Vários de meus alunos são responsáveis técnicos pela produção de sementes e outros tantos são diretores executivos ou inclusive donos de empresas de sementes, o que muito me envaidece. Assim, quando chega a época de dias de campo, em que as empresas mostram os seus materiais para os agricultores, sou convidado a proferir palestras sobre o valor da semente, o que repito várias vezes durante o dia (em geral para grupos de 50 agricultores) com muito entusiasmo, pois falo para uma plateia bastante ansiosa por novidades e avanços tecnológicos, que provavelmente utilizará alguma coisa do que estou falando. É uma experiência gratificante. O agricultor que participa de um dia de campo é um individuo diferenciado, pois está aberto para receber informações e inferir sobre elas, ou, em outras palavras, está aberto para a adoção das inovações tecnológicas. 

    Isto colocado, ocorreu-me de publicar na SEED News um resumo desta palestra proferida aos agricultores.

    A semente é componente essencial para os agricultores, e tanto é assim que meus bisavós, quando vieram para o Brasil, trouxeram consigo sementes. Entretanto, este seu significado tem evoluído com o passar do tempo – se era importante no século XIX, é muito mais importante hoje, com todos os avanços havidos. Hoje, quando um agricultor compra semente, ele está ao mesmo tempo obtendo o material para a sua lavoura e investindo na inovação tecnológica. Os tempos são outros e felizmente bem melhores do que a época de meus bisavós.

    Há diferença entre “sementes” (grão que germina) e sementes tecnológicas (certificada), que contêm gens (genética) ou em outras palavras contêm “chips” de código genético.

    Com o avanço, desenvolvimento e modificação genética da semente cada vez maior, os produtores de sementes se profissionalizaram para atender a demanda dos agricultores. Neste sentido, os produtores de sementes estão compromissados com o negócio, geram inovação tecnológica e preparam-se para oferecer sementes com qualidade e desempenho. Tudo isso não vem de graça, possui um custo.   

    Conscientização sobre o valor da semente

    Os seguintes fatos devem ser considerados para explicar como a inovação e o desempenho das sementes aumentaram a produtividade, o lucro e a sustentabilidade do agricultor através do país:

• Pesquisas recentes têm demonstrado, em várias partes do mundo, que o melhoramento em genética e cultivares e os avanços em biotecnologia são responsáveis por mais de 50% dos ganhos em produtividade das grandes culturas nos últimos 75 anos, e, se considerarmos os últimos 15 anos, este percentual atribuído ao melhoramento sobe para mais de 70%. Há variedades de soja em que as vagens já apresentam cinco e até seis sementes (foto no texto) já apresentam cinco e até seis sementes, indicando seu potencial produtivo.

• No Brasil, desde 1970 até hoje, o melhoramento em genética, cultivares e os avanços em biotecnologia são responsáveis por mais 300% dos ganhos em produtividade das grandes culturas, sendo que no milho a produtividade passou de 1200 kg/ha a 4500 kg/ha; em soja, de 1000 kg/ha a 3300 kg/ha; e no trigo, de 800 kg/ha a 2800 kg/ha.

• Nos cinco principais cultivos (soja, milho, trigo, arroz e algodão), os aprimoramentos na genética ajudaram o agricultor a obter ganhos na produtividade superiores a meio bilhão de dólares/ano, somente no Brasil. Em relação ao consumidor, os ganhos também foram reais, pois o aumento de produtividade que o agricultor obteve com as inovações fez com que o valor de seu produto pudesse ser vendido a um menor preço, mantendo sua sustentabilidade . Os agricultores, seus líderes e dirigentes de cooperativas devem se conscientizar que a pesquisas na área de sementes são para o sucesso e segurança, tanto hoje como no futuro.

• Os avanços em tecnologia na agricultura reduziram a erosão do solo em bilhões de toneladas, assim como o uso de agroquímicos em milhões de kg, o uso de combustível em mais de bilhões de litros e emissão de CO2 em bilhões de kg. No Brasil, desde a década de 1970, devido ao uso de tecnologia que aumentou a produtividade, economizou-se 70 milhões de hectares .

"A indústria de sementes reconhece a confiança depositada pelo agricultor, pois é ele que compra a semente. Os produtores de sementes trabalham arduamente para manter a confiança do agricultor através do foco depositado na semente."

    Axiomas da indústria de sementes

    A cadeia produtiva da semente envolve várias áreas de pesquisa, que criam e desenvolvem produtos; e produtores de sementes que multiplicam em volume, dão assistência técnica antes, durante e depois da semeadura, realizam dias de campo, fazem palestras técnicas, difundem as novas cultivares, etc, o que pode ser resumido em três ações: compromisso, inovação e desempenho.

    Compromisso - Fazer o melhor todos os dias, para que o agricultor possa fazer o melhor em seu cultivo.

    Hoje, em cada lote de sementes de qualidade que o agricultor compra está obtendo um valor que vai além da semente. Os mais de 500 produtores de sementes membros da Associação Brasileira de Sementes e Mudas (ABRASEM) estão compromissados com o agricultor, no sentido de fornecer sementes de alta qualidade das novas variedades e híbridos com desempenho cada vez  maior, que ajudarão na obtenção do lucro e nas oportunidades do mercado em constante mudança.

    A indústria de sementes reconhece a confiança depositada pelo agricultor, pois é ele que compra a semente. Os produtores de sementes trabalham arduamente para manter a confiança do agricultor através do foco depositado na semente.

    Para assegurar que o agronegócio brasileiro seja forte, com mais de um quarto do PIB nacional, a indústria de sementes é:

• Comprometida com o aumento da produtividade por parte do agricultor;

• Comprometida a ajudá-lo a melhorar a qualidade e o valor de seu produto;

• Comprometida com a maior eficiência;

• Comprometida com a redução dos riscos e o aumento dos lucros.

    Inovação - A continuidade do melhoramento das sementes é condição para uma maior produtividade e sucesso do agricultor.

    O combustível da indústria de sementes é a inovação. As compras de sementes pelo agricultor financiaram a inovação que se está usufruindo hoje. A aquisição de sementes está financiando a inovação dos cinco a quinze anos seguintes, incluindo:

• Germoplasma superior, através de ferramentas como a bioinformática, marcadores moleculares, engenharia genética, mapeamento de gens e proteômica;

• Eventos transgênicos, como tolerância à seca, frio e a condições salinas, melhor assimilação de nitrogênio e alimentos mais nutritivos;

• Fitomelhoramento, para resistência a herbicidas para grandes culturas, frutas e hortaliças com maior valor de mercado;

• Produtos e processos para aumentar o desempenho das sementes;

• Processos inovadores, incluindo tecnologia de hibridação, para aumentar a produtividade, e processos para melhorar a classificação das sementes e a semeadura.

    As inovações tecnológicas não são iguais a café solúvel, em que apenas colocando água quente já podemos beber. Muitas das inovações tecnológicas envolvem identificação de gens e seu arranjo na planta, e isso requer conhecimentos, muito trabalho (mesmo com as atuais ferramentas), tempo (anos) e, inclusive, um pouco de sorte, pois trabalhar com milhares de gens de cada espécie e colocar em cada variedade o gen adequado, na quantidade certa e no arranjo certo, não é fácil, como comentado anteriormente.

     Desempenho - O agricultor merece um atendimento personalizado, onde os produtores de sementes atendem uma fazenda de cada vez.

    O objetivo da indústria de sementes é distribuir a mais alta qualidade das sementes para um desempenho superior, incluindo:

• Cultivares e híbridos com maior produtividade;

• Qualidades agronômicas e industriais superiores;

• Ambiente sustentável;

• Melhor gestão do cultivo e maior facilidade de decisão.

    Custo da pesquisa

    Em 2008, a indústria de sementes investiu mais de um bilhão de dólares em pesquisa com germoplasma, produtos e processos para aumentar o desempenho das sementes. Neste sentido, estima-se que apenas uma empresa do setor tenha gasto mais de 300 milhões de dólares para criação e desenvolvimento de cultivares e híbridos.

    A indústria de sementes não pode fazer este grande investimento sem o apoio e participação dos agricultores e seus líderes. Com o aumento da demanda por alimentos, fibra, ração e energia, o comprometimento do agricultor é essencial para atender esta demanda. Assim, os produtores de sementes necessitam de um contínuo suporte através da compra da semente para financiar novas pesquisas.

    Outro aspecto essencial no custeio da pesquisa e a viabilidade do negócio é o reconhecimento do agricultor de que a propriedade intelectual deve ser protegida, o que envolve royalties e taxas tecnológicas. Este processo assegura a continuidade dos produtos que estão na linha de produção. Resumindo, o valor vai além da semente que se compra hoje.

    A organização

    A sociedade requer um certo nível de organização para que os pleitos dos diversos segmentos sejam considerados e, se possível, atendidos. Neste sentido, no setor de sementes no Brasil, a ABRASEM engloba os produtores, obtentores, comerciantes e pesquisadores, com mais de 500 membros. Em outros países há organizações similares, como a ASTA, nos Estados Unidos, com mais de 750 membros, fundada no século XIX. Em termos mundiais, tem-se a International Seed Federation (ISF), que engloba as associações nacionais.

    A ABRASEM foi fundada em 1971 com o objetivo de aumentar a disponibilidade de sementes de alta qualidade ao agricultor, pois naquela época era ter ou não ter semente, ou seja, o problema era quantidade e, em menor importância, a qualidade. Atualmente, a missão da ABRASEM é desenvolver e promover o uso de mais e melhores sementes para uma maior produtividade e uma melhor qualidade de vida. Há uma relação direta entre qualidade de sementes e qualidade de vida.

    A ABRASEM atua em várias frentes, com foco principal em:

• Aspectos regulatórios e legislativos - Essa é uma tarefa bastante absorvente, que envolve acompanhar e remover gargalos burocráticos que impedem o uso de sementes de alta qualidade das variedades melhoradas pelo agricultor. Muitas vezes, esta atuação envolve aspectos de importação e exportação de sementes.

• Novas tecnologias e inovações - A princípio, tudo que é novo gera uma certa resistência e, caso não haja uma sincronia de ação para a devida adoção da inovação tecnológica, há riscos de transtornos. A ABRASEM tem atuado com sucesso neste sentido.

• Entendimento do valor da semente - A promoção não se dá espontaneamente, necessita de ações coordenadas.

• Articulação com todos outros setores do Sistema de Agronegócio Brasileiro.

• Difusão de tecnologia. 

    A semente, como já falamos anteriormente, é considerada como matéria-prima: sem ela não há cultivo. Assim, se entende a preocupação do agricultor em ter a sua semente antes de tudo, o que leva alguns a não comprar a semente tecnificada e orientada. Essa tradição cultural é difícil de ser vencida; entretanto, com as ferramentas hoje disponíveis, em termos de promoção, difusão e marketing, isso pode ser superado, principalmente entre os empresários rurais de sucesso e lideranças esclarecidas.

    Também gostaria de comentar que, atualmente, há grande equívoco em relação ao  o custo da semente em si, para a grande maioria das espécies. Se considerarmos sobre o custo total de instalação da lavoura, o custo de sementes situa-se entre 4 a 10%; os outros 90-96% são para fungicidas, inseticidas, fertilizantes, micronutrientes, hormônios, custo de maquinários, mão-de-obra, salários, juros, valor de capitais empregados em terra, impostos, combustíveis, etc. Assim, o bom senso recomenda que os materiais que aumentam o desempenho da semente sejam colocados em uma semente nota “DEZ “ de uma variedade ou híbrido melhorado. Comprando a semente é mais fácil e mais barato assegurar-se a alta produtividade; além disso, há o acompanhamento de um profissional altamente comprometido (que é o produtor de sementes) a fornecer o material de alta e idônea qualidade ao agricultor. Nunca se deve esquecer que é possível baixar o preço de algo baixando também a sua qualidade, e com a semente não é diferente. Aproveite a tecnologia hoje disponível e assegure-se dos melhores resultados.  

    Nestes tempos de globalização, a concorrência não está no vizinho; ela pode estar a milhares de quilômetros, em um outro país, sendo necessário que o agricultor seja eficiente e use as inovações tecnológicas para produzir melhor, quer sejam comodities ou materiais com valor agregado, como soja rica em ácido oleico e/ou em Ômega 3. Certamente, esses materiais terão um preço superior e estarão disponíveis, através dos produtores de sementes, aos agricultores que usam inovação tecnológica.

    Finalizando, gostaria de comentar que com a lei de proteção de cultivares, há muitas variedades disponíveis no mercado, cada uma posicionada para uma determinada situação de solo, clima, precocidade, doenças e densidade de semeadura, entre outros aspectos, fazendo com que o agricultor necessite de assistência técnica, o que o produtor de sementes se profissionalizou para realizar.

    Agricultor, acompanhe a evolução do agronegócio e utilize o melhor em sua fazenda, para manter-se e evoluir em sua nobre atividade.

    Resumo – Ao comprar a semente, o agricultor está comprando a semente esta obtendo muito mais do que o simples material de propagação está obtendo o valor hoje e a inovação para amanhã. O produtor de sementes, para disponibilizar materiais superiores em quantidade e qualidade, estão compromissados com o sistema, investem em pesquisa e se profissionalizam para aumentar o seu desempenho e do agricultor. Assim, o termo investindo “além da semente”, utilizado no título desde trabalho, é adequado para representar a situação do negócio semente na atualidade, propiciando um equilíbrio entre os atores do agronegócio. 

    O autor agradece à ABRASEM e à ASTA pelo material disponibilizado