Mitigação das mudanças climáticas na agricultura

Edição XXVII | 01 - Jan . 2023
Alexandre Nepomuceno-alexandre.nepomuceno@embrapa.br
   O Brasil é um dos maiores produtores de alimentos e produtos agrícolas do mundo e um dos poucos que poderá aumentar consideravelmente sua produção nas próximas décadas. Também tem grande potencial para se tornar o principal produtor e fornecedor de biocombustíveis. Diferentemente da maioria dos países desenvolvidos, onde a produção de agroenergia pode competir com a produção de alimentos, o Brasil pode incorporar mais de 50 milhões de hectares de áreas de pastagens degradadas para aumentar a produção agrícola, sem novos desmatamentos e reconversão de áreas produtoras de alimentos. Porém, assim como outros países, o Brasil também é afetado pelos problemas que as mudanças climáticas causam no planeta.

   A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) está desenvolvendo linhagens de soja tolerantes à seca com base em informações de estudos moleculares envolvendo plantas modelo para ajudar a mitigar o problema. Também está pesquisando o genoma da soja em busca de genes que confiram tolerância à seca para elucidar os mecanismos que regulam os genes identificados. Com base nessas descobertas, foram geradas novas linhagens de soja, as quais foram avaliadas em condições de casa de vegetação e campo para identificar as linhagens mais tolerantes à seca. Além disso, estão sendo estudadas as melhores combinações de genes e promotores de tolerância à seca, as quais são introduzidas em células de soja usando métodos baseados em Agrobacterium tumefaciens. Algumas dessas linhagens de soja transgênica apresentaram maior tolerância à seca. 

   Essas plantas podem ser úteis para mitigar os efeitos das mudanças climáticas e ajudar a estabilizar ou aumentar a produção de soja no Brasil. No entanto, essas plantas são transgênicas e, por isso, os custos para desregulamentar e colocá-las no mercado em diferentes países é muito alto. Por outro lado, nos últimos 10 anos, foram desenvolvidas novas ferramentas de edição do genoma que permitem replicar alguns dos resultados da soja transgênica sem a necessidade de um gene de outra espécie. Em muitos países, inclusive no Brasil, plantas com genoma editado passam por uma avaliação caso a caso, e em muitos deles não serão considerados transgênicas. Enquanto a biossegurança é preservada, os custos para desenvolver uma variedade comercial podem cair em torno de 40 a 60%. Assim, muitas instituições, como a Embrapa, estão mudando de estratégias de transgenia para estratégias de edição de genomas a fim de que o uso da biotecnologia na agricultura volte a ser mais democrático. Embora o uso da transgenia ainda seja uma ferramenta muito importante para ajudar a mitigar os problemas causados pelas mudanças climáticas, infelizmente, devido aos custos, poucas empresas conseguem desenvolver variedades comerciais utilizando-a.


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