Fungos que interferem nas grandes culturas

Edição XXVII | 01 - Jan . 2023
Maria de Fátima Zorato-fatima@mfzorato.com.br
   Existem algumas situações nas quais os fungos podem causar perdas nas espécies economicamente importantes. Nas regiões produtoras de sementes torna-se relevante conhecer o clima, uma vez conhecida a ação do hospedeiro, do patógeno e do ambiente. O país, por ter dimensões continentais, apresenta diversidade climática, que responde às ações de diversos fatores que influenciam a atmosfera. Ressalta-se que esses climas são dominados por massas de ar equatoriais e tropicais em conjunto, exceto a faixa de clima subtropical úmido do Sul, controladas por massas de ar tropicais e polares.

   No contexto climático, ainda temos os fenômenos El Niño e La Niña, tão conhecidos dos produtores de sementes; são eventos climáticos que acontecem periodicamente e que se caracterizam pelo aumento ou resfriamento das águas do oceano Pacífico, além de alterações na circulação atmosférica no mundo. Ambos envolvem anomalias das temperaturas da superfície do oceano e da circulação atmosférica, resultando dessa forma, em extremos climáticos, e as consequências disso se traduzem em prejuízos à agricultura, seja por falta ou excesso de água e por temperaturas elevadas.

   Estamos enfrentando um La Niña, que segundo especialistas de clima, poderá se estender até o verão de 2023. Sobretudo em regiões produtoras das grandes culturas, a produção de sementes é bastante afetada pelo evento pois seus efeitos são sentidos por aumento de chuvas nas regiões Norte e Nordeste e Centro-Oeste e por estiagem em parte do Sudeste e, principalmente, no Sul.

   Mas o que estes eventos têm a ver com os fungos? Sobretudo nas regiões que apresentam chuvas associadas com elevadas temperaturas, ocorre a disseminação de doenças que interferem na qualidade sanitária das sementes.

   É necessário realizar o monitoramento contínuo de uma lavoura, uma vez que cada doença age de forma diferente e pode ocorrer durante o desenvolvimento das culturas, assim como é importante identificar os patógenos para tomada de medidas de manejo e controle para reduzir suas consequências.

   Portanto, o ambiente de atmosfera mais úmida potencializa a ocorrência de doenças e, entre as principais de grande importância para a produção de alimentos e fibras, vamos destacar os fungos, que são considerados os mais danosos e incidentes nas diversas regiões produtoras no nosso país. 

   No arroz, alguns podem afetar a cultura em maior ou menor escala, a exemplo de Pyricularia oryza/Magnaporhte oryza; Rhizoctonia solani; Sclerotium oryzae; Rhynchosporium oryzae; Fusarium spp.; Ustilaginoidea virens; Altenaria padwickii; Phoma sp.; Nigrospora spp.; Epicocum spp. e Curvularia lunata. 

   No feijão, alguns fungos causadores de doenças podem afetar e trazer prejuízo, uma vez é parte do prato do dia a dia dos brasileiros. Entre os principais, estão Rhizoctonia solani e sua fase perfeita Thanatephorus cucumeris (causa mela); Fusarium oxysporum f. sp. Phaseoli; Phaeoisariopsis griseola; Sclerotinia sclerotiorum; Colletotrichum lindemuthianum; Uromyces appendiculatus; Erysiphe polygoni.

   Já no trigo, produzido no inverno no Brasil e em diferentes regiões, o que se traduz em diversos tipos de ambientes, há dificuldade para padronizar estratégias de manejo das doenças. Figuram entre os principais fungos causadores de doenças o Fusarium graminearum; Bipolaris sorokiniana; Puccinia triticina; Drechslera tritici-repentis.

   O milho é outra cultura afetada por diversas doenças causadas por fungos e entre eles destacam-se Colletotrichum graminicola; Fusarium moniliforme e o Fusarium subglutinans; Cercospora zea-maydis; Cercospora sorghi f. sp. maydis; Cercospora zeina; Puccinia sorghi; Physopella zeae; Exserohilum turcicum e Stenocarpella macrospora.

   A soja também é bastante afetada por doenças causadas por fungos em seus diferentes estádios fenológicos, o que requer atenção técnica durante todo o período das plantas em campo.  Destacam-se os principais: Sclerotinia sclerotiorum; Colletotrichum truncatum; Diaporthe aspalathi e Diaporte caulivora; Cercospora kikushii; Phakopsora pachyhizi e Phakopsora meibomiae; Corynespora cassicola; Cercopora sojina; Rhizoctonia solani; Peronospora manshurica; Macrophomina phaseolina; Sclerotium rolfsii; Phytophthora sojae; Pythium spp.; Septoria glycines; Ascochyta sojae; Myrothecium roridum; Microsphaera difusa; Cadophora gregata; Rosellinia necatrix; Phomopsis spp.; Fusarium brasiliense; Fusarium tucumaniae; Fusarium crassistipitatum.

   O algodão figura na lista de maiores produtores no cenário internacional. A sua produção em condição de alta umidade relativa do ar durante a frutificação pode favorecer a ocorrência de doenças. Frutos apodrecidos, quando abertos seus capulhos, podem trazer deterioração das fibras, deixando-as com cor acinzentada, o que é causado por fungos, deixando a estrutura suscetível às rupturas no processo de beneficiamento. Na cultura algodoeira, os principais fungos são Colletotrichum gossypii var. Cephalosporiodes; Ramularia areola; Fusarium oxysporum f. sp. Vasinfectum; Rhizoctonia solani; Alternaria macrospora; Alternaria alternata; Phakopsora gossypii; Stemphylium solani.

   A maioria dos agentes causais das doenças podem ser transmitidos pelas sementes. Algumas medidas de controle para contribuir com a sanidade das lavouras e evitar a entrada dos diversos patógenos são utilização de sementes de qualidade de origem conhecida e sadias e de cultivares tolerantes ou resistentes, preparar bem o solo, adubação equilibrada, rotacionar culturas, semeadura em época e espaçamentos adequados, tratar as sementes e efetuar controle químico das lavouras com fungicidas.
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