A gestão e o efeito halo

Edição XX | 05 - Set . 2016

    O artigo da vez aborda um assunto diverso e não específico do agronegócio, mas transversal, já que diz respeito a todos os profissionais e empresas. É algo comum, a ser observado no nosso modo de agir e se posicionar, para o qual nem sempre damos a devida atenção ou mesmo duvidamos da sua existência.

    A propósito, sempre creio que a informação deve ter potencial prático, de utilidade, e o conhecimento deve estar ligado a alguma ação, pelo menos, para que contribuam na eficiência, na eficácia ou na inovação do ser humano. E, por conseguinte, na competitividade das organizações.

    Faço esse preâmbulo, sobretudo, para atentarmos de que a informação e o conhecimento que temos sobre a ralação das pessoas na sociedade (inclusive as pertencentes ao agronegócio), do que valorizam e requerem, dentre outras características, não vão definir quem você é, mas pelo contrário, poderão e deverão ajudá-lo a se posicionar melhor, se adaptar mais rapidamente (sempre dentro daquilo que as possibilidades de cada um permitirem).


Controverso, mas relevante

    Um desses aspectos do nosso comportamento social e que influencia a nossa existência, podendo até ditar nossos níveis de sucesso, em alguns casos, é o controverso (e muitas vezes ignorado) efeito halo, que, ao se dar a devida atenção, pode ser percebido com relativa facilidade.

    O efeito halo não é um aspecto fortuito da sociedade e seus entes. É utilizado profissionalmente em várias áreas e de modos diferentes, mas tem aplicabilidade prática ou mesmo ocorre subliminarmente tanto nas áreas de recursos humanos como do marketing, principalmente.

    Para que se possa compreender melhor a envergadura da sua importância, vamos exemplificar, antes de teorizar. Uma pesquisa realizada pela CarreerBuilder, em 2013, com dois mil recrutadores e profissionais da área de recursos humanos, apontou que 22% deles escolheriam, por exemplo, aquele candidato que estivesse mais bem vestido.

    Alguém mais afoito já vai dizer: mas, e a capacidade técnica? Não conta? Sim, claro que é importante e provavelmente ninguém seja tão ruim nessa disputa para somente a roupa ser o suficiente. Todos chegaram lá por terem alguns atributos, mas, infelizmente, é o efeito halo se manifestando.

    Resumindo, é, quando criada uma primeira impressão global sobre uma pessoa ou um produto, temos a tendência para captar as características que vão confirmar essa mesma impressão. Ou seja, num sujeito bem vestido tendemos a valorizar e potencializar as suas qualidades e competências, mais que seus defeitos.


Você precisa saber que ele existe e ponto

    Isso é particularmente curioso, mas não chega a ser um espanto. A origem está na primeira guerra mundial, quando o psicólogo americano Edward Thorndikeé conduziu uma série de pesquisas sobre como os comandantes analisavam seus subordinados. Descobriu um viés muito interessante. E olha que estamos falando de sobrevivência literal, imediata, o que permite apontar a hipótese de que não seja intencional. Ele apenas ocorre e interfere nas nossas decisões. Talvez de modo insciente até.

    Na pesquisa, descobriu que havia uma forte correlação entre a avaliação das aptidões dos soldados e sua aparência física, ao que, mais tarde chamou de efeito halo. De modo prático, ocorre quando um item interfere no julgamento sobre outros fatores, contaminando o resultado geral. Algo como se o soldado mais bonito ou mais forte atirasse melhor do que os outros. No nosso caso, como se a aparência no vestir garantisse as competências necessárias para a determinada função.

    Ainda sobre a pesquisa da CarreerBuilder, 21% dos recrutadores escolheriam aquele que tivesse mais em comum com eles mesmos, revelando a importância que a empatia possui, reunindo ainda outros diferenciais como humor e aparência, também já endossado por várias pesquisas sobre o assunto. Ademais, a forma física também é um aspecto que apareceu e faria diferença, fato cada dia mais relevante em tempos de vida saudável.

    Contudo, o que deve ficar claro é que nenhum desses aspectos, obviamente, pode servir de justificativa para discriminação, ou para a patente definição de que pessoas menos atraentes, fora do peso, baixinhas ou qualquer outra característica não relacionada à sua atividade, seja motivo de definição de competência ou capacidade. 

    Do ponto de vista dos gestores, elas sempre precisam ser confirmadas (os testes sérios de seleção estão aí para comprovar isso). Mas precisamos deixar a hipocrisia de lado e saber que há outros fatores, normalmente prévios (comprovados pelo efeito halo), que contribuem e interferem nas nossas escolhas.

    É algo que, de certo modo, confirma o conhecido “a primeira impressão é que fica”. No marketing, por exemplo, esta técnica é utilizada como uma estratégia para melhorar a imagem de diversos produtos e posicionar determinada marca. 

    Ou alguém dos leitores(as) nunca comprou algo somente porque a embalagem era atraente, satisfazendo determinado julgamento prévio, sem que tivéssemos experimentado a qualidade efetiva do produto?


Os bonitos, altos e magros ganham mais

    Agora sim o caldo vai engrossar. Só pode ser sacanagem, né? Mas não é? Logo, antes de tudo, preciso dizer que não tenho a mínima intenção de afirmar que aqueles com características opostas não possam ganhar tão bem ou até melhor que esses aí do subtítulo. 

    Mas vale a pena analisar os resultados inquietantes apontados por uma pesquisa do FED (Federal Reserve, Banco Central dos EUA), há uns 10 anos aproximadamente, afirmando exatamente que os bonitos, altos e magros ganham salário maior. De pronto, é importante observar quais são os padrões desses atributos considerados, até porque eles vão mudando ao longo do tempo.

    Segundo a pesquisa, as pessoas mais bonitas ganham mais que aquelas com aparência mediana, e ser magro e alto também ajuda a aumentar o salário, mas não explica porque isso ocorre. Poderia ter outros motivos, como orgulho, autoconfiança ou melhor interação social, por exemplo. Oriundo dessas características apontadas anteriormente.

    É óbvio que não podemos concluir que essa teoria fatalista deva ser levada ao pé da letra, mas é inquietante, principalmente em época de conceitos e comportamentos politicamente corretos. A pesquisa concluiu também que os diretores-executivos participantes do estudo são 7,5 centímetros mais altos que a média, mas foi indelicada e objetiva ao apontar que as mulheres acima do peso ganham 17% menos que aquelas com peso normal.


E tem mais
    E ainda nem falei da importância da teoria dos traços, que teve interpretação relevante até a década de 1940, e partir daí praticamente foi abandonada pelos psicólogos, mas continua fazendo suas vítimas, justamente pela possível correlação com o efeito halo.
    Segundo ela, de forma rasa, é possível concluir que teremos sucesso a partir de determinadas características que possuímos. É outra teoria de cunho fatalista na origem. Como se já nascêssemos com os traços capazes de ditar nosso sucesso, sem considerar a opção de que o desenvolvimento pessoal pudesse suplantar determinadas deficiências que eventualmente possuímos, estando fora daquele padrão requerido atualmente.
    Sabemos que, isoladamente, é totalmente equivocado. Mas também é notório que o ser humano faz suas associações e julgamentos, mesmo que não os torne públicos e evidentes. Logo, a teoria não pode ser ignorada e deve ser tratada como componente importante e complementar, mas nunca principal.
    Assim, se eu sei que no exercício da liderança a boa comunicação (como um traço) é importante, obviamente devo considerar que, caso eu não a possua, não deixarei de ser um líder, mas preciso entender que esse traço me falta, é necessário me qualificar e melhorar nesse item para tornar-me um líder de alto nível. Simples assim.
    Também vale para o pessoal da saúde e que fuma, por exemplo. Nenhum médico ou nutricionista será menos competente por causa disso, mas não adianta fazer cara de paisagem, porque as pessoas terão um viés que certamente será levado em consideração em algum momento. Se tivermos dois, um que fuma e outro que não, provavelmente o segundo levará vantagem sobre o primeiro, pelo simples fato de que esteja mais próximo do padrão esperado para um profissional da sua área.
    Para resumir, se sabemos que todos esses fatores são utilizados (desde o efeito halo), que sejam para o nosso interesse, naquilo que podemos fazer, virando o jogo para o nosso lado. E não esqueça: não interessa onde você esteja, sempre terá alguém lhe observando ou fazendo julgamento. Já que é assim, que seja uma impressão boa, ao menos. Utilize o efeito halo a seu favor. Faça a sua parte.



Até a próxima.
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