“Deve ter sido em uma idade
muito precoce que eu decidi me tornar um cientista. Mas, encontrei um obstáculo.
Quando eu crescesse - e quão longe isto parecia estar ! - tudo teria sido descoberto.
Eu confessei este medo à minha mãe, que me tranqüilizou. Não se preocupe, querido,
ela disse. Ainda existirão muitas coisas para você descobrir”. (Francis Crick, descobridor
da estrutura do DNA)
A ciência da genética é uma das que mais
cresce em volume de conhecimento no mundo. Pouco a pouco, desde a descoberta da
estrutura do DNA por Watson & Crick, em 1953, vamos entendendo o que são os
genes, onde eles estão, o que eles fazem e como e porque são controlados.
Porém, para compreender como chegamos ao conhecimento atual, e o papel das
plantas transgênicas no cenário agrícola, precisamos voltar um pouco no tempo.
A agricultura tem sido palco de grandes
revoluções tecnológicas e biológicas. A descoberta dos fertilizantes químicos,
no final do século passado, aliada à mecanização, permitiu a rápida expansão das
fronteiras agrícolas. As modificações biológicas surgiram da aplicação de
conhecimentos de genética à então empírica arte de se fazer melhoramento de
plantas, sendo que uma das maiores contribuições desta nova ciência, neste século,
foi a descoberta da heterose ou vigor híbrido e, com ela, a produção de milho
híbrido.

O desenvolvimento inicial da futura planta
requer ambiente e nutrição controlada.
Posteriormente, com a descoberta e
transferência de genes via cruzamento de cultivares anãs de trigo japonesas com
cultivares ocidentais, a chamada revolução verde permitiu um grande avanço dos patamares
de produtividade, que se estendeu para diversos cereais. Entretanto, a ocupação
de extensas áreas com uma mesma cultivar provocou um aumento nas pragas e
doenças, que precisaram então ser controladas quimicamente. Esta situação levou
os pesquisadores a procurar fontes de resistência e a constatar que, com a substituição
de pequenas lavouras por grandes, uma perda considerável de recursos genéticos,
ou seja, a extinção de cultivares locais com genes de resistência à doenças,
estava ocorrendo. Um movimento mundial de conservação de recursos genéticos
teve início e formaram-se diversos bancos de armazenamento de materiais genéticos,
denominados bancos de germoplasma.
Nos anos 50, além da estrutura do DNA, o
código genético foi descoberto, confirmando- se a hipótese da colinearidade – uma
correspondência de bases do DNA com aminoácidos e, conseqüentemente, peptídeos ou
proteínas. A partir da década de 60, a atenção voltouse para os microrganismos,
que pareciam ser mais frutíferos que a mosca das frutas (Drosophila
melanogaster) e estudos envolvendo vírus bacteriófagos e bactérias levaram à
descoberta de enzimas de restrição e metilação do DNA. Estas enzimas, purificadas,
permitiram cortar o DNA em locais específicos, e com isso separar pedaços para estudos
isolados. Esta manipulação levou à clonagem de seqüências de DNA. Para isto, um
fragmento de DNA de qualquer espécie (geralmente um gene) é incorporado em um plasmídeo
que irá “transformar” um hospedeiro, muitas vezes a bactéria Escherichia col .
Este plasmídeo, uma vez dentro da bactéria, multiplica-se, amplificando o seu
número de cópias e, junto, o DNA estranho. Com esta técnica, conseguiu-se
multiplicar qualquer gene que se tivesse isolado, com resultados bastante
significativos. Um dos exemplos mais importantes é a produção da insulina
humana a partir de bactérias, já há alguns anos no mercado.
SEGURANÇA ALIMENTÍCIA PARA O MUNDO
Ao final do século XVII, Camerarius mostrou o
comportamento sexual das plantas superiores. Pouco depois, em 1717, Fairchild conseguiu
realizar o primeiro cruzamento artificial, obtendo assim o primeiro híbrido do
reino vegetal. Por volta de 1800, Knigth começa a usar a hibridação como um método
prático para o melhoramento de hortaliças e frutas. Porém a contribuição
decisiva para o conhecimento dos fenômenos da herança e variação nas plantas
foi dada por Mendel, em 1866, apesar de ser reconhecida em 1900, quando foi
redescoberta.
Sem embargo, o aporte de Mendel foi o
elemento fundamental para o desenvolvimento do fitomelhoramento, no decorrer do
século XX. É impossível resumir as contribuições que estes agrônomos, fitomelhoradores,
produtores de sementes e agricultores em geral deram, ao longo dos séculos, ao
desenvolvimento deste setor e especialmente à segurança alimentícia global,
tanto nos países desenvolvidos como nas nações em desenvolvimento. Como
conseqüência desses trabalhos de fitomelhoramento, se tem colocado ao alcance
dos agricultores variedades mais produtivas, resistentes a estresse e condições
climatológicas adversas e aos agentes patógenos, e, ao mesmo tempo, mais adequadas
às exigências dos consumidores, de melhor qualidade e de maiores rendimentos,
para assim poder alimentar a população mundial, que aumenta sem cessar.
Os constantes progressos do fitomelhoramento têm
contado com um inigualável elemento de transmissão do potencial produtivo,
altamente eficiente e fundamental, tanto para o agricultor como para a
transferência de tecnologias, que é a semente.
A produção e o abastecimento de sementes de
variedades superiores, no momento oportuno, em quantidades suficientes e a
preços razoáveis, é uma atividade que interessa a todos os agricultores do mundo,
como usuários obrigatórios deste insumo primário; porém, preocupa também os
produtores de sementes, os fitomelhoradores, os extensionistas, os
planificadores agrícolas e os políticos em geral. Tal transcendência das sementes
nos dias atuais está na razão direta do seguinte fato: a agricultura é a
principal fonte de alimento dos quase 6 bilhões de habitantes do planeta, e sua
contribuição à segurança alimentícia global é decisiva.
A moderna biotecnologia cultiva bactérias,
leveduras e células vegetais e animais, cujo metabolismo e capacidade de
biossíntese estão dirigidas à produção de substâncias específicas. Porém, graças
a aplicação integrada dos conhecimentos das técnicas da bioquímica, da
microbiologia, da genética e da engenharia química, permite aproveitar
tecnologicamente as propriedades e possibilidades oferecidas pelos mesmos organismos
e cultivos celulares, a partir de recursos renováveis e disponíveis em
abundância.