Altas expectativas e resultados garantidos são, certamente, dois marcos dos tempos atuais. Alta expectativa não é um fenômeno recente associado a essa geração, e sim uma manifestação do otimismo natural do ser humano. As expectativas constituem-se no incentivo que nos leva a aceitar desafios e a considerar fracassos como experiências válidas. O que é novo é a visão de que deve haver equivalência entre expectativas e resultados.
Expectativas
A região do delta do Mississippi (EUA), com grandes áreas mecanizadas de produção de algodão, soja, arroz e milho, tem passado por vários anos de produtividade reduzida e preços baixos. Os produtores, no entanto, continuam animados e otimistas. Iniciam cada safra com altas expectativas, assim como os agricultores das demais partes do mundo. Em agosto, passei por essa região e as lavouras estavam ótimas, com previsões das melhores colheitas de soja e algodão da década e rendimentos de arroz, milho e sorgo acima da média. As expectativas continuavam a ser altas e os agricultores começaram a comprar novos equipamentos para colheita. Todos envolvidos na atividade agrícola, estavam animados.
Resultados
Em setembro, as chuvas começaram e continuaram sem parar por cerca de 10 dias, sendo que quando não estava chovendo, a umidade e a temperatura estavam altas. As grandes produções previstas passaram de razoáveis para ruins, em uma semana. Capulhos de algodão apodreceram, outros nem abriram, e algumas sementes germinaram ainda nos capulhos. Desenvolveram-se rapidamente fungos na soja, terminando com o enchimento dos grãos, infectando sementes e fazendo que estas germinassem na vagem, ou apodrecessem. O milho que não havia sido colhido foi atacado por podridão nas espigas e o sorgo apresentou fungos nas panículas e germinação na espiga. Tanto o rendimento como a qualidade do produto e, conseqüentemente, seu valor, foram muito reduzidos.
No final de setembro, retornei à região e observei que, apesar do humor já não estar tão jovial, não havia tristeza. Os produtores estavam muito desapontados, mas não se comportavam como se estivessem passando por sérios problemas. Não culpavam ninguém pelo desastre, somente as condições climáticas. Lembrei-me que todos os produtores consideram que existe um inevitável elemento de risco na maior parte das atividades agropecuárias, e esperam algumas concessões de parte de seus credores, assim como alguma assistência do governo.
Os produtores, em geral, costumam ter altas expectativas, mas aceitam a falta de garantia de bons resultados.
O clima e a deterioração a campo
Embora não exista um local onde a atividade agropecuária possa ser praticada sem risco, a agricultura irrigada em áreas desérticas é praticamente tão livre quanto possível dos riscos climáticos da produção. Há muito tempo considero as áreas desérticas irrigadas como as localidades mais favoráveis para produção de sementes de alta qualidade. Nesta situação, existe umidade garantida e adequada, bastante sol, baixa umidade relativa, não ficando as sementes sujeitas às más condições climáticas no campo. Sementes produzidas nestas condições são bem desenvolvidas, livre de doenças e vigorosas. Infelizmente, terra desértica irrigada é limitada, de forma que os agricultores devem lidar com as incertezas climáticas de cada região. Uma vez que muitas de nossas plantas cultivadas originaram-se em áreas sujeitas a clima variável, desenvolveram várias características para garantir que, ao menos, algumas sementes sobrevivam a períodos sob intempéries para reprodução e disseminação da espécie.
A dormência de sementes é a principal característica de evolução que as plantas apresentam para resistir aos estresses associados com as condições desfavoráveis no campo. A dureza das sementes, isto é, a impermeabilidade da cobertura das mesmas à água, está presente tanto em algodão como em soja, porém foi praticamente eliminada nas cultivares modernas, uma vez que causa atraso na germinação e uma emergência não uniforme, características que se constituem em sérias desvantagens para a produção mecanizada. As cultivares modernas de sorgo, por exemplo, além de ter virtualmente eliminada a dormência fisiológica das sementes, apresentam a panícula mais compacta e densa, para facilitar a colheita mecânica, o que dá excelentes condições para o desenvolvimento de fungos e insetos nas mesmas.
Parece ter desaparecido o interesse considerável, que havia há alguns anos, em reintroduzir algum nível de dormência em culturas como o algodão, a soja, o amendoim e o sorgo. A “negociação” entre mecanização e risco na produção continua. No desenvolvimento de cultivares altamente adaptadas ao cultivo mecanizado, exigentes de altos níveis de insumos e altos rendimentos, é aceito um maior nível de risco. Os agricultores continuam a ter altas expectativas, mas não exigem resultados garantidos.