XVI Congresso Brasileiro de Sementes

Edição XIII | 06 - Nov . 2009

    A capital do estado do Paraná – Curitiba – foi sede do XVI Congresso Brasileiro de Sementes, promovido pela Associação Brasileira de Tecnologia de Sementes (Abrates), cujo tema “Qualidade: Desafio Permanente” não poderia ter sido mais oportuno, pois Curitiba, uma das mais belas e importantes cidades do país, com seus belos e exuberantes parques, comprova que a qualidade é um desafio permanente. 

    Também para os pesquisadores e produtores de sementes do Brasil, a qualidade é um desafio permanente, pois estão sempre em busca da semente perfeita, o que fica evidenciado na evolução da qualidade das sementes, principalmente nos últimos 30-35 anos. Neste longo período, a qualidade das sementes evoluiu extraordinariamente, em virtude de diferentes fatores, como o desenvolvimento e adoção de novas e aprimoradas técnicas de produção, o uso do plantio direto, desenvolvimento e aprimoramento dos testes de qualidade – tanto nos aspectos de germinação, vigor, viabilidade –, além da implementação de novas legislações, incluindo a lei de proteção de cultivares e a lei de sementes, não podendo deixar de mencionar o papel importantíssimo na integração dos produtores de sementes com os órgãos de pesquisa, realizado pela Abrates e Abrasem.


    Um exemplo claro para evidenciar esta evolução na qualidade das sementes, ao longo desses anos de pesquisa, é o caso da soja, a espécie de maior área de cultivo do país. Em meados dos anos 70, o Brasil tinha uma produtividade média de 1.000 kg/ha. Passados mais de trinta anos, hoje, tem-se uma produtividade de 3.000 kg/ha. Isso nos permite dizer que o ganho à cada safra foi, em média, de 70 kg/ha. Toda essa evolução deu-se com o auxílio de uma pesquisa forte e objetiva, fazendo com que houvesse o surgimento de novas cultivares melhoradas e adaptadas à cada região produtora do país, além de novas técnicas de produção, dentre as quais podemos destacar o uso de sementes de alta qualidade. 

    Estes exemplos da evolução da agricultura e da indústria brasileira de sementes permitem estimar a pujança dessas atividades. Dessa forma, o tema central do congresso, Qualidade Desafio Permanente, se justifica para representar toda essa história de trabalho e dedicação de todos os profissionais que estão envolvidos na produção e pesquisa de sementes.   

    O evento contou com mais de 1.100 participantes de várias regiões brasileiras e de países vizinhos, como Argentina, Uruguai, Paraguai, Bolívia e Chile. Os produtores de sementes e de mudas, técnicos de campo e de laboratórios, acadêmicos e pesquisadores envolvidos com a produção, análise e tecnologia de sementes tiveram a oportunidade de conhecer as novidades e debater os desafios da produção de sementes de alta qualidade. 

    A programação do evento reuniu painéis com discussões sobre o conceito da qualidade de sementes e sua evolução; os avanços sobre os seis anos da lei de sementes no Brasil; o uso de técnicas moleculares para combate à pirataria; o uso de sementes para biocombustíveis, armazenamento à baixa temperatura; técnicas de detecção de patógenos e bactérias; e a nova versão das Regras de Análise de Sementes. Conjuntamente com o congresso, foi realizado o 10° Simpósio Brasileiro de Patologia de Sementes e o 5º Simpósio Brasileiro de Tecnologia de Sementes Florestais. 


    Um tema que merece destaque e que era aguardado há muito tempo pela comunidade sementeira foi a apresentação das novas Regras de Análise de Sementes (RAS) pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. As novas RAS promovem um alinhamento das regras brasileiras às regras internacionais da ISTA (International Seed Testing Association), organismo internacional de referência em análise de sementes, facilitando o comércio internacional e abrindo a possibilidade de novos mercados para o Brasil. As novas regras passaram por mudanças significativas, incorporando avanços tecnológicos em análise de sementes. A última versão havia sido elaborada em 1992 e a atualização foi necessária para adequar a legislação brasileira à resolução do Mercosul, que determina que as regras de análise de sementes sigam as recomendações da ISTA. 

    Outro destaque no congresso foi a comemoração dos 30 anos da Revista Brasileira de Sementes (RBS), que é hoje uma das principais revistas técnico-científicas do setor sementeiro de destaque mundial, além de ser a principal fonte de consulta e divulgação de pesquisa em sementes no Brasil e na América Latina. Desde 1979, foram publicados 1.461 artigos científicos com impressões ininterruptas de dois a três números por ano. 

    Convém mencionar aqui também um importante fato ocorrido durante o congresso – o lançamento do livro “Tecnologia de Sementes de Hortaliças”, organizado pelo dr. Warley Nascimento e publicado pela Embrapa Hortaliças. Trata-se do primeiro livro brasileiro abordando todas as técnicas de produção de sementes de hortaliças, sendo esta uma importante contribuição para o desenvolvimento do setor, que cada vez mais cresce no Brasil.

    Neste XVI Congresso Brasileiro de Sementes, foi alcançado um recorde no número de trabalhos publicados, chegando a 981, dos quais 20 foram destinados a apresentações orais e 961 distribuídos em 13 sessões de pôsteres. Todo esse montante de trabalhos reflete a evolução da ciência em nosso país e a importância da tecnologia e produção de sementes no cenário agrícola brasileiro. Os trabalhos dos pesquisadores brasileiros vêm sendo reconhecidos e elogiados internacionalmente, sendo o Brasil, dentre os países em desenvolvimento, considerado o segundo em números de aceite de trabalhos científicos para publicação na revista Seed Science and Technology.


    A distribuição dos assuntos abordados no congresso é apresentada na tabela, onde podemos verificar que 32% das pesquisas, ou seja, 310 trabalhos, abordavam o tema fisiologia de sementes. O segundo tema, em ordem de frequência de apresentação de trabalhos, foi a análise de sementes, com 25% (250 trabalhos). Porém, a principal abordagem nessa área tem sido dirigida à avaliação e ao estudo de alternativas para a condução de testes de germinação e vigor, ou seja, assuntos estreitamente ligados à fisiologia de sementes. Os demais temas – produção, patologia e secagem e armazenamento – representam 10 a 15% das pesquisas.

    A palavra diversidade pode ser muito bem utilizada para enfatizar a amplitude das espécies estudadas, desde a tradicional soja até o crambe, que é uma planta da família Brassicaceae, que surge como alternativa para a produção de matéria-prima para o biodiesel e para sucessão ao cultivo da soja e do milho no Centro-Oeste brasileiro. 

    Dentre as espécies com maior número de trabalhos apresentados no congresso, destacam-se as florestais e ornamentais, com 316 trabalhos (32%). Em segundo lugar fica a soja, com 130 trabalhos (13%), seguida pelas olerícolas e medicinais, que contabilizaram 120 trabalhos (12%).

    O elevado número de trabalhos com espécies florestais, nativas e ornamentais (32% do total) ficou evidenciado com a realização do 5° Simpósio Brasileiro de Tecnologia de Sementes Florestais durante o congresso, onde o objetivo foi debater os principais desafios que envolvem a produção de sementes com espécies florestais, tanto nas questões sobre a produção de madeira, produtos não-madeireiros e a recuperação de áreas degradadas.

    Em 2001, antes mesmo de o setor estar regulamentado, foram estabelecidas algumas parcerias entre instituições públicas e privadas, criando várias redes de sementes. O grande objetivo da criação destas redes foi a troca e a geração de informações, principalmente sobre produção, armazenamento e comercialização de sementes e propágulos florestais.

    As inovações tecnológicas na área florestal são constantes, o que ficou claro nos inúmeros trabalhos apresentados. Hoje, os plantios comerciais de eucalipto, em sua expressiva maioria, são realizados com clones, devido à dificuldade de propagação vegetativa, aliada a baixa disponibilidade de sementes melhoradas, e do elevado valor da semente, que chega a custar no mercado mundial R$ 70.000,00/Kg de semente. Para pinus, os recentes avanços verificados na clonagem de indivíduos, a partir de técnicas de embriogênese somática, deverão em breve tornar-se referência nos plantios comerciais dessa espécie. 


    Outra ferramenta importante nos programas de melhoramento de sementes florestais é o uso da hibridação, principalmente em eucalipto e pinus. Com essa técnica se busca a complementaridade nas características tecnológicas da madeira, a tolerância a estresses bióticos e abióticos, bem como a produção de indivíduos superiores em crescimento, adaptação e qualidade de madeira. 

    Além desses trabalhos, ficou evidenciado um crescente número de pesquisas na área de secagem e armazenamento, com desenvolvimento de novos procedimentos mais eficientes, a tolerância das sementes à dessecação e as novas técnicas de recobrimento, além do novo processo de peliculização inteligente, que consiste em uma técnica de proteção da semente que controla o momento de germinação de acordo com a temperatura do solo. Todo esse esforço é realizado para proporcionar uma maior precisão na semeadura das sementes.  

    Este aumento nas pesquisas com florestais, nativas e ornamentais é extremamente importante para o aprimoramento da qualidade e dos procedimentos que envolvem a produção de sementes, além da continuidade das pesquisas futuras.

    No caso da cultura da soja, as diversas pesquisas dos 130 trabalhos (13%) trouxeram novidades, ficando evidenciada a utilização e o desenvolvimento de novas técnicas para a caracterização de cultivares através de isoenzimas e DNA, aprimoramento dos métodos de secagem, beneficiamento e armazenamento de sementes, o mapeamento dos campos de produção através da agricultura de precisão – determinando a variabilidade da qualidade fisiológica de sementes – o uso de produtos para aumentar o desempenho das sementes, como os micronutrientes, fungicidas, inseticidas e polímeros, agregando valor às sementes. 

    As pesquisas com o uso da baixa temperatura na secagem e no armazenamento de sementes de soja e com outras espécies foram destaques neste congresso. No armazenamento, esta técnica é chamada de esfriamento artificial dinâmico, que consiste na condução do ar frio em sentido contracorrente ao fluxo do produto, sendo aplicado em unidade de beneficiamento de sementes (UBS) após a limpeza e classificação das sementes, no momento do ensaque. O processo não altera a umidade inicial da semente, não ocasiona choque térmico e não há condensação de vapor de água na superfície das mesmas, pois o ar insuflado é frio e seco. Isso faz com que a qualidade da semente seja mantida durante todo o armazenamento, com grande sucesso.

    As pesquisas demonstram que entre os fatores que mais afetam a qualidade das sementes estão a umidade e a temperatura. Neste sentido, a secagem de sementes de soja usando ar frio parte do mesmo princípio do resfriamento artificial dinâmico, onde o processo de secagem constitui-se em remover a água das sementes utilizando ar frio desidratado – desta forma, os danos térmicos nas sementes são minimizados devido ao fato de a temperatura da massa de sementes praticamente não se alterar. Esta técnica permite um controle eficiente da qualidade durante a secagem, promovendo uma secagem uniforme em toda a massa de sementes, com a mesma velocidade dos secadores convencionais, além do baixo custo com energia, estimado em torno de R$ 0,20/saco.


    Esses avanços da pesquisa possibilitam que os agricultores e produtores de sementes tenham à sua disposição a mais alta tecnologia para a produção de sementes de alta qualidade, devido à minimização dos processos de deterioração.

    Nos trabalhos com sementes de olerícolas e medicinais apresentados (12% do total), verifica-se uma busca do conhecimento mais profundo dos processos metabólicos da germinação e do vigor das sementes, além da tolerância a estresses, controle biológico de patógenos, técnicas de peliculização, recobrimento e peletização, resultando na uniformização do tamanho das sementes; além das pesquisas com tratamento de sementes com fungicidas, inseticidas e reguladores de crescimento e o manejo pré e pós-colheita.  

    Estima-se que somente o mercado de sementes de hortaliças no Brasil chegue a movimentar mais de 100 milhões de dólares, cifras que vêm aumentando cada vez mais devido à maior demanda dos consumidores por produtos mais saudáveis, mais nutritivos e com melhor aparência, o que levou, sem dúvida, a uma profissionalização deste setor que cada vez se torna mais importante no país. 

    As pesquisas envolvendo sementes de forrageiras (10%) mostraram que o segmento está buscando novas formas para melhorar a eficiência do setor e a qualidade das sementes. O que se viu nos trabalhos apresentados é que podemos visualizar, para um futuro bem próximo, sementes forrageiras com alto valor cultural; polimerizadas e recobertas; tratadas com fungicidas, inseticidas, nematicidas e hormônios de crescimentos, além de micronutrientes agregados. Todos esses avanços irão possibilitar melhorias das técnicas de semeadura, com maior precisão, proporcionando nutrição e estande adequados.


    Dentre as sementes de frutíferas, foram submetidos 58 trabalhos (6% do total), destacando-se os estudos sobre superação de dormência, envolvendo compostos fenólicos; a secagem das sementes e seu acondicionamento em embalagens impermeáveis; e o processamento das sementes com uso de mesa gravitacional junto ao separador pneumático. Todos esses estudos vêm contribuindo para aumentar a germinação das sementes e permitindo a manutenção da qualidade fisiológica.

    Outra espécie que merece destaque é a semente de café, pois, até há alguns anos, a germinação dos lotes não ultrapassava 60 a 70%. Com o passar do tempo, através da pesquisa, conseguiu-se aumentar significativamente a sua qualidade fisiológica – hoje os lotes são comercializados com germinação superior a 90%, isto em função de estudos sobre maturação e colheita, manejo pós-colheita e, principalmente, através de um armazenamento adequado.  Desta maneira, todos estes esforços contribuem para os avanços na qualidade dos lotes de sementes.

    Neste congresso verificou-se um número expressivo de trabalhos com espécies destinadas à indústria de biodiesel, como mamona, girassol, dendê, crambe e pinhão manso. Estas pesquisas têm como principal objetivo o desenvolvimento de técnicas de cultivo, melhoramento genético e tecnologia de produção (entre elas, o aprimoramento na condução de testes de vigor e germinação, beneficiamento e armazenamento de sementes). Esses conhecimentos são de fundamental importância para a produção da matéria-prima necessária para atender a indústria de biocombustível, tornando-se uma opção rentável e segura a todos. 

    Durante o 10° Simpósio Brasileiro de Patologia de Sementes discutiu-se a necessidade da inclusão de padrões sanitários nas regras para o controle de qualidade de sementes e mudas. A inclusão desses padrões beneficiará toda a cadeia produtiva, principalmente o agricultor, que poderá adquirir sementes e mudas livres das principais doenças fitossanitárias transmitidas via semente ou muda.


    Todas essas pesquisas são de fundamental importância para agregar valor às sementes das variedades e/ou cultivar e híbridos melhorados, que tantos recursos e trabalho requerem para serem desenvolvidos. A semente, sob o ponto biológico, representa a continuidade da vida, e, desta forma, merece e necessita desta ajuda para mostrar todo o seu potencial, sendo ela o veiculo onde está acondicionada toda a carga genética e as inovações tecnológicas. A semente é, portanto, o meio mais eficiente para que os avanços da pesquisa cheguem até o agricultor. 

    Ficou claro nos trabalhos apresentados durante o CBS, que as diferentes regiões do país estão muito bem representadas por pesquisadores e entidades altamente capacitados em manter o inegável dinamismo e o desejável padrão de qualidade da pesquisa brasileira com sementes. Os avanços das pesquisas com sementes tornam-se cada vez mais importantes para a evolução da vida e a continuidade do agronegócio brasileiro, onde a Qualidade é um desafio permanente a ser alcançado.

    Com tudo isso, podemos dizer que o XVI Congresso Brasileiro de Sementes foi um sucesso, tanto pelos temas abordados pelos palestrantes como pelo recorde de 981 trabalhos apresentados, o contato profissional, a oportunidade de trocar informações e experiências entre os participantes. Afinal, não é todos os dias que temos a oportunidade de ter um contato direto com o que há de mais novo em pesquisas aqui no Brasil e em todo o mundo. O que se tira de lição de um congresso dessa grandeza é a reafirmação do compromisso da indústria sementeira e da pesquisa brasileira em continuar os esforços para o desenvolvimento das melhores e mais produtivas sementes, contribuindo para o bem-estar da humanidade e mantendo os princípios do lema: Semente é Vida!  

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