O milho GM pede passagem

Parte 3 - OCB Participa de Audiência Pública sobre Milhos GM

Edição XI | 03 - Mai . 2007
Ivo Marcos Carraro-carraro692@gmail.com
            A Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) participou de Audiência Pública realizada no dia 20 de março de 2007 nas dependências do Senado Federal, convocada pela CTNBio, na qual manifestou seu apoio à liberação comercial dos eventos de milho geneticamente modificado, respeitados todos as trâmites legais estabelecidos pela legislação vigente no Brasil.
           A OCB, através de seu representante na Audiência Pública, doutor Ivo M. Carraro, justificou sua posição  afirmando acreditar que a acelerada difusão das culturas  geneticamente modificadas, observada em âmbito mundial desde 1996, tem resultado em inúmeros  benefícios aos produtores rurais dos diversos países que utilizam essa tecnologia, especialmente aos pequenos agricultores.
             Em recente relatório foi mostrado que 10,3 milhões de agricultores em 22 países cultivaram plantas geneticamente modificadas, sendo que 90% (9,3 milhões) foram pequenos agricultores, limitados em recursos, que tiveram sua renda aumentada em função da adoção da nova tecnologia. Este é um dos principais benefícios das plantas geneticamente modificadas, uma vez que contribui com o esforço mundial para a diminuição de 50% da pobreza até o ano de 2015, objetivo este que está entre as Metas de Desenvolvimento do Milênio estabelecidas pela ONU. A contribuição da biotecnologia para esta meta ainda é modesta perto do que deverá representar a presente década de comercialização de plantas geneticamente modificadas, já iniciada em 2006.
            O potencial da biotecnologia é uma realidade e a área cumulativa com culturas geneticamente modificadas nesses primeiros 10 anos chegou a 577 milhões de ha, o que comprova que os benefícios têm sido evidentes e têm despertado o interesse cada vez maior dos agricultores do mundo inteiro. O segmento agropecuário do Cooperativismo nacional,representado pela OCB, é composto por 1.549 cooperativas que, juntas, congregam mais de 886 mil agricultores em todos os estados da federação. É importante ressaltar que 67,85% deles são pequenos agricultores, com áreas menores que 10 ha e desejam ter à sua disposição as melhores tecnologias que possam ser disponibilizadas.
             A filosofia que impera no sistema cooperativista é a da livre adesão e também se aplica ao agricultor na hora de escolher que tipo de agricultura deseja praticar. Além do desenvolvimento social, as cooperativas se preocupam com o desenvolvimento econômico de seus associados, promovendo constantemente melhorias de seus meios de eficiência na produção agrícola. Cabe, portanto, às cooperativas estarem atentas a todas as tecnologias disponíveis para oferecer aos associados segundo suas escolhas. Sem dúvidas, a biotecnologia é uma destas opções e, por este motivo, a OCB é favorável à adoção da mesma no Brasil em sua plenitude.
           Considerando que a  Audiência Pública teve o objetivo de discutir apenas os eventos de milho  geneticamente modificado (tolerantes a herbicidas ou resistentes a insetos), convém  ressaltar que a cultura do milho ocupou, em 2006, o segundo lugar em área plantada, perdendo apenas para a soja. Essa área correspondeu a 25,2 milhões ha (25%) da área total cultivada com plantios geneticamente modificados. Os números acima mostram que essas plantas que vêm sendo cultivadas há mais de 10 anos, além de não produzirem nenhum efeito negativo à saúde do homem e animal, bem como ao meio ambiente, têm benefícios que têm sido confirmados por essa ampla adoção.
             O milho geneticamente modificado resistente a insetos controla pragas importantes da cultura no Brasil e tem o potencial para uma maior produtividade, já que a redução dos danos causados pelas pragas leva a uma menor perda de plantas e espigas no campo. Esse controle é realizado sem que as espécies que não são alvo da tecnologia sejam afetadas. Isso é ambientalmente interessante, pois protege as populações de inimigos naturais, insetos benéficos e animais silvestres, já que os pesticidas químicos de amplo espectro de ação são substituídos pela cultura geneticamente modificada. Tudo isso foi comprovado através de estudos e também do uso comercial por mais de 10 anos, e existe extensa literatura demonstrando a segurança dos eventos de milho resistente a insetos disponíveis no mercado.


               
                 Processo de semeadura manual de milho


              “A filosofia que impera no sistema cooperativista é a da livre adesão e também se aplica ao agricultor na hora de escolher que tipo de agricultura deseja praticar.”
 
            Dentre os benefícios, destacam-se: proteção efetiva contra pragas-alvo; ausência de efeitos sobre espécies que não são pragas; maior segurança aos animais e ao meio ambiente em comparação ao uso de inseticidas químicos; maior potencial de renda para pequenos agricultores; redução do uso de pesticidas químicos e, com isso, redução do número de embalagens de agrotóxicos, redução do número de aplicações na lavoura, redução da intoxicação de agricultores, da erosão, do uso de combustível, do uso de água, da emissão de CO2, etc.; potencial para maior rendimento; ferramenta útil para o manejo integrado de pragas; e melhor adaptação para a adoção de sistemas agrícolas sustentáveis.
             Os impactos ambientais e socioeconômicos das culturas derivadas da biotecnologia nos primeiros 10 anos de adoção mostra que a redução do uso de pesticidas tem sido um dos benefícios mais importantes mensurados. A diminuição do uso de ingredientes ativos no milho resistente a insetos foi da ordem de 4,1% entre 1996 e 2004, número que corresponde a uma diminuição de 7 milhões de Kg de inseticidas e de 4,6% no impacto ambiental originalmente causado pelo milho convencional.
            Quanto às culturas tolerantes a herbicidas, as principais são aquelas tolerantes ao  glifosato, que é um herbicida amplamente conhecido e bem caracterizado. Alguns benefícios têm sido bastante evidentes, como: redução do uso de vários herbicidas para o controle das plantas daninhas (redução de 1,5 milhão de kg de herbicidas por ano no milho tolerante ao glifosato); maior utilização de práticas conservacionistas como o sistema de plantio direto (que proporciona inúmeros benefícios ambientais); melhoria do solo e da qualidade das águas; melhor ambiente para a manutenção de populações de insetos e outros animais; ferramenta útil para o manejo integrado de pragas; dentre outros benefícios. Também há uma redução de 3,4% em ingredientes ativos no milho tolerante a herbicidas, equivalente a menos 37 milhões de kg herbicidas nessa cultura e redução de 4% no impacto ambiental em relação àquele causado pelo milho convencional.
            A redução da emissão de CO2 também tem sido um benefício importante das culturas tolerantes a herbicidas (menos 9 bilhões de kg de CO2 na atmosfera em 2005), além do aumento nos estoques de carbono, mostrando o potencial dessa tecnologia para a redução do aquecimento global, que é um tema tão importante nas discussões atuais entre os países desenvolvidos e em desenvolvimento.
              Ainda em relação às culturas tolerantes a herbicidas observa-se que há eventos em análise também para uso de outras moléculas com as mesmas vantagens já descritas e que evidenciam que, também neste campo da Biotecnologia, existem os benefícios da concorrência sadia entre empresas fornecedoras, fato que também é considerado relevante pela OCB na defesa dos interesses dos agricultores associados.
          Por esses benefícios brevemente apresentados e que vêm  sendo amplamente  divulgados na mídia, em estudos, relatórios e revisões científicas, a OCB manifestou-se a favor da liberação de culturas geneticamente modificadas no Brasil, especialmente dos eventos de milho geneticamente modificado, que foram o objeto em questão na Audiência Pública acima referida. A OCB também se manifestou contrária às ações radicais de organizações de cunho ambientalista, que têm atingido alguns membros da CTNBio.
              Esses cientistas, membros da CTNBio, avaliam os  processos de liberação experimental e comercial de maneira isenta e com base na informação científica  fornecida pelas empresas e instituições, e disponível em literatura, sem a interferência de idealismos e posições tendenciosas, que nada têm a acrescentar ao desenvolvimento da agricultura brasileira. Dessa forma, esses membros que assim atuam sempre terão o apoio da OCB para que continuem desempenhando o seu papel dentro da Comissão, sendo este de grande interesse para a ciência, a agricultura e o desenvolvimento do país.
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