SOLUÇÕES simples e práticas

Edição XVII | 02 - Mar . 2013

    Nossa reflexão é sobre estratégia e execução. Dois temas que são fundamentais para a gestão de qualquer organização, especialmente para as do agronegócio, cujas particularidades de clima, sazonalidade e biologia emprestam dificuldades adicionais, notadamente em momentos de concorrência contínua, economia fluída e governo flexível (atualmente de norte duvidoso).

    Vamos começar lá atrás no tempo. Ao revisitar a história de alguns pensadores econômicos que forjaram a economia moderna se percebem pontos interessantes, indeléveis, da discussão sobre a distância nefasta, muitas vezes até trágica, entre a concepção da estratégia (aquilo que se pensa e imagina fazer) e a execução (aquilo que se consegue implementar).

    Tomemos como exemplo a própria história de Karl Marx e Friedrich Engels, destaques na elaboração da teoria comunista. Enquanto Engels, embora tivesse menos estudo, foi capaz de lançar em 1845 o livro “A Situação da Classe Operária na Inglaterra”, que serviu de base para o desenvolvimento da teoria, seu amigo Marx, mesmo que teoricamente favorecido pela sua capacidade intelectual, levou mais 20 anos para concluir a obra “O Capital” e introduzi-la na sociedade. Segundo consta, um era observador nato, prático e eficiente, e ao outro, embora de perspicácia acima da média, faltava-lhe o foco, continuidade, resiliência e a experiência empresarial.

    Dada a natureza dinâmica do ambiente atual, um dos grandes desafios nos negócios tem sido exatamente executar com celeridade. A execução das estratégias tem papel fundamental na continuidade dos negócios e por isso talvez seja crucial não apenas a estratégia correta, ou alguma milagrosa como muitos procuram, mas principalmente ter em mente pelo menos algumas bastante simples e factíveis de implantação. Essas estratégias norteadoras, somadas à acurácia de colocá-las em prática com rapidez e eficácia, são capazes de fazer a diferença, a começar pelo curto prazo.


    Várias Causas

    Outro aspecto importante das estratégias é entendê-las como um conjunto e nunca isoladamente. Devem servir para levar as empresas ao sucesso, buscando evitar problemas de toda ordem, o que requer, acima de tudo, continuidade de propósitos. 

    Assim como o sucesso dificilmente ocorre e se mantém a partir de um grande lance de genialidade ou mesmo de sorte, a falência atende a mesma lógica. Desse modo, muitas vezes são concebidas corretamente, mas o tempo pode torná-las obsoletas ou até mesmo inadequadas.

    Depois que, por exemplo, uma empresa vai à bancarrota ou um produtor precisa vender sua propriedade, discutem-se os motivos que os levaram a tal situação. Tenta-se resumir o processo e encontrar o momento de inflexão, quando o negócio começou a embicar, sem muitas alternativas de recuperação.

    Ocorre que falências têm similaridades às tragédias. Apenas excepcionalmente possuem causa única. Embora se procure pelo motivo derradeiro, normalmente é uma cadeia de eventos mal sucedidos, de imperícia ou incompetência de alguns, que culminam com o apocalipse.

    O agronegócio, por sua vez, dadas as suas peculiaridades que, por natureza, já emprestam maiores riscos, requer de seus gestores atenção e austeridade redobradas. Não cabem nessas atividades grandes arroubos estratégicos, apostando em lances de genialidade. Poucas oportunidades têm surgido nesse sentido e é reduzido o índice daqueles que, empregando estratégias arriscadas, logram êxito, suportando os testes do longo prazo. Encontram-se exemplos diversos que indicam a temeridade desse padrão e advertem para os cuidados necessários.

    É a partir da análise da cadeia de eventos que levaram às desgraças humanas que se criam novas condições e práticas para a melhoria da segurança. Talvez fosse oportuno, assim como ocorre nas análises das tragédias, que os gestores observassem os insucessos alheios e seus motivos, como um exemplo a não ser seguido. Desse modo estariam menos tentados a apenas observar os casos de viço fora do normal e pudessem desenvolver estratégias anunciadoras das catástrofes gerenciais, mais simples e de fácil execução.

    Nesse sentido, pelo menos três aspectos estratégicos, conjuntamente, devem ser fortalecidos e, infelizmente, têm sido negligenciados reiteradas vezes por aquelas empresas que sucumbem à concorrência ou ao próprio ambiente de produção, quais sejam: a austeridade financeira, a gestão de recursos humanos e o marketing.


    Austeridade Financeira

    Em tempos de recursos fartos, demanda e preços acima da média, a falta de uma estratégia financeira clara, consistente e contínua representa um dos maiores perigos para a longevidade das empresas.

    Tem-se notado que a saúde financeira (não a econômica) é que tem levado muitas empresas a ingressar numa espiral problemática que, com frequência, não encontra mais solução. Assim, uma estratégia serena de preservar o caixa e a rentabilidade, sem arroubos invencionistas, possui um histórico positivo das organizações que ostentam sucesso e, por outro lado, tem feito falta para aquelas que sucumbem.

    Manter a austeridade e a saúde do caixa não tem nada a ver com falta de agressividade no mercado, quando a situação convém. Ocorre que sem essa filosofia como uma estratégia singular e basilar, fica mais fácil dar um salto maior que as pernas e se atrapalhar exatamente nos momentos em que as oportunidades poderiam ser aproveitadas.

    Especificamente no agronegócio, as empresas que não preservam o caixa, com frequência, acabam utilizando recursos de curto prazo para financiar investimentos de longo prazo – um dos erros fatais mais comuns encontrados em empresas ao enfrentarem alguma dificuldade momentânea de produção ou mesmo de mercado. Em síntese, tornam-se mais vulneráveis, sem musculatura para suportar algum revés, justamente num setor em que isso é frequente e, até certo ponto, cíclico.


    A Estratégia dos Recursos Humanos

    Os recursos humanos, por sua vez, devem ocupar lugar de destaque na definição das estratégias, embora normalmente sejam solenemente ignorados. Tornou-se moda propalar que esta área é vital para as empresas, mas pouco se tem notado de concreto na mudança de filosofia de trabalho.

    Grandes estratégias sucumbem pela falta de pessoal capacitado para colocá-las em prática. Exatamente no quesito humano da gestão é que os diferenciais das estratégias podem melhor ser notados se os seus propósitos estiverem alinhados com a liderança e suas equipes.

    As inovações, que são um dos grandes diferenciais competitivos e que podem resultar em melhoria de eficiência, de eficácia ou mesmo de efetividade, dependem, entre outros aspectos, da capacidade técnica e comportamental das pessoas que exercem suas atividades diariamente.

    Por isso as empresas necessitam estabelecer definitivamente a gestão ‘de’ e ‘com’ pessoas como elemento central nas estratégias, principalmente aquelas que dependem exaustivamente de alta capacidade tática para a implantação. Caso contrário, o risco de falência estratégica tem elevado grau de probabilidade de ocorrer, devido à ineficácia na execução.


    A importância do marketing

    Negligenciar a importância do marketing como um dos elementos estratégicos em qualquer atividade é menosprezar o mercado e a concorrência, individualmente ou no coletivo, além de minimizar os esforços de todas as demais áreas que compõem a organização. 

    Dito de outro modo, é comum empresas dispenderem grande soma de recursos ou empreenderem esforços acima da média para, por exemplo, melhorar processos capazes de emprestar elevada capacidade competitiva em várias áreas, mas não reconhecerem a necessidade de utilizar estratégias de marketing para que os seus potenciais clientes tomem conhecimento ou se sintam motivados a fazer negócios com elas. Fazer tipo em negócios, normalmente não traz bons resultados.

    De modo mais evidente, as estratégias financeiras, de recursos humanos e de marketing devem estar entremeadas no tecido social da organização, como componente de uma estratégia global, capitaneada pelos gestores ou proprietários. Se todos, independente da posição ou função que ocupam, entenderem a necessidade de cuidar das finanças, das pessoas e do marketing diariamente, as chances de sucesso tornam-se mais consistentes e duradouras.

    Até a próxima.

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