A Evolução da Indústria de Sementes

Edição II | 05 - Set . 1998
James Delouche-JCDelouche@aol.com
    A indústria de sementes, que no início deste século estava em sua infância, ao término deste período e à medida em que nos aproximamos do novo milênio, parece estar alcançando o seu pico. Infelizmente, porém, surgem em paralelo algumas incertezas, que obrigam os países a se ajustarem às rápidas mudanças. Antes de considerar alguns ajustes indispensáveis para o próximo milênio, é importante examinar os eventos que conduziram ao desenvolvimento da indústria de sementes, desde sua infância até o fim deste século. A história contém algumas importantes lições.
     No presente século a agricultura viveu profundas transformações. As mudanças mais recentes passam pelos tipos e variedades das plantas cultivadas. Nesse contexto, cresce de importância a indústria de sementes, pois tem sido a ferramenta dessas grandes mudanças.

     Situação até 1950
   No início do século XX, poucos países tinham uma legislação sobre sementes. Avaliação da qualidade estava começando a ser efetuada e os agricultores guardavam suas variedades tradicionais. Até nos anos cinqüenta, o melhoramento das espécies era feito por agricultores e agências governamentais. Em muitos países, produtores privados começaram a ser ativos no sistema de suprimento de sementes, no entanto, eram seletivos em segmentos específicos da agricultura e limitados em termos de melhoramento. A atividade comercial era concentrada, principalmente, no suprimento de sementes para produção de grãos, como era o caso de algodão, beterraba, tomate, forrageiras e ornamentais.
    Considerando a prática tradicional de guardar as sementes que requeriam esforços especiais, havia sempre um limitado, porém consistente, mercado para essas sementes. Inicialmente, o negócio era confinado à produção de sementes das variedades tradicionais. Com o tempo, entretanto, alguns negócios aproveitaram oportunidades para introduzir e desenvolver algumas variedades com atributos especiais que os agricultores gostavam, obtendo sucesso em suas iniciativas. Porém, essa vantagem desapareceu rapidamente porque os competidores conseguiam facilmente obter as sementes dessas novas variedades para multiplicação. Desta forma os produtores de sementes tinham que lançar continuamente novas variedades para estar à frente de seus competidores.
     A competição do produtor com o próprio agricultor e outros produtores de sementes tornava a atividade bastante limitada. As sementes são únicas entre os insumos agrícolas: elas são multiplicadas, em vez de consumidas no processo de produção. Uma vez que o agricultor tenha obtido as sementes de qualquer origem, ele pode guardá-las para o próximo ano.

     “Os produtores de sementes tinham que lançar continuamente novas variedades para estar à frente de seus competidores.”

    Pequenos e vagarosos melhoramentos das cultivares foi outro fator que contribuiu para o baixo desenvolvimento da indústria de sementes na primeira década deste século. Mesmo com o envolvimento generalizado do setor privado no suprimento das sementes, até o final da década de 30, isso era pequeno em termos de uso global de sementes na agricultura. A indústria de sementes era pequena, localizada e especializada.

    Desenvolvimento de híbridos
   O desenvolvimento de híbridos de milho foi o principal evento na evolução da indústria de sementes. Ele ofereceu a primeira oportunidade real de envolvimento do setor privado no melhoramento e suprimento numa escala comercial. A produção dos híbridos requeria acesso adequado das linhas puras, pessoal em quantidade e, na época certa para a polinização, investimento e tecnologia que não estavam ao alcance da maioria dos agricultores. O desempenho dos híbridos era significativo e, às vezes, dramaticamente superior às variedades comuns, e suas sementes tinham que ser renovadas a cada ano agrícola. Isto é, não podiam ser guardadas para poder alcançar o potencial do vigor híbrido.
   Os negócios do setor privado em milho híbrido foram baseados, primeiro, nos híbridos criados pelo setor público. O produtor de sementes selecionava os melhores híbridos que eram testados em vários locais e, feito isso, conseguia as adequadas linhas puras da instituição governamental. Como os competidores também tinham acesso ao material parental e produziam os mesmos híbridos, os produtores de sementes mais agressivos, rapidamente, começaram a realizar pesquisa para desenvolver os seus próprios materiais e testar sua capacidade para a produção de híbridos. Esta estratégia resultou no desenvolvimento de híbridos que não podiam ser copiados, pois as linhas puras para a sua produção eram mantidas em segredo. Esses progressos permitiram a emergência de uma dinâmica e responsável indústria de sementes, baseada, principalmente, na exploração do vigor híbrido.

     Variedades de alta produção
     O desenvolvimento das chamadas variedades de alta produtividade de trigo, arroz e soja, no início dos anos 60 fez florescer o negócio de sementes, entretanto, em menor escala do que o oferecido pelos híbridos.
   A consolidação da indústria de sementes começou na década de 60, nos Estados Unidos, permanecendo neste patamar até a Lei de Proteção de Cultivares. Os avanços que culminaram com o desenvolvimento da biotecnologia e da engenharia genética - verdadeiros eventos catalíticos na indústria de sementes e bases para o crescimento da indústria no próximo milênio - e seus efeitos, serão examinados no próximo ensaio.

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