Para encerrar o Ano

Edição XVI | 06 - Nov . 2012

    Ainda são meados de outubro quando escrevo este artigo, mas a impressão é de que o ano já acabou. Não há mais tempo suficiente para grandes mudanças de planos, somente algumas pequenas variações nas ações aqui e outras ali. Com a prática de fatiar nosso tempo já devemos ter o ano que vem na agenda e planilhado. A propósito, como o agronegócio não obedece ao ano civil, pelo menos não as culturas e criações, 2013 já começou no campo há algum tempo.

    Comentar em retrospectiva sempre é mais simples, mas de certo modo, salvo questões pontuais, acrescenta pouco na visão prospectiva de médio e curto prazos. Por isso não pretendo ser enfadonho nesse meu texto de encerramento do ano e escolhi três temas para discutir, ao invés de um, de forma leve, sem compromisso de atenção redobrada ou rigor de prêmio Nobel. Apenas raciocínio lógico, importante para a reflexão.

    Foi um ano ótimo

    Há alguns dias, me surpreendi ao assistir a entrevista de um líder do agronegócio. Quando questionado sobre o ambiente econômico na agricultura e um resumo sobre a safra passada, respondeu que estava muito satisfeito. Havia sido um ano ótimo, de boa colheita, bons preços, muito acima da média histórica, e de custos razoavelmente equilibrados. Sem grandes sobressaltos, o que poderia servir de estímulo para o novo período que se iniciava. Fora um ano propício para recuperar momentos adversos enfrentados num período recente, gerando crescimento no setor como um todo.

    A surpresa está exatamente no fato de alguém do setor reconhecer em público um ano de bons negócios. Ocorre que, ao contrário dos políticos, que não têm pudor e sempre reconhecem como grandes os seus feitos, seja nas suas gestões à frente do executivo ou mesmo aqueles que apenas atuam como despachantes de luxo nos ambientes legislativos, os agricultores, fazendo muito e produzindo bem, parece nunca estarem satisfeitos.

    De um modo geral, os protagonistas do agronegócio da produção são pessimistas nas declarações, mas otimistas nas ações. Basta observarmos os investimentos em curso após um período positivo e tendo pela frente mais dois anos (me arrisco a dizer isso) de cenário animador. São notados investimentos em máquinas, ampliação de áreas, recuperação de estruturas físicas, contratação de pessoal qualificado, dentre outros sinais evidentes de pujança renascida.

    Sempre fui um crítico de alguns posicionamentos de boa parte dos líderes do setor, dado que, com raras e honrosas exceções, mesmo em anos sabidamente de bons resultados, se apresentam como cavaleiros do apocalipse, com visões pessimistas dos cenários e cheios de ‘senãos’. 

    Em síntese, na contramão do que se espera dos líderes, poucas vezes se apresentam satisfeitos, o que de certo modo influencia, inclusive, na própria credibilidade de suas declarações. Muitos preferem extrair suas próprias conclusões ao invés de ouvir quem tem por hábito se lamuriar. Está na hora de mudar definitivamente a estratégia, emprestando visão positiva, acabando de uma vez por todas com o ranço de sofredor. É o que se espera dos empresários de um modo geral.


    Curva de Resposta

    Essa visão positiva a que me refiro não tem nada a ver com o desleixo gerencial ou estratégico. Pelo contrário, com um cenário positivo pela frente e um histórico recente de boa memória, também é fácil tomar decisões equivocadas.

    Tem-se percebido ao longo dos anos que o agronegócio vai bem, mas muitos produtores vão mal, ou tornam-se reféns do sistema, sempre a reboque do restante da cadeia. Nos anos de arroubos lucrativos é perceptível que as extravagâncias também são frequentes. Pensar estrategicamente é entender que estes são os momentos de criar musculatura para os anos problemáticos, e neles crescer. Não o contrário. 

    Percebe-se que muitos produtores empreendem exatamente nos anos em que todos também estão dispostos a investir e sabe-se que a lei da oferta e da demanda é implacável. Nestes momentos o custo do investimento tem-se demonstrado relativamente elevado.

    Desse modo, como a gangorra é inexorável, estes, ao entrarem tardiamente na curva de resposta da economia, quando ambicionam os retornos sobre os investimentos realizados, as margens já são menores que o esperado e por isso acabam em sérios apuros, normalmente financeiros e alguns até econômicos. 

    O adágio popular afirma que nas crises é que surgem as oportunidades. Contudo, é oportuno observar que elas apenas passam a existir à medida que há capacidade para aproveitá-las. Do ponto de vista financeiro, é necessário que haja rigor e estratégia de capitalização para que as situações favoráveis realmente se transformem em ocasiões de ganho. É bom lembrar que há somente duas maneiras de aproveitá-las: chegar antes dos demais ou esperar o fluxo reduzir para então aproveitar a criação de valor.

    Dois aspectos são fundamentais, não podem ser esquecidos e devem ser considerados tanto em períodos de dificuldade como nestes, de cenário mais promissor: (i) o agronegócio é um setor cíclico, alternando momentos estimulantes e momentos de dificuldade e; (ii) não há produtor que possa se dar ao luxo de abandonar o uso de indicadores ortodoxos de gestão, inebriando-se com a lucratividade ao sabor do vento, originando um verdadeiro efeito manada.

    Parece simples e óbvio, mas olhe na sua volta e observe quantos levam realmente em consideração estas duas regras de ouro da gestão no agronegócio. Se preencher os dedos das duas mãos, posso garantir que você está em boa companhia.


    Líder familiar em oitavo lugar

    Uma das principais questões debatidas ultimamente no agronegócio tem sido a sucessão familiar nas empresas e nos negócios. Os empresários estão cada vez mais preocupados, e legitimamente, com o planejamento de longo prazo da empresa e como a família se manterá nos negócios muitas vezes criados por ele ou seus pais.

    Fazendo um paralelo e dado à importância que o assunto merece, me chamou a atenção uma pesquisa recente, publicada numa revista de circulação nacional, especializada em management, sobre os sonhos dos jovens em 2012, principalmente sobre os líderes mundiais mais admirados na América Latina. 

    Para entender o relatório da pesquisa, segundo a revista, reflete a 11ª edição de um estudo com 67 mil jovens universitários e recém-formados no Brasil, Argentina, México, Colômbia, Chile, Peru e América Central, tendo como propósitos identificar os líderes e as empresas dos sonhos dos jovens, nestes países.

    Dentre várias conclusões do estudo, ficou evidente que os jovens não se espelham mais em alguém especificamente como líder. Buscam reunir as qualidades de diferentes pessoas, construindo um modelo próprio, congregando o que há de melhor em cada um desses indivíduos, o que é perfeitamente compreensível dado o nível informacional, de crítica e exigência, que a sociedade, e especificamente esta faixa etária, possui.

    Dentre outros aspectos me fez também refletir sobre como seria esse comportamento dos jovens no agronegócio ou como poderíamos melhorar a visão a respeito dos líderes do setor. Contudo, o que realmente me chamou a atenção foi a importância, ou colocação, que nossos jovens deram para os pais/mães como líderes admirados.

    Não que seja preocupante ou mesmo conclusivo, mas enquanto nos demais países estes membros da família ocupam a segunda e terceira posições preferencialmente (apenas no México estão em quarto lugar), no Brasil, os pais/mães estão na oitava posição como líderes mais admirados. Atrás de Eike Batista, Steve Jobs, Barack Obama, Lula, Dilma Rousseff, Roberto Justus ou mesmo de um superior (gestor/ex-gestor).

    Isso pode nos dar mostras de quanto ainda temos dificuldades no país em tratar dos aspectos de relacionamento e retidão familiar, formadora do caráter e norteadora das práticas individuais na sociedade. Torna-se ainda mais relevante à medida que o público pesquisado se refere a um perfil que, a priori, não tem problemas basilares de necessidades essenciais de sobrevivência ou mantença.

    Outro aspecto relevante que ficou evidenciado é a importância que os jovens atribuem ao empreendedorismo. Quando os jovens se referem à empresa dos sonhos, se a própria empresa ainda em projeto fizesse parte da lista, ela ocuparia a quarta posição, concorrendo, dentre outras, com Petrobras, Google, Vale, Itaú-Unibanco, Nestlé e Unilever.

    Diante estas questões, creio que uma pesquisa do gênero no ambiente do agronegócio viria em boa hora e poderia desnudar alguns aspectos ainda obscuros da psicologia e da economia comportamental dos jovens, que tem este setor no seu DNA. 

    Poderia inclusive colaborar na árdua tarefa de identificar particularidades e estabelecer juízo de valor dos possíveis sucessores em relação à capacidade das suas empresas no agronegócio oferecerem qualidade de vida e ao mesmo tempo desenvolvimento profissional, dois aspectos fundamentais para os jovens dessa geração.

    Com esperança, até 2013.  

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