodão, com a primeira aprovação comercial em 2005 pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio); o milho, em 2007; e a soja, em 2010. Hoje, as variedades Bt representam 62, 79 e 83%, respectivamente, da área total cultivada com soja, milho e algodão1. Para cada uma dessas culturas, inúmeros eventos com resistência a insetos já foram lançados, tanto isoladamente como em combinação com a tolerância a herbicidas. Além disso, a CTNBio aprovou em 2017 a cana Bt, que apesar de ainda ocupar uma área pequena (~2.000 ha), já começou a ser utilizada por alguns agricultores.
O uso de variedades Bt gerou um volume de produção adicional de 55,4 milhões de toneladas (Mt) de grãos, sendo 4,55 Mt de soja, 50,8 Mt de milho e 46 Mt de algodão, decorrentes da redução de perdas causadas pelas pragas por ele controladas. A redução na utilização de inseticidas foi de 15% para soja, 10% para milho verão, 14% para milho inverno e 6% para algodão
Essa rápida adoção da tecnologia por parte dos produtores é reflexo dos inúmeros benefícios que a mesma proporciona. Um levantamento publicado pelo Conselho de Informações em Biotecnologia (CIB), na publicação Impactos econômicos e socioambientais da tecnologia de resistência a insetos no Brasil2, com dados levantados pela Agroconsult, destaca de forma detalhada os ganhos do uso da tecnologia Bt no Brasil, ao longo de uma série histórica, desde a sua aprovação em 2005 até 2018.
Entre as principais vantagens da tecnologia Bt está o benefício econômico, decorrente do aumento de produtividade e da redução nas aplicações de inseticidas químicos. De acordo com o estudo, o uso de variedades Bt gerou um volume de produção adicional de 55,4 milhões de toneladas (Mt) de grãos, sendo 4,55 Mt de soja, 50,8 Mt de milho e 46 Mt de algodão, decorrentes da redução de perdas causadas pelas pragas por ele controladas. A redução na utilização de inseticidas foi de 15% para soja, 10% para milho verão, 14% para milho inverno e 6% para algodão, demonstrando que, além do benefício econômico, há também o benefício ambiental. Há que se considerar, no entanto, que o uso dessa tecnologia resulta em um investimento adicional por parte dos produtores com a compra de sementes, devido ao pagamento dos royalties das variedades Bt. Ainda assim, segundo o levantamento, o aumento total do lucro dos produtores ao longo do período chega a 21,5 bilhões.
Como toda tecnologia, existem recomendações que devem ser seguidas por parte dos produtores para que a eficiência da mesma seja preservada, sendo a adoção da área de refúgio a medida mais importante de manejo de resistência. Especialmente no Brasil, o clima tropical, aliado ao cultivo de várias safras ao longo do ano, favorece a multiplicação dos insetos e do processo evolutivo que acarreta na resistência de pragas. Esse problema já é realidade, considerando que os relatos de população de insetos-alvo resistentes às toxinas Bt têm aumentado nesses últimos anos. Além do refúgio, recomenda-se também ao produtor realizar a rotação de genes, ou seja, evitar utilizar a mesma variedade Bt por mais de uma safra e, sempre que possível, optar por materiais que expressem mais de uma proteína Bt.
Segundo as estimativas do estudo publicado pelo CIB, se a tecnologia de resistência a insetos inserida nas sementes Bt de soja, algodão e milho perder a eficiência, os agricultores brasileiros deixam de lucrar R$ 86 bilhões na próxima década. Com isso, perdem todos os elos da cadeia – empresas, agricultores, e a sociedade em geral –, pois a redução do uso de inseticidas na produção agrícola traz ganhos difíceis de serem mensurados, mas que, sem dúvidas, beneficiam o meio ambiente.
1 Fonte: ISAAA, APPS, AGROCONSULT, empresas do setor, CIB.
2 Dados completos podem ser acessados no documento disponível em: http://apps.agr.br/wp-content/uploads/2019/01/Agroconsult-Estudo-Impacto-BT-no-Brasil-Vers%C3%A3o-Final.pdf