A estratégia da liderança

Edição XVIII | 01 - Jan . 2014

    A expressão “Para o alto e avante!” (ou Up, Up and Away!, no original em inglês), cunhada pela saga em quadrinhos do Superman, nos remete aos desejos ilimitados que os empreendedores possuem, e emprestam às empresas que fundam ou gerenciam, como uma filosofia fundamental capaz de diferenciar estes dos demais profissionais e empresários.

    O agronegócio está cheio deles. Em todas as áreas e níveis, felizmente eles se proliferam e, direta ou indiretamente, dão o tom do desenvolvimento do próprio país. Nesse sentido, é importante lembrar que alguns emprestam suas características de inovação, próprios dos empreendedores, para desenvolver seus negócios e suas empresas. Outros, além disso, são capazes de contribuir decisivamente para o desenvolvimento de um estado e também dar uma dinâmica distinta para um produto ou mesmo para o setor como um todo.


    Um alvo móvel

    Conta a lenda que, quando a Toyota decidiu chamar seus fornecedores (a maioria não eram exclusivos) e incluí-los em dois programas de qualificação contínua dentro da montadora e em suas próprias empresas, tornando-os cientes e partícipes dos planos e segredos de produção, o presidente foi questionado se não tinha receio de que seus concorrentes pudessem copiar os avanços da empresa; ele teria respondido: somos um alvo móvel. Quando eles nos copiarem já estaremos noutro lugar, mais adiante.

    O preâmbulo e a história do ícone da nova indústria automotiva provavelmente possam servir de metáfora para o caso de sucesso da Girassol Agrícola, sediada em Rondonópolis/MT, e para Gilberto Goellner, empresário que capitaneia as empresas do grupo que acabou de completar 30 anos de perseverante existência. Não é exagero dizer que, por via de consequência, também diz muito sobre o agronegócio de Mato Grosso e seu modelo, que igualmente foi servindo de benchmark para outros estados e países.

    O aspecto central que fez do estado um modelo de competitividade, mesmo com toda a sorte de dificuldades tecnológicas, além das logísticas (no sentido amplo), que se mantêm até hoje, está na capacidade inovativa e quase ilimitada de criar solução para os problemas, centrada no desenvolvimento tecnológico, na cooperação e nas alianças estratégicas. 

    Isso não deve e nem pode ser negligenciado. Sob o risco de que as estratégias de desenvolvimento retomem, entre os players, apenas o foco da competição, ao invés da coopetição, algo em que o estado de Mato Grosso foi pródigo e exímio executor, até então.


    O exercício das alianças estratégicas

    As estratégias dos arranjos empresariais que culminaram com as inovações tecnológicas capazes de consolidar o Mato Grosso como um dos mais importantes atores do agronegócio nacional e destacado benchmark internacional, tem muito da Sementes Girassol. Principalmente, em função do desprendimento individual do seu fundador em favor da coletividade do setor, sempre com foco no aspecto cooperativo e colaborativo a serviço da busca de soluções tecnológicas e, mais tarde, políticas, de interesse do agronegócio.

    As iniciativas de pesquisa aplicada e o fornecimento de suporte tecnológico estruturado em rede têm poucos paralelos na história de desenvolvimento do Brasil e do mundo. Esse tecido empresarial dinâmico apresenta como exemplos mais destacados a integração de interesses sustentada pelos casos da Associação de Produtores de Sementes de Mato Grosso (Aprosmat), Fundação Mato Grosso, Unisoja, TMG Melhoramento e Genética, Aprosoja, mais recentemente a Associação Brasileira dos Produtores de Sementes de Soja do Brasil (ABRASS), além de inúmeros arranjos menores entre produtores, constituindo pools de comercialização, grupos de produtores e empresas de finalidade específica, como o Grupo Garça Branca, para ficar num caso apenas, dentre muitos que poderiam ser citados. 

    Tudo foi naturalmente se agregando e se integrando como um grande organismo interorganizacional sustentado por atividades pujantes e agricultores empreendedores com confiança no futuro. Fazendo inconscientemente, talvez por necessidade, o “alvo móvel” se consolidou como uma marca indelével e inconteste do agronegócio mato-grossense, se reinventando e fazendo o seu caminho.


    Como serão os próximos 30 anos?

   Contudo, a dinamicidade competitiva e a fluidez do capital fez chegar novos e grandes desafios. Como serão os próximos 30 anos? Há que se perguntar se o modelo que sustentou o desenvolvimento e os diferenciais competitivos não estão dando sinais de esgotamento? 

    Ou ainda, há espaço para novidades e inovações disruptivas, como as que levaram o Mato Grosso a se tornar o maior produtor de soja do país em apenas 30 anos? Superando desafios impensados?

    Feitos como o de tornar um país, antes importador de algodão, sem qualquer tradição (a não ser o de produção familiar e artesanal no nordeste e centro-sul) um dos cinco maiores produtores de algodão do mundo, a partir de um estado apenas, são passíveis de replicação noutras atividades?

    Tenho como certo de que os empresários agrícolas e os demais players do setor, que sustentam os arranjos dos complexos agroindustriais, devem ter como evidente que os motivos do sucesso até o momento não se prendem apenas a casos fortuitos de diferenciais comparativos, principalmente em função de clima e solo.

    A garantia do diferencial começa e se sustenta na capacidade de articulação e na inteligência estratégica para manter o estado na vanguarda da inovação, tendo o agronegócio como promotor. Reconhecer a relevância dessa postura e não deixar esse papel apenas na mão das organizações públicas parece decisivo e tem sido um sinal alvissareiro que o setor vem emitindo. 


    Obrigado e que venham os próximos 30 anos! Até a próxima.

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