Na edição passada escrevi sobre a internet das coisas (IoT), as diferentes e eventuais implicações que estão por vir de suas aplicações no agro. Isso me fez pensar, por consequência, noutra questão tão ou mais importante que essa, associada a ela: como vai se comportar o trabalho nesse futuro que se avizinha, cada dia mais rápido em função dos diferentes e inúmeros avanços tecnológicos.
Vale lembrar que esse movimento é tão fugaz e dinâmico que muitas vezes nem ao menos nos apercebemos da quantidade enorme de funções e atividades que vão gradativamente sumindo nas empresas, bem na nossa frente, com o avanço da tecnologia.
É notório que, ao mesmo tempo em que o desemprego se mantém em níveis desconfortáveis, existe dificuldade recorrente em encontrar mão de obra capacitada para entender o funcionamento dos sistemas cada vez mais tecnológicos. Principalmente no que tange às habilidades em “conversar com as máquinas” e, a partir disso, executar instruções dos especialistas.
O ser humano, desde que tomou consciência de si, tornando a imaginação sua companheira fiel, sempre gostou de exercitar e prognosticar o futuro. Esse lugar, que não é único e tampouco existe como ponto de chegada, tornou-se o desejo de compreensão da maioria de nós. Agora não é diferente.
Saber como será. Esse é o desafio diário que inquieta e instiga-nos a fustigar o presente para imaginar o que virá. Ninguém sabe. Apenas temos indícios, e sobre eles, como sempre, procuramos criar lógica, amparados em métodos diversos e muita, mas muita especulação.
Aliás, uma das questões que mais confunde são as especulações, embora elas possam eventualmente servir de alerta. A cada pouco, um novo relatório vaticinando quais formações X ou Y irão desaparecer num determinado horizonte temporal coloca os envolvidos em polvorosa. Contudo, raramente oferece alternativas ou oportunidades. Decreta o futuro, por um conjunto de hipóteses, e pronto.
Sabemos que na prática, ao longo da história, não tem sido bem assim. O limite do ser humano em se adaptar como espécie é praticamente inesgotável e inimaginável. Logo, qualquer extinção profissional vem precedida de sinais, bem como de oportunidades de adaptação. O que, por consequência, faz surgir novas profissões.
Quais os Limites
Mas o processo inevitável e crescente de substituição do homem pelas máquinas ainda é recheado de muitas dúvidas e apenas algumas certezas. A principal certeza é que ele ocorrerá e deverá impactar a quase totalidade das profissões e posições hierárquicas. Nem mesmo os diretores executivos (e principalmente os empresários e empreendedores) escaparão.
Sobre as dúvidas, a principal delas parece ser em identificar qual o limite entre o humano e a máquina. O que será função de um e de outro? Chegará o dia em que as funções humanas serão substituídas na sua totalidade pelas máquinas? Tudo é incógnita associada a especulação.
É uma discussão, sempre encarada temerosamente, que remonta principalmente à segunda revolução industrial. Mas creio piamente que, assim como a teoria malthusiana que previa a falta de alimentos num mundo em crescimento exponencial, a falta de trabalho em função das máquinas também nunca irá se concretizar. Desde sempre, o ser humano foi capaz de reinventar a si mesmo e o seu ambiente, reorganizando o sistema e criando novas ocupações.
Tem-se falado muito sobre a extinção de empregos. Mas como disse, pouca certeza. No agronegócio, em específico, pouco se tem pesquisado sobre isso, mas, certamente, como de resto nos demais setores, também será impactado fortemente. Se não, até mais do que noutros.
Como há uma diversidade nos métodos de estudo, obviamente chegam-se a diferentes níveis de impacto, apontando igualmente consequências diferentes. Para se ter uma ideia, enquanto uma dezena deles aponta a ampla redução das vagas e a criação de um número menos significativo delas, num balanço negativo há estudos como o do Fórum Econômico Mundial em que se aponta o sumiço de 75 milhões de empregos, mas, por outro lado, estima-se a criação de 133 milhões deles.
Uma questão, no entanto, é pacífica: a de que milhões de empregos serão extintos ao longo dos próximos anos (o seu pode ser um deles). Isso vem acontecendo historicamente, desde sempre. O que de fato importa e preocupa
Mas essa não é a questão central. O que importa saber nesse momento é onde e em quais atividades essa substituição ocorrerá e, por outro lado, com a mesma importância, identificar onde, quais e quantos novos postos de trabalho ou ocupações surgirão.
Do ponto de vista do desenvolvimento econômico e social, um dos aspectos de evidente preocupação é que o sumiço dos postos de trabalho normalmente atinge com mais intensidade as camadas mais simples e os trabalhadores menos qualificados. Somado ao fato de que as novas posições que surgirão estão totalmente fora de acesso desse conjunto de desempregados.
Não tenho dúvidas de que países como o Brasil, em que notadamente o nível educacional da população é perto do raso (mesmo os ditos “de nível superior”) e a maioria dos postos de trabalho ainda são de baixo nível tecnológico, precisam urgentemente se mobilizar para reduzir esse impacto no médio prazo. Requer, portanto, ações imediatas e frentes, que sejam capazes de identificar e desenvolver maneiras de se ajustar a esse novo ambiente, criando políticas públicas nesse sentido.
A maioria dos países desenvolvidos (justamente onde os impactos tendem a ser menores), já que a necessidade de educação e treinamento para reorganizar a massa de trabalhadores, preparando-os para outras funções, tende a ser menor, já estão trabalhando intensamente na criação de ambientes de transição para os trabalhadores potencialmente atingidos.
Existe uma certa unanimidade entre as pesquisas publicadas, ao afirmarem que, por volta de 2025, mais da metade das tarefas nos locais de trabalham seja feita pelas máquinas. Isso é adicionalmente preocupante dado que estamos falando de um horizonte de pouco mais de seis anos. Bastante exíguo, se pensarmos na necessidade de readequar grande contingente de pessoas dos mais diferentes ambientes de trabalho.
O grande e iminente desafio, portanto, é evitar a ampliação das lacunas já existentes (principalmente nos países em desenvolvimento) nas habilidades e competências profissionais e suas consequentes desigualdades sociais, o que pode ser amplamente desastroso se não lograrmos êxito.
Do ponto de vista individual, da psicologia organizacional, além da adequação a novas funções, existe ainda o desafio de ter robôs e/ou algoritmos como colegas de trabalho diuturnos, que não descansam e que podem cobrir jornadas de trabalho ininterruptas de várias pessoas. Como profissionais, precisamos aprender a conviver com eles.
Na prática isso já ocorre, embora muitas vezes nem ao mesmo percebemos. Provavelmente, você até já trabalha com colegas robôs ou é atendido por algum deles, sem se dar conta. Os Cobots, como são chamados, destinam-se a interagir fisicamente com humanos em um espaço de trabalho compartilhado.
Às vezes, eles simplesmente são algoritmos que interagem no processo de atendimento nos sistemas online das empresas, e desse modo poucas delas fecham efetivamente suas portas. A maioria possui interação 24 horas por dia, sete dias por semana.
Como se preparar
Não há receita, mas é fácil perceber que, dentre os grandes desafios, estão a capacidade de adaptação dos profissionais aos diferentes ambientes de trabalho que tendem a surgir, entender que os ciclos de trabalho e de competências necessárias é cada vez mais curto, o que obviamente vai requerer de todos muita flexibilidade e curiosidade para aprender rapidamente.
Ademais, dado que homens e máquinas tendem a trabalhar e interagir cada vez mais intensamente, conectar habilidades em torno de atividades e, principalmente, de projetos vai requerer desses profissionais capacidades cada vez maiores de lidar com ambiguidades, complexidades e paradoxos.
Embora as competências técnicas sejam importantes, tomam cada vez mais relevância nesse cenário as competências comportamentais. Dentre elas, destacam-se as habilidades criativas, a inteligência emocional e, por último, a influência social, antes associada apenas à capacidade de liderança.
Essa requalificação e ressignificação dos profissionais e suas funções é tão evidente que se estima que em pouco mais de quatro anos mais da metade dos profissionais (em todos os níveis) precisarão de treinamento relevante para ganhar novas habilidades ou aprimorar as já existentes, se quiserem se manter ocupados. Será um novo ambiente a ser construído.
O tempo urge. Até a próxima.