Como se diferenciar na era da IA generativa

Edição XXVIII | 05 - Set . 2024
   O agronegócio não é uma ciência em si, e sim uma grande área de aplicação de praticamente todas as ciências. Essa percepção é capaz de sozinha suplantar a visão estreita e limitada de que é um setor com contornos bem definidos; além disso, permite aceitarmos que as mudanças tecnológicas que transformam os demais setores também atuam no agronegócio de diferentes maneiras e formas.

   A digitalização e a automação, por exemplo, já estão há algum tempo intrinsecamente entrelaçadas com o agronegócio. Máquinas inteligentes e tecnologias avançadas não são mais novidade e estão cada vez mais presentes em todos os elos das cadeias de produção. Em todos eles oferecem sistemas autônomos e automatizados que podem operar com precisão cirúrgica.

   O desafio da coexistência
   Poderíamos dizer que elas vêm ‘se infiltrando em nossas vidas’ há muito tempo. No entanto, a velocidade dessa integração tem aumentado de modo assustador, especialmente com o advento de tecnologias como a inteligência artificial (IA). Logo, a questão crucial que enfrentamos hoje não é mais se precisamos dessas máquinas, mas sim como podemos coexistir com elas e utilizar seu potencial ao máximo.

   A inteligência artificial em particular apresenta uma dicotomia que ao mesmo tempo fascina e nos desafia. A "IA generativa" refere-se ao desenvolvimento inevitável de algoritmos que aprendem e evoluem, muitas vezes superando a capacidade humana em diferentes tarefas.

   Embora isso possa parecer alarmante, precisamos ter em mente que o ser humano nunca regride em termos tecnológicos e, por isso, essa talvez seja também uma oportunidade sem precedentes para aprimorarmos nosso modo de vida não apenas no aspecto técnico, mas também em relação às nossas habilidades humanas.

   Primeiro passo é sermos realistas
   Não importa, se é na agricultura, com drones e sensores monitorando culturas ou se é na medicina, com algoritmos diagnosticando doenças, precisamos ter claro que muitas atividades podem e até devem ser mais bem desempenhadas por máquinas e isso vai sim denotar ações de mitigação e de antecipação tanto por parte de organizações públicas quanto privadas.

   No entanto, embora tenhamos sido treinados desde sempre a nos tornarmos mais máquinas do que humanos, atuando fortemente na eficácia através da repetição, essa nova realidade não significa que os humanos se tornem obsoletos. Pelo contrário, talvez seja exatamente essa a grande oportunidade de utilizarmos nossa singularidade como seres humanos a nosso favor.

   Já que frear o uso tecnológico ou retroceder não parece ter exemplo na história, talvez por isso a discussão não deva enveredar pela competição em si, mas sim em como poderemos utilizar essas novas tecnologias para melhorar nossas vidas e o mundo ao nosso redor e, adicionalmente, em como melhorar a capacidade adaptativa e reduzir os efeitos colaterais nefastos.

   Algumas competências humanas essenciais
   Por isso, além das competências técnicas que os humanos ainda necessitarão por um bom tempo, para nos diferenciarmos neste mundo de máquinas, é fundamental que tenhamos em mente que precisamos reaprender as características intrínsecas que nos tornam humanos, algo que durante algum tempo em nossas vidas são negligenciados e até reprimidos.

   A empatia é uma dessas qualidades essenciais e não é por acaso que ela tem estado tão presente nas discussões sobre gestão e performance. Em um mundo onde as máquinas podem realizar muitas funções, a capacidade de entender e compartilhar os sentimentos de outra pessoa e de perceber o ponto de vista e o sentimento alheio é um atributo até então exclusivamente humano e será cada vez mais importante em todos os setores, inclusive para entender as necessidades de clientes.  Ela abre muitas possibilidades e opções. Não tenho dúvidas que, sem empatia, não seremos muito melhores que os algoritmos que gerenciam as máquinas: frios, mecânicos e indiferentes.

   Outra competência humana fundamental para competir nesse ambiente aparentemente hostil é a compaixão, que vai além da empatia, já que envolve não apenas o sentir pelo outro, mas principalmente a capacidade de desencadear ações para aliviar as necessidades não atendidas ou o sofrimento das pessoas. Algo fundamental para todo gestor que busca engajamento da sua equipe.

   Mas vale lembrar que é apenas possível ocorrer compaixão quando há empatia. Em essência, ela é a porta de entrada para que possamos mitigar ou mesmo atuar de modo eficiente e eficaz como líderes.

   A tríade se completa com a autocompaixão, muito relevante, principalmente para profissionais com alta carga competitiva por resultados e exigente em qualidade, onde ser gentil consigo mesmo é essencial para manter a saúde mental e o bem-estar. Isso nos permite reconhecer nossas limitações, aceitar nossos erros e trabalhar para melhorar sem nos autojulgarmos de forma excessiva.

   Por isso, uma competência humana essencial e que poucas vezes foi tão requerida como agora é a adaptabilidade. No ritmo acelerado das mudanças tecnológicas, nem Darwin poderia prever que a capacidade de ler o ambiente e se ajustar rapidamente a novas circunstâncias se tornasse tão vital.

   Por fim, nossa capacidade de criar conexões valiosas se tornou um grande diferencial. São os humanos que criam e nutrem relações significativas. Manter e expandir nossa rede de contatos é uma habilidade crucial que pode abrir portas e criar oportunidades, algo que ninguém mais pode proporcionar.

   Assim, não importa qual posição ou setor do agronegócio você ocupa. Precisamos entender que em um mundo de máquinas o que nos diferencia é nossa humanidade. 

   Até a próxima.

Compartilhar