O desempenho da semente deve levar em consideração sua capacidade de originar uma plântula normal, com velocidade e emergência homogêneas e preservar as características fisiológicas durante o armazenamento e transporte. A evolução demonstrou que o vigor da semente traduz um potencial de desempenho. Portanto, é reconhecido como um indicador fundamental para a caracterização do potencial fisiológico da semente.
Neste contexto, um dos desafios das análises de sementes é identificar parâmetros relacionados à deterioração da semente que precedam a perda da capacidade germinativa. Tarefa simples? Nem tanto, uma vez que se dispõe de vários testes, com metodologias distintas para avaliar o vigor da semente. É conhecido também que não é possível quantificá-lo, mas sim estimá-lo.
Uma das dificuldades encontradas é a correta identificação das informações geradas pelos diferentes testes de vigor, com procedimentos e metodologias descritas e validadas. Por que isso ocorre? Devido as unidades de medidas de cada teste, que não são as mesmas. Encontramos de acordo com seus objetivos, medidos em centímetros, dias ou porcentagem, outros em microsiemes por centímetro, índice de velocidade e várias outras unidades.
No dia a dia, o que se observa na rotina dos laboratórios, visando detectar o vigor, nas diferentes espécies de importância econômica, na grande maioria dos produtores de sementes, é a realização dos mesmos testes sempre e se descartando lotes de sementes por seus resultados.
Será que não está havendo mudanças que requerem um teste diferenciado? Exemplificando com testes realizados para algumas espécies: no milho, faz-se o teste de frio, que possui variações na metodologia, mas seu princípio é a exposição da semente a fatores adversos de baixa temperatura e alta umidade do substrato; no algodão, o teste de germinação a baixa temperatura, que propicia nos estágios iniciais de embebição, após a semeadura, efeitos prejudiciais à germinação e ao desenvolvimento de plântulas; na soja, são dois os principais executados: tetrazólio, que é considerado uma germinação bioquímica, que identifica os principais danos fisiológicos da semente e remete ao vigor, e a viabilidade, teste que tem um peso muito forte no início do processo de recebimento da matéria prima destinada à semente e, de forma geral, trabalhado com determinado padrão de vigor.
Após o beneficiamento, quem ganha o protagonismo é o teste de envelhecimento acelerado, que simula condições de estresses na semente, gerando alta taxa de respiração e consumo das reservas, acelerando os processos metabólicos que levam à deterioração.
Oras, não é este um dos principais desafios nas análises de sementes?
Portanto, vamos nos ater daqui para frente, exatamente neste específico teste, uma vez que seu objetivo é indicar a previsibilidade da deterioração durante o período de armazenamento da semente. Vejam bem, indicar a previsibilidade e não o período de conservação da semente durante armazenagem. Muitos fazem esta confusão, apontando o tempo de conservação, o que é pura magia.
O envelhecimento acelerado é um teste que, por várias razões, tem sido o algoz na produção de sementes de soja, seja pela própria qualidade da semente, mas, na maioria das vezes, por problemas metodológicos e erros de interpretações e, sem dúvida, ainda pela falta de uso de tabela de tolerância, que avalia se a variação dos resultados é aceitável quanto à sua precisão.
Como este teste não é contemplado nas Regras para Análise de Sementes (RAS), a bússola condutora que possibilita a padronização de procedimentos nos laboratórios, abrem-se brechas para a divagação na metodologia. Fato de absoluto perigo que pode jogar fora muitos lotes de sementes, por negligência e falta de entendimento no modus operandi do teste e suas exigências fundamentais para resultados consistentes e comparáveis. Os resultados podem sofrer influência de vários fatores, como o genótipo, o grau de umidade inicial da semente, a temperatura, o tempo de permanência na câmara, a abertura da câmara durante o período de exposição ao estresse, as condições e tempo para a retirada da câmara, o tamanho da amostra e distribuição sobre a tela, entre outros.
O teste tradicional consiste basicamente em colocar amostras de sementes em uma câmara (gerbox modificado), cuja umidade relativa é mantida próxima a 100% e temperatura elevada de 41 °C, com variações permitidas de 0,1 °C a 0,5 °C para a soja, por período pré-determinado de acordo objetivos específicos de cada um. Durante muitos anos foi realizado o envelhecimento acelerado neste molde. Que tempos eram estes? A planta de tipo de crescimento determinado, com produtividade considerada normal e menos tecnologias embarcadas.
O que aconteceu nas últimas épocas? Mudanças em tipo de crescimento, atualmente, indeterminado, planta que tem sementes com diferentes dispersões do grau de umidade, além de indivíduos fisiologicamente distintos. As mudanças ainda abrangem a constituição genética das cultivares da atualidade, que entregam elevadíssimas produtividades, muita tecnologia e têm menos rusticidade, se é assim que podemos denominar as sensibilidades e responsividades delas em condições de campo.
Com todas estas agregações, as respostas do potencial fisiológico, sobretudo o vigor, têm sido as mais variadas possíveis. Elas são muito mais sensíveis às condições do teste de envelhecimento acelerado, que expõe as sementes a níveis elevados de temperatura e umidade relativa do ar, considerados os fatores ambientais de maior influência na intensidade e velocidade de deterioração.
Nesse sentido, podem ser utilizadas alternativas para a condução do teste, como a substituição da água por soluções de sais (KNO3, KCL, NaCL, NaO3, NaBr). Com as soluções salinas, são obtidos níveis específicos de umidade relativa do ar, permitindo reduzir a taxa de absorção de água, a velocidade e a intensidade de deterioração das sementes sem reduzir a sensibilidade do teste.
De acordo com a literatura, o estresse é menos intenso e, de forma provável, mais próximo ao envelhecimento natural que ocorre durante o armazenamento das sementes. Elas não estão plenamente hidratadas até atingir nível que as predispõem ao ataque de microrganismos e as proteínas, à desnaturação. É evidente que deve ser interpretado com os demais testes, principalmente com a emergência que demonstra o desempenho da plântula.
Um dos indicativos do teste de envelhecimento acelerado é de que este pode ser afetado pela diferença de absorção de água das sementes, um aspecto importante a ser considerado, pois, quando expostas à atmosfera úmida, podem ocorrer variações acentuadas no grau de umidade destas. Sementes mais úmidas são mais sensíveis às condições do teste e, com isso, sujeitas à deterioração mais intensa. Por esta razão, quando o lote de sementes está com grau de umidade médio abaixo de 12%, utiliza-se o pré-condicionamento para adequar a umidade das sementes. Caso contrário, elas não envelhecem da mesma forma que as que estão mais úmidas.
Onde está havendo um problema que pode estar descartando, de maneira indevida, muitos lotes de sementes? No tempo que estão deixando pré-condicionar. Embasam-se nas RAS, que preconiza para o teste de germinação, o pré-condicionamento em atmosfera úmida, pelo período de 16 a 24 horas. Ou ainda, para piorar a situação, estão realizando pré-condicionamento em solução salina, fato absolutamente impróprio porque a semente não vai absorver água suficiente para hidratar porque o tempo é curto demais. Ou seja, vai continuar desidratada e envelhecer menos do que deveria.
Ainda não existe uma metodologia descrita e reproduzível, específica, de qual o tempo necessário para que as sementes atinjam o grau de umidade médio de 12%, para começar a envelhecer. Enquanto isso, a orientação é de que tenham cautela no uso do tempo errôneo para adequar o grau de umidade das sementes no envelhecimento acelerado; também o procedimento deve ser feito com água, porque, ao invés do procedimento ajudar, pode causar prejuízos imensuráveis aos multiplicadores de sementes.
“A mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho original.” (Albert Einstein)