Esta seção é coordenada pela equipe de professores da área de sementes da Universidade Federal de Pelotas, objetivando esclarecer as inúmeras dúvidas enviadas pelos leitores. Mande sua dúvida para redacao@seednews.inf.br
No registro de uma variedade há os descritores agronômicos que devem ser elaborados, como ciclo, resistência a enfermidades, cor da flor, entre outros. Pergunto se não seria mais fácil utilizar as ferramentas da biologia molecular para caracterizar uma variedade.
Você está correto. Para registro de uma variedade há a necessidade de caracterizar com descritores agronômicos a nova variedade, e não se permite o uso de caracterização pelo DNA, por exemplo. Isso deve-se ao fato de uma variedade ser considerada como a expressão de um genótipo ou conjunto de genótipos frente a um determinado ambiente. Assim, o DNA pode ser diferente dentro de uma mesma variedade.
Dedico-me à produção e comércio de sementes de feijão, e, ao observar que um dos meus lotes de sementes possuía algumas sementes com tegumento danificado, resolvi mandar analisar, além da germinação, também o vigor. Os resultados foram 87% para germinação e 33% para vigor pelo teste de envelhecimento acelerado. Poderiam comentar a respeito?
À primeira vista, parece que o lote de sementes possui baixo vigor, entretanto, seria bom verificar quais foram as condições do teste de envelhecimento acelerado, pois, em situação em que a temperatura de exposição é alta (superior a 42 °C) e o tempo de exposição superior a 48 horas, pode ocorrer que mesmo sementes de alto vigor não resistam a estas condições. Mesmo assim, considerando que o lote apresenta alta danificação mecânica, isso é um indício de baixa qualidade fisiológica.
Apreciei a matéria central da última SEEDnews sobre sementes adventícias. Concordo que devemos ter um limite de tolerância, e não pode ser muito baixo, caso contrário será muito difícil produzir sementes. Achei interessante a estratégia de transformar uma avaliação qualitativa em quantitativa utilizando as tirinhas indicativas de presença e o Seedcalc da ISTA. Creio que seria mais fácil utilizar um método quantitativo para uma avaliação direta.
De fato, uma avaliação direta facilitaria a interpretação. No entanto, devemos considerar a avaliação num contexto de fluxo de sementes ou grãos, em que a avaliação tem que ser rápida e fácil para conduzir. Atualmente, os testes quantitativos para avaliação de sementes adventícias são demorados e relativamente complexos, justificando-se o uso do teste qualitativo com as conhecidas tirinhas.
A tecnologia do esfriamento a granel das sementes foi, certamente, um grande avanço, mas gostaria de saber como isso afeta a umidade das sementes, pois ainda vendemos com base no peso, independente da umidade das sementes.
Em circunstâncias normais, as sementes ao redor da pilha entram em equilíbrio higroscópico com umidade muitas vezes inferior a 11%, fazendo com que o peso seja compensado com algumas sacas a mais no momento da venda. Com a utilização de ar frio para manutenção da qualidade das sementes, o equilíbrio higroscópico ocorre com umidade mais alta, em geral entre 12 a 13%, não sendo necessária a compensação de peso no momento da venda.
Tenho observado que ainda se vende muita semente de forrageiras com base no valor cultural. Há alguma explicação para isso, considerando todos os avanços tecnológicos?
A explicação não é tecnológica, pois existe tecnologia, equipamentos e pessoal treinado, capazes de proporcionar sementes com alta pureza e germinação. A explicação é comercial, pois sempre há consumidores que desejam semente de baixo preço e, como se sabe, sempre é possível baixar o preço baixando também a qualidade. Assim, é possível encontrar no mercado lotes de sementes de forrageiras com baixa pureza a um baixo preço e dentro da lei, pois a venda é por valor cultural e não com um mínimo de 98% de pureza e mais de 80% de germinação, como para a maioria das outras espécies.
Estive presente em uma conferência sobre qualidade de semente, na qual o palestrante demonstrou que a maturação das sementes é desuniforme, fazendo com que algumas sementes fiquem expostas às condições adversas de campo, enquanto outras amadurecem. Gostei da palestra, entretanto, como devemos fazer para minimizar a deterioração de campo, já que a maturação é desuniforme?
Realmente, a maturação é desuniforme, inclusive para espécies em que o homem já trabalha em melhoramento há muitos anos, como é o caso de milho. Assim, para minimizar a deterioração de campo, a colheita das sementes deve ser realizada, para efeitos práticos, de tal forma que, no conjunto das sementes, haja algumas verdes. Isso indicará que as sementes mais secas permaneceram pouco tempo no campo esperando a colheita.