Esta seção é coordenada pela equipe de professores da área de sementes da Universidade Federal de Pelotas, objetivando esclarecer as inúmeras dúvidas enviadas pelos leitores. Mande sua dúvida para redacao@seednews.inf.br 

    Tenho constatado que meus lotes de sementes de soja estão apresentando mais de 3% de sementes atacadas por percevejos, conforme análise através do teste de Tetrazólio. Considero este percentual alto, o que se pode fazer para minimizar esta causa que afeta a qualidade das sementes de soja?

    O ataque de insetos em campos de produção de sementes de soja é algo comum no Brasil, requerendo que os campos sejam acompanhados de tal forma que os danos sejam minimizados tanto quanto possível. Assim, são realizadas amostragens sobre um pano de um metro quadrado, colocado no solo, onde as plantas de soja são batidas e, se for encontrado em média, um percevejo/m², recomenda-se aplicar inseticida para controle do inseto. Nos últimos anos, a necessidade tem aumentado, exigindo três a quatro aplicações por cultivo.   

    Interessante a matéria da última SEEDnews sobre o potencial de armazenamento de sementes, na qual os autores explicam que o potencial pode ser alto ou baixo, dependendo da espécie. Neste sentido, como podemos fazer para que uma espécie de baixo potencial de armazenamento tenha sua vida prolongada?

    Tomando como exemplo sementes de cebola, que possuem normalmente baixo potencial de armazenamento em condições ambientais, é recomendado que se realize a secagem das sementes para que fiquem com 4 a 7% de umidade, e se coloque imediatamente em uma embalagem impermeável. Desta maneira, as sementes de cebola, que normalmente teriam um potencial de armazenamento de quatro meses, aumentam este potencial para mais de três anos.

    Gostaria que comentassem o que ocorre no arroz quando um material resistente a herbicida cruza com outro que é susceptível, assim como insetos resistentes de uma lavoura de milho ou algodão Bt, que cruzam com insetos susceptíveis de uma lavoura de cultivo convencional?

    No caso de arroz, quando ocorre o cruzamento entre materiais resistentes e não resistentes, todas as plantas resultantes serão resistentes na primeira geração. Isso é um problema em se tratando da invasora chamada arroz vermelho, quando esta cruza com arroz convencional resistente a herbicida. No caso de cruzamento de insetos resistentes e não resistentes ocorre o contrário, em que todos os insetos resultantes na primeira geração serão susceptíveis. Este fenômeno é utilizado para a adoção do refúgio em milho e algodão atualmente, em que a população de insetos resistentes é minimizada.  

    Parece estar claro que, para a comercialização das sementes, estas devem possuir um mínimo de qualidade. Quais são as principais características que se deve observar?

    A qualidade das sementes pode ser caracterizada por atributos físicos, fisiológicos e sanitários. Todos eles importantes, entretanto, pode-se destacar o percentual de germinação e pureza física das sementes como os mais decisivos. Para isso, a maioria das espécies possuem o padrão mínimo de 80% de germinação e 98% de pureza para comercialização. Vale destacar também o atributo de pureza varietal, preferencialmente determinado em nível de campo nos processos de certificação de sementes, pois em laboratório, através de exame visual das sementes, é ineficiente. No caso de sementes de soja, por exemplo, em que a cor do hilo é utilizada para diferenciar os materiais, esse possui poucas tonalidades para diferenciar todas as cultivares registradas para comercialização, que no Brasil são mais de 300. 

    O comércio de sementes se aprimorou nos últimos anos e isso tem muito a ver com a lei de proteção de cultivares, que contemplou um retorno financeiro para aquele que cria e desenvolve uma cultivar. A propósito, tenho observado que algumas empresas licenciam seus materiais para comercialização, enquanto outros praticam a verticalização, ou seja, vão até a comercialização de seus materiais. Poderiam comentar a respeito destes processos?

    Em sementes de milho, a verticalização se dá em mais de 80% do mercado, enquanto em soja o licenciamento atinge mais de 70%. Em termos de vantagem e desvantagem, depende de como queremos analisar. Entretanto, a verticalização tende a diminuir o número de participantes diretos no negócio. Isso faz com que haja uma busca de parceria sólida entre programas de melhoramento e produtores de sementes, e isso profissionaliza o setor.    

    Estou no agronegócio há vários anos e tenho observado que há um nicho de mercado para sementes de trigo e soja em minha região. Qual é o primeiro passo que devo adotar?

    Nichos de mercado são importantes e não devem ser desprezados. Assim, sugerimos que o primeiro passo seja elaborar um plano de negócio, pois o setor de sementes é bem diferente do que o negócio da produção de grãos. No mercado há profissionais do ramo que podem ajudar.