A secagem tem a finalidade de reduzir o conteúdo de umidade das sementes a um nível adequado, para que sejam executadas as operações de pós colheita, e manter o produto em armazenamento seguro até sua comercialização e semeadura.
A redução da umidade faz diminuir a água disponível, alterando o metabolismo, retardando todas as reações bioquímicas que diminuem a qualidade fisiológica das sementes, proporcionando assim uma armazenagem segura e prolongada.
A velocidade de secagem é de fundamental importância quando se consideram tempo e deterioração da semente.
A secagem natural, ainda na lavoura, não permite obter um produto de qualidade em quantidade devido à desuniformidade da maturação das sementes, dentro da planta e entre plantas, além das condições climáticas adversas.
Desta maneira, a secagem com ar forçado é uma operação essencial para se obter um produto de alta qualidade, e para tal são utilizados secadores com desenhos modernos, que conservam as características do produto e com bom aproveitamento energético.
O processo de secagem envolve transferência de calor e massa entre o produto e o ar secante, de modo que o ar e o produto fiquem em equilíbrio térmico e higroscópico. A água do produto é removida na forma de vapor e é absorvida pelo ar circundante. Portanto, o produto tem que estar envolto por uma massa de ar seco capaz de absorver a água removida das sementes.
A secagem ideal
Logo após a maturidade fisiológica, a semente, ainda unida à planta-mãe, inicia o processo de perda de água ou secagem natural. Esse processo ocorre na natureza para que as sementes sejam dispersas mais facilmente por seus vetores como pássaros ou os ventos, e para que mantenham sua viabilidade até encontrar um local ideal para se propagar.
Nas espécies cultivadas para fins comerciais, entre o ponto de maturidade fisiológica e o momento da colheita, o teor de água dessa semente deverá ser o suficiente para garantir a qualidade do produto e ser de fácil colheita mecânica.
Neste sentido, é fundamental o conhecimento dos conceitos de teor de água (ou grau de umidade) antes mesmo de se conhecerem os conceitos de secagem.
A água é classificada em quatro tipos, conforme se fixa nas sementes. O primeiro tipo, ou água monomolecular, possui teor entre 0 e 5%, sendo fortemente absorvida e ligada intimamente às moléculas, através das Forças de Van der Waals.
O segundo tipo, ou água polimolecular, está entre 5 a 12% de umidade e também é fortemente absorvida, sendo não solvente, mas já não está ligada diretamente às moléculas e sim às cadeias moleculares.
A água do tipo três, ou osmótica, tem sua ligação baseada pela tensão osmótica da célula, possui a função de solvente e é uma água fracamente absorvida, tendo seu teor entre 12 a 27% de água.
O quarto tipo de água contida nas sementes é denominado de água livre, sendo uma água adsorvida e solvente com mais de 27%.
A água livre é a primeira a ser retirada pela secagem e a que é a mais rápida de ser retirada. A água do tipo três, osmótica, será retirada com mais dificuldade, e geralmente é o teor de água que mantém a qualidade das sementes.
Nesta etapa da retirada da água das sementes o produtor deverá concentrar muita atenção, identificando e selecionando métodos e processos de secagem, que não acarretem no comprometimento de seu produto.
Para ocorrer a secagem, é necessário que haja um gradiente de pressão de vapor de água entre a semente (maior) e o ar que a rodeia (menor). Isto é obtido reduzindo a unidade relativa do ar (UR) de secagem, pelo aquecimento ou pela desumidificação. O ar de secagem também deve ter um fluxo tal que permita o transporte de calor (baixa UR) e água. Neste processo ocorre a transferência de energia do ar para evaporar a umidade superficial da semente, sendo esta transferência dependente da temperatura, da umidade (UR), da vazão de ar e da área superficial da semente a ser seca.
Os processos de evaporação e migração, que ocorrem simultânea e continuamente, de início retiram a umidade da superfície por evaporação e, devido à diferença de potencial, a umidade no centro da semente migra para a periferia, sendo novamente retirada pela evaporação, seguindo o ciclo. Portanto, o gradiente de concentração da água interna para a superfície da semente garante a difusão e redistribuição da mesma.
A evaporação ocorre devido ao gradiente de pressão parcial de vapor de água entre a superfície e o ar de secagem. Já a migração ocorre pela movimentação hidrodinâmica sob a ação da pressão total interna e/ou um processo de difusão resultante de gradientes internos hídrico e térmico entre essas duas regiões.
Assim, a velocidade de secagem é função da rapidez com que ocorre a evaporação da água da superfície da semente, que depende da UR, e da temperatura do ar de secagem e da velocidade de transferência da umidade interna até a superfície, que depende da permeabilidade das membranas da semente, sendo uma característica própria de cada espécie.
A taxa de secagem é o quociente entre a quantidade de massa de água retirada sobre o tempo para que isto ocorra. Ela depende da umidade inicial do produto, da capacidade e da quantidade de ar de secagem, do método de secagem (se for artificial), do tipo de secador, das características do produto, da quantidade e da profundidade da massa de produto que o ar deverá atravessar.
A taxa de secagem, referida também como velocidade de secagem, é de fundamental importância para que não ocorra a deterioração das sementes pela demora de secagem. No entanto, esta velocidade deve ser tal que não crie tensões excessivas que fissurariam as sementes, por gradiente de umidade ou térmico.
Métodos de secagem artificial
A secagem pode ser natural ou artificial, entretanto neste artigo será abordada a secagem artificial.
Secador estacionário fundo plano
A secagem artificial utiliza ar foçado, que na maioria das vezes é aquecido, mas também há a possibilidade de se realizar secagem com ar ambiente ou com ar frio desumidificado. Se for utilizado o ar ambiente, este deve ser escolhido quando sua UR estiver igual ou menor a 70%. Apesar de não ser utilizada nenhuma fonte de aquecimento, neste caso, deve-se considerar um possível aumento da temperatura do ar ao passar pelo ventilador, que pode ocorrer devido ao processo adiabático de compressão do ar ou pela condução de calor gerado pelo motor do ventilador, que se transfere através do eixo e da carcaça. A energia que entra pelo eixo do motor é acrescida ao sistema e, como consequência, no ventilador, fazendo com que o volume do ar diminua e aumente a pressão e a temperatura.
Na secagem artificial há vários sistemas de secagem, como: secagem contínua, intermitente e estacionária.
Secagem estacionária
Caracteriza-se pela passagem forçada do ar em fluxo axial ou radial através da camada de sementes que permanecem paradas no compartimento de secagem. O ar utilizado pode ser aquecido (desumidificado) ou não. Consiste em submeter uma massa de sementes estática à passagem de um fluxo de ar forçado, constantemente até o final do processo. O fluxo de ar tem as funções de criar as condições para haver a evaporação da água contida nas sementes, pelo transporte do calor (ou UR) conduzido até as sementes e, também, pelo transporte da umidade removida das sementes para fora do secador. Então, o fluxo de ar, ao transportar calor (ou UR) e água que migrou do interior para a superfície das sementes, permite que mais água continue evaporando.
A secagem estacionária ou de leito fixo pode ser realizada em silos com fundo de chapa perfurada (plenum) por onde insufla-se ar, sendo o único sistema em que o ar pode ser aquecido ou não. Outra disposição é insuflar o ar através de um duto central, e o ar de secagem atravessar a massa radialmente.
Secador estacionário radial
A secagem estacionária é caracterizada por ocorrer em camadas sucessivas, chamada de frente de secagem, pois as sementes que se encontram próximas à saída do ar são as primeiras a secar. Quando a primeira camada atinge o equilíbrio higroscópico com o ar de secagem, a segunda camada começa a secar. Enquanto isso, a terceira camada permanece úmida por estar adiante da frente de secagem, podendo haver risco de aumentar seu teor de água, devido à condensação do ar úmido trazido das camadas inferiores ou interiores. No caso de secadores de distribuição radial, a frente de secagem começa próxima ao duto de distribuição central de ar.
O gradiente do teor de água entre camadas de sementes, com diferentes distâncias do ponto de entrada do ar no secador, depende da temperatura, da umidade relativa, do fluxo do ar, do teor de água, da espessura da camada de sementes e da transferência de água das sementes para o ar de secagem. Este processo só se estabiliza quando há equilíbrio higroscópico entre o ar e as sementes.
A secagem estacionária despende um longo período de tempo, o suficiente para o ar entrar em contato com as sementes, e não pode se utilizar grandes temperaturas devido à isotermia entre o ar e as sementes. Outro aspecto é que, com UR do ar de secagem inferior a 40%, pode haver sobresecagem devido ao equilíbrio higroscópico entre a semente e o ar de secagem, em que as sementes atingiriam uma umidade inferior a 10%, tornando-se altamente susceptíveis ao dano mecânico.
Secagem contínua
A secagem contínua, como o próprio nome sugere, é quando o produto possui uma entrada contínua no secador, no entanto seu contato com o fluxo de ar pode ser constante ou não. O ar poderá ser uma mistura de ar ambiente e aquecido, dependendo das condições psicrométricas do ar ambiente.
Secador contínuo
Detalhes dos fluxos de ar e de sementes na câmara de secagem
Os secadores contínuos, geralmente, são com fluxos de ar mistos, podendo estes possuir ou não reaproveitamento de ar. Este reaproveitamento recircula o ar proveniente da câmara de secagem onde as sementes estão mais secas. Esse ar, portanto, possui pouca alteração de sua razão de mistura e, consequentemente, ainda está com muita capacidade de carregar umidade. Desta forma, é misturado ao ar proveniente da fornalha (fonte de calor ou desumidificador), diminuindo ainda mais a razão de mistura e gerando mais eficiência ao secador.
Esse secador geralmente possui uma tulha de produto ou local anterior a câmara de secagem, podendo possuir ou não uma câmara de resfriamento ou equalização, fornalha (desumidificador), sistema de ventilação e descarga.
O contato entre produto e ar ocorre na câmara de secagem. Há modelos de equipamentos que possuem mais de uma câmara de secagem, sendo estas intercaladas por câmaras de equalização. Quando essa câmara é a última da coluna do secador, é chamada de câmara de resfriamento.
Os secadores devem ter design e projeto dimensionados para secar o produto e não causar choque térmico ou dano mecânico às sementes. Devido a isso, o estudo da localização das câmaras é fundamental.
Secagem intermitente
A secagem intermitente consiste no emprego de câmaras de secagem, onde as sementes, por curtos períodos, ficam em contato com o ar de secagem e câmaras de equalização, onde as sementes, por prolongados períodos, permanecem sem contato com o ar de secagem, permitindo que a água mais interna da semente migre para a sua superfície, predominantemente por difusão, facilitando o processo de secagem. É um sistema bastante recomendado para secar sementes.
As relações câmara de secagem/câmara de equalização, chamadas de relação de intermitência dos secadores, podem ser 1:6; 1:9; 1:13 ou outra (significa um período de secagem para x períodos de equalização).
Neste sistema são utilizados secadores nos quais as sementes fluem continuamente e a secagem se faz em mais de uma passagem. O elevador das sementes é parte do processo.
A temperatura do ar de secagem para secadores intermitentes não é tão crítica como para secadores contínuos ou estacionários, sendo mais eficientes em relação à qualidade do produto X tempo. Possui taxas de secagem para soja de 0,8 a 1,1 p.p por hora e para arroz de 1,4 a 1,8 p.p por hora. Isso é devido a seu princípio, que tem como base a intermitência, que faz com que o produto não esteja em contato constante com o fluxo de ar forçado aquecido (desumidificado), mas somente em determinados intervalos de tempo. Esse intervalo ou tempo de residência do produto é o condicionante chamado de taxa de intermitência e a capacidade operacional do secador. Assim, o produto fica parte do tempo na câmara de secagem e parte na câmara de equalização.
O princípio da intermitência se baseia no tempo de migração da água do centro da semente para sua periferia, o que torna a retirada da água um processo mais eficiente e com a necessidade de menor tempo de exposição a altas temperaturas. Com isso, esse sistema possui uma alta velocidade de secagem.
O secador intermitente possui uma câmara de secagem, outra de equalização, sistema de ventilação e descarga, sendo obrigatório ter um elevador para realizar a intermitência.
Secador intermitente -Vista frontal
A temperatura de secagem depende do tempo de permanência do produto na câmara de secagem. Para pequenos períodos de exposição das sementes ao ar de secagem, temperaturas do ar de entrada na câmara de secagem entre 60 e 80oC para sementes são aceitáveis. O importante é medir a temperatura da massa de sementes, que não deve ultrapassar 43oC no final da secagem. A temperatura do ar pode variar dependendo da localização do termômetro no secador, mas a medida da temperatura da massa de sementes é a referência mais correta para ser utilizada.
Fluxo de ar e de sementes
Os secadores podem ser diferenciados quanto ao fluxo de ar e de sementes no seu interior.
Um secador é chamado de fluxo cruzado quando a entrada de ar é perpendicular à entrada das sementes; contracorrente quando o ar está em uma direção e as sementes escoam na direção oposta e concorrente quando ambos estão na mesma direção. Ainda pode ocorrer o fluxo misto, quando mais de um dos fluxos anteriores ocorrer no mesmo secador.
A secagem intermitente ou em secador contínuo lento proporciona um tempo suficiente para migração da umidade das camadas mais internas para as externas, sem haver comprometimento da qualidade, apresentando uma alta velocidade de secagem.
Tipos de fluxo de ar
Design