Sementes de hortaliças: cores, sabores e oportunidades

Edição XXIX | 02 - Mar . 2025
Thiago Bergmann Araújo-redacao@seednews.inf.br
   Elas trazem colorido ao nosso prato e saúde ao nosso corpo. As hortaliças fazem – ou deveriam fazer – parte da alimentação de todas as pessoas, desde a introdução alimentar até a terceira idade. Vegetais folhosos, raízes, tubérculos, bulbos, legumes, cucurbitáceas são exemplos da gama de alimentos que pertencem ao grupo.

   Ramo da agricultura que se dedica à produção de hortaliças, a olericultura desempenha papel importante no mercado agrícola: no Brasil, a produção anual chega a cinco milhões de toneladas e movimenta cifras bilionárias. Graças a sua vasta extensão territorial e diversidade climática, o país tem a capacidade de produzir as espécies do grupo durante todo o ano, com a capacidade de abastecer o mercado interno e externo com seus produtos, mercado este que vem experimentando crescimento constante nos últimos anos.

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   Apesar de ser um setor com grandes diferenças no perfil de adoção de tecnologias e insumos, também a produção de hortaliças tem passado por avanços na adoção de inovações que proporcionam que seja atendido esse mercado crescente, em especial nas principais culturas. Para além de investimentos em áreas diversas como maquinário, logística, entre outras, produtores olerícolas têm buscado a excelência na matéria-prima de seus cultivos: a semente.

   “O mundo está muito carente de sementes de hortaliças”, comenta o sócio-proprietário da Akatu Sementes, também na direção de produção, Glauco Almeida. Essa necessidade de produção, segundo ele, agrava-se com fatores como as mudanças climáticas e a escassez de água. Outro ponto destacado por Almeida é a crise das abelhas, fundamentais para a polinização de diversas espécies.

   Fatos como estes, além de uma migração para culturas com mais retorno financeiros, têm alterado o mapa da produção de sementes de hortaliças. De acordo com o diretor da Akatu, países com tradição na área, como nações europeias ou o Chile, acabaram abrindo espaço para que outros locais pudessem exportar tais sementes. “A bola da vez agora é o Brasil”, afirma Almeida.

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   Graças a essa visão, produtores brasileiros estão abraçando esse potencial latente e trabalhando para deixar para trás a posição de grande importador de sementes de hortaliças que tinha o país até poucos anos. “Isso não é o futuro, é hoje”, comenta Almeida. Ele lembra que o Brasil possui diversidade climática e capacidade para produzir sementes dessa grande diversidade de espécies que compõe o universo olerícola: “As empresas estão batendo nas nossas portas”.

   Com o crescimento das oportunidades, crescem, entretanto, os temores e os gargalos que assolam aqueles que optam por produzir e empreender no Brasil. “Precisamos atentar para a libertação da burocracia”, cita o diretor, ao lembrar outros pontos nevrálgicos, como a legislação que coloca entraves par a exportação e a falta de fomento, além da necessidade de pessoal qualificado para lidar com a produção cada vez mais tecnológica.

   Variedade com qualidade
   Nessa multiplicidade de espécies, cultivares e variedades, também vão se avolumando os desafios na produção de sementes para estas hortaliças. “Cada uma delas tem suas nuances, seus detalhes”, pondera Glauco Almeida.

   À frente da Akatu Sementes, produzir sementes de tantas hortaliças com a qualidade necessária é seu desafio quotidiano. A palavra-chave para isso, segundo Almeida, é o planejamento prévio, que deve levar em consideração pontos como o volume, a área e o excedente; quando a variedade é híbrida, os cuidados são redobrados. Isso se dá pois é necessário respeitar esses diferentes tratos culturais na condução do campo.

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   A produção de sementes de hortaliças se diferencia das grandes culturas em diversos pontos, além do fato da necessidade em se trabalhar com diversas espécies de forma simultânea. Diferentemente do mercado de soja e milho, a comercialização do produto final geralmente se dá em pacotes de apenas mil sementes (quando uma big bag de sementes de soja, por exemplo, contém um volume de cinco milhões).

   Por isso, perseguir qualidade não é apenas um objetivo, mas uma necessidade, segundo Almeida. “Temos a cobrança em não errar”, conta. Isso ocorre pois, diferente de outras culturas, a semente que não tem qualidade de germinação e produtividade não consegue ser utilizada como grão, mas é descartada por não ter outro uso.

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   Outro desafio mora na pesquisa e no desenvolvimento de tecnologias, que, apesar de existir, não atinge a escala encontrada nas grandes culturas. Resta a criatividade e a adaptação de situações. 

   Um exemplo trazido por Almeida é o da secagem das sementes, o qual ele considera como ponto principal da produção: colhidas no ponto de maturidade fisiológica, suas sementes de cebola eram secas em lonas, o que as deixava com uma média de 80% de germinação; a solução veio a partir de trocas de experiências com outros produtores, que passaram a utilizar estufas de fumo para o procedimento.
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