Mulheres e grupos de trabalho

Edição XVIII | 05 - Set . 2014

             As mulheres têm dado mostras de capacidade profissional em quase todas as áreas e profissões. Permanecem pequenos redutos de discriminação, mas as barreiras de gênero têm sido quebradas paulatinamente e as oportunidades, quando não obrigatórias, são conquistadas por merecimento e mantidas com louvor. E desse modo, a ascensão das mulheres tem melhorado a performance da própria sociedade. É inegável, as mulheres estão com tudo.


                Foco na continuidade

               No Agronegócio não é diferente. Tenho tido a oportunidade de acompanhar a trajetória de algumas mulheres que enfrentaram a liderança de empresas do setor (naturalmente ou por imposição das circunstâncias do destino), mas o que se percebe, dentre outras características específicas do perfil feminino (já amplamente difundidas), é que os resultados positivos obtidos com suas intervenções têm obedecido à lógica da serena continuidade.

                Dito de outro modo, por estarem mais afeitas a planejamentos de diferentes ambientes, agem com o olhar ao longe e com isso desencadeiam soluções que não se esgotam na ação em si, mas criam uma área de impacto maior e mais contínua.

             Esse parece um fator realmente interessante que contrasta com algumas abordagens masculinas. A impressão é que as práticas de gestão feminina tem se alinhado mais com as estratégias de longo prazo e com a continuidade dos negócios ao invés de técnicas imediatistas ou de cunho populista. O que, em última análise, sugere a essência e o core competence dos líderes de visão. Algo cada vez mais necessário e ao mesmo tempo difícil de encontrar.


               A inteligência coletiva agradece

              Todas as empresas lutam para fazer com que seus colaboradores trabalhem em forma de equipes. Mais do que isso, buscam que se formem equipes inteligentes. Existe uma lógica nem sempre comprovada de que pessoas inteligentes são capazes de formar equipes mais inteligentes. Inclusive no agronegócio, hoje dotado de alta tecnologia, a necessidade de pessoas que façam ‘mais do que se manda’ é cada vez mais fundamental.

             Sabe-se, contudo, que nem sempre esse arranjo é verdadeiro e muitas vezes as equipes de pessoas inteligentes não alcançam resultados à altura do esperado. O futebol é um exemplo inconteste dessa manifestação contraditória. Por isso, vem se tornando ainda mais importante encontrar o arranjo e a composição mais adequada das pessoas nas empresas.

            Recentemente, um pesquisador do Massachusetts Institute of Technology – MIT (Thomas Malone), em entrevista a uma revista de circulação nacional, revelou alguns aspectos interessantes sobre suas pesquisas a respeito do tema. Embora se dedique a estudá-lo em áreas diferentes ao do agronegócio, é de se considerar a capacidade adaptativa e de replicação dos resultados. Vale a pena pensarmos de forma holística e de como isso poderia ocorrer nessa área.

           Alguns apontamentos e descobertas nos fazem pensar melhor em como organizar nossos colaboradores nas empresas. O trabalho se dedicou a analisar três aspectos, quais sejam: a percepção social (capacidade de identificar as emoções das outras pessoas de maneira correta); a igualdade de contribuição (quanto as pessoas do grupo participam das discussões – se uma ou duas pessoas dominam as conversas no grupo, a inteligência coletiva diminui); e a proporção entre homens e mulheres.

            Ainda em relação à composição, para que esses grupos que atuam em conjunto pareçam inteligentes através de seus resultados, como por exemplo, a abertura ao relacionamento (percepção social), o ponto decisivo é o tamanho ideal, que oscila entre cinco e dez participantes. Obviamente que em casos específicos, dependendo do nível de atividade coletiva e das ferramentas de colaboração utilizadas, esse número pode crescer.

            Nenhum aspecto pode ser tomado isoladamente, mas para o tema do nosso ensaio um dos pontos mais interessantes descobertos é exatamente o tamanho e a proporção entre homens e mulheres, apontando que quanto mais mulheres, maior a inteligência coletiva dos grupos.

            Visto de modo objetivo, é de se entender que esse melhor desempenho com a presença de mulheres pode dever-se à sensibilidade que elas possuem na relação com seus pares, justamente o primeiro ponto analisado. Agora, fazendo um paralelo com o que tenho observado no agronegócio, essa sensibilidade social tem colaborado também para que as mulheres, mesmo assumindo empresas em crise, obtenham resultados que, sem análise mais apropriada, possam parecer inesperados aos demais.

            Não há melhor maneira de validar conhecimento do que experimentá-lo. Nesse sentido, inserir presença feminina nas equipes de trabalho no agronegócio pode ser uma prática a ser testada objetivamente. Ainda há ranço machista em várias áreas, mas quando as relações e os resultados melhoram tudo isso cai por terra. Assim, para implantar tal filosofia ela precisa ser uma decisão top down, ou seja, de cima para baixo, o que requer do gestor entendimento da necessidade de inovação e de experimentação para avançar.


              Mais uma Mulher

            Ao mencionarmos as mulheres na gestão não podemos esquecer-nos da corrida presidencial. Por ironia, no último artigo de 2013 fiz referência ao improvável na eleição de outubro desse ano. Na ocasião, afirmava que o jogo político já estava montado e os players igualmente definidos, quando surgiu do nada uma dupla dinâmica de inimaginável aliança para enredar e talvez despolarizar o que já estava posto para ser “mais do mesmo”.

            Pois, passados mais de seis meses e a menos de três das eleições, esse feito ainda não havia sido suficiente para tirar do PT e do PSDB o protagonismo das eleições, mas eis que surge um novo ‘fato novo’: a trágica morte do candidato Eduardo Campos. Conduzindo a então candidata a vice-presidente Marina Silva ao posto de postulante principal.

            Assim, um país de origem patriarcal dá sinais evidentes dos novos tempos e da ascensão feminina na importância decisória da nação, tendo agora duas candidatas à presidente.

         Questões dessa natureza é que fazem crer que valeram a pena os anos de luta contra a ditadura e, mesmo sabendo que a democracia está longe de ser perfeita, há convicção inconteste de que é a melhor forma de governo. O Brasil parece que tem conseguido consolidar essa filosofia na história recente. Tenhamos fé, inteligência e trabalho para seguir nessa estrada.

           Até a próxima.


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