O período colonial que terminou em 1815,
quando da elevação do Brasil à condição de Reino Unido de Portugal e Algarve, foi
marcado pela implantação . das culturas da cana-de-açúcar e café e pela
extração de ouro e diamante que, do século XVI a XVII, constituíram a base
econômica da Colônia.
Num ambiente que não dava lugar ao
pequeno agricultor, em geral usuário de sementes de muitas espécies, a grande
empresa agrícola brasileira iniciou-se com duas culturas: cana-de-açúcar e café,
propagadas por mudas. A primeira não depende de sementes e a segunda, de muito
poucas.
A introdução de plantas de muitas
espécies, através de sementes e outras estruturas de propagação, aconteceu
intensa e continuamente, de 1530 até a chegada ao Brasil de D. João VI, sua
família e a Corte portuguesa, em 1808. Tais introduções provieram de Portugal,
de outros países europeus, da África e das Índias que, no conjunto, forma hoje
grande parte do acervo do germoplasma exótico brasileiro. Como em outras partes
do mundo onde ocorreu o processo colonizador por portugueses, espanhóis, ingleses,
holandeses e outros, o desenvolvimento da agricultura brasileira, na época colonial,
baseou-se no sistema denominado de plantations, que conjugava a exploração da
terra à força escrava de trabalho não remunerado, ainda que de alto custo. Os
produtos agrícolas, como outras mercadorias como ouro, diamante, pedras
preciosas e semipreciosas, passavam à metrópole, onde reis e a burguesia faziam-nos
circular no mercado internacional.
Em benefício da mono cultura, sob
aplantation system, a agricultura diversificada foi deixada de lado. A
alimentação humana era provida pela mandioca e outras plantas utilizadas pelos
índios, propagadas vegetativamente; pela caça e pesca, abundantes, complementadas
pelos gêneros vindos de Portugal (com a abertura dos portos brasileiros a
Inglaterra passou a exportar trigo para o Brasil e manufaturados, já que era
proibido o estabelecimento de fábricas na Colônia).
As grandes empresas agrícolas portuguesas
no Brasil (mesmo operadas por particulares eram obrigadas a vender o produto para
Portugal e dele comprar gêneros alimentícios e outros, bem como manufaturados, impedindo
a diversificação da lavoura) estavam inicialmente localizadas no Maranhão e na Bahia,
espraiando-se para outros estados nordestinos, inclusive transformando Pernambuco
num grande centro açucareiro. Do “Norte”, as empresas migraram para o
“Centro-Sul”- para o Rio de Janeiro e, posteriormente, para São Paulo,
ramificando- se para territórios limítrofes de outros estados vizinhos, até o
Paraná, ao tempo que antecedeu o Brasil República. A transferência da
importância da lavoura de cana, do Nordeste para o eixo Rio-São Paulo, ocorreu
como um fato histórico significativo por ter promovido também a migração
econômica, política e de escravos, na direção norte-sul, onde viria a expandir-se
a cultura do café.
"Começou em 1530 a introdução
de espécies exóticas no Brasil, procedentes de Portugal,
Africa e das Índias"
Este viria substituir, no mercado, o
açúcar de cana, sobrepujado pelo de beterraba produzido na Europa e Estados
Unidos. A proibição do tráfico de escravos, imposta pelos ingleses, e a
imigração de colonos europeus para o Brasil, bem como a integração do mercado internacional
e o crescente consumo interno dos produtos agrícolas provocaram grandes
mudanças na agricultura brasileira, com o surgimento das pequenas lavouras de
cereais e de outras espécies desconhecidas no período colonial e com reflexos na
necessidade de sementes.
Os extremos do território nacional, a
região amazônica e a sul, despovoadas, não participaram diretamente do processo
colonizador via agricultura. O acesso difícil, as condições gerais não
atrativas para a agricultura (o povoamento da Amazônia haveria de se processar com
base no extrativismo vegetal, onde a seringueira nativa - independente da produção
de sementes - jogaria um papel fundamental na riqueza regional) e a barreira
imposta pelo clima tropical úmido, dificultaram a fixação do homem europeu na
região Norte, não constituindo motivo de preocupação de segurança e domínio, por
parte da metrópole. Os portugueses fizeram povoar o sul do Brasil por meio da
criação de gado, uma vez que o clima temperado naquela região não favorecia o
cultivo da cana. Portanto, os extremos norte e sul do Brasil pelos tipos de
exploração então praticados não dependeram da utilização de sementes.
As importações de sementes e mudas de
cana, café, algodão e fumo, das ilhas da Madeira e dos Açores, da África e das Índias,
e a produção de sementes e mudas das chamadas lavouras de subsistência, cereais
e outras, não mereceram atenção da metrópole no período colonial.
O período imperial iniciado com o
regente de Portugal (1815), D. João VI, no Brasil desde 1808, constitui-se rico
de eventos de grande interesse para a economia local, como a abertura dos
portos às nações amigas e, em particular, ao desenvolvimento, ao ensino e à
pesquisa agrícola.
O Imperial Instituto Baiano de
Agricultura, criado em 1859, teve como atribuição, além do trabalho de fomento
e pesquisa com as culturas de cana, fumo, mandioca, trigo, cacau e algodão, a
distribuição de sementes. Em 1860 foi criado no Rio de Janeiro o instituto
congênere ao da Bahia, incluindo, além daquelas atribuições, a distribuição de
sementes e de mudas de fruteiras. Neste mesmo ano foi criado o Ministério da
Agricultura que, entretanto, teve uma vida efêmera, sendo extinto em 1892 e
passando suas atribuições ao Ministério da Indústria, Viação e Obras Públicas.
A criação de uma Escola de Agronomia na
Bahia, em Cruz das Almas, por D. Pedro II, em 1877,e da Escola de Agronomia Eliseu
Maciel, em 1883, em Pelotas (RS), indicam a preocupação do Império com o ensino
da agricultura, a prestação de serviços relevantes à comunidade e a formação de
umaelite de professores e pesquisadores.
"O Governo imperial criou
entre 1860 e 1887 as instituições básicas para desenvolver
a agricultura do Brasil"
Em 1887 foi criada a Sociedade Nacional
de Agricultura, SNA, no Rio de Janeiro, que desenvolveria atividades de
pesquisa em campos experimentais e promoveria a produção de sementes, utilizando
inclusive o sistema hoje conhecido como de troca-troca, que consistia da entrega
de sementes aos agricultores com o compromisso de que estes desenvolvessem
parte de sua produção para posterior redistribuição. No mesmo ano foi criada a
Imperial Estação Agronômica de Campinas, em São Paulo, e transformada, em 1892,
no atual Instituto Agronômico de Campinas, IAC, que abre um período de
realização de pesquisas avançadas na área agrícola.
Entre 1860 e 1887, o Governo Imperial do
Brasil criou os primeiros pilares institucionais necessários à implementação do
desenvolvimento, pesquisa e ensino agrícola, assim como para a realização da
produção e distribuição governamental de sementes e mudas.
Um outro elemento sempre considerado
como transformador da agricultura brasileira foi a Imigração Européia do Século
XX, que esteve intimamente ligado à questão da escravidão nas Américas,
mormente no Brasil, nas épocas da Colônia, do Império e, em parte, da
República. Primeiro o povoamento ocorria por conta de um fluxo migratório
espontâneo de colonos de origem portuguesa.
Depois a imigração passou a ser promovida
e até privilegiada por uma política deliberada por parte do Governo, em
especial para o exercício do povoamento com os fins políticos e militares, e em
particular, para a obtenção de mão-de-obra.
No último quartel do Século XIX teriam
aportado ao Brasil algo em torno de 518.000 imigrantes. Este contingente, acrescido
pelas entradas anteriores e avaliado no total em quase um milhão de pessoas,
era formado de meeiros, assalariados e proprietários de terra. No início do
Século XX, viriam promover a diversificação da agricultura.
Eles cultivavam o algodão, anil, arroz,
batata, feijão, fumo, milho, soja e trigo e iniciaram também a produção de frutas
tropicais, de clima temperado, e de hortaliças. Surgiram em pequenas lavouras
ao lado das grandes, as antigas de cana de açúcar e as novas de café. Assim, criava-se a necessidade de
sementes, dentro do processo agrícola brasileiro, no qual a imigração européia
teve um papel de relevância.
O Período Republicano considerado neste
artigo entre os anos de 1889 e 1959, caracterizou- se por forte intervenção governamental,
federal e estadual, na área de sementes, prevalecente até o início da
participação das iniciativas privadas na produção, distribuição e no comércio
de sementes de várias culturas. O processo evolutivo assinala as três primeiras
décadas dos anos 1900, com a surpreendente criação de seis escolas de
agricultura: Escola Superior de Agricultura de Lavras, Escola Agrícola Prática “Luiz
de Queiroz”, Agricultura e Veterinária do Rio de Janeiro; Centro de Ciências
Agrárias do Ceará, Universidade Federal de Viçosa, Centro de Ciências Agrárias
da Paraíba. As escolas referenciadas acima, criadas entre 1901 e 1934, com as
Escolas de Agronomia criadas no século anterior, vieram a formar o núcleo dos
principais centros de ciências agrárias hoje existentes no País.
Com o tempo, a maioria dessas faculdades
assumiria importante papel na formação de recursos humanos brasileiros de sementes,
sem o qual não poderia o país ter chegado ao atual estágio de desenvolvimento do
setor, O ano de 1909 marca a recriação do Ministério da Agricultura (MA), que
viria a assumir o desenvolvimento da pesquisa agrícola nacional em algumas estações
experimentais, anteriormente conduzida pela Sociedade Nacional de Agricultura e
o IAC.
A partir da década de 30, a pesquisa
agrícola cobria praticamente todo o território nacional. Nos anos 40, o MA
haveria de reforçar a sua estrutura física, dotando-a de verbas vultuosas para
o desenvolvimento que estava a exigir a demanda agropecuária. Todas as ações
foram descentralizadas e, no caso da pesquisa, foram criados cinco institutos
regionais que coordenaram uma extensa rede de estações experimentais.
Na década de 50, a maioria dos estados
estava organizada para a realização de pesquisas, ao nível de suas respectivas
áreas de jurisdição, seguindo o modelo de São Paulo (TAC, 1887). A rede federal
e estadual de pesquisa, seguindo os objetivos tracados, promoveu a introdução e
a criação de um grande número de cultivares das principais culturas,
paralelamente a geração de outras tecnologias que viriam a alavancar a
produtividade agrícola, a partir da década de 30.

De relatórios do Ministério da Agricultura(MA)
foi contabi lizada a distribuição de 79.104 toneladas de sementes, entre os anos
1903 e 1955, das quais 86,9% teriam sido produzidas. pelo MA, 12,6% nos Campos
de Sementes e 0,6% pela Sociedade Nacional de Agricultura. Das 9.941 toneladas
produzidas em oito Campos de Sementes (São Simão, Lorena, Arthur Bernardes, SP
- Deodoro, Resende - RJ, Sete Lagoas, MG - Itajaí, SC, Espírito Santo - não identificado),
87,8% foram distribuídas por essas bases físicas situadas no Estado de São
Paulo.
"A rede federal e estadual
de pesquisa promoveu a introdução e criação de muitas
cultivares das principais culturas"
Antes que a pesquisa lançasse as
primeiras cultivares brasileiras, as Inspetorias Agrícolas do MA organizaram,
em vários estados, a partir de 1925, os “Concursos de Sementes de Cereais e
Grãos de Leguminosas”, Estes eventos consistiam em exposições de amostras de
sementes, tubérculos, bulbos e frutos de plantas cultivadas pelos colonos, onde
os melhores materiais eram premiados e adquiridos pelo MA que os multiplicavam para
redistribuição entre outros agricultores. Eram as primeiras ações de prover os agricultores
com “sementes mais homogêneas de maior valor agrícola e comercial”, Há 70 anos
o MÃ já dava grande importância ao valor agronômico das sementes na
agricultura.
Além da produção de sementes nos Campos
de Sementes, criados nos anos 1900's,o MA produzia sementes (e mudas em alguns locais),
anos 40 e 50, em bases físicas denominadas Postos Agropecuários, nas sedes e nas
estações experimentais dos cinco institutos regionais de pesquisa, espalhados
por todo o País.
Com exceção das sementes híbridas de
milho, de espécie forrageiras, de batatas e de hor- 'taliças importadas, e em
mãos do setor privado, o sistema governamental era o único provedor de
sementes, no Brasil, na sua maior parte, pelo menos até o final dos anos 50.
Ao pioneirismo do Ministério da
Agricultura na produção e distribuição de sementes, associaram- se vários
estados, como São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina,
Bahia, Pernambuco, Ceará, inicialmente. Cumpre, pelo seu maior desenvolvimento na
área de sementes, citar alguns eventos que tiveram lugar no Estado de São
Paulo: em 1934 foi instituído o monopólio da distribuição de sementes de
algodão. Em 1936, o Estado decretou a fiscalização do comércio de sementes, instituindo
o registro de produtores e comerciantes de sementes; em 1940 foi instalado o
Serviço de Certificação de Batata-Semente, junto ao Instituto Biológico, que já
vinha fazendo o controle sanitário da importação desses insumos, de outros
países.
Em 1942 a Secretaria da Agricultura de
São Paulo aglutinou todos os serviços estaduais de sementes, integrando-os na
Divisão de Fomento Agrícola que, posteriormente, passaria a constituir a famosa
DSM-Divisão de Sementes e Mudas, em 1959, a qual passaria a constituir um super
órgão, com uma verba operacional maior do que a atribuída à pesquisa realizada
pelo IAC.